O CORAÇÃO DA CHAMA ETERNA
PRÓLOGO – O Coração Partido
A vinte e um anos atrás…
O céu sangrava fogo.
Dos salões de cristal élfico às forjas de pedra anã, o mundo gritava como uma criatura ferida. Raios vermelhos cortavam as nuvens. As árvores antigas tremiam. As linhas mágicas da terra — aquelas que sustentavam o equilíbrio entre os povos — pulsavam como artérias prestes a se romper.
No centro do caos, em meio às ruínas flamejantes do Santuário de Al'Varien, a relíquia sagrada jazia em pedaços: o Coração da Chama Eterna, antes uma esfera viva de fogo e luz, agora fragmentada — espalhando cinzas como se chorasse.
Um dragão pairava sobre as torres despedaçadas. Suas asas cobriam a lua. Olhos como sóis moribundos observavam a cena abaixo com uma fúria silenciosa. Ele não rugia. Estava imóvel. Quase... em luto.
Abaixo, entre as chamas, uma elfa coberta de sangue corria. Seu vestido de cerimônia estava rasgado, a coroa caída, os pés descalços. Nos braços, ela carregava algo envolto em mantos de linho sagrado — não uma arma, nem um artefato. Uma criança.
— Eles virão atrás de ti, minha filha... até o fim dos tempos. — murmurou, sem saber se falava para a criança ou para os deuses que a haviam abandonado.
Atrás dela, os exércitos das sombras avançavam. Homens, elfos corrompidos, bestas sem nome. O som de aço contra aço era abafado por algo maior: o rugido abafado do Vazio, uma presença invisível que sorria por entre as rachaduras da realidade.
A elfa parou à beira do precipício. O abismo abaixo levava ao Rio Etéreo — uma queda mágica que selava o mundo mortal do plano das chamas.
Ela ergueu os olhos para o céu e gritou uma única palavra:
— Tharion!
O dragão mergulhou como um cometa. Quando tocou o chão, a terra tremeu.
— Leva-a. Esconde-a. Queimem meu nome se for preciso. Mas protejam… a última chama.
E então, com um último beijo na testa da criança, a elfa caiu para trás, lançando-se no abismo com um sorriso triste — não como quem foge, mas como quem sela um destino.
O dragão envolveu a criança em suas asas. Atrás dele, o mundo ardia.
E nas cinzas do santuário, uma voz sussurrou, suave como vento em velas:
“Quando a Filha do Fogo Silencioso retornar, o mundo será julgado — pela chama… ou pela escuridão.”