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Chapter 87 - O Menino Que Derreteu

Max estava particularmente animado para aquela sexta-feira. Era o último dia de aula da semana, portanto, no sábado ele poderia sair com Sherry. Sherry era sua nova namorada, ele a conheceu naquele ano quando entraram na mesma sala. Os dois se conheciam haviam duas semanas.

Quando Max a pediu em namoro e ela aceitou, um novo mundo se abriu para o garoto. E naquele fim de semana, os dois haviam marcado de ir ao shopping juntos. Tão animado quanto nunca, Max acordava cedo e treinava todos os dias com Jeff e Giorgio.

Como de praxe, Jeff deixou os cinco no pátio coberto do colégio, mesmo local onde Atlas espancou ele no ano anterior. Scott e Hector estavam com o corpo cheio de cicatrizes, e isso ainda aterrorizava Max. Scott, com aquelas cicatrizes, agora parecia muito mais amedrontador.

-Bem, meninos, até segunda. -Jeff sorriu para os nove. Luci havia mudado o turno em quê estudava para conciliar com o grupo. -Venham avisar a Erine hoje no fim do dia sobre o rolê na casa da Starla amanhã.

Jeff fez um sinal de beleza e foi embora através de sua passagem mágica. O grupo se virou, e caminharam em direção ao colégio. Max procurava por Sherry. Zack tentava conversar com Luci, que o ignorava. Max estranhamente se lembrava da primeira vez em que viram ela. Zack tentara elogiar ela, e ela pareceu notar Scott.

Era estranho como ela apenas se esqueceu deles por conta dos meninos serem apenas mais alguns clientes. Agora, era parte de seu grupo. Max viu Sherry e esqueceu aquele pensamento.

-Ei! -Ele gritou e correu.

Scott veio atrás dele, os dois se aproximaram dela para ir às suas respectivas filas.

-Oi, amor. -Sherry sorriu.

Os dois se beijaram.

-Te amo. -Max riu.

Scott olhava com desprezo para aquela cena. Como poderiam dizer que se amavam sendo que mal conheciam um ao outro?

Scott olhou para o professor de ciências que chegava ali.

-Olá, rapaz! -Anthony gritou.

-Oi.

Anthony era um homem alto, barbudo com um cabelo ondulado penteado para trás, seus tons grisalhos e castanhos se misturavam. Seu óculos enorme refletia a luz do sol. Seu bom humor contagiava as crianças.

-O que houve, garotão, foi uma garota que te deixou triste? -Anthony riu.

-Foi.

-Aposto 2 pontos da sua nota que você vai dizer que a garota é minha mãe.

Scott ergueu a sobrancelha. Ele não respondeu.

-Hahaha, moleque. Você gosta de libélulas?

P-Não.

-E de formigas?

-Também não.

-Gosta de peixes?

-Não.

Max riu.

-Pergunta se ele gosta da Myrella.

-Eita! -Anthony riu. -Amor juvenil!

-Scott, Scott. -Sherry sorriu para ele. Seu cabelo castanho balançava com o vento do meio-dia. Seus olhos escuros lançavam um semblante penetrante. Sherry era uma garota branca, e passava maquiagem para ficar ainda mais branca. Scott dizia que ela parecia uma boneca de papel. Ela achava aquilo engraçado.

Max adorava o fato de sua namorada ser capaz de interagir assim com Scott. Mas também estranhava o fato de quê Scott muito facilmente se aproximava de mulheres. Aquilo lhe causava leves ciúmes. Ele entendia aquela pequena parte de Zack que não podia ver Luci perto de algum dos meninos, mas não se rebaixaria àquilo.

-Tudo bem, Scott. -Anthony sorriu. -Mas o quê quiser que aconteça deve depender de você.

-É. Simples assim. -Scott concordou.

Silêncio se fez.

A turma subiu para a aula.

A aula foi particularmente chata. Scott ficou em silêncio sem conversar. Max e Sherry tomaram sermões por ficar trocando afeto durante a aula.

Scott percebeu que Ralf parecia incomodado com algo.

-Aí, pateta. -Ele chamou. -Algum bicho te mordeu?

-Scott... -Ralf olhou para ele com olhos castanhos cansados. O garoto suava, seus olhos estavam ficando vermelhos. -Tem alguma coisa errada.

-Hein? -Scott ergueu a sobrancelha. -Como assim?

