Capítulo I: A Fornalha do Destino
A escuridão da fornalha divina envolvia Sun Wukong como um manto pesado e sufocante. O odor de fumaça e metal quente preenchia o ar, e o calor intenso parecia escavar os recessos de sua alma. Ele não conseguia medir o tempo que estava preso ali; para ele, a eternidade se resumia a cada segundo de angústia. As chamas, sempre dançantes, pareciam zombar dele, como se fosse um sinal de seu fracasso diante do céu.
Porém, a dor da prisão não era o único fardo que carregava. À medida que as chamas pulsavam e crepitavam, visões começaram a se infiltrar em sua mente. A primeira delas surgiu como um turbilhão, projetando um mundo repleto de sombras e luz. Como se estivesse em um espelho distorcido, ele viu uma elfa de cabelos prateados chamada Lyra, em um campo de batalha. Com um arco elegantemente esculpido, ela encarava um anão ferido, ajoelhado diante dela.
"Você realmente acreditou que poderia me derrotar, cão?" Lyra disse, sua voz suave, mas repleta de crueldade. O anão, com olhos cheios de desespero e humilhação, mal conseguiu levantar a cabeça. "Agora, levante-se e me sirva, se quiser viver." A cena fez o Rei Macaco estremecer. Era uma manifestação brutal de superioridade e controle, algo que ele mesmo havia praticado em sua busca por poder e reconhecimento. Ele percebeu que aquele momento refletia não apenas a força daquele ser, mas também o preconceito que o acompanhava.
Com um estrondo, a visão dissipou-se, e outra tomou seu lugar. Esse novo panorama revelava um vasto campo de batalha, onde dois semideuses, Pharos e Kael, lutavam ferozmente. As espadas se chocavam com ruídos ensurdecedores, e a cena era imbuída de uma energia palpável de traição. Pharos, com impulso desesperado, cravou a lâmina em Kael, seu melhor amigo. Wukong sentiu o peso da traição transpassar seu coração. O eco da lâmina fulminante atravessava seu ser, e uma dor aguda e familiar o lembrava do valor da amizade perdida.
A luta intensa entre os semideuses não durou mais que breves instantes, mas, para Wukong, foi uma eternidade. "Como eles puderam chegar a esse ponto? O que os levou a se tornarem adversários tão ferozes?", pensou, um frio na espinha refletindo sua própria jornada de sucesso e perda.
Enquanto processava a cena, o calor aumentou ainda mais, trazendo consigo novas visões. Um novo cenário se formou: a Vazia Escuridão. Uma dimensão horrenda e desoladora, onde ecos de almas atormentadas e gritos alucinantes reverberavam sob uma luz sombria. Ali, uma entidade cósmica, indefinida e aterrorizante, surgia das sombras. Seu corpo mudava constantemente, como se fosse feito de pesadelos, e olhos brilhantes refletiam a essência da própria insanidade. Wukong sentiu seu instinto de sobrevivência gritar em protesto. O ser era uma manifestação do caos, a antítese da ordem e da razão — um horror que parecia querer devorar tanto o corpo quanto a alma.
"Rei Macaco…" sussurrou a criatura, sua voz reverberando como um eco na vasta escuridão. Assim que as palavras foram proferidas, a escuridão se aprofundou, e uma sensação de vazio o envolveu. Ele se sentiu perdido, sem saber se estava acordado ou sonhando. Em meio ao abismo, surgiu uma luz distante, pulsante e suave, que lentamente começava a se aproximar. Inicialmente, a luz se movia com hesitação, como se ponderasse sobre seu destino. Mas, de repente, acelerou abruptamente, iluminando o vazio ao seu redor com um brilho intenso e quase ofuscante.
Wukong piscou diante da luz, que se tornava cada vez mais brilhante à medida que se aproximava a passos largos. Quando finalmente o envolveu, uma rachadura se formou no ar, como se o próprio tecido da realidade estivesse se rompendo. Num instante, ele sentiu sua essência ser puxada através da fenda, e então tudo à sua volta se desfocou.
Ao abrir os olhos, Wukong percebeu que estava em um lugar novo. O ambiente ao seu redor parecia ter se transformado, agora mais vibrante, com cores vivas e um ar fresco que parecia pulsar com energia. As árvores ao seu redor, antes simples sombras, agora brilhavam suavemente sob o céu hipnotizante. Ele sentia a conexão imediata com esse novo mundo, como se tivesse atravessado um véu que o separava da antiga realidade. Algo estava profundamente alterado.
Com os olhos curiosos e uma sensação crescente de que seu destino havia mudado, ele se levantou da pedra onde havia repousado. Foi quando viu algo curioso: uma pérola flutuando suavemente no ar. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, a pérola rapidamente absorveu um pouco de seu sangue, enviando-lhe uma onda de informações desconhecidas.
"Este mundo parece ser igual, mas há algo de diferente aqui..." pensou Wukong, a chama da curiosidade agora acesa em seu peito. Ele estava pronto para explorar este novo lugar. Não mais prisioneiro da fornalha divina, mas livre em um novo domínio, repleto de possibilidades.
Com a mente agitada e o corpo vibrando de energia, Wukong olhou ao redor e subiu rapidamente até uma árvore próxima. Lá, ao alcançar um galho baixo, pegou uma maçã vermelha que bruxuleava sob a luz do céu vibrante. Ao morder a fruta, sentiu uma explosão de sabor e energia, como se a essência do mundo fosse transmitida diretamente para sua alma.
"Se este é o mundo que me aguarda, estou pronto para ele," pensou, o espírito renovado, mais determinado do que nunca.