Clang, clang, ao longe eu ouvia espadas e lanças bantedo em metal descontroladamente, numa planície de terras áridas dois grupos lutavam.
O grupo mais numeroso usava um uniforme vermelho e perseguia os poucos oponentes com roupas pretas, as vezes em meio ao barulho do choque entre metais se ouvia carne sendo perfurada.
" Acabem com eles, matem todos se necessário, já que não querem que forasteiros usem os seus legados, ninguém o usará."
Um dos homens de vermelho falou, o mais alto que podia enquanto cortava o torso de um de seus oponentes.
Eu corri enquanto três dos homens de preto me protegiam, já conseguia ver os muros de pedra de uma cidade próxima a nós. Com a moral renovada por finalmente ver um lugar que possa servir como um abrigo, mesmo que seja apensa temporário, ainda nos animava o suficiente para puxar um pouco mais de força dos nossos corpos e mentes.
Entramos na cidade as pressas, e logo avistamos uma taberna, eu e um dos homens de preto tiramos nossas máscaras os outros dois pararam na entrada, o que fez minha ansiedade disparar no instante. Não acho que precise dizer que ter um cabelo longo ruivo chamativo não a ajuda despistar assassinos. Tento controlar minha respiração, temos que nos misturar aos cidadãos o mais rápido possível.
Finalmente nos sentamos a frente do balcão, agora que tenho um tempo pra me acalmar finalmente consigo olhar para taberna com um pouco mais de atenção, o lugar parece ter uns 60 metros de área, mesas-redondas com quatro ou cinco assentos rústicos de madeira, metade das mesas estavam vazias a outra metade tinha no máximo trios conversando e bebendo.
No balcão Yanan, o homem de preto que veio comigo, bateu levemente no balcão para chamar a atenção do atendente:
" Com licença, a casa já começou a servir refeições?"
Enquanto perguntava ele tirou duas moedas grandes demais para serem usadas como dinheiro, ele as atirou para o ar e as deixou dar três voltas cada enquanto sussurrava algo sobre sorte e probabilidade.
" Se precisar de comida imediatamente vai ter que ser fria, se não se importar de esperar um pouco servimos algumas refeições sim, aperitivos em sua maioria, mas sim."
Respondeu o atendente enquanto limpava os copos. Do nosso outro lado um homem de mais ou menos 1,90 metros bebia vinho em um copo tão grande que se não fosse pelo porte daquele que o consome pareceria um pequeno galão, o bebe-galões, como o apelidei, tinha cabelo preto longo e desgrenhado que descia até um pouco mais baixo que seus ombros,barba rala olhos castanhos a camisa e calça preta, um colete sem mangas preto com bordados dourados. Um dos clientes se moveu em direção ao homem de cabelos desgrenhados, e envolveu o braço direito em volta dos ombros do bebe-galões:
"Ei Kaz, não devia estar trabalhando na forja pra pagar sua estadia na cidade?"
Kaz, o agora ex bebe-galões, afastou a mão do 'Senhor inconveniente', sim ele também ganhou um apelido, e com um olhar exasperado respondeu:
"Me erra, eu já fiz mais que o suficiente para essa semana.Chefe, aqui está o pagamento."
O ex bebe-galões, Kaz, deixou algumas notas no balcão e caminhou para saída, quando parou de repente e olhou devota para o balcão, levantou as mãos em sinal de rendição:
" Os dois recém chegados, parece que seus problemas são mais persistentes do que vocês imaginaram."
Quando ele falou dois cadáveres caíram dos lados da porta, eram claramente os outros dois membros da nossa equipe, após isso três dos nossos inimigos com seus uniformes vermelhos de assinatura invadiram a taverna.
Kaz se moveu para o lado deixando o caminho livre para nossos inimigos, vá se f*der bebe-galões.
Yanan e eu estamos em desvantagem completa. Três oponentes, virtualmente sem aliados no interior do espaço limitado da taverna, com os números que eles tinham quando nos perseguiam eles provavelmente estão cercando a taverna no momento.
