-Bom dia, querida! -Erika sorriu.
Olívia acabara de levantar, sua cabeça estava doendo.
No início do ano, Olívia começou a procurar um trabalho para conseguir começar uma vida. Ela havia perdido sua família. Seus velhos amigos simplesmente não queriam saber dela. Ela não podia fazer nada com relação à isto.
Niccolo estava morto. Erika e Gerard a adotaram como uma filha depois que Joe morreu. Ele morreu porquê foi defender ela e Niccolo da organização. A organização da qual ela havia fugido por motivos fúteis.
Será que havia algum outro culpado além dela?
-Oi, Erika. -Ela deu um frágil sorriso. -Desculpe, eu perdi o horário...
-Tudo bem. Levante, eu deixei seu café arrumado.
Erika a tratava tão bem. Olívia chorava muito por conta disso quando estava sozinha. Ela se levantou, comeu, se arrumou e foi ao trabalho. A sorveteria onde trabalhava era próxima do maldito shopping.
Todos os dias, Olívia observava aquele shopping pela janela da sorveteria. Todos os dias, ela se lamentava pelo quê havia acontecido com Joe.
Aquela tarde em específico estava chuvosa, e muito provavelmente quase ninguém iria ali. Mas é claro, ao menos uma pessoa aparecia lá todos os dias. E naquela tarde, Anne entrou ali.
-Oi. -Anne se sentou em uma cadeira próxima ao balcão. Olívia deu a volta e se sentou junto dela.
-Oi, Anne. Como vai?
-Péssima. Minha mãe deve estar me procurando agora.
-Você... Fugiu?
-Eu só saí sem avisar.
-Por quê?
-Porquê sim. Você e o Matt são meus únicos amigos. Eu não consigo falar com mais ninguém.
-Ah. Você acha que a Erine ainda está brava?
-Está. É óbvio que sim.
-Entendo. E a Martha?
-A Martha não deixa eu chegar perto dela. Uma vez eu tentei dar oi, e ela mandou eu ir me foder. Ela gritou e me xingou. Me chamou de várias coisas.
-Várias coisas?
-É. Maluca, obsessiva, doente, asquerosa...
-Sei. Vocês são bem novas, aliás. -Olívia suspirou. -Acho que precisam arrumar um tempo juntas. Um dia ela talvez te perdoe.
-Talvez. Mas eu acho que...
-Ei, não chore. Se ela não te perdoar, tudo bem. Nem todo mundo vai.
-É. Eu sou um monstro.
-Não. Você é só uma idiota. Martha e Erine também são. Eu também sou.
Era irônico. Ela dizia aquilo tudo, mas se culpava todos os dias.
-Merda... Mas... Eu ainda... Eu ainda gosto dela...
-Sabe, Anne, eu acho que dar um fora em alguém pode ser uma situação complexa. Muitas pessoas te olham com maus olhos por isto. Muitos te culpam, e às vezes até você mesmo se culpa por ter ferido alguém. -Olívia coçou a cabeça. -Desculpe, eu... Exagerei.
-Não. -Anne a olhou com olhos curiosos. -Mas acho melhor deixar o assunto de lado, né?
-Não. Mas você devia deixar a Martha de lado. Se ficar assim, vai acabar perdendo outras oportunidades da vida.
-Ela... Deixou a oportunidade de ir para um colégio ótimo...
-É. Ela teve seus motivos. E você, não têm motivos para lutar e conhecer pessoas novas?
-Não.
-Vamos, Anne. Você logo acha uma pessoa nova. Uma pessoa diferente.
Olívia por um segundo pensou em usar a palavra "melhor". Mas não ousaria fazer um comentário daquele tipo.
-E se eu...
-Não vem com "e se". Você vai. Mas só depois de esquecer a Martha. Entendeu?
-Certo. Mas...
-Mas nada. Você precisa conhecer uma pessoa interessante por aí. Você não se interessa por garotos?
-Não.
-Vamos achar uma gatinha para você, então! -Olívia sorriu. Ela lançou aquele sorriso que Erika sempre dava a ela quando ela estava triste.
-Nossa. -Anne engoliu. -Você... Você falou e sorriu igual a ele...
-Ele quem?
-Joe...
