Chapter 2 - Prólogo

Há muitos séculos atrás, os comunas (mortais sem poderes) conviviam em paz com os peculiaris (seres com poderes), em uma aliança de ajuda mútua e respeito. Os peculiaris viviam entre os comunas como irmãos e dividiam seus poderes para ajudar aqueles que haviam nascido "sem sorte". Era comum, também, os comunas se casarem com peculiaris e destas uniões surgirem criaturas novas, que mais tarde viriam a ser uma das diversas variações de híbridos.

No entanto, uma religião repressiva começou a se espalhar pelos comunas de todo o mundo. E os peculiaris passaram a ser vistos como monstros que contrariavam a ordem divina. Eles deveriam ser eliminados, pois o deus dos comunas condenava a existência deles. Aos olhos desse deus, eles eram aberrações que representavam desgraça e perdição e que, supostamente, descendiam da representação do mal dessa religião comuna. Aqueles que ousassem se unir aos peculiaris eram igualmente condenados a morte. Os poucos que se salvaram foram condenados a escravidão, muitos se suicidaram.

Fartos dessa perseguição, vendo seus devotos morrerem aos montes, os deuses que os peculiaris adoravam resolveram intervir. Criaram um mundo novo, longe dos olhares dos comunas e enviaram todos os peculiaris, inclusive os híbridos, para viver lá em paz. Alteraram a mente dos comunas, para que estes pensassem que os peculiaris eram apenas produto de lendas e contos infantis e construíram o Tecido, uma parede que separava os dois mundos para que jamais se encontrassem. E para manter o Tecido intacto e proteger os peculiaris da fúria e do preconceito comuna, nasceu a quimera.

A quimera surgiu como um ser que possuía todos os dons e capacidades dos peculiaris. Ela representava a união dos seres especiais. Era extremamente poderosa e por consequência de tantos poderes dentro de si, vivia menos do que os peculiaris. Por isso os reis determinaram que assim que uma quimera desse seu último suspiro, uma outra quimera nasceria, para que o cargo jamais ficasse vago. As quimeras jamais se reproduziam ou se casavam e eram sempre homens, pois os deuses acreditavam que mulheres eram mais suscetíveis a desejos matrimoniais e maternais.

Ravena foi determinada como a capital desse novo mundo e províncias foram criadas para os seres viverem entre os seus iguais. Um rei governava, o senado aconselhava e a quimera protegia a todos. Durante eras, a ordem seguiu intacta.

Um dia, porém, a ordem foi mudada. Uma quimera morreu e outra não nasceu para tomar o seu lugar. No começo, os peculiaris ficaram confusos, sem saber o que fazer. Há tantos séculos as coisas aconteciam da mesma forma, o que fariam agora? Será que era um sinal? Mas, conforme os anos se passavam, os peculiaris perceberam que podiam se defender sozinhos, e que não precisavam de uma quimera. A sociedade evoluiu sem seu guerreiro e aprendeu a caminhar com as próprias pernas. O rei e o senado continuavam a governar e aconselhar, mas tomaram para si a tarefa de também proteger seu povo. Conforme os comunas foram deixando de acreditar na existência dos peculiaris, a tarefa de resguardar seu povo passou a ser mais fácil.

No entanto, séculos mais tarde, no reinado de um rapaz de ideais discutíveis, uma profecia anunciou que uma nova quimera nasceria e que ela seria totalmente diferente de seus antecessores. A profecia também prometia que esta nova quimera poderia representar tanto uma ameaça quanto uma benção para o governante, podendo inclusive mudar a ordem estabelecida, deixando todas as províncias apreensivas.

E então, poucos meses mais tarde, a nova quimera veio ao mundo.

A primeira mulher quimera.

Atalya.