"Matem todos, rápido de preferencia." Disse o líder dos invasores, e sem hesitar os outros dois seguiram o comando, deixando dois cadáveres degolados no chão.
Com suas espadas ainda pingando sangue, os dois foram atacar os outros clientes e mais três invasores de vermelho correram para o ataque, o líder ainda parado na entrada para dissuadir qualquer um da ideia de fugir.
Yanan e eu se colocamos de costa a costa, e se preparamos para a batalha com espadas em mãos, um dos invasores foi até o homem que nos atendeu que eu suspeito também seja o proprietário da taverna, um pouco antes do invasores tentar pular o balcão para alcançar o atendente, eu ouvi um sussurro do bebe-galões:
"O oitavo demônio da mente: Medo."
O invasor paralisou um pouco antes de completar o pulo e caiu de cara no chão do outro lado do balcão.
"Eu ia sair de fininho, mas o senhor proprietário me serviu alguns dos melhores drinks que eu já experimentei, então... acho que o que eu vou fazer vai ter que servir de pagamento se eu ficar devendo alguma coisa."
Disse o bebe-, Kaz, disse Kaz enquanto ele coçava o cabelo bagunçado e dessa vez em claro e bom som ele entoou uma única palavra:
"Medo."
Com os olhos originalmente castanhos brilhando em azul pálido, quando a curta e simples palavra foi dita senti, e talvez todos na taverna tenham sentido algo similar, um calafrio subindo pelos meus calcanhares e se espalhando pelo meu corpo minha respiração se tornou curta e áspera, tentei lutar contra isso mas quando tentei me mover mas no momento imagens inundaram a minha mente, e me paralisaram.
Morte, monstros, pessoas que pareciam me atacar, meus perseguidores e finalmente uma imagem devorou todas as outras...
Um sala escura, com a silhueta dos móveis pouco visíveis, na sala um garoto pálido de cabelos e olhos castanhos parecia me observar, ele estava sentado estranhamente imóvel, a cadeira dele tinha rodas do seu lado um pintura levemente brilhante a moldura não parecia de madeira e se estendia por baixo e para frente da pintura com retângulos e quadrados em alto relevo com símbolos e números no centro.
O garoto me olhava os olhos castanhos vazios me dando arrepios, o garoto moveu o braço e pegou um recipiente estranho, ele abriu o recipiente e a cena se tornou estilhaços.
"Eu espero que não tenham passado muito tempo por lá, é fácil ficar meio pirado se você tentar pensar demais no que viram."
Kaz falou essas palavras logo quando minha consciência voltou, meu corpo não estava mais paralisado mas eu ainda tremia e suava frio enquanto tentava me recompor, Yanan se colocou a minha frente e fez uma pergunta que honestamente eu também quero saber:
"Antes de tudo obrigado por sua ajuda, mas dada a nossa situação devo lhe perguntar, quem é você benfeitor?"
Kaz nos olhou, sorriu com deboche nos olhos e respondeu:
"Você não ouviu onde eu trabalho, eu sou um ferreiro, só isso."
Só um ferreiro, como se alguém fosse acreditar nisso agora, pensei enquanto olhava para os cadáveres de roupas vermelhas que ganharam mais uma camada de sua cor favorita.
Yanan olhou para os cadáveres os clientes inconscientes, os poucos que foram salvos pela interferência tardia de Kaz, um bom lembrete de que ele não é gentil o suficiente pra salvar todo mundo mesmo quando pode.
Se aproximando de mim Yanan falou
"Mingten, eu acho que conseguimos usar esse encontro para ganhar uma chance de contra ataque. Então, peço que aceite a loucura que estou prestes a fazer jovem mestra."
Olhos e cabelo preto penteado para trás um rosto angular, um corpo esguio mas claramente treinado.
Treinado para ser minha sombra e lidar com todo tipo de trabalho que o clã não pode ter nenhuma conexão, pelo menos nãobna superfície, este era Yanan, e neste momento ele estava tremendo.
