Chapter 2 - 0.1

Louis batucava as unhas curtas de uma mão na mesa enquanto tomava um longo gole do seu chá. Ele olhava para as pessoas passando na calçada apressadas através do grande vidro transparente do estabelecimento e se perguntava onde iria encontrar a pessoa perfeita. Não para um relacionamento, pois já estava em um. E sim, para a nova coleção. Não era uma tarefa fácil pois ninguém o agradava o suficiente e não que Tomlinson fosse exigente. Ele está além disto.

Estava aborrecido e frustrado e Niall percebeu isso.

- Eu sei que está bravo, mas eu tenho mais alguns modelos. Eles já estão nessa indústria a algum tempo. Talvez a pessoa que você procura esteja nessa pasta. - O loiro sorriu e entregou a embalagem de plástico firme, recheada de fotografias às quais Louis esperava fielmente que finalmente o agradasse.

O homem a pegou sem muita emoção e bufou. Ele passou as primeiras fotografias de modelos que já havia visto por aí, nas revistas e até em alguns eventos. Mas nenhum parecia o perfil perfeito. A carranca crescia cada vez mais ao ver uma foto e então a próxima. Eram rapazes realmente bonitos e aptos para esse tipo de trabalho, mas Louis não via tudo o que queria ali. Mesmo que ele próprio não soubesse o quê exatamente procura.

- Gostei desse. - Curvou os lábios e acenou positivamente, mostrando a fotografia para Horan. Era um rapaz negro, lábios grossos e olhos grandes. O que mais chamou atenção de Louis foi seu maxilar bem marcado e o olhar firme e confiante do que estava fazendo ali, mesmo que fosse apenas uma foto. Louis sentia falta disso nas pessoas que trabalhavam nesse meio. Eram tão superficiais.

- Gostou?! - Seu olhar se iluminou pois tentava o agradar durante um mês inteiro e o chefe nunca estava satisfeito.

- Sim... Mas não é o suficiente. - Jogou a pasta sobre a mesa revirando os olhos e toda aquela alegria estampada no rosto de Niall se desfez.

- Não existe um perfil existente na terra que você já não tenha visto. - Respirou fundo cruzando os dedos sobre a mesa. - À não ser que você saiba reproduzir uma pessoa adulta e perfeita para o seu agrado impossível de ser alcançado, todas as milhares de sugestões estão aqui.

Mesmo que Tomlinson fosse seu chefe, Niall tinha aquela intimidade amigável com ele. Mas apenas Horan. Louis era o tipo arrogante e grosseiro. Todos que trabalham para ele não ousaria sequer falar daquela forma com o mesmo, pois certamente estaria no olho da rua. Niall sempre foi atrevido o bastante e talvez isso tenha feito Louis se acostumar com o jeito do loiro, pois, querendo ele ou não, Horan era muito competente no que fazia.

Eles eram mais que chefe e assistente. Eram amigos.

- Eu preciso de um modelo... - Parou um pouco e franziu a testa. - Alto, ombros largos, cabelos ondulados na altura dos ombros... Sorriso grande... Covinhas fundas nas bochechas, mas ainda assim, maxilar marcado... - Ditava com uma leve empolgação. Seus olhos vidrados na rua.

- Assim parece que você está falando de alguém em específico. - Juntou as sobrancelhas visivelmente confuso.

- E eu estou! - Exclamou sério. - Veja. - Indicou o rapaz do outro lado da rua, falando com um casal enquanto parecia lhes mostrar algumas flores.

- Não é um modelo. É um mendigo! - Olhou na mesma direção.

- Eu sei. - Se pôs de pé e tirou a carteira do bolso traseiro da calça jeans, logo puxando algumas notas de lá e jogando na mesa. Ele não deu tempo para Niall pensar e já estava saindo do lugar.

- Você não está pensando em contratar aquele morador de rua, que sequer conhece, para ser um modelo da maior agência de Londres, está? - Riu nervosamente ao alcançá-lo.

- Estou. - Olhou de um lado para o outro, se certificando de que poderia atravessar a rua antes que o rapaz se fosse.

- Tomlinson... Isso é loucura. - Tentava impedi-lo, mas era tarde demais.

- Obrigado. - O homem de voz grave agradeceu com um sorriso realmente sincero, enquanto acenava para o casal que havia lhe comprado uma flor.

- Com licença. - Louis pediu educadamente, mas mantinha uma distância considerável. Nunca se sabe do que essas pessoas são capazes, e tudo que ele menos queria era ser roubado.

- O senhor quer comprar flores? Custa apenas dois dólares cada. - Ele parecia ter notado o quão receoso o homem bem vestido e claramente rico estava perto de si. E talvez seja por esse motivo que não moveu nem mesmo um músculo. A última coisa que queria era ser confundido com um ladrão, mesmo que o homem tenha vindo até ele. De qualquer forma, aquele sorriso gentil ainda estava lá.

