Louis mexia no notebook no momento em que Niall bateu na porta de sua sala. Ele pediu que o homem entrasse e que tivesse todas as soluções para seus problemas.
Tomlinson ainda não havia escolhido ninguém para a coleção, pois segundo ele, o perfil perfeito para isso era um mendigo mal educado e mal agradecido. Mesmo que houvesse se passado uma semana, ele sabia que nada sairia como queria se não fosse Harry ali.
- Já conferiu os perfis que te mandei? - Horan questionou, apoiando-se na poltrona frente à mesa do seu chefe.
- Estava fazendo isso nesse exato momento e não obtive nada, além de decepção. - Fechou o aparelho com força.
- Eu sinceramente não sei mais o que fazer. - Respirou fundo. - Não há mais ninguém. - Disse sincero.
- Na verdade... Tem sim. - Cruzou as pernas, repousando as costas no encosto da poltrona de couro. - Harry.
- Oh, não. O mendigo? - Temia a resposta.
- Exato. Eu quero que você encontre aquele garoto e o convença de vir até a empresa, diga que receberá dinheiro adiantado ou algo assim. Revire a cidade inteira, mas não apareça aqui sem ele. - Voz rígida.
- Ok, licença. - Niall queria dizer que aquilo era uma total loucura, mas não poderia o contrariar. Ainda que fossem amigos, o trabalho vinha em primeiro lugar e ele não está em posição de ditar ordens.
E não foi difícil para Niall encontrá-lo, pois Harry estava no mesmo lugar que da última vez. Horan pediu que o motorista parasse, mas que ficasse atento, caso ele quisesse lhe assaltar ou ser agressivo em algum momento. Receoso, o loiro se aproximou do menino e pigarreou atrás de si, uma vez que estava oferecendo sua mercadoria para as pessoas que não davam a devida atenção.
- Harry Styles. - Disse formalmente.
- Meu nome. - Ele não tinha cabeça para aquilo naquele instante, estava aborrecido por não ter vendido nem mesmo uma flor e aquele rosto conhecido não lhe fazia bem algum.
De qualquer forma, agradecia aos céus por não ver Louis ali também.
- Eu venho aqui mais uma vez a pedido de Louis Tomlinson. Ele ainda tem a oferta de pé e garante fazer o pagamento adiantado.
- Pois diga para aquele senhor, que mais uma vez eu estou recusando. - Se virou, voltando a oferecer as rosas para os pedestres que ali passavam, mas não se davam o trabalho de parar.
- Eu não entendo. Olha para as circunstâncias em que vive e está recusando a única e maior oferta de sua vida. - Disse, querendo ir embora logo dali.
- Eu que não entendo. - Voltou a atenção para o loiro. - Por que estariam oferecendo um emprego de modelo para um mendigo, como vocês mesmos me chamam? Eu durmo em cima de revistas com rostos bonitos e de pessoas limpas. É assim que as coisas são e eu não confio em vocês! - Falou rude.
- Eu não posso te responder isso, porque eu também não sei o porquê. Eu estou aqui obrigatoriamente e cumprindo ordens. O único que pode te dar as respostas é o meu chefe e ele pediu que eu te levasse até ele.
- Pois diga ao seu chefe que eu mandei ele ir se ferrar mais uma vez.
- Quer o adiantamento agora mesmo? - Sorriu, tentando simpatia.
- Não! - Bufou. - Olha, só me deixem em paz, por favor. Eu preciso vender essas flores.
Sua mente dizia para aceitar, mesmo que não soubesse de quanto o outro estava falando, qualquer quantia seria o suficiente. Porém, essa história não fazia o mínimo sentido em sua cabeça.
- Vamos fazer assim... - Iria tentar pela última vez, nem que fosse demitido. Não continuaria se humilhando para um morador de rua. - Eu te levo até a empresa, você discute sobre o assunto com o Louis e a última palavra é sua. Nós te deixaremos em paz e cada um segue sua vida normalmente.
- É claro que a última palavra será minha, vocês não podem me obrigar a nada. - Juntou as sobrancelhas.
- Então está considerando? - Suspirou.
- Sim... Mas só vou para mandar aquele burguês irritante ir se foder pessoalmente. - Cerrou os olhos para Horan que lhe encarava com certo medo.
