Seria só mais uma noite fria e deprê. Igual a todas as outras. Mas aí eu vi ela. A criatura que ia virar minha vida do avesso.
Prazer, meu nome é Angel. Sim, igual àquelas marcas de perfume barato. Minha mãe achava chique dar nome estrangeiro. Conseguiu.
Hoje em dia, eu trabalho numa revista famosa. Bom... famosa entre gente fútil que adora aparecer. Minha função? Fotografar pessoas bonitas com personalidades horríveis.
O salário? Mal dá pra pagar um miojo
Atualmente, divido uma casa minúscula com meu amigo de infância, Alex. O Alex é o tipo de ser humano que acredita que cueca é roupa social. Vive desfilando quase nu pela casa. Não sei quanto tempo mais vou sobreviver nesse hospício.
Ontem, ele teve a brilhante ideia de me chamar pra sair e beber. Geralmente, eu não topo. Ele atrai muita gente, ele é um imã de gente bonita. Mas dessa vez eu fui. O stress do trabalho já estava me deixando doida!.
Fomos num bar famosíssimo em São Paulo. Chique, iluminado, cheio de gente que parece ter saído direto daquelas propagandas de perfume caro.
Temos dinheiro pra isso? Óbvio que não.
Segundo o Alex, era a chance perfeita de encontrar uma ricaça entediada e disposta a bancar a nossa existência miserável.
Nos sentamos na pior mesa do lugar — perto do banheiro e com a cadeira rasgada, onde provavelmente algum cliente perdeu a dignidade.
Alex estava elétrico, como se tivesse visto um novo episódio de seu tokusatsu favorito.
Eu, por outro lado, parecia uma barata assustada. Lugar chique me dá urticária emocional.
Ele chamou o garçom com a elegância de um príncipe do subúrbio e mandou, cheio de charme:
— Quero a bebida mais barata que você tiver.
O garçom lançou um olhar que parecia dizer: "Você tem certeza que entrou no lugar certo?"
Eu só queria que ele trouxesse logo uma água da pia com gelo, se possível.
Cinco minutos depois, ele volta com uma garrafa de vinho e duas taças. E tudo o que passou pela minha cabeça foi: quantos rins vou ter que vender pra pagar isso?
A garçonete serviu o vinho com a pose de quem tava participando de uma cerimônia real. Alex pegou a taça como se fosse um sommelier premiado, olhou pro nada, cheirou, deu um gole e soltou:
— Hmm… esse vinho é realmente interessante. A doçura está equilibrada. Chileno, certo? Um espetáculo!
Eu quase cuspi de rir. Ele claramente tirou isso do episódio de MasterChef que viu enquanto coçava o saco.
Mas, pra minha surpresa — e desespero — a garçonete ficou encantada.
— Como você descobriu que era chileno?
Talvez porque no rótulo tá escrito "Tierra Chilena" em fonte tamanho 80, pensei.
Mas Alex sorriu com um olhar misterioso e respondeu:
— Intuição refinada.
E foi aí que eu percebi: ele ia me envergonhar muito ainda naquela noite.