- Hm... Sim. Me dê... Quantas você ainda tem aí? - Abria a carteira distraidamente, mas Horan parecia muito atento àquele vendedor de flores que não lhe agradava nada.

- Oito, senhor. - Uma felicidade começava atingir seu peito.

- Ok, aqui está. - Entregou algumas notas.

- Oh. Não tenho troco. Mas não tem problema, eu posso ir trocar em algum estabelecimento. - Tinha medo dele renunciar.

- Não, fique com o troco. - Sacudiu a mão no ar, impaciente.

- Muito obrigado. - O rapaz sorriu grandemente e entregou as rosas em suas mãos. Louis as pegou de forma desleixada ao deixar os braços caíram ao redor do corpo e não dar mínima atenção para aquilo que havia comprado.

- Eu tenho uma proposta para te fazer. - Foi direto ao ponto. - E levando em conta a vida que você leva... - Ele não ia, e nem precisava terminar a frase, pois era bem sugestiva. Não se contentando com o que acabara de dizer, olhou o rapaz dos pés à cabeça. Olhar desdenhoso para o corpo sujo, suas roupas poderiam ser facilmente confundidas com trapos.

- Não, senhor. Eu não faço o tipo de coisa que está pensando. - Recuou um passo, sentindo a garganta doer. - Se quiser o dinheiro de volta, aqui está. - Esticou a mão com as notas.

- O quê? - Olhou para Niall, rindo alto e sarcástico. - Qual o seu nome?

- Harry Styles. - Disse firme, tentando não transparecer o desconforto.

- Pois bem, Harry. Eu não vim aqui achando que você é um prostituto. - Rolou os olhos pela décima vez só naquele dia.

- E o que o senhor quer? - Dessa vez Styles não se certificou em ser educado, pois Louis não estava sendo e ele já perdia a paciência. Harry odiava burgueses com todas as suas forças. Eram sempre tão mal educados, mesmo que obtendo tanta riqueza. E não poderia expressar sua raiva aos que tratavam pessoas como ele com desprezo.

- Me chamo Louis Tomlinson e sou dono da agência de modelos, Tomlinson's. Estou à procura do perfil perfeito para a nova coleção que tenho em mãos há quase um mês e você se encaixa perfeitamente nele. - Falava sério. - Niall? - O loiro o entregou um cartão de visita. - Esse é o meu cartão com o número de telefone e o endereço da agência.

Harry pegou o cartão num preto fosco e o analisou. Louis encarava seu rosto atentamente para qualquer reação e ele percebeu isso ao erguer o olhar um pouco envergonhado e muito desconfiado. Aquilo era no mínimo estranho, ninguém chega em um vendedor de flores ambulante e lhe oferece um emprego desses.

- Desculpe, senhor. Eu não quero. - Balançou a cabeça negativamente.

- Acha que estou querendo te passar a perna? Eu não sou um tipo de traficante de órgãos humanos ou algo assim, garoto. - Esbravejou.

- Eu não disse que era. - Empinou o nariz, mesmo que Louis fosse bem mais baixo.

- E qual é a porra do problema?!

Niall alternava a atenção entre o chefe irritado e o menino um pouco assustado, mas ainda assim, com uma feição enraivecida. Horan tinha conhecimento e vivência do quão descontrolado Louis poderia ser, mas tinha certeza que se o garoto fosse pra cima dele, Tomlinson estava ferrado.

- Por que não vai se ferrar? - Apertou o cartão com força, travando o maxilar bem delineado.

- Senhor... É melhor irmos. - Horan arregalou os olhos, segurando o homem pelo antebraço, numa tentativa desesperada de protegê-lo caso o outro quisesse avançar.

- É melhor mesmo. Não se deve confiar nesse tipo de gente. - Cuspiu as palavras ominosas. - Se é que "gente" seja o certo.

Tomlinson deu as costas para Harry e passou para o outro lado da rua. Styles viu nitidamente o momento em que o homem detestável jogou as flores que acabara de comprar no lixo e entrou no carro. Ele ainda sentia o sangue ferver pela raiva, mas assistir o outro fazer aquilo, o entristeceu profundamente.

Ele abriu a mão e viu a palma avermelhada pela força que aplicou no cartão -agora levemente curvado-. Harry tentou arrumar o que havia feito e olhou para as palavras ali impressas, mas ininteligíveis ao seu ver. Todavia, não se importava. Não iria aceitar aquilo.

- Pelo menos tenho dinheiro suficiente pro almoço. - Pensou alto e sorriu para o dinheiro.