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Demônio negro

Rip_Techugo
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Synopsis
Nas profundezas da escuridão, um guerreiro ressurge. Vestido com uma armadura impenetrável e uma máscara que aterroriza até os mais valentes, ele carrega consigo uma chama negra que devora tudo em seu caminho. Seu nome é sussurrado com medo, sua lenda manchada de sangue e mistério. Dizem que ele já foi humano. Dizem que sua alma foi entregue em troca de um poder inimaginável. Mas quem realmente é o Demônio Negro? E qual é o verdadeiro preço de sua força? Aqueles que cruzam seu caminho têm apenas duas opções: fugir ou perecer.
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Chapter 1 - Capítulo 1 – O Último Inverno

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"Os deuses nos traíram. Os anjos proclamaram que éramos hereges. E nos condenaram ao fogo. Agora, somos caçados como feras."

O vento cortante soprava entre as árvores da floresta ao sul, onde uma vila de demônios resistia ao inverno e à guerra.

Um homem caminhava pela trilha de terra batida, seu corpo coberto por um manto grosso de pele. Ele carregava uma lança nas costas e tinha uma expressão cansada. Assim que entrou na vila, foi recebido por outro homem, mais jovem, que estava empilhando lenha ao lado de sua casa.

— Lucas! — chamou o homem de voz grave.

Lucas olhou para trás e sorriu ao reconhecer o recém-chegado.

— Pedro! Como foi a caçada hoje?

Pedro suspirou e balançou a cabeça.

— Nada boa... Vimos humanos perto do Lago Thriy.

O semblante de Lucas se fechou.

— Ouvi dizer que o vilarejo de Aldebaram foi destruído... Todos foram mortos.

Pedro ficou em silêncio por um momento antes de responder, sua voz carregada de pesar.

— É verdade. Tentamos ajudar, mas chegamos tarde demais.

Lucas apertou os punhos, mas forçou um sorriso.

— Pelo menos temos suprimentos para o inverno.

— Sim... Vamos precisar.

Pedro olhou para o céu, onde o sol já começava a descer no horizonte.

— Tenho que ir. Até amanhã, Lucas.

— Até.

Pedro caminhou pelas ruas do vilarejo, observando as crianças brincarem. Elas corriam com espadas de madeira, gritando que eram heróis lutando contra os humanos. Ele sentiu uma pontada no peito. Talvez, em um mundo diferente, essa guerra fosse apenas uma brincadeira.

Ao chegar em casa, viu seu filho mais velho, Anhãng ũ, treinando com uma espada de madeira. Seu corpo estava suado, e ele golpeava o ar com determinação.

Pedro cruzou os braços e observou por um momento antes de corrigir:

— Você está errando o ataque. Seu peso deve estar na ponta da espada, não nos calcanhares.

Uma mulher apareceu na porta da casa, os cabelos presos em um coque e um sorriso cansado no rosto.

— Você pega pesado com ele, Pedro.

Anhãng ũ riu e correu até a mulher, abraçando-a.

— Mãe!

Vitória passou a mão pelos cabelos do filho.

— Vá brincar com seus amigos, já treinou o suficiente por hoje.

Anhãng ũ assentiu e saiu correndo para a rua, onde encontrou Júlio e César, dois garotos da vila.

— Meu irmão diz que essa guerra nunca vai acabar... Que os humanos sempre nos odiaram. — comentou Anhãng ũ, chutando uma pedra. — Mas minha mãe diz que nem sempre foi assim.

César cuspiu no chão.

— Os humanos são covardes. Se lutassem de frente, pereceriam.

Júlio concordou, cruzando os braços.

— Por isso envenenaram o Rei Telãur. Não têm honra.

— Mas e os deuses? — perguntou Anhãng ũ, franzindo o cenho. — Se eles realmente existem, por que permitiram que isso acontecesse?

Júlio deu de ombros.

— Os deuses são só histórias que os humanos inventaram para controlar uns aos outros.

César riu.

— Se é assim, então de onde viemos? Como existimos?

