Introdução ao Reino da Chama Negra
No vasto império de Emberon, o culto à divindade da Chama Negra era a base sólida que sustentava o sistema, o povo erguia-se com uma confiança inabalável. O reino, com sua capital imponente de torres e fortalezas, exalava poder e grandeza. Cada passo dado pelos cidadãos refletia o orgulho de fazer parte de uma nação que conquistava e dominava, onde a Chama Negra não era apenas um símbolo de força, mas a força viva que guiava o destino de todos. Nas ruas pavimentadas com pedras antigas, onde o som de passos firmes ecoava, os habitantes conversavam sobre as últimas vitórias militares e as riquezas adquiridas pelas conquistas. O povo se via como superior, orgulhoso de seu império imbatível, onde os inimigos derrotados eram escravizados, e o trabalho forçado alimentava a engrenagem da economia. A Chama Negra, que tudo consumia, representava o poder absoluto, e ninguém questionava sua presença, pois ela era o coração pulsante do reino.
A família real era vista como os portadores do favor divino, pois compartilhavam uma conexão única com Zarathos, o Deus da Chama. Segundo as lendas, essa ligação surgiu de um pacto antigo, um juramento que fundiu o destino do império à vontade do deus. A Chama Negra, presente no coração do palácio e nas profundezas do Grande Templo, concedia à realeza poderes que os colocavam acima de todos os mortais. Com ela, eles podiam moldar o fogo como uma extensão de sua própria alma, guiando exércitos, protegendo o reino e esmagando seus inimigos.
Essa conexão sagrada não era apenas um símbolo de sua autoridade, mas também um lembrete do preço que o pacto exigia: lealdade inabalável à Zarathos. Ninguém questionava os dons da família real, e poucos ousavam refletir sobre o que poderia acontecer se a linhagem fosse traída ou enfraquecida.
Entre os membros da família real, havia uma jovem, Alessandra, filha mais nova do rei, destacava-se por sua graça e devoção, a princesa favorita, os olhos de seu pai brilhavam ao imaginar a promessa de um futuro brilhante para sua amada filha. Ela havia escutado o chamado para o sacerdócio, era a única que em todos os centenas de anos do império de sua família que havia conseguido tal feito, uma sacerdotisa real significa uma coisa, mais poder, e se descobrisse os segredos das sacerdotisas, não haveria nada acima da realeza de Emberon.
Desde jovem, Alessandra sentia que a Chama Negra pulsava dentro de suas veias, um chamado que não podia ignorar. Cada sonho com Zarathos era uma confirmação de sua missão divina, um destino que ela aceitava com devoção total. Quando chegou a hora da cerimônia no Grande Templo, onde as mulheres do reino iam para confirmar seu destino, ela já não tinha dúvidas sobre o seu chamado.
A cerimônia, realizada em um templo majestoso feito de obsidiana e cristal negro, era um rito de passagem. As mulheres do reino, desde as mais humildes até as mais nobres, sabiam, desde a infância, que estavam predestinadas a servir Zarathos. Elas ouviam a voz do deus em seus sonhos e, ao tocarem a Chama, confirmavam seu destino de se tornarem sacerdotisas. A princesa, com a luz do poder e da devoção em seus olhos, estava prestes a fazer o mesmo. Era um momento aguardado por ela e seu pai, que acreditava que sua filha, a favorita, faria a Chama brilhar mais forte do que nunca.
Porém, o que parecia ser um simples rito de confirmação tornaria-se o ponto de partida de uma jornada que ela nunca imaginara. A princesa, que até então se entregara de corpo e alma ao seu destino de sacerdotisa, não sabia o que a aguardava ao tocar a Chama Negra. Ela se entregou à sua devoção, até o momento em que, contrariando todos os seus votos, engravidou. A gravidez foi um choque para Alessandra, mas ela não via a criança como um pecado. Naquele momento, ela sentiu que Zarathos a havia abençoado com um novo propósito, e o filho que crescia dentro de seu ventre não era uma transgressão, mas uma prova de que o destino estava cumprindo seu curso. A princesa não compartilhava essa visão com ninguém, temendo as repercussões que sua revelação causaria.
Seu pai, o rei, ficou devastado ao descobrir a transgressão. O sacrilégio de uma sacerdotisa grávida era uma afronta à Deus. A vergonha e a perda de autoridade que isso acarretava eram inaceitáveis para o rei, que temia que a imagem de sua filha desonrada destruísse o império. No entanto, ele não teve coragem de punir sua filha com a morte, e a decisão foi drástica: exilá-la, condenando-a a uma vida de miséria e esquecimento.
Assim, a princesa que um dia fora a favorita do rei foi banida de sua terra natal, vendo sua vida de privilégios desmoronar. Seu filho, arrancado de seus braços ao nascer, tornou-se a ferramenta da vingança de seu pai, que desejava que ela provasse a mesma dor que ele sentia. Por sua ordem, a criança foi vendida como um escravo de guerra, destinada a ser moldada para matar e servir ao império de maneira implacável.
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Visão de Eryon
A terra tremeu sob os passos pesados das tropas de Emberon, avançando como uma onda implacável em direção ao reino pacífico.
