Naquela manhã, o centro de Gardeville estava um caos, como de praxe. Próximo a algumas lojas, um grupo de pessoas saqueava algumas pequenas lojas e fugia. Aquela era a rotina da Hazard, uma famosa facção anarquista na cidade.
O grupo que atacava as pequenas lojas gritava e corria, espalhando pânico entre as pessoas. Apesar da fama, eles não costumavam machucar pessoas diretamente, apenas as propriedades.
Membros da Hazard eram extremamente difíceis de se detectar, pois sempre estavam vestidos das mais variadas formas, como punks, trajes religiosos, roupas sociais, roupas esportivas, e até mesmo se fantasiavam como furrys.
Enquanto tumultuavam, cinco dos membros se reuniram na frente de uma loja.
Os cinco eram homens, um deles era bem jovem, por volta de 19 anos. Dos outros, três estavam na faixa de 25 anos, e o último possuía mais de 50 anos.
-Conseguiram algo interessante, rapazes!? -O mais velho sorriu.
-Só coisas brilhantes e valiosas! -Um dos jovens sorriu, e mostrou uma bolsa cheia de celulares.
-Nossa, isso dá um dinheirinho gostoso! -Outro jovem riu.
-E aí, mais alguém? -O rapaz dos celulares perguntou.
-Sim. -O mais novo respondeu. -Olha isso.
Ele ergueu um rolo de papel.
-Quê porra é essa? -Outro jovem indagou.
O garoto abriu o rolo. Era uma pintura.
-Dinheiro. Muito dinheiro. -O garoto riu. -Isso aqui vale mais que essas lojas inteiras aqui.
-Uma pintura roubada de um museu. -O velho assentiu, impressionado. -Como?
-Aproveitei quando vocês começaram a fazer barulho, enquanto as pessoas ficaram em pânico, eu fingi que estava assustado e misturei. Depois, eu fugi pelos fundos do museu.
Os outros riram e bateram palmas.
-O novato é bom! Muito bom! -O velho disse e riu. -Como é seu nome, moleque?
-Lincoln. -O garoto respondeu.
-Muito bem, hoje vamos brindar ao Lincoln. Mas agora, vamos guardar essa princesinha antes que venham atrás.
-Certo! -Lincoln disse.
Lincoln guardou a pintura em suas roupas, usando o cinto da calça jeans para prender o rolo.
Os cinco caminharam por entre becos e lojas enquanto outros membros faziam mais barulho. Logo, se afastaram do tumulto.
-Uma quadra. -O velho disse. -Uma quadra de distância é o suficiente para que nenhum de nós tenha nada a ver com a situação.
-Como assim? -Lincoln perguntou.
-Simples. -O velho sorriu. -Estamos perto da Hazard. Mas não temos nada a ver. Vamos voltar para alguma das bases e aí vamos negociar essas belezinhas...
-Negociar essas belezinhas!? -Uma voz ecoou de perto deles.
-O quê? -O velho indagou.
A voz vinha do meio da rua. Ali, um homem alto e forte, vestindo um uniforme de jogador de baseball sorria para eles. Seu queixo e nariz finos se curvavam e se franziam, graças ao sorriso. Sua pele pálida contrastava bem com as linhas das marcas de expressão.
-Rendam-se, arruaceiros! -O homem gritou. -Ou serão vencidos, em nome dos bons modos!
-Quem é você, palhaço? -Um dos jovens gritou.
-Eu sou... -O homem apontou o dedo para o céu. O sol do meio-dia brilhava acima deles. -O HERÓI DA JUSTIÇA!
Os cinco riram.
-Escape, Lincoln. -O velho sussurrou.
Lincoln procurou uma saída. Havia um beco próximo deles.
-Vai fazer o quê, senhor Nome-de-Herói-Foda-E-Criativo? -Outro jovem o questionou.
-Derrotá-los, em nome da justiça!
-Pois venha! -O velho bradou e foi para cima do homem.
Lincoln disparou, e correu em direção ao beco, por onde se esgueirou e fugiu. Ele deu uma volta e se distanciou, até passar de uma quadra de distância da situação toda. Ele começou a procurar por outros membros, esperando ser guiado de volta para alguma base.
Os quatro correram na direção do Herói da Justiça, e atacaram a toda. Em segundos, o homem estava caído no chão.
-Idiota. -Um dos rapazes disse.
-Parados... -O homem disse.
-Vamos embora. -O velho falou.
Por um momento, ele teve uma sensação incômoda, uma pulga atrás da orelha. Ele olhou para o homem no chão, que sorria.
-O quê... Quem é você, seu maluco?
-Ah, eu esqueci. -O homem se sentou. Suas feridas e marcas faz batidas haviam sumido. -Meu nome é Vrazael.
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Hector, Zack e David chegaram juntos na sala. Scott e Max foram mandados para outra sala naquele ano. Os três entraram, e se depararam com Vickie e Claire discutindo. Vickie havia repetido o ano por razões de saúde, sendo agora a aluna mais velha da sala.
Claire e ela discutiam justamente por causa da Hazard.
-Vickie, você acha que isso é uma coisa legal? Eles são vândalos!
-Não! Eles são revolucionários! O sistema oprime a população, e eles lutam contra esse sistema! Nós que somos o futuro da nossa nação temos que defender as pessoas, se não o sistema vai controlar a gente!