Joe.
Olívia pensava muito em quem fora Joe Ardenbrough. O rapaz se tornou uma lenda para ela. As histórias de sua bondade e sua capacidade de liderança eram de se admirar. Erika costumava dizer que Joe era igual a Jake Ardenbrough em tudo. Aquilo era... Assustador.
-Anne... Eu tenho uma ideia. -Olívia sorriu. -Vamos achar o Jake Ardenbrough!
-Jake... O tio do Joe?
-É! Você disse que eu pareço o Joe. A Erika sempre diz que Jake era igual a ele!
-Mas por quê a gente deveria? O Joe não fazia ideia de onde achar ele.
-Todo mês, Jake manda um envelope com dinheiro para Erika. O problema é que a gente não sabe de onde vêm.
-É. Acabou a busca.
-Não. É meio óbvio que o Jake deve ter deixado alguma informação sobre o paradeiro dele.
-E quê informação é essa?
-Não sei. Os envelopes têm algumas cartas escritas. Se a gente estudar bem eles...
-Então a gente acha alguma coisa.
-É.
-Mas e se não der certo?
-Pensa positivo!
-Olívia, eu...
-Você é uma gótica trevosa, eu sei. Mas eu não. Eu conheço alguém que pode ajudar a gente.
-Quem?
-Um grupo de garotos. O nome deles é Mirai.
-Tem certeza?
-Absoluta.
-Bem, precisamos de um ponto de partida para isso.
-É. Precisamos primeiro achar algum jeito de sair atrás deles.
-E você trabalha.
-Se não tem muito movimento, eu posso deixar Lo Duplo no meu lugar.
-Espera, isso é...
-Quietinha. Isso é só entre nós duas.
-Caraca, Olívia!
-É.
-Poder ter alguém com um rosto igual ao seu para fazer as coisas é um poder incrível! -Anne sorriu.
Olívia se emocionou com aquele sorriso. Era singelo e bonito. Anne raramente sorria daquela forma. Mas a frase invocou memórias. Memórias ruins.
"O meu nome agora é Hikiro. Eu sou um prodígio! Eles me amam! Vamos, Olívia, vai ser incrível!"
-É... -Olívia engoliu em seco. -Vai ficar aqui a tarde toda?
-Sim, eu acho.
-Vai na sua casa, e diz para sua mãe que vai dormir lá em casa. Eu explico a Erika tudo.
-Mas...
-Vai!
Anne se levantou e saiu correndo em meio à garoa que estava caindo lá fora.
Olívia se sentou. Ela pensou novamente naquele homem. Hikiro, era como ele havia se denominado.
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-Olá, Olívia. -O menino disse à ela. Estavam no oitavo ano. -Eu vi aqueles merdas te xingando. Você tá bem?
Olívia estava sentada em um canto distante do colégio, chorando.
-Não. Eles me disseram coisas horríveis.
-Eu sei. Me dizem todos os dias. Eu acho que eles têm medo de nós.
Olívia soluçou.
-Eu não fiz nada. Nunca fiz.
-Nem eu. Eles fazem porquê são idiotas. São fracos. Você comeu algo?
-Não. Eles me perturbam sempre. Não me deixam comer.
-Desgraçados. Eu posso dividir a comida com você.
-Comida?
-Eu trago comida de casa todos os dias. Posso trazer um pouco mais.
-Por quê?
-E por que não?
-Porquê é sua comida.
-Nós podemos ser amigos e dividir, então. Vamos lanchar juntos, assim vamos poder se ajudar.
-Nos ajudar.
-É. Nos ajudar. Você é inteligente. -O garoto sorriu. -Muito prazer, nova amiga. Meu nome é Hirasawa Hayashi. Pode me chamar de Hayashi.
-Oi, Hayashi. Meu nome é Olívia Montejo. Vamos ser amigos?
-Vamos! -Hayashi sorriu e se sentou com ela, no chão.
-Certo!
Os dois riram por alguns minutos, e tentaram conversar. Não tinham assunto, mas pela primeira vez, tinham alguém que compreendessem. Uma linda amizade nasceu naquela tarde, a amizade entre Olívia Montejo, a filha de um traficante de cartel e Hayashi Hirasawa, um psicopata.