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The Thief of Tides(versão Português)

🇧🇷EduRodri
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Synopsis
Kain carrega uma Joia Oceânica que se torna a Espada Rubi, arma dos escolhidos. Ao salvar Lirien de piratas, ele enfrenta um mar traiçoeiro. Com o Rubi revelando supervelocidade, Kain luta para usar Joias e relíquias contra o terrível pirata Yariv, que quer despertar Tashkivor. Enquanto Shimon trama nas sombras, as profundezas escondem perigos maiores — Kain está pronto?
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Chapter 1 - O Chamado Das Águas

O Oceano Tempestâmico era uma força viva, um colosso de água e fúria que se estendia até o horizonte, suas ondas escuras rugindo como uma fera inquieta. Elas batiam contra o casco do pequeno barco de Kain com violência, jogando espuma salgada que se agarrava à madeira gasta como lágrimas de sal. Ele segurava o leme com uma mão calejada, dedos longos ajustando o curso com a precisão de quem conhecia aquele mar traiçoeiro. Seus olhos castanhos, afiados como lâminas, se estreitavam contra o vento cortante que chicoteava seu rosto anguloso, a cicatriz fina na sobrancelha esquerda — um souvenir de uma briga num porto esquecido — destacando-se na luz fraca. O cabelo castanho, úmido e bagunçado pelo borrifo do mar, caía sobre a testa em mechas rebeldes, que ele afastava com um gesto brusco, quase irritado.

Aos 22, Kain tinha o corpo de quem vivia por teimosia. Magro mas não fraco, os ombros largos e os braços definidos sob uma túnica cinza rasgada carregavam a força de noites escalando cordas podres e carregando baús roubados. A pele bronzeada, marcada por cortes antigos, contava histórias que ele guardava pra si. A outra mão repousava na bainha da espada, onde o Rubi — uma pedra vermelho-sangue que pulsava com um brilho fraco — parecia viva sob as nuvens escuras. Ele a encontrara dois anos atrás num naufrágio coberto de algas e a manteve por apego, ou talvez por um instinto que não admitia. "Provavelmente só uma pedra bonita que algum idiota perdeu", pensou, tamborilando os dedos na bainha. "Ótimo", murmurou, a voz rouca tingida de sarcasmo. "Nada como uma tempestade pra me lembrar que o mundo me odeia tanto quanto eu o odeio."

Kain não era de companhia. Anos como ladrão, esgueirando-se por mercados sombrios e naufrágios, ensinaram que confiança era coisa de tolo. Reservado, falava pouco e pensava muito, a mente girando com erros que ele enterrava sob indiferença. Agora, caçava relíquias por necessidade — um pedaço de pão seco, um canto seco pra dormir, talvez um gole decente de rum. Era o que dizia a si mesmo enquanto remava rumo à Ilha das Correntes, uma faixa de terra esquecida no coração do Oceano Tempestâmico. Rumores de taverna falavam de um navio mercante afundado ali, carregado de algo valioso. Kain não acreditava em metade das histórias, mas o vazio no estômago o mantinha remando.

O barco balançava, as ondas batendo como punhos. Ele se inclinava pra estabilizá-lo, músculos tensos, veias saltando nos antebraços. Acima, o céu era um manto de cinza e preto, cortado por relâmpagos que iluminavam as nuvens como veias de um monstro adormecido. A Ilha das Correntes surgia no horizonte, uma silhueta de rochas negras e árvores retorcidas, os galhos tortos como dedos quebrados contra o vento. A praia de areia escura aparecia, cheia de destroços — madeira podre, cordas desfiadas, fragmentos de um passado engolido pelo mar. Kain amarrou o cabelo com um cordão de couro gasto, os movimentos rápidos e econômicos. Estava quase lá, quase livre pra vasculhar o naufrágio, quando ouviu — um grito abafado, quase perdido no rugido das ondas.

Ele franziu a testa, a cicatriz se aprofundando enquanto inclinava a cabeça. "Provavelmente algum pássaro idiota preso em algum lugar", resmungou, desdém pingando da voz. Mas o grito veio de novo, agudo e carregado de desespero. Kain tamborilou os dedos na espada, o Rubi pulsando sob seu toque. "Ótimo", bufou. "Lá se vai minha paz." Remou mais rápido, o esforço destacando as veias nos braços, o barco cortando as ondas com teimosia. Ao contornar a costa, a cena se revelou: três mercenários arrastando uma jovem pela areia molhada.

O líder era um bruto de pele queimada pelo sol, o rosto cruzado por cicatrizes como um mapa de batalhas perdidas. Seus olhos cruéis brilhavam sob uma testa suada, e ele segurava uma corrente enferrujada com mãos grossas, os anéis de ferro tilintando. Ao lado, um homem magro e nervoso, cabelo preto oleoso caindo sobre olhos fundos, carregava uma rede e uma espada curta, os movimentos inquietos como os de um rato. O terceiro, baixo e atarracado, o rosto sob um capuz rasgado, empunhava uma adaga com a confiança de quem já matara antes.

