-Tsukira-Kun, meu Neto, me dê um abraço.
Meu avô caminha até mim com os braços abertos e um sorriso estampado no rosto.
Sorrio, me aproximando dele e o abraçando.
-Como o senhor está, vovô? E a vovó? -Pergunto separando o abraço e segurando no ombro dele.
-Bem, a idade não afetou a sua avó. Ela continua a mesma mulher fogosa de sempre, se é que me entende. - Ele fala com uma cara de pervertido.
Faço uma careta, achando nojento de imaginar.
-Eu não precisava saber disso. -Falo ainda com "cara de bosta". Ele solta uma risada alta.
-Tudo bem. Vamos? -Pergunta com um sorriso refrescante nos lábios.
-Vamos. -Falo e coloco a minha mala no porta-malas do carro e entro nele, no banco ao lado do do motorista.
Meu avô entra, e liga o carro, dirigindo calmamente para longe da estação.
Observo o caminho, vendo crianças brincando nas ruas e adultos e idosos cuidando de lojas.
Mas o que chamou minha atenção mesmo enquanto observava o caminho foi o que pareceu ser um assalto a um banco, onde um homem alto estava segurando quatro sacos provavelmente cheios de dinheiro enquanto lutava com três caçadores (nome dos componentes de uma guilda), utilizando suas habilidades ao máximo.
Mas, por sorte, os caçadores além de contarem com a vantagem numérica também contavam com a vantagem de terem treinado mais seus poderes, enquanto o ladrão parecia nem mesmo saber controlar a força.
-Isso é normal por aqui.
Viro minha cabeça para olhar meu avô.
-Sério? -Pergunto curioso.
- Sim. A maioria dos assaltantes são de favelas. Geralmente são "humanos", mas em alguns casos são "Evoluídos" que vem de famílias sem influência na cidade, e que visam enriquecer para poderem obter poder. É algo triste e degradante, mas é a vida. - Ele fala sem tirar os olhos da estrada.
Meu avô está certo.
É deprimente ver pessoas com tanto potencial não ter a chance de desenvolver-se plenamente.
Mas não posso fazer nada. Afinal, não é culpa minha a condição social das pessoas desse planeta.
Continuei observando o caminho em silêncio, até que chegamos no internato.
"Internato Susumu", é o que uma grandiosa placa de ferro em forma de aro carrega em si com letras cursivas.
Saio do carro, ainda observando a entrada do lugar. Meu avô também sai e pega minha mala, andando com ela até ficar do meu lado.
-Estou tão orgulhoso. Meu neto vai estudar no mesmo lugar onde o pai dele e o avô dele estudaram. -Fala sorrindo orgulhoso com os olhos cheios de lágrimas.
Rio baixo, achando engraçado. Velho sentimental.
- Não precisa ficar assim, vovô. - Falo sorrindo.
Ele não responde, apenas me abraça.
-Prometa visitar a mim e a sua avó todo final de semana, viu? Caso você não venha irei vir até aqui é te levarei a força. -Fala sorrindo.
Bem, eu não duvido que ele seja capaz de realmente fazer isso.
-Tá, vô, tá. Eu prometo. - Falo sorrindo. Ele me abraça de novo, e nos despedimos.
Ele entra no carro novamente e dirige para longe. Observo o carro até ele sumir da minha vista.
Solto um suspiro, pegando minha mala e começando a andar para dentro do meu novo colégio.
Olho no papel que minha mãe me deu o número e o bloco do meu apartamento.
"3-E, número 12", é o que esta escrito no papel. Ando em direção a área dos dormitórios, que se destaca por ser uma área de mais ou menos quinhentos metros quadrados compostos por cinco grandes torres com apartamentos para os alunos.
Caminho na direção da última torre do lado direito.
Subo de elevador para o terceiro andar, e caminho para o apartamento com o número "12" na porta.
Entro nele, trancando a porta.
Dou uma olhada, vendo que já está todo mobiliado. Sorrio internamente.
-Obrigado, mamãe... -Falo para mim mesmo e ando até o quarto, para poder dormir. As aulas só irão começar amanhã, de qualquer forma.
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-Muito bem, classe. Hoje estaremos recebendo um novo aluno, que acabou de ser transferido. -A professora responsável fala sorrindo.
Ela aparenta ser uma pessoa gentil.
-Apresente-se. -Fala me olhando.
