A luz pálida da lua derramava-se sobre o rosto de um homem cuja beleza parecia irreal, esculpida no mais puro marfim.
Seu semblante sereno contrastava com as inúmeras cicatrizes que marcavam seus braços — aquelas eram vestígios de uma vida dedicada ao implacável caminho do Dao Imortal.
Agora ele estava de olhos fechados, imóvel, como se estivesse em um sono profundo.
De longe, poderia ser facilmente confundido com um cadáver esquecido, pronto para ser consumido pelo tempo.
Mas é claro... Ele não estava morto. E jamais seria enterrado pelas areias do esquecimento.
Afinal, ele era o temido demônio das lendas imortais, aquele que devastou impérios e derrubou reinos, sejam eles mortais, inferiores ou celestiais.
Seu nome fora esculpido nos anais da história há muito tempo, ele havia se tornado um mito que jamais seria esquecido.
Isso é... se ainda houvesse alguém vivo para se lembrar dele.
—-
Ao finalmente abrir os olhos, após o que pareceram anos de um sono profundo, a primeira coisa que ele sentiu foi dor. Uma dor alucinante, cortante, que parecia querer despedaçar sua própria alma imortal.
E, no entanto... ele sorriu.
Um sorriso frio e macabro se estampou em seu rosto, uma visão que faria qualquer mortal tremer de medo.
"Quem diria que desafiar o próprio fluxo do tempo traria uma dor tão indescritível?" Zong Zi murmurou, rindo sarcasticamente, mesmo em meio à agonia.
Aquela era pior dor que ele já havia experimentado em toda a sua existência imortal de mil anos.
Pior, até mesmo, do que quando enfrentou o temido Senhor do Fogo, Dang Yue, e foi consumido pelas chamas azuis imortais.
Afinal, aquelas não eram chamas comuns. Como o próprio nome indicava, eram chamas imortais que queimavam a alma — não importava se ela fosse mortal ou eterna.
Bastava um único toque, e em segundos, tudo se reduzia a cinzas.
Zong Zi sobreviveu porque ele próprio possuía a essência primordial de todas as chamas. Um fogo que existia antes mesmo da criação do mundo imortal. Uma chama tão absoluta que os habitantes desse mundo a nomearam de "Chama da Criação"
Neste momento, enquanto se perdia no passado ele também enfrentava o próprio fluxo do tempo,
Zong Zi tinha uma certeza: sua alma e corpo ainda estavam vivos.
A dor que ele sentia era uma prova viva disso.
E agora enfrentando esse fluxo interminável ele sabia que era o único que ainda estava vivo em toda a criação, sua existência solitária havia sobrevivido ao fim dos tempos, à maldita grande guerra dos imortais, No final, ele foi o único a sobreviver a tudo isso!
Ele se perguntava a todo o momento como aqueles tolos reagiriam ao ver que "ele", o homem que foi chamado de demônio, aquele que foi amaldiçoado por esse mundo, foi o único que restou?
Hah
"Eles estavam ocupados demais se afogando em sua propria ignorância para sequer perceberem o que estava por vir"
Para ser sincero o próprio havia duvidado, até o dia em que ele teve aquela maldita visão do fim.
No mínimo, serviu para ajuda-lo a sobreviver aquele inferno. Agora, aqui estava ele, lutando contra esse maldito fluxo que nao o pemite atravessa-lo.
"Se mesmo a força de um imortal não foi o suficiente para reverter o fluxo do tempo, o que mais eu poderia usar?"
"Minha alma?"
"Besteira!"
"Se eu usar a energia da minha alma, desaparecerei deste mundo completamente, sem chance de voltar…."
Huh…
Já sei!
Se não posso enviar meu corpo físico e nem minha alma imortal através do fluxo, então as sacrificarei para abrir uma pequena passagem em que minha memórias possam escapar.
Afinal, o que é uma alma sem lembranças? O que resta de alguém sem as experiências que o moldaram?
Na terra eles sempre diziam que as experiências e as memórias são o que definem uma pessoa.
Isso significa que se minhas lembranças e meu conhecimento forem preservados e enviados para meu corpo do passado, então, independentemente do tempo ou do destino, eu ainda serei "eu"!
Sim…
Vamos com isso…
Não é como se eu tivesse uma opção melhor
Ou eu faço isso, ou minha alma será despedaçada e apagada da existência.
"Bem, Isso é o que tenho de mais precioso no momento... Então, faça bom uso dela, "pequeno Zong Zi."
"É claro, enquanto ainda for você" murmurei com um sorriso zombeteiro.