A jovem era o oposto deles. Lirien, como Kain descobriria depois, tinha 20 anos e carregava uma energia que desafiava a tempestade. O cabelo loiro, emaranhado pelo vento salgado, dançava como chamas douradas, emoldurando um rosto de traços afiados — nariz reto, queixo firme, olhos verdes ardendo de raiva e determinação. Esguia mas ágil, vestia uma túnica azul desbotada, rasgada nas mangas, e botas gastas que afundavam na areia enquanto se debatia, chutando com ferocidade.

Kain parou o barco, olhos fixos na cena. "Eu podia virar essa porcaria e fingir que não vi nada", murmurou. "Seria mais fácil." Mas Lirien acertou um chute no joelho do magrelo, arrancando um gritinho agudo, e um sorriso torto escapou nos lábios de Kain. "Bem, ela tem coragem", pensou. "Isso complica as coisas."

Ele saltou do barco, os pés afundando na areia, e avançou com passos silenciosos, mão na espada. O líder puxou a corrente, rosnando, "Quieta, sua peste!" A voz era grave, áspera de sal e fumaça, e ele ergueu a mão pra bater, os anéis brilhando. Lirien encarou com um olhar desafiador, dentes cerrados, olhos verdes em chamas.

Kain correu, movido por reflexos afiados em ruas escuras e naufrágios traiçoeiros. Chegou ao líder em três passadas, girando a espada pra acertar o pulso com o cabo num golpe seco. A corrente caiu com um tilintar, e Kain chutou o peito do homem, jogando-o de costas na areia com um grunhido. Os outros se viraram — o magrelo sacando a espada com dedos trêmulos, o atarracado avançando com a adaga.

"Vocês escolheram o pior dia pra me irritar", disse Kain, voz cortante. Ele desviou do golpe desajeitado do magrelo, girando atrás dele e torcendo o braço até a espada cair. Com um empurrão, jogou-o contra as rochas, onde ele desabou, gemendo. O atarracado veio em seguida, a adaga mirando seu flanco, mas Kain rolou pela areia, levantando com graça felina. Pegou a corrente caída e chicoteou, enrolando as pernas do mercenário e puxando. O homem caiu de cara, a adaga voando e cravando na areia.

Lirien, livre, rolou pra se levantar, olhos verdes faiscando com alívio e desafio. "Quem é você?", perguntou, voz ofegante mas firme, segurando uma pedra com resolução.

"Alguém que já tá se arrependendo disso", retrucou Kain, limpando areia da túnica. O líder se ergueu, cuspindo areia e ódio. "Yariv vai te esfolar por isso, rato imundo!", rugiu, sacando uma adaga serrilhada. Kain bufou, avançando com um golpe preciso que o desarmou, seguido de um soco no queixo que o derrubou frio.

O silêncio caiu, quebrado só pelas ondas e pela respiração de Lirien. Ela soltou a pedra, limpando as mãos na túnica com confiança. "Obrigada", disse, voz clara e forte. "Mas eu podia ter resolvido sozinha."

Kain ergueu uma sobrancelha, a cicatriz se movendo. "Claro", respondeu, sarcasmo escorrendo. "Você tava no comando enquanto era arrastada como peixe na rede."

Ela riu, um som leve que cortou a tensão. "Sou Lirien", disse, cruzando os braços, cabelo loiro esvoaçando. "E você é…?"

"Kain", respondeu, curto, guardando a espada. "E não, não faço isso por bondade. Esses idiotas provavelmente têm algo que eu posso vender."

"Seu coração de ouro tá bem escondido", provocou ela, olhos brilhando de diversão. "Esses mercenários trabalham pra Yariv", continuou, tom ficando sério. "Ele tá caçando algo nas águas… algo que não devia ser encontrado."

Kain franziu a testa, o nome "Yariv" cutucando uma memória distante — um caçador de relíquias sem escrúpulos. Olhou pro Rubi, intrigado com seu brilho fraco mas sem respostas. "Parece o tipo de problema que eu evito", murmurou.

"Você não parece do tipo que foge de problemas", rebateu Lirien, um sorriso desafiador nos lábios.

Ele bufou, virando pro barco. "Você não me conhece, garota", disse, voz áspera, mascarando uma inquietação crescente. "Vamos antes que mais deles apareçam."

Kain amarrou o barco numa rocha e ajudou Lirien a subir, movimentos precisos, mas a mente vagando. Enquanto remava de volta pro mar, o barco cortando as ondas, o peso do Rubi contra a coxa parecia maior. Os olhos verdes dela o seguiam, firmes e sondando, como uma corrente que ele não tinha certeza se queria quebrar. O Oceano Tempestâmico rugia ao redor, e pela primeira vez em anos, Kane sentiu que aquelas águas escuras não o deixariam escapar tão fácil.