[•••]
- Eu não me importo! - Louis rosnou ao telefone, mas então foi interrompido pelas batidas na porta. - Dê um jeito e me ligue no fim do dia! - Não esperou a resposta e desligou, respirando fundo logo em seguida. - Entre.
- Louis. Fiz o que me pediu. - Deu espaço para o garoto entrar na grande sala de um arranha céu.
- Finalmente uma notícia boa. - Olhou para o teto, fingindo agradecer.
- Vou deixá-los sozinhos.
Harry olhou em volta e ficou ainda mais admirado com aquele lugar. Todo o percurso até a sala de Louis foi de Harry tentando fechar a boca, pois tudo o impressionava. O único problema, foram as pessoas olhando-o com certo medo e até nojo de sua aparência suja.
- Sente-se. - Louis indicou a poltrona e ele logo o fez. - Suponho que tenha aceito a proposta.
- Não, eu não aceitei. - Deu de ombros.
- Mas vai. - Disse com convicção. - Não sei se Niall deixou claro, mas, estou disposto a pagar adiantado.
- Quanto? - Arqueou as sobrancelhas.
- Você não é um modelo de verdade... Nunca atuou nessa área e obviamente não tem experiência alguma. - Ditou amargo. - Vamos começar com mil dólares e se eu realmente gostar do resultado, você terá 2 mil em mãos.
- 2 mil dólares?! - Arregalou os olhos, desacreditado.
Harry automaticamente se perguntou o quanto uma modelo profissional e consequentemente famosa ganhava.
- Sim. - Disse simples. - Está achando muito? - O viu acenar um pouco acanhado e então começou gargalhar, como se aquela situação fosse motivo de diversão. Mas para Styles estava sendo vergonhoso, humilhante. Ele percebeu que Tomlinson não dava a mínima. - Você é muito ingênuo. - Negou.
- Eu não vim aqui pra servir de atração de circo pra ninguém. Se quiser fazer esse ensaio fotográfico de merda é bom que seja logo, tenho mais o que fazer. - Sua irritação crescia a cada segundo, pois Louis o olhava com um sorriso sarcástico.
- Não é tão simples, vendedor de flores. - Desdenhou. - Primeiro, quantos anos você tem?
- Vinte. - Bufou impaciente.
- Jovem e burro, como suspeitei. - Repuxou o lábio.
- Quer saber? vai se foder, seu desgraçado! - Levantou da poltrona com agressividade e bateu o punho com força na mesa de madeira bem polida. - Eu não sou obrigado a ser humilhado assim. - Seus dentes estavam cerrados, mas Louis não demonstrava medo, pelo contrário, ele ainda sorria.
- Ok. - Sacudiu os ombros e se pôs de pé. - A gente começa amanhã.
- Como assim? - Acompanhou o homem de terno com os olhos, até vê-lo ir até um armário.
- Você vem e terá toda uma equipe te esperando. - Se virou para ele. - Certamente, você vai tomar um banho, jogar essas roupas no lixo, arrumar essas unhas imundas e etc... - Dizia sem emoção na voz.
- Tudo bem, eu acho. - Ainda sentia vontade de socar seu rosto.
- Aqui. - Entregou um envelope em suas mãos. Harry pegou um pouco receoso e o abriu, vendo muito dinheiro ali, mais do que já havia visto em toda sua vida. Seu coração pareceu parar por um segundo, quando ele prendeu a respiração, imcapaz de acreditar que tudo aquilo era seu.
- Eu nunca ganhei isso vendendo flores durante muito tempo... - Tinha medo de acordar e tudo aquilo ter sido um sonho.
- Eu não me importo com esse papo sentimental e nem com a sua vida. - Rolou os olhos. - Pode ir, vai. - Indicou a porta.
Harry queria agradecer, na verdade, sentia que deveria se curvar aos seus pés. Mas ao encarar os olhos de Tomlinson, ele viu que não era bem vindo ali, que Louis não o via como nada mais que um mendigo.
- Obrigado. - Foi tudo o que disse, saindo da sala logo em seguida.
Louis voltou para a mesa e não demorou muito até Niall está ocupando o assento que antes Harry estava.
