Martha se esgueirava pelo quarto andar do shopping quando o incêndio começou. Ela havia visto Anne, Erine e Olívia juntas, e as seguiu, mas desistiu quando viu outra Olívia. Ela parou por um momento, e pensou nas possibilidades.
Ela e Luci estavam indo mais devagar que Anne e Erine, para que pudessem cuidar da retaguarda das duas. Ela também não queria ficar próxima de Anne, ainda a odiava pelo que fez com Erine. Martha olhou para a escada, e viu uma silhueta. Pensando em se tratar de um homúnculo, ela foi atrás, se esgueirando.
Ali, ela viu outra Olívia. Aquela Olívia estava andando sozinha, tomando cautela para não ser seguida. A outra Olívia andou pelo terceiro andar e subiu até o quarto, saindo na varanda.
-Eu sei que está aí. -Ela disse.
Martha respirou fundo, e ficou imóvel.
-Esperta. -Uma voz a respondeu. -E então, você decidiu me ajudar?
-Sim. -Olívia falou. -Mas deixe meus amigos fora disto.
Lá embaixo, Jeff e Naja travavam uma batalha explosiva. Martha se agachou, e olhou pelo canto do vidro. Olívia falava com um rapaz sorridente, com feições asiáticas. Ele usava uma capa longa e branca. Era a capa da Gyazom.
-É impossível. Foram eles quem começaram essa guerra.
-E agora eles podem morrer! -Olívia exclamou.
-Podem. É um risco. Por isso preciso que você me ajude. As meninas lá embaixo vão perceber bem rápido que eu deixei um clone falando com elas.
-Nós não temos tempo. Diga logo! -Ela gritou.
-Certo. Majoris e sua equipe estão planejando um golpe. Eles vão matar Oblivion.
-O quê? Mas isso é bom!
-Bom? Se der certo, Majoris vai se tornar influente, e vai querer utilizar o poder dele para fazer a organização seguir os ideais dele!
-Que se foda. -Olívia riu. -Você quer que eu tenha pena do Oblivion? Ele merece!
-Oblivion é um homem justo! Ele sempre lutou por um bem maior! Já o Majoris só é um supremacista de merda. Ele me odeia, ele odeia você, e odeia o Oblivion mais que tudo!
-Deixe que mate! Se ele fizer isso, o pior de todos os problemas vai desaparecer!
-Não, não vai. Se ele conseguir, vai remover várias regras da organização. O Blecaute vai poder matar quem ele quiser. Eles vão usar as armas da organização para guerra, e o pior de tudo, se o Majoris toca alguém, ele consegue controle sobre essa pessoa como uma marionete!
-E daí? O quê ele pode fazer de tão perigoso?
-Tocar na Atlas! -Ele gritou. -Se ele tocar nela, estaremos acabados!
-Atlas... -Olívia repetiu. -Ela não consegue se proteger?
-Sim. Mas se ele estiver invisível, ela nem vai saber o quê houve. Ou pior, ele pode usar o Blecaute invisível para apagar ela sem avisar!
-Mas se eles se destruírem, será bom para todos nós. -Olívia sorriu. -Não tem nenhum motivo para eu te ajudar.
-Tem. Lembra-se do assassino que mandaram atrás de vocês ano passado?
Martha arregalou os olhos. O assassino do ano passado. Seria aquele que matou Joe?
-Lembro.
-Ele foi punido por Oblivion por ter matado um garoto aqui.
-O Joe... -Olívia murmurou.
Martha sentiu os olhos e a garganta queimando. Ela queria chorar.
-Isso. Ele foi morto porquê entrou no caminho do assassino. Eles são estritamente proibidos de matar pessoas que não sejam seus alvos. Oblivion e Ninguém criaram essas regras. Eles dois, apesar de tudo, são humanos, eles não querem matar as pessoas a torto e a direito.
-E como você pode me provar que estamos do seu lado?
-Meu clone vai contar para elas o plano final da organização. É a barganha que eu posso fazer agora.
-Elas vão ficar bem? -Olívia questionou.
-Sim. Talvez o spray de pimenta doa um pouco. Mas tudo bem.
-Hein? -Olívia deu uma risadinha.
Como ela poderia rir naquela situação?
Um tremor sacudiu a construção. Um grito agudo ecoou até ali:
-Ajuda!
-O quê? -Olívia falou. -Espere, aquele é o Jeff?
-Onde? -Hikiro perguntou.
-Ali embaixo. -Ela disse e pulou a varanda para a varanda debaixo.
-Cuidado! -Hikiro gritou e pulou também.
Martha não conseguia acreditar naquilo. Olívia estava caindo naquela conversa? Mas também... O assassino que matou Joe... Ela não se moveu, ficou agachada, encostada na parede. Ela respirou fundo. Por um segundo, ela viu uma pequena luz branca em sua mão. A marca dos Mirai brilhou.
-SAI! -Ela bateu a mão. A luz ficou mais forte, ela correu para a varanda. A luz ficou mais fraca. Ela pulou por cima do corrimão, usando uma bola de gosma, ela conseguiu se fixar e usar como uma corda. Ela ficou pendurada, mas a luz sumiu. -Que merda é essa!?