Júlio não soube responder, então apenas bateu no ombro de Anhãng ũ.

— Deixa isso pra lá. O último a chegar no vale é um humano!

— Ei, isso é trapaça! Não valeu! — protestou César, enquanto os outros já corriam na frente.

Eles brincavam, fingindo travar batalhas épicas contra os humanos, gritando e rindo. Mas, no meio da diversão, uma voz ecoou pela vila.

— Anhãng ũ!

Ele parou imediatamente. Era a voz de sua mãe.

Mãe: ("com um tom gentil") Anhãng ũ! O almoço está pronto, venha antes que esfrie.

Anhãng ũ: ("se espreguiçando e se levantando do chão") Já vou, mãe! O que temos hoje?

Mãe: ("sorrindo enquanto coloca os pratos na mesa") Seu favorito. Ensopado de carne com raízes do bosque.

Anhãng ũ: ("chega e senta à mesa, animado") Sério? Eu poderia comer isso todos os dias!

Mãe: ("rindo") Se dependesse de você, só comeríamos carne e esqueceríamos os vegetais.

Anhãng ũ: ("debochado") Não é minha culpa se vegetais têm gosto de grama.

Mãe: ("fingindo estar ofendida") Ora, seu ingrato! Fui eu quem colheu tudo isso hoje cedo.

Anhãng ũ: ("sorrindo") Tá bom, tá bom... Eu como. Mas só porque foi você que fez.

A mãe observa o filho com um olhar carinhoso. Há uma sombra de preocupação em seus olhos, mas ela logo esconde isso com um sorriso.

Mãe: Anhãng ũ... Você tem treinado muito com seu pai e seu irmão. Mas nunca esqueça que sua força não deve ser usada apenas para lutar...

Anhãng ũ: ("confuso") Como assim? Não é para isso que treinamos? Para proteger uns aos outros?

Mãe: Sim, proteger é importante... Mas há algo mais valioso que a força.

Anhãng ũ: ("arqueia a sobrancelha") O quê?

Mãe: ("colocando a mão no peito dele, suavemente") O que está aqui dentro. Sua força sozinha não te faz um grande guerreiro... Mas seu coração sim.

Anhãng ũ: ("desviando o olhar, um pouco envergonhado") Mãe, isso é meio brega...

Mãe: ("rindo") Talvez. Mas um dia você vai entender.

Os dois continuam comendo. A conversa muda para assuntos banais, e o momento se torna um dos últimos fragmentos de felicidade na vida de Anhãng ũ... Antes que tudo seja destruído.

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Após o almoço, eu e minha mãe fomos ao centro da vila para ajudar na decoração do festival da colheita. O ar estava tomado por um cheiro doce, provavelmente das comidas que estavam sendo preparadas, mas... por um instante, senti um leve aroma de fumaça que desapareceu tão rápido quanto veio.

Quando a noite caiu, o festival começou. As crianças corriam pelas ruas, animadas com a festa. A primeira apresentação foi um ritual tradicional da nossa tribo, com cantos e danças que celebravam nossos ancestrais. Em seguida, vieram os rituais de agradecimento pela colheita, nos quais os fazendeiros ofereciam seus melhores vegetais em gratidão pela fartura e em busca de proteção para o próximo ciclo agrícola.

A comida era farta. Havia cauim, bolo de milho, mingau de mandioca e carne assada. Todos se reuniram ao redor da grande figueira para comer e celebrar juntos. O som das conversas e risadas enchia o ar, mas, por um breve momento, uma sensação estranha me percorreu. O vento soprou frio demais para essa época do ano, e os tambores pareceram desacelerar por um segundo antes de retomarem seu ritmo normal.

Quando a festa começou a se dispersar e eu voltava para casa, algo chamou minha atenção no vale próximo à vila. Entre as sombras, enxerguei uma silhueta. Não tinha chifres, mas sua forma não era humana. Meus músculos travaram. Pisquei algumas vezes, tentando focar a visão, mas a figura já não estava mais lá.

O vento voltou a soprar, carregando consigo um murmúrio quase imperceptível.

