Acho que andei por um dia inteiro, infelizmente não há como saber ao certo, já que sempre está de noite por aqui. Depois de uma longa caminhada posso finalmente ver grandes muros, assim como um grande castelo atrás dele, estava um pouco longe, acho que achei o reino vampírico.
Me aproximando mais posso ver a entrada, um grande arco em uma muralha, dois guardas com armaduras completas fechavam a passagem, não pareciam ser vampiros, sentia que o cheiro deles era diferente. Meu olfato parecia ainda mais aguçado, começo a salivar um pouco olhando eles, humanos.
Me aproximo com cautela, ambos usavam lanças.
— Identifique-se. — O que estava a direita fala.
Ambos abaixam suas lanças e as apontam para mim.
— Eu gostaria muito de falar, mas ainda não tenho um nome. — Sinto que já falei isso antes.
Os dois ficam totalmente parados enquanto falo, nem um único músculo se move, era como se eu estivesse vendo robôs. O que havia falado segue para dentro das muralhas, enquanto isso o outro continua com sua lança apontada para mim. Fico parado por alguns minutos, até que Chloe aparece com o outro guarda.
— Você chegou mais rápido do que o normal, assim como Lucio disse que aconteceria. — Chloe fala passando pelo guarda que ainda estava com a lança apontada para mim, assim que passa ele quebra sua guarda e levanta sua lança novamente. — Mas acho que nem ele esperava essa velocidade.
Ela dá um grande sorriso e alguns tapinhas em minhas costas.
— Acabou sendo bem fácil, não precisei ir atrás deles, já que eles decidiram vir até mim.
— Como assim? — Ela parecia um pouco confusa.
— Eu sofri uma emboscada, um grupo de goblins me atacou logo depois que nos separamos — respondo.
Ela faz uma cara de surpresa.
— Uma emboscada? Ainda bem que você conseguiu sair vivo dessa. — De alguma forma ela parecia um pouco aliviada. — Mas depois falamos sobre isso, me mostre seu status, tenho que ter certeza sobre seu nível.
Isso de novo, ainda não me sinto muito confortável, mas não há o que eu possa fazer.
— Autorizar a mostra de status — falo.
Ela olha para meus status e fica calada por um tempo, talvez ela tenha conseguido ver minha benção? Tenho que evitar ao máximo mostrar os status para qualquer pessoa.
— Você disse que tinha sido pego em uma emboscada, certo? — Chloe fala me olhando com um olhar sério.
— Isso, eles pareciam estar me esperando, o goblin mago, que encontramos antes, estava com eles — respondo.
— Quantos goblins estavam na emboscada? — Ela parece estar cada vez mais confusa.
— Acredito que foram uns doze — falo tentando me lembrar ao certo.
— Do-doze?! Você matou todos eles? — Ela acaba levantando um pouco a voz, no entanto não havia ninguém além dos guardas humanos perto.
Isso era tão surpreendente assim? Sim, eles tinham a vantagem numérica, mas não tinham coordenação nenhuma, então era bem fácil lutar contra eles.
— O nível deles provavelmente era baixo demais, tive um pouco de problema no começo, já que fui pego de surpresa, mas consegui me virar. — Tento explicar. Se eles fossem mais coordenados teria tido problemas.
— Mesmo eles sendo de baixo nível... Ainda conseguiu um título, então você realmente os matou, alguém só conseguiria fazer isso perto do nível seis... — Ela fala mais para si mesmo do que para mim.
Usei apenas algumas estratégias básicas, me pergunto se os vampiros são uma raça que esteja acostumada a lutar com força bruta, faz sentido nesse mundo onde status definem quem é forte.
— Você não é um vampiro comum... Mas vamos deixar isso de lado por enquanto, você atingiu o nível dois e é isso que importa. — Ela começa a caminhar para o centro da cidade. — Me siga.
Vou atrás dela, quando olho para trás vejo que os guardas ficam apenas parados como estatuas, obviamente estão sendo controlados, me pergunto se essa é alguma habilidade dos vampiros.
Logo depois das muralhas começava uma pequena cidade, andamos por uma longa rua que levava até um castelo, as ruas eram pavimentadas, me foi dito pelo deus que isso não é muito comum, o reino dos vampiros era uma exceção, avançado se comparado com a maioria das cidades.
As casas eram feitas de pedras e madeira, me lembro de ter estudado um pouco sobre a idade média, as casas costumavam ser de madeira, mas as dos nobres eram de pedra, algo assim se não me engano, isso mostrava a grande qualidade de vida dos vampiros.
Vamos andando pela rua principal, era bastante larga, o bastante para se passarem facilmente várias carroças. Podiam ser vistas várias vias laterais, essas eram menores e mais estreitas, mas ainda com espaço o bastante para duas ou três carroças lado a lado.