-Acho que... -Ralf sussurrava -Eu tô morrendo...

-O quê!? -Scott exclamou.

A professora Lena parou de falar. Ela se voltou para eles. Lena era uma mulher de meia idade, seus cabelos pretos estavam presos, seu enorme óculos reluzia. As rugas em seu rosto se curvaram formando uma expressão draconiana. Seus pequenos e fundos olhos pretos se voltaram para eles.

-Ei! Por que está gritando? -Lena fechou a cara. -Meu deus, garoto, o quê você tem?

-Tem alguma coisa acontecendo! -Scott gritou.

-Scott? -Sherry falou.

Ralf se curvou para frente.

-Ralf! -Scott falou. -Fica acordado!

-Rápido, levantem ele! -Lena gritou. Naquele momento, um pânico imenso se espalhou pela turma. Gritos se espalhavam entre os alunos, Myrella ao fundo tentava acalmar os estudantes. Aaron se levantou e correu para fora da sala.

-Max, me ajuda! -Scott falou, e tentou segurar Ralf com a mão para levantá-lo.

Scott percebeu que o garoto estava suando demais, e algo pegajoso escorria por suas mãos. Scott pegou-o pelo braço e tentou levantá-lo da cadeira. Naquele momento, Ralf ficou mais leve. Scott percebeu tarde demais.

Gritos e berros aterrorizados se espalharam entre os estudantes, crianças se levantavam e corriam, Lena pôs as mãos na cabeça e começou a gritar.

-MEU DEUS NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!

-Ralf... -Scott olhou aterrorizado. O corpo do menino se dividiu em dois quando foi levantado. Scott soltou ele, e assistiu, chocado, enquanto o corpo se desmanchava ao bater no chão, como um boneco de argila e cola.

-NÃO! -Max berrou.

-Mas que porra é essa!? -Os olhos de Scott se arregalaram. -Ralf isso é alguma brincadeira? O quê tá acontecendo!?

Ele ficou quieto subitamente. Chocado, aterrorizado. Ele se lembrou de como ele foi neutralizado e devastado no dia em que Joe morreu. Memórias medonhas correram por ele. Brigas entre seus pais, os dias em quê ele simplesmente olhava para o café da manhã sem comer nada. As noites que chorou se culpando por não ter feito nada para salvar Joe.

-SCOTT! NÃO APAGA! -Max berrou. -FICA ACORDADO!

Scott não resistiu. Sua cabeça pesou e tudo ficou escuro.

Ele tentou se segurar, mas apenas via lampejos de memórias.

Ele viu uma mulher pálida de cabelos negros sorrindo.

Uma garota loira sorrindo.

Um homem com chapéu enorme olhando feio para ele.

Um grupo de garotos rindo dele.

Um grupo de garotos rindo com ele.

Os lampejos pararam e ele ficou preso em uma memória.

Agora, ele era novamente um fantasma, perdido em momentos esquecidos de uma vida desconhecida.

Scott caminhava por uma instalação industrial. Ele via máquinas operando do outro lado de grades escuras, ele seguia andando por um corredor cercado por grades. De ambos os lados, uma escuridão tensa se postava sobre ele. Ele andava e andava sem parar. Seu eu murmurava algo.

"Ele era meu amigo. Ele morreu por minha causa."

Ele já sabia qual tinha sido o gatilho daquilo. Scott se lembrava de alguns lapsos que teve após a morte de Joe, onde ele via memórias de seu nêmese em um velório. Alguém importante acabara de morrer ali.

Scott caminhava, mas parou abruptamente. Ele viu uma silhueta se movendo à distância. Sua consciência começava a retornar. Ele apagou enquanto ouvia a "sua" voz gritando:

-ZAEDERON! EU VOU TE PEGAR SEU FILHO DA PUTA!

--

Scott abriu os olhos. Nathan e Hector cutucavam ele. Max e Sherry estavam sentados em uma cadeira ao seu lado.

-Scotta! -Max exclamou. -Cara, que susto! Você tá bem?

-Max... Eu tô. -Scott baixou o olhar. -Mas... Não sei.

-Cara... -Max olhou para ele. -A coisa ficou estranha. Muito estranha.

-Eu sei. O Ralf morreu?

-Não. A gente veio aqui e trouxe você. O Maurice ligou para os pais do Ralf. Ele não veio para o colégio hoje.

-O quê!? -Scott ficou em pé. -Como!?

