Hector aproveitava seu domingo sentado no chão, jogando videogames, até que uma visita inesperada tomou sua atenção.
-Olá, campeão! -William entrou na sala, sorrindo.
-Tio Will! -Hector se levantou do chão, e abraçou William.
-Ah, rapaz, que dia. Que dia! -William estava extremamente sorridente. -Marshall me disse que você agora tem poderes. Que dia, amigão!
Hector deu uma risada calorosa.
-Sim! E é incrível! Eu posso usar fogo!
-Fogo!? Isso é incrível! Eu nunca ouvi sobre um Draakins que pudesse usar poderes de fogo! Pode me mostrar?
Hector pensou por um tempo.
-Eu... Acho que sim.
-Ótimo. Eu também trouxe um amigo. Lembra dele?
Clint entrou na sala. Hector sorriu e o cumprimentou.
-Caraca, Clint, quanto tempo!
-Muito tempo, rapaz. Como está sua relação com a Glória?
-Parece uma parte de mim. -Hector sorriu.
-Que incrível, garoto. Sua história é bem interessante. Mas a gente precisa dar uma olhadinha nesse seu poder.
-Por quê?
-Bem, você usa uma arma feita de metal e madeira. Combinar isso com fogo é um pouquinho... Desgastante.
-Ah...
-O martelo pode quebrar com facilidade assim. -William disse. -Se você esquenta a cabeça dele e bate, quando mais forte bater, mais provável que você termine amassando ela.
-Que estranho. -Hector olhou para suas mãos. -Eu lembro de ter pego ela quando lutei, mas não queimou nada. Acho que... Sei lá.
-Curioso. Vamos ver, então? -Clint perguntou.
-Tá bom. Mas não seu se minha mãe vai deixar.
-Vamos ver. -William se virou e foi até a cozinha, onde o Marshall e Vanessa comiam e brincavam com Kelly. -Ei. Vamos testar o poder do Hector. Podemos fazer no quintal? Ou vocês preferem...
-Vamos. -Marshall se levantou da cadeira. -Quero ver os poderes do Hector. Tudo bem, querida?
-Sim. -Vanessa respondeu. -Mas se queimar algo, vocês vão limpar.
-Sim senhora. -William bateu continência.
Hector riu. Ele adorava aquela piada.
William foi até o meio do quintal, e olhou em volta. Assim que Hector, Clint, Marshall e Vanessa chegaram, ele gritou.
-PRONTO!?
-SIM! -Hector gritou.
Hector sentiu a sensação vinda lá do fundo, como uma enxurrada. Uma sensação única o preencheu, e então... Fogo.
Ele sentiu seu corpo exalar energia, e estava com seu corpo coberto outra vez. Ele convocou Glória. Ela brilhava, como naquela noite. Clint olhava maravilhado.
-Incrível! -Ele disse.
-Mas que coisa linda! -Marshall gritou.
William bateu palmas, e Vanessa chorava.
-Finalmente! -Vanessa disse entre soluços. -Você finalmente conseguiu... Meu filho agora tem poderes!
Ela e Marshall se abraçaram. Kelly ria vendo Hector brilhar.
-Fowo... -Ela disse.
-Hahaha que linda! -Hector riu.
-Então, rapaz, não exale energia nenhuma. Parece que você consegue conter a temperatura. -Clint disse. -Me dê o martelo. Preciso ver isso.
Hector se aproximou de Clint. Clint parecia bem.
-Você tá sem calor ainda? -Hector perguntou.
-Quando você chega perto, eu sinto mais. Mas por enquanto, pode vir. -Clint contou.
-Aqui. -Hector esticou a mão, e soltou Glória no chão. Ele recuou e esperou que Clint pegasse.
Clint pegou o martelo pelo cabo.
-Parece um pouco mais pesado que quando eu forjei. -Ele tocou na cabeça do martelo, e chacoalhou a mão. -Queima. Mas parece que a temperatura está contida no interior de Glória. É... Único.
-Que estranho. -Hector falou.
-Muito estranho. -William disse. -Mas é ótimo, não corre o risco de matar aliados quando passa por perto.
-E também, não está alterando em nada o metal. -Clint parecia assustado. -Eu nunca vi uma coisa dessas.
-Não? -William se aproximou. -Como isso é possível?
-Não é possível. -Clint olhou para William. -É... É simplesmente mágico demais. Parece que o metal não é maleável quando esquenta com o fogo dele. Mas as outras coisas queimam. Isso não faz sentido.
-Glória é parte de mim. -Hector sorriu. -Ela jamais vai queimar com meu fogo.
-Bem... -Clint olhou para ele e deu uma risada. -É a única explicação possível.
-Um poder único e misterioso. -William disse. -Faz coisas esquentarem, mas retém a temperatura... Você sabe desativar esse modo... Flamejante?
Hector parou. Como ele fazia aquilo?
Ele pensou um pouco. Ele sentiu a energia que emanava dele, e tentou puxá-la para ele. Ele ficou tonto, e a energia pareceu voltar para ele, Hector esquentou e desmaiou.
-Ei, calma! -William correu para ele.
-O quê aconteceu!? -Vanessa gritou enquanto corria até ele.
-Ele está bem. -William tocou na testa dele. -Só fez muita força.
-Desculpem por isto. -Clint se curvou para Vanessa e Marshall.
-Tudo bem. -Marshall disse. -Ele vai ficar bem. Só precisa aprender a controlar seus poderes.