Ao decorrer da estrada pude notar algo, aquelas mais próximas as muralhas eram menores, parece haver uma diferença de classes sociais. As primeiras casas eram pequenas e de apenas um andar, mas com o passar do tempo as casas vão ficando cada vez maiores.
Embora não houvesse nada de especial, o cenário era fantástico para alguém de outro mundo, era como se estivesse no meio das histórias medievais, como a ambientação de um jogo de rpg, porém tudo ali era palpável e não apenas imagens vistas por uma tela.
— Os vampiros são separados em três classes... — Provavelmente percebendo meu interesse na diferença das casas ela começa a falar. — Nobres, cavaleiros e plebeus. Os nobres geralmente são os vampiros mais fortes que temos, consequentemente os mais velhos, já que quando se fala de força para nós vampiros, está ligado diretamente a idade, quanto maior a idade maior o tempo para ganhar xp, passar de nível e treinar.
Ela me explica um pouco sobre classe social, nada muito a fundo, apenas falando sobre como alguns são mais privilegiados, acho engraçado o seu jeito atrapalhado, às vezes ela é a mais confusa com a explicação.
Isso faz sentido, já que nesse mundo a força está ligada ao nível da pessoa, mas isso me faz pensar em algo, esse sistema não favorece raças com grande longevidade? Como aquelas que não vivem tanto compensam isso?
Vou me aproveitar dessa deixa, como ela comentou sobre nobres...
— Não querendo me intrometer, mas... Lucio é um nobre certo? — Falo um pouco sem jeito, sinto que estou toda hora me intrometendo.
Ela fica calada um pouco, eu deveria estar mantendo meus conhecimentos escondidos, mas às vezes acabo falando o que se passa na minha cabeça.
— Por que acha isso? — Ela fala me observando atentamente.
— O punhal que ele carregava, parecia ser algo muito bem trabalhado e essa explicação sobre classes sociais, uma coisa levou a outra — digo enquanto aponto a diferença entre as casas.
— Você é bem atento, você vai descobrir de qualquer forma... — Ela solta um leve suspiro.
Ela era aquele tipo de pessoa que sempre está sorrindo, mas naquele mesmo instante ele se desfaz, no lugar estava uma séria expressão.
— Nós vampiros temos poder de transformar outras raças, humanos, homens-bestas, todos podem virar vampiros. Existe uma diferença entre os transformados e aqueles originais, nascidos das trevas iguais a você, Lucio é um vampiro transformado e um ex-nobre. — Ela fala como se estivesse exaltando esse feito.
De acordo com sua explicação, se tornar nobre deve ser algo extremamente difícil, ainda mais quando ele é alguém transformado.
— Como assim ex? — Me pergunto o que poderia rebaixar alguém de classe.
— Não é comum alguém ser rebaixado, na verdade é algo que beira o impossível, uma pena para um crime inadmissível... — Ela dá uma pequena pausa. — Existem apenas alguns crimes sem perdão, normalmente o culpado seria sentenciado a pena de morte, mas como ele era um nobre e seu crime não foi traição, essa foi sua pena.
Ela fica mais um tempo em silêncio, estava morrendo de curiosidade, mas parecia que aquilo era doloroso para ela, como se ela estivesse a ponto de chorar a qualquer instante.
— Vampiros transformados são mais fracos que os originais, os chamamos de primeira geração e isso é algo que sempre se soube, mas nada muito absurdo, o problema vem quando esses já transformados tentam transformar alguém, assim surgem os vampiros da segunda geração, aqueles que nascem sem presa. — Ela explica.
— E isso é proibido? — Pergunto.
Seria algo como preconceito?
— Os vampiros da segunda geração são diferentes, bebem sangue se fortalecem da lua como os seus antecessores, mas eles parecem não ter potencial algum, conseguem evoluir apenas o mínimo possível, seus status não se alteram mesmo com treinamentos ou combates, além disso podem usar magia sagrada, magia essa mortal aos vampiros. — Ela dá um fraco sorriso.
O crime de Lucio foi transformar alguém... Me lembro dos status de Chloe, agora percebi que eles são mais baixos do que poderiam ser, a humana transformada...
O clima estava pesado, então decidi mudar de assunto.
— Então, para onde estamos indo? — Pergunto voltando a andar.
Ela estava calada e um pouco cabisbaixa, mas parece entender minha intenção e sorri agradecendo. Se é tão difícil falar por que se obriga? Apenas não diga.
— Você está certo, apenas me siga, estamos a caminha da casa de Lucio. — Ela fala tomando a frente e voltando a andar.
Por um instante olho inconscientemente a sua boca, aquele largo sorriso estava de volta, ela realmente combina mais com essa expressão, mas também posso ver que ela não tem presas.