Hector tomava seu café da manhã ainda ranzinza. Ele e Scott passaram a noite em uma cama de hospital, e suas famílias só apareceriam ali dali duas horas. Mestre Giorgio foi até eles dois de manhã, para contar a notícia: Sua escola estava fechada. Ele não era mais seu mestre.
Quando amanheceu, Giorgio atendeu um telefone, e foi avisar os dois: ao menos, Jeff, Julian, Starla e Sherry estavam bem. Nate era praticamente imortal, portanto já esperavam que ele fosse aparecer ali. Nathan estava com dificuldade para se regenerar totalmente.
Martha ainda não havia sido encontrada. Tammy, Nosferatu, Vickie e Lincoln foram levados pela equipe Majoris, e aquela notícia enfurecia Hector. Claire e Trixie apareceram ali mais cedo, elas também estavam no hospital, mas não apresentaram nenhum ferimento grave.
Hector e Scott ficaram inconscientes, mas estavam bem. Paul foi quem ficou no pior estado, seu braço quebrou e seu corpo estava cheio de hematomas.
-O pior de tudo, -Hector falou para Scott. -Foi que aconteceu no mesmo lugar.
-Sim. -Scott assentiu. A frustração e a dor estavam estampadas no seu semblante.
No ano passado, Joe morreu junto com Niccolo, e Scott era o único presente. Ele foi lançado para longe para que não se envolvesse na luta, e acabou tendo um lapso. Depois disso, ele acordou no hospital, deprimido.
Aquela batalha contra Majoris virou notícia novamente. Os corajosos Mirai, atacados por uma organização terrorista, lutaram bravamente. E agora, Hector sabia que quando sua mãe chegasse ele levaria uma bronca. Todos eles levariam.
-Espero que o tio William venha pra tirar a gente dessa. -Ele resmungou. -Sinto falta dele. Do 01 também.
-Cara, meus pais já encheram meu saco por causa do ataque no Campo Mera. -Scott bateu as mãos na mesa. -Os dois imbecis acham que a gente é quem começou essa briga.
-Adultos são estranhos. -Hector comentou. -Eles pensam que a gente gosta disso. Pensam que estamos brincando.
-Idiotas. Todos uns idiotas.
Hector pensou no encontro do dia anterior. Pingo disse algo que entrou na sua cabeça. Ele deu uma risada.
-Lembrei do Pingo ontem. "Se o Scott não fosse rodeado por idiotas, seria menos brigão!"
Scott baixou a cabeça, a expressão continuava cheia de ódio.
-Talvez ele esteja certo.
Hector não respondeu. Apenas sentiu uma sensação incômoda.
Os dois continuaram comendo, até que Giorgio entrou no quarto. Eles permaneceram sentados em suas camas.
-Bom dia. -Ele disse. -Vocês conseguem levantar?
-Sim. -Hector respondeu. -Mas dói.
-Nós vamos mesmo ter que ouvir nossos pais falando merda? -Scott questionou. -Eu juro que se eu tiver que ouvir merda por mais um minuto...
-Scott! -Giorgio chamou. -Acalme-se. Nós vamos dar todo o suporte ainda a vocês.
-Suporte!? -Scott bradou. -ACHA QUE EU LIGO PARA A AJUDA DE ADULTOS BURROS!?
-Pare. -Giorgio engoliu em seco. -Eu não quero ter que ouvir esse tipo de comentário. Nós também estamos sofrendo.
-EU NÃO LIGO! MEU AMIGO MORREU ANTES, E NENHUM PAI OU MÃE TAVA LÁ! O DAVID TÁ QUASE MORTO! ONDE ESTÁ O SUPORTE!?
-Scott... -Giorgio baixou a cabeça. -David está estável. Nós conseguimos salvar ele...
-NÃO, NÃO CONSEGUIRAM! ELE NUNCA MAIS VAI ANDAR!
-Cara, calma... -Hector chamou. -A gente vai dar um jeito.
-E QUÊ JEITO!? VAI ARRANCAR AS PERNAS DO BLECAUTE E DAR PARA O DAVID!?
Hector não respondeu. Ele viu Scott chorando. Algo que ele só viu no dia em que Joe morreu.
-Scott... -Giorgio falou. -Quando terminar de comer, venha ver o David.
Scott jogou o prato com a comida no chão. Ele ficou em pé, com dificuldade. Scott tentou mancar até a saída. Hector viu que ele iria cair, e levantou correndo.
-Cara... -Ele falou, tentando apoiar o amigo. Scott o empurrou.
-ME SOLTA!
Scott saiu do quarto, Giorgio não o interrompeu.
-Ei... -Hector falou.
Scott seguiu o corredor, mancando e se apoiando nas paredes. Ele chegou a uma sala de espera, onde viu seus pais e os pais de Hector.
-Scott! -Sua mãe gritou.
Ele ignorou, e seguiu reto. Uma enfermeira o viu e foi até ele.
-Ei, garoto, onde você vai? -Ela sorriu.
Scott a segurou pelo colarinho da camisa.
-Cadê o David!? -Ele gritou.
-O quê é isso!? -Sua mãe gritou.
-Calma, calma! -A enfermeira falou. -O menino que machucou a perna ele...
-MACHUCOU!? MACHUCOU!? ELE ARRANCOU AS PERNAS DO MEU AMIGO!
-O quê? -Sua mãe parou atrás dele.-Scott eu estava preocupada com...