A tarde estava morrendo, o céu tingido de laranja e vermelho refletia na armadura negra de Eryon, marcada pelas inúmeras batalhas que travara. Seus olhos eram de um tom profundo de cinza, como a tempestade que antecede um desastre, o cabelo negro e desgrenhado caía sobre a testa, já úmido de suor, enquanto as sombras da barba por fazer reforçavam sua expressão severa. Era um homem de porte atlético, com músculos definidos pelo rigor do treinamento. Ele era um escravo de guerra, uma máquina de combate forjada em dor e sofrimento, e sua missão era clara: conquistar, destruir, subjugar. Quando o sinal foi dado, a investida começou. Eryon avançou com a multidão, seus pés pesando sobre o solo ensanguentado, enquanto os gritos de seus camaradas se misturavam com os gritos de agonia dos inimigos. Ele lutava com destreza, cada golpe de sua espada preciso, cortando carne e aço com a habilidade de quem já tinha enfrentado o inferno inúmeras vezes. O treinamento era pesado, cruel, tudo feito para que ele chegasse a esse momento. Cada movimento era uma combinação de precisão e força, uma dança mortal que ele havia aprendido a fazer automaticamente. Em Emberon, escravos de guerra podem ter a chance de "subir" na hierarquia. Talvez o império tenha um sistema cruel, mas aparentemente meritocrático, onde escravos que se destacam em batalha podem ganhar posições mais altas — como líderes de esquadrões de escravos ou gladiadores privilegiados. Mas a luta não era apenas física. Havia algo que o corroía por dentro enquanto lutava. A Marca queimava em suas costas, e ele sentiao peso de sua servidão com cada golpe. Um lembrete constante de que ele não estava ali por sua própria vontade, mas por um destino cruel imposto pela Chama Negra. Ele era uma peça em um jogo que nunca escolhera.Enquanto cortava um soldado inimigo na frente de si, Eryon foi surpreendido por uma lâmina que cortou seu ombro esquerdo. Ele não sentiu dor - estava acostumado - mas a sensação do corte batalha era real, ele oscila de que por um momento. No entanto ele não teve temor virou-se com rapidez, cortando o homem com um golpe diagonal, vendo-o cair ao chão sem vida. Ele continuou a avançar, esmagando qualquer resistência que aparecesse em seu caminho, sua mente imersa em um estado de fluxo, mas uma parte dele estava longe, em
outro lugar, perdida na luta interna que o consumia. O som da espada cortando o ar, a visão do sangue jorrando, não mais o
abalavam. Se sentia como um monstro, uma máquina impiedosa, algo estava morrendo, algo que nunca poderia ser curado. As ordens chegaram, e as tropas começaram a avançar para o centro do vilarejo, O fogo consumindo casas de madeira, gritos de civis tentando escapar, Eryon lidera um grupo de escravos guerreiros, os soldados inimigos estavam preparando para a última resistência.Um desses avança sobre Sevin, um de seus companheiros, ele o salva um de um ataque fatal, repelindo o ataque com a espada, faz o inimigo recuar, avança e lhe corta a garganta, o sangue jorra, ele observa, sem expressão. Sevin ainda está incrédulo no chão, ele o observa:
- Vá, avance com os outros!
ele entra em uma casa para garantir que nenhum inimigo esteja escondido. Lá, ele encontra uma família desarmada, com crianças chorando e uma mãe segurando um bebê. Eles o olham com terror:
- Por favor, não nos mate! A mulher começa a chorar. Eryon percebe que não são uma ameaça, contudo a ordem ecoa em sua mente, sobreviventes devem ser capturados! Ele pensa: eles serão vendidos como escravos, os filhos separados de sua mãe, não quero condenar mais pessoas a uma vida como a minha, a morte seria uma dádiva. Ele hesita, com a espada erguida. Algo dentro dele grita para parar, mas ele sabe que, se desobedecer, estará colocando sua própria vida em risco.
- Vão!
Eryon finge que não viu a família. Ele sai da casa e a deixa intacta, mas o peso de sua decisão começa a corroer sua mente. Talvez um de seus companheiros perceba sua hesitação e o confronte mais tarde, levantando a questão: "Por que você hesitou? Está começando a fraquejar?"
Avançando ele encontra mais inimigos, vários caem, depois de algum tempo avança, vê seus companheiros ensaquentados, já exaustos, observa ao redor procurando por Sevin, ele foi capturado a pouco tempo e está sob treinamento, ele não admite fácil, mas se preocupa com o rapaz, por sorte ele o vê batalhando a frente, seu amigo Farhan está ao lado o dando cobertura, suspira aliviado. Indo na direção dos dois em sua frente surge mais um soldado inimigo, dessa vez um de alta patente, armado com uma espada ornamentada. Eryon se prepara para o embate, os olhos focados no oponente, o homem lutava com habilidade, mas Eryon estava mais rápido, mais determinado. Cada golpe do inimigo era desviado com um movimento preciso, enquanto Eryon procurava a brecha para o golpe final. Quando a espada do inimigo finalmente foi desarmada, Eryon o derrubou, colocando a lâmina contra seu peito. O homem olhou nos seus olhos, reconhecendo a dor que ali habitava, antes que Eryon o matasse com frieza. Ele olhou para o corpo caído, e algo apertou seu peito. Era o peso de saber que, apesar da vitória, ele não tinha conquistado nada. Nada além da dor e da marca que nunca desapareceriam. Seus superiores comemoraram, mas Eryon, mais uma vez, se sentiu vazio. A luta não era por glória. Era por sobrevivência.