-Tudo bem!? Ele desmaiou! -Vanessa gritou. -Ele...
-Mãe...? -Hector acordou.
-Opa, carinha. -William riu. -Você apagou legal aí.
-Droga.
-É. Vai ter que ensaiar um tempo até conseguir controlar esses poderes. Mas vamos fazer isso outra hora, tudo bem?
-Certo. -Hector se sentou no chão.
-Então não tente usar seu poder se não for uma emergência. -Clint falou. -Enquanto não descobrirmos como ele funciona em cada pontinha, é melhor usar com cuidado.
-E se...
-Não. -Vanessa o interrompeu. -Só vai usar se for uma emergência e acabou. Para dentro, Hector. Vocês três podem entrar também, acabou o teste.
-Desculpe, Vanessa. -William disse.
-Mil perdões, madame. -Clint falou.
-Deixa que eu limpo tudo aqui fora. -Marshall suspirou.
Vanessa entrou, e Kelly ficou ali com Marshall, brincando enquanto o pai lavava a calçada e tentava remover a marca de queimado.
Hector voltou aos jogos, mas sentiu uma fome intensa.
-Cara, o problema de usar esse poder, é que eu preciso comer muito depois. -Ele falou.
-Uma consequência... -Clint olhou para ele.
-É. Uma das piores. -Hector riu.
-Realmente, uma das piores possíveis.
-Mas se pensar bem, eu não vou precisar usar o banheiro nunca mais! -Hector teve seu momento de brilhantismo.
-HECTOR! -Vanessa gritou, e Hector riu. -NÃO OUSE!
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Naquela manhã, Erika pegou um envelope que foi enviado a ela.
Ela entrou em casa, e abriu. Era um comprovante, de uma quantidade considerável de dinheiro que havia sido depositada em sua conta. Ela suspirou. Dessa vez, um papel caiu no chão. Era um recado escrito à mão.
-O quê...?
Gerard, que estava na cozinha, foi até a sala.
-Algum problema? -Ele questionou.
-Jake? Foi você que escreveu isso?
Ela pegou o papel na mão. Era a letra de Jake. Ela começou a tremer. Gerard viu e chegou mais perto.
-Tudo bem, amor?
Olívia acabara de sair de seu quarto, o quarto que antes era de Joe. No dia anterior ela havia ligado para Erine explicar que não poderia ir com eles para avisar que não podia ir com eles por estar "cuidando de Erika". Ela simplesmente não sentia vontade de sair às vezes. Nem de casa, nem de seu quarto. Nem de lugar nenhum. No entanto, Erika era como uma mãe para ela.
-Erika? Você tá bem?
-Oi, querida... -Erika olhou para o recado, e para Gerard. -Desculpem, eu me assustei.
-O quê... É isso?
-Acho que é uma carta.
-De quem?
-Deixa eu ler.
A carta estava escrita toda à mão, e era a mesma caligrafia que ela vira anos atrás.
"Oi, maninha, tudo bem?
Espero que esteja bem. Eu não costumo fazer essas escritas, mas eu estava pensando em muitas coisas ultimamente. Mikaela e eu estamos com saudades, minha linda. Todos os dias eu penso em você, mas não consigo mais voltar atrás. Desculpe por tudo, eu sei que eu te deixei quando você mais precisou de mim. Eu ainda não me perdoei por isso.
Seu filho também, sempre quis conhecer a criança. Espero que ela esteja bem, e que tenha muita saúde. Se for possível, não me procure. Eu vivo como um mercenário bem longe de Gardeville. Se um dia precisar de mim, apesar de tudo, eu cruzarei os céus por você, Erika. Viva bem, e fique bem longe de drogas e bebidas, porquê isso destruiu nossa família.
Eu soube da morte de Angeline, por isto estou mandando esta carta, lembro de como você admirava aquela moça. Lembre-se de escovar bem os dentes antes de dormir, de se cobrir bem e não remoer o passado. Nós não temos controle sobre ele. Viva bem, maninha. Te amo.
Assinado, seu maravilhoso, maluco, abobado e alegre irmãozão, Jake! E também sua incrível, forte e lindíssima cunhada, Mikaela!"
Desenhos de corações seguiam os nomes. Erika chorava enquanto lia. Gerard e Olívia a olhavam com pena. Os dois também choravam.
-Tudo bem, meu bem. -Gerard falou.
-Ele te ama, Erika. -Olívia deitou a cabeça no cotovelo de Erika, pois não alcançava muito mais alto. -Ele só... Não pode voltar.
-Não mesmo. -Erika concordou. Se ele soubesse sobre Joe, as bebidas, e sobre como ela remoía as coisas... -Ele era meu herói, meu protetor. Meu anjo guardião. E sempre vai ser.
Ela se sentou no sofá e chorou.
-Ah, Erika. -Gerard suspirou. -Me perdoe por tudo. No final, a gente vive como consegue viver.
-É, e se a gente perde tudo pelo quê podíamos lutar... -Olívia olhou para ela. -Então a gente luta por algo novo.
Erika deu um fraco sorriso. Sua vida ainda estava lá. Ela tinha algo pelo quê lutar.
-Obrigada. Eu amo vocês dois. -Ela os abraçou. -Eu só queria... Só queria poder ter o Joe de novo. Se eu pudesse, reescreveria tudo para ter meu Joe de volta.
-A Noite Macabra – Fim –