- Ele aceitou? - Perguntou curioso.
- Sim. - Sorriu. - Não foi difícil como pensei que seria. Nada que dinheiro não resolva.
- Você realmente acha que essa ideia irá funcionar? - Olhar desconfiado.
- Assim espero. De qualquer forma, amanhã quando ele vier, fique de olho. Não quero nada da minha empresa sendo roubado. - Viu o loiro acenar e pegou o celular de cima da mesa, para logo depois, ficar de pé. - Avise para toda a equipe que dessa vez o modelo é um tanto quanto... Diferente. Terão trabalho. - Concluiu.
- Mais alguma coisa?
- Estou indo pra casa. Qualquer coisa me ligue. - Foi tudo o que disse antes de deixar a própria sala.
Louis estacionou o carro no estacionamento do prédio luxuoso e logo estava no elevador. Seu apartamento ficava na cobertura, o que não era surpresa pra ninguém. Tomlinson já perdera as contas de quantas vezes foi chamado de burguês egocêntrico, mas ele gostava de chamar tudo isso de mérito próprio.
No auge dos 30 anos, Louis tinha tudo o que qualquer um almejava e isso era tudo o que importava pra si. Tinha uma empresa bem sucedida, um apertando caro, carro dos sonhos e um namorado. O que mais poderia pedir?
- Stanley? - Franziu o cenho ao vê-lo ali em seu sofá com uma taça de vinho em mãos e apenas de bermuda.
- Oi, amor. - O homem de fios castanhos sorriu. - Está surpreso em me ver aqui por quê? Quer que eu vá embora?
- Não, só estou cansado. - A verdade é que Louis não gostava nada de ter a privacidade invadida e não importava por quem fosse. Além do mais, ele nunca havia dado as chaves de casa para o namorado e mesmo assim ele sempre estava lá. Tomlinson nunca tinha discutido com Stanley sobre isso, porque tinha em mente que ele estava num relacionamento com o mesmo e aquilo era normal.
- Oh, eu entendo. - Foi até ele e deixou um selinho demorado em seus lábios. - Mas eu vou te fazer se sentir bem. - Disse no ouvido alheio, enquanto descia o terno pelos ombros de Louis.
Louis suspirou enquanto era empurrado até o estofado, arfou alto quando sentiu as costas colidir com o mesmo e assistir o namorado sentar em seu colo. Stanley tomou seus lábios num beijo molhado, sua língua escorregava sobre a de Tomlinson e o gosto de vinho era predominante. Louis levou ambas as mãos até a bunda do homem e apertou, sentindo-o rebolar em seu colo.
[•••]
Louis entrou no estúdio em passos fortes. Manhãs são chatas e cheias de mau humor para ele, e todos naquela empresa pagam o preço por isso, pois Tomlinson sempre encontra algo para reclamar e descarregar suas frustações. Mas assim que viu Harry sentado, com algumas assistentes finalizando seu cabelo, Louis ficou surpreso. Ele estava limpo agora, sua pele bem iluminada e seus fios ondulados bem lavados e brilhosos.
- Como foi até agora? - Perguntou ao lado de Niall, que permanecera ali há um tempo esperando terminarem para a cessão começar.
- Um horror! - Respirou fundo, quando as lembranças passavam por sua cabeça. - Ele se negou vestir as roupas, alegando serem horríveis. - Indignação na voz. - Só vestiu quando a Lou Teasdale conversou com ele. Imagina o dono da marca ouvindo isso ou até mesmo os estilistas?! Você e a empresa seriam crucificados pela mídia, querendo ou não, ele representa a Tomlinson's à partir do momento em que o rosto estiver estampado nas revistas.
- Ok. - Disse sério, encarando o menino que fazia careta quando o pó era aplicado em seu rosto.
- E isso não foi o pior de tudo. Olhe. - Niall indicou o canto do estúdio e lá estava um cachorro de pelos escuros como a noite descansando ao lado de um sofá.
- O que é isso?! - Quase gritou, chamando a atenção de todos ali.
- Meu cachorro. - Harry respondeu.
