O som dos lápis riscando o papel ecoava baixinho na sala de aula. O sol da manhã iluminava o caderno de um aluno de cabelos escuros e expressão cansada. Ele rabiscava algo sem muito foco, como se quisesse se perder nos próprios traços.
Foi então que a porta se abriu, e o professor entrou, trazendo consigo um novo aluno.
— Atenção, todos. Antes de começarmos a aula, quero apresentar um novo colega. — Ele colocou uma das mãos no ombro do garoto e fez um sinal para que ele se apresentasse.
O aluno deu um passo à frente e, com um olhar confiante, disse:
— Meu nome é Kawe Flitz.
O professor indicou um lugar para ele se sentar. Kawe olhou ao redor e, ao notar o garoto cabisbaixo desenhando, decidiu se sentar ao lado dele.
— Ei, qual é o seu nome? — perguntou, inclinando-se ligeiramente.
O garoto olhou de relance para Kawe, sem muito interesse.
— Seike.
— Prazer, Seike. — Kawe estendeu a mão, e Seike, depois de um breve momento de hesitação, apertou-a de forma desajeitada.
Olhando para o caderno, Kawe percebeu os rabiscos que Seike desenhava. Sua curiosidade foi imediata.
— O que você tá desenhando?
Seike desviou o olhar e fechou o caderno com um movimento rápido.
— Não é nada que te interesse.
Kawe riu.
— Na verdade, me interessa sim.
Seike suspirou e, com um olhar desanimado, abriu o caderno, revelando uma silhueta de um homem cercada por rabiscos caóticos. Kawe inclinou a cabeça, tentando entender o que via.
— E o que significa isso?
Seike fechou o caderno novamente.
— Por isso que eu disse que não ia te interessar.
Kawe deu de ombros.
— Bom, é verdade, não me interessou muito. — Ele riu, provocando Seike.
Sem responder, Seike apenas deitou a cabeça na mesa e murmurou:
— Vou dormir um pouco...
Kawe o olhou de canto de olho e pensou:
(Vai dormir no meio da aula mesmo? Que cara estranho...)
Após a Aula
O sinal da escola tocou, anunciando o fim do dia. Kawe arrumou suas coisas e olhou para Seike, que ainda parecia meio sonolento.
— Ei, quer ir para casa junto comigo?
Seike olhou para ele, pensou por um instante e deu de ombros.
— Tanto faz.
Os dois saíram juntos da escola, mas antes que pudessem seguir caminho, uma voz os chamou.
— Seikeee!
Os dois pararam e olharam para trás. Uma garota de cabelos castanhos corria até eles, segurando um caderno. Quando se aproximou, entregou-o a Seike com um sorriso.
— Obrigada por me emprestar seu caderno!
Kawe observou a cena com surpresa e pensou:
(Não acredito que esse cara conhece uma garota linda dessas...)
A garota olhou para Kawe e perguntou, curiosa:
— Quem é ele, Seike? Seu novo amigo?
— Ele é um aluno novo transferido, estuda na mesma sala que eu. — Seike respondeu de forma simples. — Kawe, essa é minha amiga Misaka. Misaka, esse é Kawe.
Kawe sorriu.
— Prazer em conhecê-la.
— O prazer é meu.
Antes que pudessem continuar a conversa, algumas amigas chamaram Misaka.
— Preciso ir, nos vemos depois! — Ela acenou e se afastou.
Os dois continuaram a caminhada em silêncio, até que Kawe não conseguiu segurar a curiosidade.
— De onde você conhece ela?
— Misaka é minha amiga de infância.
Kawe riu.
— Quem olha pra você não acredita que conhece uma mina tão bonita.
Seike franziu a testa.
— Mina?
— Ah, foi mal. "Mina" é só uma gíria do país onde eu morava antes.
— Entendi...
O silêncio voltou a reinar entre os dois. O vento soprava leve, e Kawe sentiu que o momento estava ficando um pouco estranho. Mas, para sua surpresa, foi Seike quem quebrou o silêncio.
— Por que você foi transferido para essa escola?
Kawe desviou o olhar e sorriu de canto.
— Eu... não estava indo muito bem na outra escola.
Seike parou de andar e encarou Kawe diretamente.
— Você tá mentindo.
Kawe ergueu uma sobrancelha.
— O quê?
— Eu consigo ver a alma das pessoas. Quando alguém sente alguma emoção forte, ela muda. E sua alma acabou de mudar.
Kawe sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele deu um passo para trás.
— Então... você também vê coisas estranhas?
Seike manteve seu olhar firme.
— Você também vê?
Kawe hesitou por um instante antes de responder.
— Sim, mas eu não entendo muito bem.
— O que você vê?
— Quando olho para algumas pessoas, vejo algo nelas... mas não parece ser uma alma. É um amontoado de rabiscos. E não é em todo mundo.
Seike refletiu por um momento e assentiu.
— Entendi.
Kawe respirou fundo.
— Você pode me ajudar a entender isso, não pode?
Seike deu um pequeno sorriso enigmático.
— Talvez. Mas o que eu ganho com isso?
Kawe riu e estendeu a mão para ele.
— Minha amizade.
Seike observou a mão estendida por um momento antes de apertá-la.
— Gostei da proposta. Pois bem, eu aceito.
Kawe sorriu. Ele não sabia ainda, mas aquele encontro mudaria sua vida para sempre.