-Vickie tá certa. -David disse.
Vickie era a garota mais desejada da sala, todos os meninos concordavam com tudo o quê ela dizia. Ela era uma garota alta, branca de olhos castanhos e a pele extremamente clara. Ela também era amigável e sociável, o quê fazia dela a queridinha de todos, mesmo que discordassem dela.
-Não sei. -Hector falou. -A Hazard é uma organização meio... Problemática. Quebrar as coisas não vai fazer o mundo melhor.
-Ah, lá vai ele concordar com a Claire. Tinha que ser o namoradinho dela! -Alex interrompeu.
-Ei! -Vickie disse. -Não precisa disso, Alex.
-Mas...
-Tem dias que eu queria ser o Scott. -Zack disse. -Ele manda todo mundo se foder e evita incômodo assim.
-É... -Hector assentiu. -Você tá mais que certo.
-Ei, galera, parem de discussão! -Starla interrompeu enquanto entrava na sala.
-O quê você acha, Starla? -Vickie questionou. -A Hazard faz bem em quebrar tudo?
-Nossa, que pergunta complexa. -Starla pôs a mão no queixo. -Eu acho que... A Hazard está meio certa. A confusão que eles causam é muito grande. Eles têm um ideal justo, apesar disso. Não posso dizer que sejam criminosos, mas são. Se eles fossem mais equilibrados, então eu defenderia plenamente eles.
-Mas se não fizessem tudo o quê fazem, o sistema não teria diminuído a opressão! -Vickie exclamou.
-Diminuiu? -Claire questionou.
-Claro! A população precisa de liberdade!
-Gente, calma. Tem muita coisa complexa pra se discutir aqui. -Starla disse. -O sistema oprime a gente desde sempre. A Hazard é apenas uma das milhares de combatentes dos opressores. Mas claro, eles não lutam por igualdade, apenas por liberdade.
-Temos que ser livres dos grilhões da sociedade! -Vickie gritou. "Quebrem os Grilhões da Sociedade!" Era o lema da Hazard.
Uma comoção começou entre os estudantes. Starla passou a mão na testa.
-Ah, Vickie, você é muito carismática.
-Na verdade ela só é bonita. -Zack resmungou. -Por isso todo mundo concorda. Carismático é o Hector.
-E bonito? -Hector perguntou.
Todos riram.
-Ah, pronto. -Starla sorriu. -Não façam times, por favor. Se unam que vai ser mais fácil combater o sistema e a desigualdade.
-Boa ideia! -David sorriu. -Vou adorar trabalhar com a Vickie.
-Ah, que dificuldade de lidar com vocês. -Starla riu. -Só não peço pra crescerem mais rápido porquê vou sentir saudades de vocês.
-Calma, profe, a gente te ama também! -Vickie disse.
-Aliás, essa discussão de vocês me fez perceber como nós mulheres estamos cada vez mais poderosas! -Starla riu alto. Hector pensou em Atlas. -Alguém aqui conhece Joana Spark?
-Não. -Hector disse.
-Ela foi a primeira mulher da história a se tornar um Elo. -Starla sorriu. -Antes disso, somente homens eram eleitos como um Elo. Dizem que ela matou um mutante tão forte que nenhum outro homem na história jamais havia conseguido chegar perto.
-Que foda. -Hector disse. -O quê mais ela fez?
-Ela liderou um exército em uma guerra lá em 1400. O exército dela lutou bravamente por anos, e eles só morreram porquê entraram em conflito com um bando de piratas enorme.
-Nossa! -David disse. -Aposto que ela era muito linda!
-Ah ela era. Hoje ela é conhecida como "A Donzela das Fagulhas", já que ela era capaz de criar uma rajada de fogo e choque em forma de fagulhas. No final, ela foi considerada heroína, apesar de ter vivido em um mundo que dizia que mulheres deviam ser salvas por homens.
-É isso que nós temos que ser! -Vickie exclamou. -Se ficarmos a mercê dos homens a vida toda nunca seremos ninguém!
-É. Seremos apenas umas... -Starla coçou o queixo. -Umas Maira-Ninguém!
Hector suspirou enquanto as garotas e Starla começaram um debate social sobre o assunto. Mas por alguns segundos, seu cérebro lembrou de Crash.
"Ninguém. Ele é o verdadeiro monstro..."
Talvez Crash quisesse dizer que ninguém fosse um monstro nessa história, apenas um herói de seu próprio ponto de vista. Mas ainda assim, Hector pensava na possibilidade de haver um monstro chamado "Ninguém" em algum lugar.
-Ei, Zack, depois pode me ajudar com umas teorias? -Hector o convidou.
-Cara, se quiser agora, eu topo. Não quero me meter nessa conversa delas.
-Certo. Eu queria saber se você tem alguma ideia de como a gente encontra um cara sem nome.
-Sem nome? -Zack ergueu a sobrancelha.
-Bem, ele tem um nome. Chamam ele de Ninguém.
-Vai ser difícil. Mas se a gente achar alguma pista... Bem, a gente vai descobrir rapidinho. Vai ser bom ter uma ajuda, sabe?
Hector olhou para David, que estava distraído vendo as garotas discutindo. Atrás dele, Nathan dormia na carteira.
-Ah, cara, nossa ajuda não é lá das melhores. Mas vamos tentar.