Quando Lincoln acordou, ele estava em um pequeno quarto. O quarto era brilhante e limpo, uma cama confortável estava disposta ao lado de um pequeno armário. Ele estava usando um pijama branco, e tinha a sensação desconfortável de que alguém lhe dera banho.
-Hein? -Ele olhou em volta.
O quarto não tinha nenhuma janela. Em cima do armário baixo, uma planta. Lincoln olhou para a planta e tremeu. Ele se lembrou de Angio.
-Ah, não, que merda! -Ele se levantou rápido, e correu até a porta. A porta não abria, estava trancada. Ele bateu e gritou. -EI! TEM ALGUÉM AÍ!?
Alguém bateu na porta.
-Com licença. -A voz falou. Um homem entrou, ele usava uma capa branca. O botão que prendia o colarinho da capa tinha uma letra G com um efeito mosaico nela.
-Quem é? -Lincoln recuou.
O homem era alto e magro, suas mãos eram enormes, ele segurava uma prancheta. Ele era velho, seu cabelo escuro tinha uma falha na parte de trás da cabeça. Uma enorme falha. Ele usava um óculos simples por cima de seus olhos negros, seu rosto tinha uma expressão nada amigável. Lincoln soube imediatamente que se tratava de um babaca.
-Eu sou o professor Builder. -Ele estendeu a mão para cumprimentar Lincoln.
-Onde a gente tá? -Lincoln questionou.
-Estamos em uma das bases de operação da Gyazom. Você é nosso prisioneiro.
-Ah, vai se foder! -Lincoln ameaçou atacar, mas seu corpo ficou pesado e ele caiu. -Que porra...!?
-Quietinho. Se quiser ver sua namorada hoje, vai ter que se comportar.
-A Vickie!? Cadê ela!?
-Lá fora.
-Me deixa sair! Filho da puta!
-Quieto. Aqui você me obedece.
-Quem caralhos é você?
-Já falei. Sou o professor Builder. Sou chefe dessa instituição. Nós fazemos pesquisas aqui.
-Pesquisa de quê!?
-Científica. Levante devagar, senão sua pressão vai cair.
Sua visão já estava ficando embaçada. Lincoln sentou, e lentamente foi se pondo de pé.
-Por quê... -Ele arquejou.
-É meu trabalho. Mantenho você e seus amigos aqui, alimento e cuido de vocês, e tudo ficará bem para todo mundo.
-Amigos... -Ele piscou. -Espera, como... Você disse namorada antes. Como você sabia?
-Ela falou. Vou deixar você passar tempo com seus amigos até o anoitecer. Depois, vocês vão dormir.
-Só?
-Sim. E por que....
-Cale a boca. Vá logo para fora.
Lincoln passou pela porta, ainda inconformado com aquela situação. Preso, sem saber onde estava e por que estava lá. Do outro lado, ele saiu em um corredor segmentado, era largo e tinha várias portas de metal dividindo seus segmentos. O corredor possuía uma parede totalmente feita de metal, a outra, no entanto, tinha uma enorme janela e uma pequena porta no canto.
Do outro lado da janela, ele viu Vickie, Tammy e Nosferatu.
-Vickie! -Ele gritou e correu até o vidro.
-Pela porta. -Builder disse.
Builder passou um crachá na pequena porta no canto. A porta abriu, e os dois passaram.
-Belo crachá. -Lincoln sorriu.
-Pode tentar roubar. Vai falhar. -Builder retrucou.
-Lin! -Vickie gritou e correu até ele.
Os dois se abraçaram.
-Ele te machucou? -Lincoln perguntou.
-Não. -Vickie falou. -O professor Builder é gente boa.
-Esperta. -Builder comentou. -Fiquem aí brincando ou sei lá o quê vocês crianças gosta de fazer. Tem brinquedos, e a tarde vamos dar comida, a noite vocês vão ao refeitório jantar. Aprontem, e vão passar o dia todo no quarto, sem sair. Até o almoço.
-Ei! -Vickie chamou. -Eu quero fazer a nossa comida!
-Tá bem. Na hora do almoço eu chamo vocês.
-Quê dia é hoje? -Lincoln perguntou.
-Não interessa. -Builder falou, deu as costas e saiu. A porta deslizou rapidamente para o lado quando ele saiu.
-Hoje é amanhã. -Nosferatu falou.
-Oi? -Lincoln franziu a sobrancelha.
-Bem, esse é o Nosferatu. -Vickie apresentou. -Essa é a Tammy.
Tammy estava agachada no chão. A sala recreativa tinha uma iluminação mais fraca e suave, as janelas davam somente nos corredores que os cercavam. A sala tinha plantas e água corrente, simulando uma floresta. O chão tinha tapetes, postos em cima do chão de terra.
-Que diabo é isso? -Lincoln questionou.
-O professor disse que essa instalação era usada para estudar comportamentos de certos animais e plantas. -Vickie contou.
-E o quê eles fazem com animais nesse buraco? -Lincoln se ajoelhou.
-Eu não sei. -Ela respondeu.
-Familiares. Eles criam familiares. -Nosferatu falou. -Eles criam e vendem para famílias ricas.
-Que horror! -Vickie exclamou.
-Você sabe bastante coisa, Nosferatu. -Lincoln olhou para ele.
-Sim. Eles pesquisam animais e coisas. Eles manipulam vida e animais. E criam mutantes. E me criam.
-Hein? -Vickie olhou para ele. -Te criam?
-Sim. Me criam. Projeto Nosferatu. O doutor me fez assim.
-O doutor... -Vickie olhou para as janelas. Builder havia sumido dali. -O professor Builder, você quer dizer?