Ele se virou para Kaz, o qual tinha saltado sobre o balcão e estava mexendo nas bebidas e licores aparentemente procurando alguma bebida em específico.
"Qual é, cada aquela garrafa que o chefe tava testando? Eu juro que senti o cheiro de cerveja maltês."
Yanan se virou para o furta-cerveja, sim ele ganhou um novo apelido, e se aproximou do balcão e se sentou como fosse um cliente numa taverna normal ignorando a cena de carnificina atual.
"Senhor Kaz, está aceitando discípulos ou um aprendizes?"
Quando ouvi isso uma terrível realização pareceu me atingir e senti um arrepio na minha nuca.
"Não, e acho que já suspeitava disso então por que não diz o que quer de verdade?"
"Há! Achei, de fato é semelhante a cerveja maltês."
Felizmente, Kaz respondeu com uma negação clara, honestamente não quero ser treinada pelo furta-cervejas, não importa o quão forte ele seja o ar desleixado e irresponsável que ele exala honestamente me incomoda.
Não que eu seja louca o suficiente pra falar isso na cara dele, eu acho.
"De fato eu esperava algo assim, então, que tal isso: leve-a na condição de assistente de ferreiro apenas, enquanto não tenho muitas coisas para compessar duas técnicas."
"Quais são as técnicas? E vamos deixar claro eu sou de fato um ferreiro, leve isso em consideração se quiser me impressionar."
Quem quer te impressionar bebe-galões? Não nós.
"Claro que levei isso em consideração."
Yanan!! Eu sei que você não lê mentes mas ainda assim.
"A primeira é uma que considero a minha fortuna pessoal, em mais de um jeito. Seu nome "Caminho das dez moedas" ela permite deduções, adivinhações, a acumulação e troca de sorte entre as pessoas."
Falou Yanan enquanto colocava uma das moedas de tamanho exagerado no balcão.
"Interessante e única, não parece aumentar o poder do usuário mas entendo o porquê você diz que é a sua fortuna pessoal, deve ter salvado a sua pele um par de vezes. Aceito, mas..."
"A próxima deve ajudar com a sua ocupação como ferreiro, eu sei. Mingten venha cá."
Droga, eu me aproximo dos dois devagar, depois da breve demonstração de poder de Kaz ele parece bem mais intimidador até eu ver que ele está bebendo algum licor roubado de novo.
"O que vocês querem?"
"Está é Mingten a herdeira da Ordem dos disjuntores, enquanto o nome da ordem não é bem conhecido o senhor já ter ouvido falar de seus clãs: Su, Wang, Meng, Braighte e Feldar."
"Agora entendo sua confiança, então qual das cinco técnicas exclusivas desses clã é vou ganhar?"
"Nenhuma, como eu disse ela é herdeira da Ordem, não dos clãs, e a ordem se especializou na criação de armas com efeitos únicos que se dividem em cinco ramos de especialização, vê a semelhança?"
"Cinco ramos, cinco clãs. Imagino que o que eles tem sejam fragmentos da técnica original dos quais os clã criaram suas próprias técnicas, o que vai me oferecer outro fragmento?"
"Não senhor, três com toda a nossa pesquisa sobre eles."
"Aceito. Vamos embora garota."
Eu em estupor tentando processar o que estava acontecendo, e segurando a retórica de: meu nome é Mingten não garota. Dei um passo para trás quando Kaz mudou sua atenção para mim, e suprimindo minha confusão perguntei:
"E Yanan ele não vem com a gente?"
"Hahh."
Kaz soltou um longo suspiro e Yanan me olhou com um sorriso apologético.
"Ele vai se usar como distração senhorita."
Com uma expressão cansada falou Kaz.
"Me desculpe jovem mestra."
Yanan deu seus agradecimentos e se curvou.
"Esperem um pouco eu não concordei com nada ainda, e o que você quer dizer com se usar como distração?"
Kaz apontou um dedo para mim e eu me senti tonta, e minha consciência se apagando.