-Hai. -Falo pegando um pedaço de giz, e escrevo meu nome no quadro negro. -Me chamo Koenji Tsukira. Não tenho nenhum hobby, mas me interesso por tudo. Por favor, cuidem bem de mim. -Me apresento e faço um pedido sorrindo, enquanto reverencio as pessoas da sala.
Me levanto, e vejo o rosto dos alunos (e da professora) estampados em surpresa.
-O que foi? -Pergunto a professora.
-Bem, a família Koenji é muito conhecida, e é surpreendente que um membro dela tenha parado justamente aqui. -Ela fala em um tom meio azedo quando falou a palavra "aqui".
"Estranho", é o que penso.
-Muito bem, Koenji-Kun. Que tal se sentar ali, perto da janela? -A professora pergunta sorrindo, enquanto aponta para uma cadeira vazia na penúltima fileira horizontal na ponta direita*.
Caminho até o lugar indicado, me sentando e pondo o meu material em cima da mesa.
-Muito bem, pessoal. Vamos começar. -A professora fala sorrindo e um coral de "Ah~" é feito pelos alunos. Seguro o riso.
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-Ei, você que é o garoto da família Koenji?
Viro minha cabeça para o lado, para saber quem me perguntou isso. É um garoto alto, pele bronzeada, rosto quadrado, cabelo meio verde-cinzento e olhos negros.
Uma aparência um tanto quanto peculiar, devo dizer.
-E se eu for? -Pergunto me levantando do meu assento e me virando para conversar com o garoto.
Estamos na pausa para o almoço, e resolvi comer algo.
-Bem, eu me chamo Asura Kabuto. Meu pai e o seu estudaram aqui juntos. -Fala com um sorriso amigável sem mostrar os dentes e com olhos fechados.
Sorrio, em retribuição. Ele parece ser amigável.
-Sério? Meu pai não fala muito sobre como foi a vida estudantil dele. -Comento coçando atrás da minha orelha.
-Estou falando sério. -Fala ainda sorrindo. -E é por isso que meu pai pediu para que quando encontrasse um Koenji eu surrasse ele para aprender a não entrar no caminho da nossa família. -Ele fala e abre os olhos, que estão agora brilhando em um negro muito perigoso e mostrando seus dentes, fazendo um sorriso assustador. E o mais assustador é o fato que seus dentes são todos pontiagudos, iguais aos de um tubarão.
Espere, qual é mesmo a família dele? Asura? A terrível família Asura, "os reis dos Reis dos mares"?!
Dou um passo para traz. Esse sujeito é perigoso. A família dele possui uma rixa com a minha desde os tempos do meu avô, quando a minha avó, Koenji Kokomi, preferiu escolher meu avô ao avô do Kabuto, o infame assassino Asura Kaido.
Desde essa época eles declararam guerra contra a minha família, embora não tenham poder o bastante para nos enfrentar.
-E-Ei, não tem porque brigarmos. -Falo sorrindo nervoso. Se ele resolver partir para a violência estarei lascado.
-Não se preocupe. Não é pessoal, então você só vai sofrer como o inferno. - Ele fala sorrindo maldoso e se aproxima de mim.
Olho para os lados, mas tudo que vejo ou são pessoas com as cabeças baixas ou sorrindo maldosas enquanto observam minha interação com Kabuto. Engulo em seco.
Começo a correr, pois se ficar parado, tenho certeza que irei apanhar muito.
Usei toda a força do meu corpo para poder chegar até aqui, do lado de fora do prédio, em menos de dez segundos. Estou escondido em um "bequinho", que fica entre o prédio principal, o maior de todos, onde ficam a sala do diretor, professores, projetos e almoxarifado, e um dos prédios secundários, o da direita, onde ficam as salas A e B, e outras duas salas importantes, a sala de multimídia e o laboratório de ciências.
-Acabou sua tentativa de fugir?
Fico paralisado, e levanto a cabeça lentamente, vendo o garoto Asura agachado em cima de uma das vigas de sustentação do prédio*.
-C-Como...
Eu me esqueci que a família Asura é composta por "evoluídos", e que se compararmos as habilidades de um deles com as minhas, eu não passo de um simples formiga.
-Chega a ser irônico que a família Koenji, a família "evoluída" mais forte, produziu um dos seres mais fracos. -Fala sorrindo maldoso e se levantando da viga. -Mas, não se preocupe. Cuidarei bem de você. Ah, e bem-vindo ao internato Susumu.
Tremo, ao ver o sorriso de tubarão que ele deu.
Deus, socorro...