-FODA-SE! FODA-SE TUDO! QUE VOCÊS MORRAM DE PREOCUPAÇÃO!
-Filho... -Ela disse.
Scott soltou a enfermeira e seguiu reto. Jesse estava próxima a uma porta, chorando. A visão fez um ódio profundo tomar o garoto.
-Jesse... -Ele chamou. Jesse se levantou e foi até ele. Ela tentou abraçá-lo. Scott a empurrou, e ela caiu no chão com um grito. -Não se faz de boazinha, sua vagabunda!
-O quê!? -Ela arregalou os olhos.
-Você sempre tratou ele feito lixo, agora vai chorar!?
-Scott, não! -Giorgio gritou atrás dele. -Pare!
A marca de Scott tomou seu corpo, seu brilho o fez tomar um semblante violento.
-O quê você quer!? O quê eu fiz!? -Jesse se encolheu.
Scott parou, e retraiu seu poder.
-Des-desculpa... Cadê ele?
-Ali... -Ela apontou para a porta.
Scott entrou no quarto. Os pais de David choravam em volta da cama. David estava deitado, imóvel. Bolsas de sangue e soro estavam penduradas próximas a ele. A visão foi parecida com a de Joe internado.
O garoto de ajoelhou, e começou a chorar. Chuck se levantou e foi até ele. Os dois choravam.
-Calma, garoto, calma. -Chuck tentou abraçar Scott, que começou a vomitar no chão.
-Joe... -Scott resmungou. Sua mãe e Giorgio entraram na sala.
-Desculpem a confusão! -Camile gritou. -O Scott ele... Ele... Chora?
Ela se agachou.
Scott se curvou e apoiou o corpo com os braços.
-Joe morreu por minha culpa... -Ele sussurrou. -E o Hanz... E a Lana... E a Mamãe... Eu vou... Eu vou acabar com tudo... EU VOU ACABAR COM TUDO!
Sua marca brilhou com força, faíscas e raios começaram a ser lançados para todos os lados. Camile tentou abraçá-lo, mas Giorgio foi mais rápido e o ergueu pela cintura e pulou contra a janela, para fora. Os dois caíram na grama, e ele tentou afastar Scott para longe.
Uma silhueta veio do ar, e os interceptou. Era Osíris, sua marca Etérea, vermelha escura brilhava. Ele tomou Scott das mãos de Giorgio.
-Saia daí, você pode morrer! -Osíris gritou para Giorgio.
Ele disparou para longe, e Giorgio o seguiu. Osíris soltou Scott próximo à estrada principal. Estavam em Arcádia, na cidade.
-O quê vamos fazer!? -Giorgio gritou.
-Esperar. -Osíris falou.
-Scott! Não se deixe levar! -Giorgio gritou. -Lembre-se de quem você é! Lembre-se da Myrella!
-Pare! Se ficar envenenando ele assim com esses pensamentos...
-Eu já falei que nome não é Scott. -O garoto se ajoelhou. -Parel de me chamar assim.
-O quê!? -Osíris gritou. -Que diabos...?
-Ah, não... -Giorgio ergueu a sobrancelha. -Quem é você!?
-Acha que eu vou ser idiota de te dizer? Você sabe quem eu sou. Sabe o quê aconteceu. Jake estava certo. Vocês, heróis só pensam no próprio rabo. Vão deixar o mundo morrer por fama. E vão se arrepender por isto.
-Jake? Onde ele está? -Giorgio abriu as pernas, ficando pronto para um possível ataque.
O Não-Scott riu.
-Está morto. Ele, a Mikaela, a Lana, e o Aureus. O mundo vai acabar, Giorgio. E os heróis são os culpados.
-Por quê?
-Porquê deixam ele viver.
-Ele...? -Giorgio olhou para Osíris.
-Ele quem? -Osíris questionou.
-Zaederon. Já é tarde demais para nós. Se você acha que alguém pode parar Zaederon, então está sonhando. -Ele lambeu os beiços. -Scott viu ele com seus próprios olhos. E morrerá por suas mãos, junto de todos nós.
-Zaederon... -Osíris olhou para Scott. -Então você vai me mostrar onde ele está.
-SCOTT! -A voz de Camile ecoou.
-Mãe... -Scott falou. Ele se ajoelhou e começou a chorar. -MÃE!
O garoto desmaiou. Os dois ergueram Scott. Osíris o ergueu no colo e começou a andar.
Camile se aproximou, e viu o garoto desmaiado.
-O quê houve!? -Ela gritou. -Ele vai ficar bem?
-Bem... -Giorgio repetiu. -É difícil dizer. Precisamos curar ele dos lapsos o quanto antes.
-Zaederon... -Osíris falou baixo. -Será mesmo?
-O quê? -Camile perguntou.
-Nada. Deixe para lá.
-Eu preciso saber! -Ela gritou de volta.
-Camile, nós precisamos ajudar o Scott. Tem coisas estranhas acontecendo com ele.
-Sempre teve... -Ela começou a chorar. -E eu nunca... Nunca fiz nada...
-Não há o quê você possa fazer. -Osíris falou. -Eu vou levar ele amanhã, Giorgio. Ele precisa ver o Sigilo.
-Mas ainda é cedo!
-Cedo!? Você ouviu o quê ele disse!?
-Sim. Mas...
-Mas o quê? O quê ele disse!? -Camila tentou pegar Scott do colo de Osíris.
-Ele viu alguma coisa. Esses lapsos não são um problema.
-Não!?
-Não. São um aviso.