Talvez fosse apenas o cansaço. Depois de tanta comida e brincadeiras, meu corpo podia estar me pregando peças. Balancei a cabeça e continuei andando, tentando ignorar a sensação inquietante que se instalava em meu peito.

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A noite caiu sobre a vila. O vento cortante carregava o cheiro da neve fresca, mas também havia algo estranho no ar—um silêncio pesado, como se o próprio mundo prendesse a respiração.

Então, a explosão veio.

BOOM!

O chão tremeu, e uma onda de calor se espalhou pela vila. Gritos ecoaram. O céu, antes escuro, se iluminou com labaredas dançantes. As casas foram consumidas pelo fogo, e o cheiro de carne queimada preencheu o ar.

Soldados humanos emergiram das sombras como predadores sedentos de sangue. Suas lâminas brilhavam à luz do incêndio, e seus olhos ardiam com fúria.

O capitão do exército avançou pelo campo de batalha, seu rosto coberto de fuligem, mas seu olhar era frio e impiedoso.

— É hora de exterminar os hereges! — bradou, erguendo a espada. — Capturem as mulheres. Matem todos os outros!

— Sim, capitão! — responderam os soldados em uníssono.

A neve sob os pés dos demônios se tingiu de vermelho. Os guerreiros da vila tentavam resistir, mas estavam em desvantagem. Homens, mulheres, velhos e crianças eram abatidos sem piedade. O cheiro de sangue, fumaça e desespero dominava tudo.

Anhãng ũ correu ao lado da mãe enquanto seu pai, Pedro e seu irmão mais velho lutavam para abrir um caminho para a fuga.

Pedro cortou a garganta de um soldado, desviou de outro golpe e perfurou um segundo inimigo com sua lança.

Mas então...

SHLAK!

Uma lâmina atravessou seu peito por trás. Seus olhos se arregalaram, e um gemido sufocado escapou de seus lábios. Ele caiu de joelhos.

— P-Pai...! — Anhãng ũ engoliu o grito ao ver Pedro tombar no chão.

Antes de pedro cai completamente ele da um último olha para Anhãng u e

vitória com um leve sorriso

Os soldados não deram tempo para luto. Como feras sedentas, cercaram Pedro e fincaram suas lanças repetidamente em seu corpo caído. O sangue espirrou na neve.

— NÃO!! — O irmão mais velho de Anhãng ũ rugiu, partindo para cima dos inimigos.

Mas em meio ao caos, ele se distraiu.

A lâmina de um soldado brilhou por um instante e então...

SHNK!

Sua cabeça rolou pelo chão, os olhos ainda arregalados em choque.

Anhãng ũ paralisou. Seu corpo tremeu.

Era um pesadelo.

Não, era pior que um pesadelo.

Sua mãe segurou seu braço, tentando puxá-lo para longe, mas os soldados já estavam sobre eles.

Vitória se colocou à frente do filho.

— CORRA, ANHÃNG Ũ! — gritou, os olhos cheios de desespero.

Mas ele não conseguiu.

Os soldados a agarraram. Ela gritou e lutou, mas foi jogada no chão brutalmente.

— MÃE!! — Anhãng ũ tentou avançar, mas foi derrubado, seu rosto pressionado contra a neve fria.

Ele tentou se soltar, mas mãos firmes o seguraram.

— Agora, vamos nos divertir um pouco. — riu um dos soldados, olhando para Vitória caída.

Ela chorava, debatia-se, implorava. Mas eles não ouviram.

Eles só riram.

E então começaram.

Anhãng ũ foi forçado a assistir.

Seus olhos estavam arregalados em terror, suas unhas cravadas na neve. Ele se debatia, gritava até sua garganta doer, mas nada adiantava.

— PAREM!! — sua voz saiu rouca, entrecortada por soluços. — PAREEEM!!

Ninguém ouviu.

Seu coração batia descontrolado.

Sua mente gritava.

E então...

Algo dentro dele se quebrou.

Uma árvore em chamas desabou sobre ele.

Os soldados riram ao ver o garoto sumir sob as chamas.

