12/09/1989 — 17:37
Em um dia nublado nas florestas de (dados expurgados) aonde abita o maior dos (dados expurgados), um trem percorria lentamente os trilhos enferrujados e úmidos. Dentro dele, havia 20 passageiros, pessoas comuns que mal imaginavam o que as aguardava no fim da linha.
Sentada próxima à janela, uma mulher de cabelos ruivos curtos, em corte estilo cuia, observava a paisagem com a cabeça apoiada na mão direita. Vestia um casaco marrom e parecia distraída, hipnotizada pela visão das árvores que pareciam infinitas. Sua atenção se desviou ao perceber alguém se sentando ao seu lado — um homem de cabelos castanhos longos, usando um terno preto com um suéter cinza por baixo.
— Até que enfim. Achei que você tinha morrido no banheiro — comentou ela, com ironia.
— Lucy, faz um favor e cala a boca — respondeu ele, com um tom cínico, sem desviar o olhar dos papéis que carregava.
— Beleza... Que se dane. O que a gente já tem mesmo?
— Temos... deixa eu ver — ele abriu uma maleta preta, puxando alguns papéis e os analisando. — Em três estados conseguimos oito relatos. Isso é bom. Mas você realmente acredita que tem algo sobrenatural por trás dessas mortes?
— Eu não faço a menor ideia. Mas, se houver, vamos mostrar ao mundo. É isso que fazemos: descobrimos a verdade e a expomos — afirmou Lucy com convicção, cruzando os braços.
— Você fala como se fosse uma cruzada. Às vezes acho que você só gosta da adrenalina — disse Adam, levantando uma sobrancelha.
— Talvez... ou talvez eu só esteja cansada de fingir que o mundo é normal.
O papo foi interrompido por uma voz irritada vinda do banco da frente.
— Será que dá pra calar a boca? Tô tentando dormir, caralho! — gritou um dos passageiros, virando-se para trás.
— E você acha que gritar resolve? — rebateu uma garota de cabelos ondulados e castanhos escuros, Jill, que estava mais adiante. — Compra um fone de ouvido, babaca!
Os passageiros começaram a discutir entre si, e o ambiente logo virou um caos de vozes e resmungos.
— Isso aqui virou um circo — murmurou Lucy, rolando os olhos.
Mas, de repente, um som estranho vindo da floresta silenciou todos. Um grito abafado e estranhamente longo ecoou pelas árvores, fazendo com que os olhares se voltassem automaticamente para as janelas. A tensão pairava no ar. Então, um estrondo violento sacudiu o trem, fazendo a locomotiva tremer intensamente.
21:49
Os passageiros desembarcaram, uns em pânico, outros mais contidos. Uma névoa densa cobria tudo ao redor como um véu opressivo. Lucy observou Alex uma jovem de cabelos vermelhos, vestindo um macacão amarelo, caminhar em direção à cabine do maquinista com um rapaz de moicano e casaco verde e pele escura Tayler.
— Esse cara aí... moicano nos anos 90? — murmurou Lucy, balançando a cabeça com um sorrisinho.
— Cada um com seus estilos, né — comentou Adam, sem dar muita importância.
Ela desviou o olhar para hama um homem de aparência asiática com o cabelo corte militar que carregava uma menina no colo, enquanto outro Yamato um cara magro com um terno preto óculos e uma cara de idiota uns 40 e poucos anos, ele trazia uma cadeira de rodas que parecia pertencer a menina carregada por hama, e logo atrás deles um mulher que utilizava uma bengala branca e seus olhos sempre fechados indicando sua segueira, Lucy olhou ao redor e contou cerca de 20 pessoas.
— Alguém faz ideia de onde estamos? — perguntou em voz alta, olhando ao redor.
Conrrad, um homem de pele escura, cabelos ondulados longos e vestido com um terno peculiar e um chapéu exótico, ergueu a cabeça.
— Já estive aqui quando era mais jovem. Não lembro de muita coisa, mas tenho uma noção da região.
— "Noção da região", ótimo. Isso soa bem tranquilizador — comentou Tayler com sarcasmo.
Antes que alguém retrucasse, Tayler gritou desesperado:
— Venham aqui rápido! Vocês precisam ver isso!
Todos correram até a cabine do maquinista. A parte superior estava completamente destruída, como se algo gigantesco tivesse rasgado o teto. E o maquinista havia desaparecido sem deixar rastros.
— Isso não foi acidente... — murmurou Alex, observando o motor. — Algumas peças estão destruídas. Não são muitas, mas sem elas o trem não vai a lugar nenhum. E essa destruição aqui em cima... isso foi violento.
— Alguma ideia do que causou isso? — perguntou Adam.
— Nenhuma que envolva um ser humano — respondeu Alex, sombria.
— Certo, acho melhor irmos atrás de alguma cidade ou vila — disse Lucy. — Ei, macumbeiro, você disse que já esteve aqui. Tem alguma vila por perto?
— Primeiro: eu tenho nome. É Conrrad. Segundo: sim, existe uma cidade pequena por aqui — respondeu com irritação.
— Relaxa, Conrrad. Ela fala assim com todo mundo — comentou Adam.
— Senhoras e senhores, se me permitem — disse Tayler teatralmente —, eu vou seguir o guia místico aqui. Não tô afim de virar comida de urso.
— Ursos? Aqui? — ironizou Paco, um homem de terno cinza e cabelo raspado, franzindo a testa.
— Sei lá, lobisomens, javalis mutantes, não importa. Eu tô fora — respondeu Tayler, pegando sua mochila.
Adam se virou para Lucy.
— A gente vai também?