- Faça o favor de tirar esse vira lata daqui agora mesmo, que nojo! - Sua raiva voltando. - Quem deixou esse bicho entrar aqui? - Dessa vez olhou para Horan.
- Ele disse que se não deixássemos o cachorro entrar, ele também não iria.
- Você é louco ou o quê?! Aqui não é os lugares sujos que você frequenta.
- Eu não sabia quanto tempo essa merda aqui iria levar e eu não podia deixá-lo sozinho. Se quiser que eu fique, ele também vai! - Alterou a voz no mesmo tom que Louis.
- Eu não acredito. - Passou uma mão no rosto, respirando fundo o quanto pôde.
- Senhor, ele já esta pronto. - Uma das mulheres avisou, um pouco receosa.
O primeiro outfit, se resumia em roupas muito folgadas e Harry acreditava ser intencional, mas ele duvidava alguém realmente usar aquilo, pois em sua percepção parecia um saco. Era um verde vivo, menos na gola, ali era um laranja bem forte. E então um short curto, pois só cobria suas coxas.
Louis deu um último olhar mortal para o menino e recebeu o mesmo. Harry foi guiado até o lugar que tiraria as fotos e para sua surpresa, não passava de um espaço com lençóis brancos do teto ao chão.
- Eu não sei o que fazer. - Deu de ombros, olhando para o fotógrafo.
Louis, que agora estava sentado numa cadeira alta ao lado de Liam Payne, fotógrafo, revirou os olhos. Mas o profissional apenas sorriu pequeno para o menino, parecia querer deixá-lo confortável.
- Não se preocupe. Modelos mais famosos do mundo não sabem. - Styles relaxou um pouco mais os ombros, acenando. - Podemos começar com... Você poderia fingir andar, mas então dê só um passo à frente e olhe para a câmera no mesmo instante. - Explicava como achava que ele entenderia melhor. - Consegue fazer isso?
- Consigo. - Sorriu, agradecendo.
Harry fez o que lhe foi pedido. Evidentemente, teve que repetir o ato mais de uma vez. Ele era um pouco desajeitado nos movimentos, mas Liam sempre dizia que isso era normal e que as vezes, a culpa pode ser até mesmo do próprio fotógrafo.
- Isso, muito bom! Agora você pode colocar as mãos na cintura, mas só que ao contrário, entende?
- Não. - Foi sincero, arrancando uma risada de Liam.
- Assim. - O fotógrafo foi até ele e mostrou como deveria fazer. Basicamente, ele tinha que colocar as mãos na cintura, mas os dedos ficavam virados para suas costas, apenas o polegar sobre sua barriga.
- Oh. - Abriu a boca, rindo logo em seguida. - Achei que só as roupas seriam estranhas. - Olhou de relance para Louis que até o momento o assistia atentamente e o viu rolar os olhos. Harry se perguntava se ele sentia dores naquela região no fim do dia, pois fazia aquilo com frequência.
- A Vogue é uma das marcas mais famosas do mundo e você acha que entende de moda? - Riu debochado.
- Eu sei que entendo do que eu gosto ou não gosto. - Viu o sorriso desaparecer. - E agora, senhor? - Voltou a atenção para o que fazia.
- Pode me chamar de Liam. - O viu concordar. - Agora, preciso que você se curve um pouco para trás, como se estivesse com dor nas costas mesmo. - Harry riu alto e aquilo só deixou Louis mais irritado.
Styles fez o que lhe foi pedido, deixando assim, seus fios caírem livremente atrás do seus corpo. Mas não foi isso que realmente chamou a atenção dos olhos de Tomlinson, e sim, as coxas fartas quase que descobertas por completo agora.
- Boa. - Payne parabenizou, olhando o que havia acabado de registrar ligeiramente e isso fez Louis balançar a cabeça e olhar para qualquer outro lugar.
- Podemos passar para o próximo outfit. - Niall falou alto, para que as assistentes se reunissem novamente.
- Ficaram muito ruins? - Veio até o fotógrafo e consequentemente, até Louis.
- Não! Você foi muito bem. Veja. - Passou algumas das fotos, arrancando um sorriso dele.
- Realmente. - Louis teceu, num breve impulso.
- Obrigado. - Harry não deu muita atenção, indo rapidamente trocar de roupa.