Ela grunhiu, Hikiro e Olívia se assustaram. Os dois estavam ajoelhados, Olívia segurava Jeff, com a cabeça deitada em seu colo.
-Martha? -Olívia exclamou.
-Sim! -Ela falou. -Me ajudem!
Hikiro caminhou até ela e a puxou para a varanda.
-Cadê os seus amigos? -Ele perguntou.
-Não sei. Eu ouvi vocês dois conversando. Eu...
Hikiro não a soltou. Ela estava apoiada no parapeito da varanda.
-Você quer ajudar? -Hikiro perguntou.
-Depende. -Martha falou. -Eu quero uma coisa.
-Qual coisa? -Hikiro a ajudou a descer na varanda.
-Vingança. Pelo Joe.
Hikiro sorriu.
-Ótimo. -Ele olhou para Olívia. -Vamos levar ele daqui, antes que a situação piore.
-Situação? -Martha olhou para o estacionamento, onde o caos estava instaurado.
Lagartos corriam desordenadamente, fogo se espalhava, gritos e sirenes ecoaram. Como ela não percebera nada daquilo? Seria a sede de vingança?
O interior do shopping estava em chamas, coisas caíam do teto e explodiam.
-Mas como vamos levar ele? -Olívia perguntou.
-Ué, chama aquele seu jacaré. -Hikiro falou.
-Eu... Não consigo... -Ela gaguejou.
-Hein? Não brinca assim! -Hikiro subitamente ficou agressivo.
Martha temeu que ele fosse bater nela. Ela virou na direção das pessoas e berrou.
-SOCORRO! ESTAMOS PRESOS!
As pessoas lá embaixo começaram a se aproximar.
-Aguentem! Bombeiros estão vindo! -Uma voz lá embaixo gritou.
-Ah, não vai dar tempo... -Martha resmungou.
-Não tem jeito. -Olívia falou. -Vamos.
Ela ergue Jeff no colo e saiu correndo por dentro do shopping
-NÃO! -Hikiro gritou. -IDIOTA!
Ele correu atrás dela, sem alcançá-la. Eles sumiram na fumaça lá dentro. Martha fixou gosma no parapeito.
-Eu espero que você realmente seja resistente. -Ela sussurrou para a gosma. -Vamos.
Ela pulou, segurando-se pelas mãos. Ela caiu, e muito rápido. Por um segundo, a única coisa que ela sentiu foi um profundo frio na barriga. Ela desacelerou. Quando chegou ao chão, sentiu as pessoas a segurando. Quando abriu os olhos, percebeu que as pessoas lá eram policiais.
-Ei garota, o quê aconteceu? -Um policial perguntou. -Cadê aquele mutante?
-Eu.. Meus amigos! Atacaram a gente! Eles...
-Ei, ei, ei, calma! -O policial falou. -Que ataque está acontecendo? Do quê...
-EI! -A voz de Olívia ecoou de trás deles. -Ajudem! Ele está morrendo!
-Mas o quê!? -O policial gritou.
Eles estavam em poucos. Ambulâncias e um caminhão de bombeiros se aproximava. A polícia tentava afastar as pessoas dali. Hikiro ia andando atrás de Olívia, que entrou Jeff para o siate.
Martha foi até os dois.
-O quê estavam pensando!? -Ela indagou.
-Ela fugiu! -Hikiro gritou.
Ele suava e estava sujo, além de estar tossindo e arfando.
-Vocês quase morreram! -Martha exclamou.
-Não. Eles dois quase morreram. -Olívia falou.
Sua pele brilhou, e ela começou a mudar de aparência. Seu corpo em poucos segundos se tornou brilhante, e então, era como se sua pele fosse feita de joias negras, brilhantes e cheias de padrões.
-O quê? -Martha falou.
-NÃO! -Hikiro berrou. -VOCÊ ME ENGANOU COM ISSO!? OLÍVIA!
O ser olhou para Martha.
-Afaste-se dele, Martha. Ele é louco.
-O quê... O quê é você? -Ela perguntou.
-Me chame de Lo Duplo.
Martha se lembrou do ano passado. Ela viu o anúncio do prefeito sobre o ataque de mutantes no shopping e o aviso de quarentena, e quê haviam heróis lá dentro investigando. Uma hora depois, o prefeito apareceu, avisando que não esteve lá naquela tarde. As autoridades foram atrás, tentando descobrir o quê houve. Enquanto isto, Joe morria.
Aquele era Lo Duplo, o familiar de Olívia. Ela se virou para Hikiro.
-É bom que você seja o original! -Ela gritou.
A polícia se aproximou deles.
-Ei, vocês precisam ir dar depoimento! -Uma voz chamou.
-Eu sou. -Hikiro falou. -Se me ajudar a sair dessa... Eu te conto tudo.
-Tudo? -Ela franziu o rosto.
-Tudo.
-Ei! -Um policial chamou. -O quê é aquela coisa? Quem são vocês! Respondam!
-Sim. -Martha falou. -Eu posso ir primeiro?
-Para onde?
-Delegacia. -Ela disse. -Eu conto tudo o quê sei.
Os policiais se entreolharam.
-Ótimo. Venham.