— Vamos. Melhor do que esperar o trem voltar do além.
Enquanto pegavam suas malas, Lucy notou o homem com a menina na cadeira de rodas ainda parado ao lado dos trilhos, junto a eles uma mulher loira que parecia ser cega.
— Vocês não vão vir? Seria mais seguro na cidade.
— Pode ser... mas ainda prefiro esperar o resgate. O chão não parece bom pra passar com uma cadeira de rodas, e andar pela floresta não parece seguro.
— O resgate vai procurar na cidade também — retrucou Conrrad, já saindo com as malas.
Pouco a pouco, o grupo se dividiu: alguns seguiram Conrrad, outros permaneceram no trem. Lucy olhou uma última vez para os que ficaram, depois seguiu floresta adentro com Adam e os demais.
Após duas horas de caminhada silenciosa, encontraram uma placa enferrujada: "Bem-vindo a Wastland". A cidade era pequena, rústica, com um ar antigo e decadente. Mesmo assim, conseguiram uma indicação de pousada.
Na recepção, após alguma discussão com o dono rabugento, se instalaram em quartos duplos. Antes de entrar no quarto com Adam, Lucy foi abordada por Tayler.
— que sensação estranha.— Conrrad colocou a mão no peito após sentir um forte aperto.
—o que foi?— perguntou o cara de moicano.
—nada demais, por sinal já que vamos dividir o quarto, eu gostaria de saber o seu nome?— Conrrad perguntou
—oh, meu nome é Tayler.
—e qual é a do moicano? Taxi Driver?— Conrrad perguntou com um tom irônico.
—bem, digamos que sim— eles respondeu antes se deitar e dormir e Conrrad faz o mesmo.
Enquanto isso, no trem…
Os que haviam ficado improvisaram locais para dormir. Mas o silêncio da noite foi quebrado por um novo grito vindo da floresta. Um som mais forte, mais próximo... seguido de passos pesados. Árvores se moviam, como se algo gigantesco estivesse se aproximando.
— Essa não — sussurrou Jill, se afastando das janelas.
—o que foi querida? você sabe o que foi isso?— a cega perguntou com preocupação.
— Fiquem quietos! — disse a garota da cadeira de rodas.
Então, sem aviso, algo colossal atingiu um dos vagões com violência brutal. Um estrondo ensurdecedor tomou conta do local. O vagão lateral foi arremessado como se fosse feito de papel, voando por entre as árvores e se chocando contra o solo com um estrondo seco. Uma sombra gigantesca atravessou os trilhos, seguindo exatamente o caminho por onde o outro grupo havia partido pela floresta.
Os que ficaram no trem observavam tudo em estado de puro horror, sem compreender o que seus olhos testemunhavam.
Enquanto isso, na pequena cidade, um festival tradicional estava prestes a começar — o Festival de Lockwood, uma celebração folclórica antiga dedicada a uma entidade que, segundo a lenda, teria sido um homem comum que ascendeu ao nível de um deus, tomando a forma da lua.
As ruas estavam iluminadas por lanternas artesanais e o cheiro de comida típica pairava no ar. Crianças corriam entre barracas, risos e músicas preenchiam o ambiente enquanto a maioria dos moradores se reunia na praça central, onde um palco havia sido montado.
Logo, o prefeito subiu ao palco, vestindo trajes cerimoniais, e pegou o microfone com solenidade.
— Meu querido povo… — começou ele, com a voz carregada de orgulho. — Como sabem, alguns forasteiros chegaram à nossa cidade. E embora possam carregar consigo certas… impurezas, não se preocupem. Nesta noite sagrada, o grande Lockwood e seus apóstolos irão purificá-los. Antes do fim deste festival, todos estaremos prontos para o renas—
Ele foi interrompido subitamente por um som pesado e abafado, como passos gigantescos ecoando pelas vielas estreitas. A multidão silenciou. O ambiente, antes vibrante, ficou tenso num segundo.
E então, um grito desesperado cortou o ar.
— Grendel! Grendel! — gritava uma mulher, correndo em pânico de um beco lateral.
Atrás dela, a origem do pesadelo surgiu: uma criatura monstruosa, com aproximadamente 3,80 metros de altura, semelhante a um ser humano, mas profundamente deformada. Seus cabelos longos e desgrenhados caíam sobre um rosto parcialmente disforme, com o lado direito da face visivelmente afundado e torto. A criatura caminhava com postura arqueada, os braços anormalmente longos pendendo quase até o chão, os dedos espessos parecendo garras.
E então… ela atacou.
O pânico explodiu em segundos. Pessoas corriam em todas as direções, trombando umas nas outras, tentando escapar. Um homem tentou se defender com um garfo de palha improvisado, mas Grendel o agarrou com ambas as mãos e, num movimento brutal, enterrou os dedos em seu peito, quebrando suas costelas com estalos audíveis. O corpo do homem foi rasgado ao meio com um som grotesco, enquanto gritos apavorados ecoavam ao redor.
Grendel avançava, esmagando, rasgando, devorando. Cada movimento era puro massacre. Um grupo tentou se refugiar dentro de uma barraca, mas a criatura a destruiu com facilidade, puxando uma mulher para fora e arremessando-a contra uma parede de pedra.
O sangue escorria pelas ruas, os gritos misturavam-se com o som dos ossos partindo, e em poucos minutos, o centro da cidade se tornara um cenário de carnificina.
Quando, enfim, os sobreviventes conseguiram se esconder, Grendel simplesmente ergueu a cabeça para o céu, rosna para lua como se a despreza-se, e então desapareceu pelas vielas da cidade, seguindo lentamente na direção da floresta.