— Não vale a pena tirar esse peso. Está morto. Vamos logo.

Eles se afastaram, deixando o corpo de Anhãng ũ para trás.

Mas então...

Uma faísca negra brilhou na escuridão.

Ela dançou no ar, flutuando lentamente até tocar a pele queimada do garoto soterrado.

E foi quando a dor começou.

Era como se sua alma estivesse sendo dilacerada por dentro.

A dor não era física. Não era algo que pudesse ser explicado.

Era um sofrimento que transcendia a carne.

A dor de ser consumido pelo próprio inferno.

E, naquele momento, algo mais queimava junto com ele.

Seus gritos cessaram.

Seu coração se apagou.

A última fagulha de sua inocência foi reduzida a cinzas.

A dor veio primeiro. Uma dor que não era apenas física, mas algo mais profundo, rasgando sua própria essência. Era como se algo dentro dele estivesse sendo despedaçado, dilacerado por garras invisíveis. Seu corpo queimava e congelava ao mesmo tempo, os ossos estalavam, alongando-se em formas que não deveriam existir.

Mas a pior parte não era a dor.

A pior parte era sentir sua própria mente sendo consumida.

Por um instante, ele ainda era Anhãngũ, guerreiro, filho da floresta, guardião de sua tribo. Ele tentou se agarrar a isso, tentou se lembrar de sua voz, de seu nome, de quem ele era antes da escuridão tomá-lo. Mas o ódio era como um rio violento, arrastando tudo pelo caminho.

O peso da fúria

Visões passavam diante de seus olhos – sua aldeia em chamas, os rostos daqueles que haviam traído sua confiança, a dor de ser esquecido, descartado como se nunca tivesse existido. Essas memórias ardiam como brasas, alimentando a fera que crescia dentro dele.

Ele podia lutar.

Por um instante, ele quis lutar.

Mas o ódio sussurrava em sua mente, doce e viciante. O que ele ganharia resistindo? Seu nome já não significava nada. Seu passado era um fardo que apenas o enfraquecia.

E então, ele soltou a última coisa que ainda o prendia à sua humanidade .

Seus olhos, antes um demônio , tornaram-se fendas reluzentes na escuridão. Suas mãos se transformaram em garras, seu corpo assumiu uma forma monstruosa, e sua alma, outrora marcada pela honra, foi consumida pelo desejo insaciável de vingança.

Quando rugiu, não era mais um guerreiro clamando por justiça.

Era uma besta, clamando por sangue.

As chamas devoravam tudo.

A árvore caída crepitava, lançando fagulhas ao céu noturno. A neve derretia ao redor, formando poças de água escura misturada ao sangue dos mortos. O vilarejo, outrora cheio de vida, agora era apenas um túmulo ardente.

No meio das chamas, algo se movia.

CRACK!

Um som seco ecoou quando a madeira carbonizada se partiu.

As brasas brilharam intensamente quando uma mão emergiu das cinzas, seus dedos envoltos em fogo negro.

Não era mais a mão de um garoto.

Era algo além disso.

O fogo infernal consumiu sua carne, moldando-a em uma armadura grotesca. Placas negras se fundiram à sua pele, endurecendo como ferro maldito. A forma era inspirada na silhueta de um samurai, mas distorcida, perversa—não era uma armadura feita por homens, mas pela própria essência do caos.

Das fendas e rachaduras que percorriam sua carapaça negra, chamas demoníacas vazavam, crepitando como almas em agonia. Seus olhos brilharam em um tom escarlate profundo, repletos de uma fúria antiga e primitiva.

Seus chifres cresceram, alongando-se como garras de um predador.

A neve ao redor evaporava instantaneamente, e a terra sob seus pés rachava.

O ser que se ergueu das cinzas não era mais Anhãng ũ.

Ele havia morrido naquela noite.

O que restava agora era algo além de um simples demônio.

Era o Demônio Negro.

A personificação do caos.

O fogo ao seu redor não queimava apenas madeira ou corpos—ele queimava o próprio equilíbrio do mundo.