Download Chereads APP
Chereads App StoreGoogle Play
Chereads

Human mind

🇧🇷ByWhat
--
chs / week
--
NOT RATINGS
887
Views
Synopsis
> Em uma época esquecida por calendários, onde a ciência e o sobrenatural se confundem, o Instituto Larnenne abriga mentes que o mundo se recusa a entender — ou a enfrentar. Elion, um jovem silencioso de passado desconhecido e olhar indecifrável, surge como paciente e investigador ao mesmo tempo. Ele não se lembra de ter sido internado, mas conhece cada canto do sanatório como se tivesse nascido ali. Quando eventos impossíveis começam a se repetir — cadeiras que se movem sozinhas, relógios que param em horários exatos, pacientes que desenham mensagens idênticas —, o psiquiatra-chefe Victor Noll se vê preso em uma rede de enigmas onde a maior ameaça talvez não seja a loucura... mas a mente lúcida demais. Três vozes. Três verdades. Um deles mente. E se o vilão da história for quem está tentando salvá-la?
VIEW MORE

Chapter 1 - O Paciente da Cadeira Vazia

Chovia em Verloth.

Uma chuva fina, insistente, que parecia arranhar os telhados como se o céu estivesse tentando escrever algo sobre o mundo. As árvores tortas da colina sul dançavam com o vento, observando em silêncio o prédio retangular e escuro do Instituto Larnenne — um sanatório tão antigo quanto os próprios rumores que cercavam seus corredores.

A cadeira de rodas se movia sozinha no corredor 4B.

Rangido após rangido, o som repetia-se como uma espécie de código, desconfortável, cronometrado. Como se o corredor tivesse virado um metrônomo assombrado.

A porta do escritório se abriu.

Victor Noll, psiquiatra-chefe, entrou com olheiras profundas, vestindo seu habitual terno cinza amarrotado. Seus olhos estavam cansados demais para seus quarenta anos, e seu casaco pingava com a chuva que ignorava o guarda-chuva.

— E então, garoto... o que você vê? — perguntou Victor, já se dirigindo à estante.

Sentado diante da lareira apagada, um jovem de pele pálida, cabelos negros repartidos com mechas brancas, e olhos calmos como água parada, ergueu o olhar lentamente. Seus óculos redondos refletiam a luz instável da lâmpada do teto.

— Vejo silêncio... e ele está gritando — respondeu o garoto, com um tom educado, quase gentil.

Victor soltou um riso breve, sem humor.

— Poético. Inútil, mas poético.

Ele puxou um fichário empoeirado com a etiqueta Paciente 121-A. A ficha médica estava amarelada, mas a data era surpreendentemente recente: 11 de novembro de 1910.

Victor folheou o documento com pressa nervosa.

— Esse caso... não faz sentido. O paciente apareceu aqui sem ficha de entrada. Nenhum enfermeiro o registrou. Ninguém lembra dele ter sido admitido. Mas... ele conhece os corredores, as rotinas... até nomes que nem constam nos arquivos.

— Talvez ele tenha lido sua mente — disse o jovem, com um leve sorriso.

Victor virou-se de repente, franzindo o cenho.

— Não brinque com isso.

— Não brinquei. Estou... testando hipóteses.

A lâmpada tremeluziu.

O relógio no canto marcava 14:52, e o tique-taque ecoava como batidas no crânio.

Victor cruzou os braços, encarando o nada.

— A tal “cadeira vazia” fica na ala 6, sala 3. Ninguém entra lá há semanas. Mas todo dia... alguém escuta a cadeira balançar.

— Talvez ela esteja esperando — disse o garoto, se levantando.

— Esperando?

— Por quem se sentou nela por último.

Victor engoliu seco. Era como se o garoto estivesse testando sua paciência... ou seus limites. Havia algo de desconfortavelmente preciso em sua escolha de palavras.

— Elion... — Victor hesitou — por que você aceitou acompanhar esse caso?

O jovem ajeitou os óculos.

— Porque o paciente... disse que me conhece.

Silêncio.

O vento soprou pelas frestas da janela. As folhas se arrastaram como se alguém estivesse rastejando lá fora.

Victor se aproximou lentamente da lareira, puxando um papel esquecido entre os tijolos.

Era um bilhete, escrito à mão.

> “Se quer entender o caos, estude o número 3.

Às 14:52, o eco se repete.

Três vezes.

Três mentes.

Três lados.

Um deles mente.”

Victor olhou para Elion.

Mas o jovem não demonstrava surpresa.

Ele apenas observava. Como se estivesse vendo algo que ninguém mais via.

Como se já soubesse o final da história antes mesmo da primeira página.