Organza: O Fio Invisível de Tudo
A manhã na Organza Alimentos tinha um ritmo peculiar. Não era o tipo de ritmo frenético e impessoal das grandes indústrias, mas sim uma espécie de fluxo constante de pequenas ações, de coisas sendo feitas aos poucos, mas sempre com uma sensação de que algo maior estava prestes a acontecer. O trabalho era meticuloso, e por isso ninguém questionava o andamento, mas havia uma tensão subjacente, como se todos soubessem que algo estava fora de lugar, embora ninguém conseguisse definir o que exatamente.
Henrique, o responsável pelo Marketing, sempre sabia como trazer um toque de humanidade para o ambiente. Era ele quem lembrava os aniversários, quem fazia playlists para o expediente e quem, com seu olhar atento, conseguia perceber as pequenas coisas que passavam despercebidas para os outros. "Isso dá música", ele dizia sempre, independentemente do que fosse. Para ele, o trabalho na Organza não era apenas sobre números ou produção, mas sobre o que se podia fazer com as pequenas falhas, os erros, e como eles poderiam se transformar em algo bonito.
Mas nem todos estavam tão tranquilos. Phil, o gestor comercial dos vendedores externos, vinha de grandes empresas, com toda sua bagagem corporativa, e viu na Organza um desafio. Ele sabia que o ambiente era mais solto, mais fluido, mas isso também significava que havia mais espaço para o erro. Seu olhar atento não perdia um detalhe, mas ele ainda estava aprendendo a lidar com o "caos" da Organza, onde tudo parecia acontecer ao mesmo tempo, e nada parecia ter um fim definitivo.
No laboratório, Josy e Luke estavam trabalhando na criação de novos produtos. Josy, com sua energia criativa, sempre tentando algo novo, e Luke, mais cauteloso, equilibrava a impulsividade dela com um olhar mais técnico. No entanto, sempre que uma nova ideia surgia, ambos se viam confrontados com uma lembrança silenciosa de Marina, a ex-responsável pelo laboratório. Marina havia sido uma figura fundamental para eles, alguém que sabia exatamente quando puxar o freio e quando acelerar. Agora, com sua partida, havia um vácuo difícil de preencher.
No andar de cima, Michael, o gerente geral, tentava manter as coisas leves. Seu humor, sempre pronto a soltar uma piada, buscava descontrair o ambiente. Mas havia algo em seu jeito de agir que começava a levantar suspeitas. No começo, seus erros eram pequenos, quase invisíveis, como algo que todos poderiam ignorar. Mas, com o tempo, eles começaram a se acumular. As falhas nas tarefas, as decisões questionáveis e os detalhes que ele deixava escapar... tudo isso estava se tornando algo grande demais para ser ignorado. No entanto, como sempre, Michael conseguia suavizar as tensões com uma piada, fazendo com que as coisas continuassem aparentemente normais.
Na parte industrial, Rick, o comprador industrial, passava os dias rodeado de planilhas e números. Ele se queixava constantemente, reclamando de tudo — do trabalho, da gestão, da carga de produção. Seu comportamento era instável, e sua atitude muitas vezes deixava a desejar. Mas, por alguma razão, ninguém parecia conseguir realmente vê-lo como alguém que poderia causar problemas. Seu melhor amigo, Augusto, o responsável pelo Planejamento e Controle da Produção, era o oposto. Jovem, cheio de energia, e sempre com respostas claras e precisas, ele mantinha a operação sob controle. Juntos, Rick e Augusto formavam uma dupla improvável, mas eficaz, com Augusto sempre tentando manter Rick focado e organizado, enquanto ele se deixava levar pelas reclamações do amigo.
E havia os personagens da expedição — Enersto, Alemão e Mark. Eles estavam sempre prontos para qualquer tarefa, mas sua natureza pragmática e silenciosa os tornava distantes do núcleo da empresa. Eles trabalhavam duro, sem questionar, mas também sem se envolver muito nas questões mais complicadas que estavam acontecendo nos bastidores.
Apesar de todos estarem ocupados, ninguém conseguia negar o crescente desconforto no ar. Havia algo acontecendo na Organz