-Não. O doutor. Homem grande, olhos brancos. Cabelo branco. Capa branca. Ele faz engenha... Engem... Enge... Coisa nas grávidas.
-Engenharia? -Lincoln ergueu as sobrancelhas.
-Isso. Nos genes. Nas grávidas.
-Engenharia Genética? -Vickie indagou. Nosferatu fez que sim com a cabeça. -Mas isso é horrível! Eles não podem brincar assim com a natureza!
-Mas brinca. Builder disse Oblivion. Fugir.
-Garoto, -Lincoln se ajoelhou perto dele. -Essa gente te criou?
-Sim. Eles querem criar um humano perfeito.
-Perfeito... -Vickie repetiu. -Mas isso é impossível.
-Sim. Por isso eu dei errado. Mas foi uma tentativa. Projeto Nosferatu encerrado.
-Por que eles querem um humano perfeito? -Vickie questionou.
-Apagar sofrimento. Eles querem criar um criador de mundos. O homem conquista Deus.
-Maluquice. -Lincol ficou em pé. -Por que eles nos prenderam, então?
-Receptáculo. -Nosferatu falou. -Os Mirai cumprem requisitos. Esses requisitos, eles... Eles...
Nosferatu começou a respirar pesadamente.
-Ele não sabe falar direito. -Tammy disse. -A Starla às vezes conta na aula sobre ele.
-Starla. Mãe. Starla. Mãe.
-Mãe... -Lincoln falou. -Tudo bem, garoto, vamos deixar essa conversa dos requisitos para outra hora, pode ser?
-Pode... -Ele começou a se acalmar. -Temos... Que planejar. Fugir dele. Oblivion.
-Fugir dele? -Vickie falou. -Por quê?
-Perigo. Muito poderoso.
-E se a gente armar uma emboscada?
-Ele é inteligente demais. Está esperando uma emboscada.
-Vamos fugir. -Vickie falou. -Nos juntamos aos Mirai e aí eles armamos alguma coisa.
-É verdade. -Lincoln assentiu. -Vamos devagar. Um passo de cada vez.
-Sim, agora precisamos dar um jeito de encontrar uma saída. Ou de nocautear o professor Builder. O poder dele de derrubar a gente é muito irritante.
-E neutraliza muito bem. -Lincoln concordou.
-É igual ao meu. Mas ao contrário. -Tammy falou.
-Oi?
-Eu posso fazer tudo em um certo alcance flutuar.
-Fazer ele flutuar e fugir. -Nosferatu falou. -Oblivion vai ficar furioso. Hoje.
-Como assim, hoje? -Tammy perguntou.
-Oblivion não irá deixar... essa opo...-Ele olhou para os lados. -Opo... Oponidade...
-Oportunidade. -Vickie completou. -Ele não vai perder a chance.
-Eles querem os Mirai. Ele quer. -Tammy falou. -A Alex me contou. Acho que não vão esperar até amanhã. Precisamos sair daqui hoje.
-Temos que pegar nossas coisas nos quartos primeiro. -Vickie disse. -E aí...
-Não. -Lincoln disse. -Eles esperam que a gente tente pegar nossas coisas nos quartos. A gente vai fugir daqui do jeito que estamos. Entenderam?
-Não! -Vickie exclamou. -Não podemos!
-A gente não vai ter tempo! -Lincoln falou. -Se a gente não pular fora na primeira chance, vão nos seguir. E no pior dos casos... Oblivion.
-Não. -Nosferatu falou. -No pior caso, Ninguém.
-Ninguém virá nos ajudar de qualquer jeito. -Lincoln falou.
-Não. No pior caso, Ninguém virá.
-Foi o quê eu disse.
-Eu escutei o Hector dizer algo sobre Ninguém. -Tammy falou. -É um codinome.
-Sim. -Nosferatu assentiu.
-Ninguém.
-O quê ele faz? -Vickie perguntou.
-Rei. Ele é o Rei.
-Rei. -Lincoln olhou para Vickie. -Nós odiamos monarcas. A Starla também.
Eles riram.
-Starla não sabe.
-Não? Você não contou? -Tammy questionou.
-Não. Eu tenho medo. Se a mamãe souber quem fez isso com você, ela vai pegar.
Lincoln deu uma risada, tentando parecer confiante.
-Mas ei, você viu ela? Ela pode passar pelas paredes!
-Ele pode pegar. -Nosferatu suspirou, e lançou um olhar vazio. -Este é Ninguém. Ele é o nosso líder, e vai cuidar bem de você. Ele é poderoso e protetor, ele é o portador da Benção Inimaginável.
Vickie e Lincoln se agacharam perto dele. Nosferatu lacrimejava.
-Ele te machucou? -Vickie perguntou.
-Não. Ele não machuca. Ele quer salvar o mundo. Mas é louco.
-Salvar de quê?
-Sofrimento.
-É um utopista. -Lincoln falou. -Quer criar uma utopia sem sofrimento.
-Isso.
-É interessante. -Lincoln riu. -Mas não acho que os fins justifiquem os meios.
-Fins não justificam os meios. -Nosferatu repetiu.
-Pois é. -Ele passou a mão no ombro do garoto. -Não se preocupe, nós vamos sair daqui e fazer ele pagar pelo que fizeram com sua mãe.
-Mãe. Starla.
-Isso. -Vickie falou e deu um tapa em Lincoln.
Talvez ele tivesse pensado na outra mãe.
-Sim. Vamos nos divertir um pouco.
Builder observava o grupo através das câmeras de segurança. Ele chacoalhou a cabeça lentamente.
-Bem, eu avisei. Vamos para o almoço. -Ele se levantou e saiu.