Reunindo toda a essência que ainda restava, ele as concentrou-a em sua alma e corpo, os sobrecarregando-os até o limite.
Com um estrondo final, uma explosão gigantesca irrompeu. Por um breve instante, um buraco se abriu no fluxo temporal... apenas para se fechar logo em seguida.
——
Condado de Wuhan, Cidade de Fengxu.
Na grandiosa mansão da família Zong, repleta de objetos luxuosos e antiguidades valiosas, os empregados corriam de um lado para o outro, em um alvoroço desenfreado. O motivo? O Jovem Mestre da família havia se machucado feio enquanto vagava pela cidade, desperdiçando seu tempo em futilidades.
Mas, é claro, isso não importava.
Afinal, do lado de fora da mansão, em um chiqueiro esquecido e imundo, jazia um jovem de aparência frágil. Seus longos cabelos negros, que deveriam reluzir como obsidiana líquida, agora estavam emaranhados e sujos de terra. Sua pele, pálida como jade, encontrava-se enegrecida pelo trabalho árduo e pela poeira grudada ao suor e em sua testa um símbolo escura podia ser visto.
"Está tudo exatamente como me lembro... até mesmo essa maldita marca de escravo" Zong Zi riu, observando seu reflexo trêmulo na água suja dentro de um balde de madeira, o mesmo que usava para alimentar os porcos.
Ele passou os dedos pela marca em sua pele, um símbolo que era usado pelos escravos.
"Voltei antes da queda da família Zong... Hah! Isso só pode ser descrito como um presente divino"
Fui tão extraordinário que até os céus me recompensaram, pensou Zong Zi, recordando tudo o que fez para alcançar a imortalidade.
Crianças, idosos, adultos, deficientes... Poupar alguém nunca fez parte de sua natureza. Se algo pudesse impulsioná-lo um passo à frente no caminho da imortalidade, ele tomava para si sem hesitação.
Pílulas refinadas a partir de carne humana? Besteira—se necessário, ele produziria um lote inteiro. Sacrifícios humanos? Apenas mais um dia comum em sua vida imortal, Armas forjadas a partir de almas humanas? Ora, havia alguma entre suas posses que não fosse?
Ao lembrar de toda a maldade que fez a simples ideia de ser abençoado pelos céus o fazia se contorcer de riso. Afinal, era de senso comum nesse mundo que apenas os virtuosos eram abençoados pelos céus, ou, pelo menos, era nisso que a maioria acreditava.
Mas Zong Zi?
Seu apelido mais carinhoso era "O Demônio Nascido do Sangue".
Um apelido dado por aqueles malditos que eram acostumados a chamá-lo de louco, monstro, genocida.... Mas se tinha uma coisa que ele sabia melhor do que ninguém era que: ninguém alcança a imortalidade sendo um santo.
Bem, isso não importava agora. Tudo isso ficou no passado... ou deveria dizer no futuro? Hah.
O mais importante é que meu renascimento foi um sucesso. Mesmo que apenas minhas memórias e experiências tenham retornado, isso foi o suficiente para que mil anos de vivência sobrepujassem meras décadas de lembranças.
Posso afirmar com certeza—meu plano foi um triunfo absoluto.
Quem poderia imaginar que um renascimento poderia ser alcançado sem uma alma imortal, confiando apenas em lembranças e conhecimento?
É claro... nenhum deles poderia, afinal, meu conhecimento sobre o fluxo do tempo foi refinado durante centenas de anos.
Agora, preciso definir meus próximos passos. Primeiro, devo me tornar forte o suficiente para esmagar a Guerra Imortal antes que ela consuma este mundo. Segundo, eliminar as ameaças que um dia se erguerão no futuro.
Tenho vislumbres do que os transformou em lendas capazes de abalar o mundo imortal.
E isso significa apenas uma coisa—este é o momento perfeito para extinguir as chamas de suas almas antes que sequer comecem a arder.
Por enquanto, tudo isso não passa de um sonho—um sonho que só se tornará realidade se eu seguir cada passo com precisão.
Não há necessidade de apressar as coisas. Tenho tempo, e tempo é tudo que preciso para moldar este mundo conforme minha vontade.
Como Miguel Torga disse uma vez:
"Recomeça... se puderes, sem angústia e sem pressa. E os passos que deres, nesse caminho duro do futuro, dá-os em liberdade. Enquanto não alcances, não descanses. De nenhum fruto queiras só metade."
Não há necessidade de pressa, mas tampouco darei um único passo atrás. Conquistarei tudo o que desejo, transformarei este mundo em meu playground... e nele, reinarei como um soberano absoluto.