-Parece que a rua deles foi interditada por causa de um ataque mutante. Ninguém aqui sabia. Aquele Ralf na sala... Era falso.

-Mas que caralhos? -Scott olhou para Nathan e Hector. -E vocês dois?

-O Aaron apareceu lá na nossa sala pedindo socorro. -Nathan disse. -O David e o Hector vieram correndo, e eu vim atrás. Eu te trouxe até aqui.

-Valeu.

-Mas cara, isso tá ficando tenso. -Hector falou. -Eu conversei com a Starla. Ela vai esperar a gente na casa dela amanhã de manhã.

-O intervalo vai ser daqui a pouco. -Nathan falou. -Zack ficou de procurar a Erine. Ele vai explicar tudo para ela. Mas é estranho. Um Ralf impostor...

-O Julian foi para a sala ver o quê houve, e dar uma analisada no Ralf falso. -Max disse. -David foi com ele.

-Entendi. -Scott se sentou. -Mas como diabos isso foi acontecer? Ele tava lá todo aquele tempo... -O olhar de Scott ficou sombrio. -Ele falou meu nome.

-O quê? -Nathan perguntou. -Como assim?

-Ele disse meu nome. Ele sabia quem eu era. Tem alguma coisa errada.

-Mas que merda. -Hector disse. -Será que... Gyazom?

-Aposto que sim. -Scott respondeu.

-Eles não demoraram tanto dessa vez. -Max disse. -Mas era óbvio que iam vir. O quê a gente faz?

-Vamos ter certeza primeiro. -Hector respondeu.

-Amor, -Sherry chamou. -Quem é essa gente que ia vir?

Hector ergueu a sobrancelha e murmurou "amor?" olhando para Scott. Scott fez que sim.

-São os vilões que atacaram nossa turma no final do ano passado.

-Mas o Lâmina Dourada não acabou com eles? -Sherry ficou com a voz trêmula.

-Com alguns.

-Mas Max... Se eles vão voltar mesmo, o quê você vai fazer?

-Lutar.

-Max... -Ela disse com os olhos marejando. -Não, por favor.

-Não!? Eles podem matar meus amigos! Se eu ficar quieto, então eles podem matar a gente um a um!

-Max! Para com essas ideias! -Sherry gritou. -E se você morrer!?

-Eu não vou!

-Ei, ei, ei! -Uma voz disse entrando na sala. Era Julian. -O quê tá acontecendo?

-O Max! -Sherry desabou em lágrimas.

-Eu!? Você quer que eu deixe meus amigos na mão!? Eu não vou!

Sherry chorava conforme Max gritava.

-Max, calma. -Scott falou.

-Ela só tá preocupada, cara. -Hector disse. -Deixa ela se acalmar e vocês conversam.

-Que merda... -Max resmungou. Ele se virou e saiu da sala.

-Amor, espera! -Sherry gritou entre soluços, e foi atrás dele.

-Idiotas. -Scott falou.

-E se um deles for um farsante também? -Nathan questionou.

-Aí fodeu. -Scott respondeu.

-Ei! -Julian gritou. -Vão se acalmando. Eu já vou atrás daqueles dois. Mas antes eu preciso que vocês me escutem.

-Gyazom? -Nathan perguntou.

-Sim. -Julian respondeu. -O falso Ralf desenhou o símbolo da Gyazom no caderno. Alguém percebeu aquilo?

-Que merda... -Scott resmungou. -Eu devia ter visto.

-Tudo bem. Acalme-se. -Julian disse. -Preciso saber se alguém falou com o Ralf hoje.

-Não. -Scott disse. -Eu sou o único amigo dele. Ele tava quase virando um cadáver na sala mais cedo.

-Droga. Precisamos falar com a Erine. -Hector disse. -Ela talvez saiba o quê fazer.

-Onde a gente se encontra amanhã? -Nathan perguntou.

-Shopping. -Scott disse. -Max queria ir lá com a Sherry.

-Feito. -Hector respondeu. -Assim que a gente sair daqui, vamos avisar a Erine e o pessoal. E depois, o Jeff.

-É. -Scott concordou. -Se atacarem a gente no Shopping outra vez, o Jeff vai estar lá.

-Isso. -Nathan disse. -E eu vou levar meu irmão dessa vez.

-Cara, -Hector sorriu. -Eles não vão ter a menor chance!