Izumi desperta abruptamente em sua cela na prisão, confuso e com a mente girando em perguntas. Ele tenta se situar, mas tudo parece um borrão. O que aconteceu em sua vila? Onde ele está? Seu olhar corre pelas paredes sombrias e pelo chão frio até que ele percebe algo alarmante: a grade de sua cela está quebrada. Além da cela, a vila ao fundo está envolta em um cenário de destruição, os restos de um incêndio ainda visíveis.
Ele se ergue lentamente, o corpo pesado de cansaço e medo, e sai da cela, com o coração acelerado e uma sensação crescente de pavor.
Izumi (sussurrando para si mesmo): O que... o que aconteceu aqui?
Ao se aproximar mais da destruição, algo capta sua atenção. Um vulto negro, flutuante e incorpóreo, paira no ar, observando-o com um olhar que parece penetrar até sua alma. Izumi congela, incapaz de mover um músculo. Seu corpo se recusa a obedecer ao impulso de fuga, e a entidade se lança contra ele, atravessando-o com uma força brutal. Ele cai de joelhos, sem forças.
Tentando se recompor, ele mal tem tempo de reagir antes que quatro guardas surjam à sua frente, suas lanças apontadas diretamente para ele. O medo o consome, mas antes que pudesse pensar em se defender, uma voz obscura invade sua mente.
— Mate, mate, mate, mate, mate, mate, mate...
Seus olhos escurecem por completo, e a consciência de Izumi se esvai. O mundo ao seu redor desaparece em sombras.
Quando recobra os sentidos, a cena diante dele é aterradora: os guardas estão mortos, seus corpos mutilados, e o sangue mancha o chão. Izumi olha para suas mãos, tremendo, sem compreender o que fez. Sem tempo para refletir, ele foge, correndo pela floresta que cerca o monte de sua vila.
Izumi finalmente alcança uma pequena cidade nos arredores, ainda abalado. Sua mente está um caos, e seu corpo cambaleia de cansaço. As pessoas ao redor o observam com olhares de desconfiança e medo; suas roupas estão cobertas de sangue e sujeira. Ele parece um fantasma, alguém que acaba de escapar da própria morte.
Uma garota de cabelos claros o observa de longe, intrigada. Há algo em Izumi que desperta sua atenção. Ela se aproxima lentamente, seus olhos fixos nos dele, e percebe algo perturbador nas profundezas de suas íris negras.
Garota: Quem é você?
Izumi tenta responder, mas as palavras se recusam a sair. Ele permanece em silêncio, o olhar perdido no chão.
Garota (tentando de novo, com mais suavidade): O que aconteceu?
Izumi abre a boca, mas novamente, nada. A voz parece presa, como se ele não conseguisse processar o que viveu. Ele apenas desvia o olhar, os ombros pesados de exaustão.
Ela segue o olhar de Izumi e vê o monte de onde ele veio, envolto em uma densa fumaça negra. Seu coração aperta ao conectar os pontos.
Garota (com empatia na voz): Você... é de Koro, não é? Venha, vou te levar para descansar.
Izumi, incapaz de resistir ou protestar, a segue. A garota o leva a um local discreto e distante da cidade, onde poucas pessoas sabiam que existia. Eles chegam a uma casa de madeira simples e isolada.
Ao entrar, eles encontram um homem mais velho, de postura serena e olhos perspicazes, sentado no chão. Ele ergue o olhar da xícara de chá que segura e observa Izumi com curiosidade.
Homem: Vejo que temos visitas... o chá será servido.
O homem, Zanko, sensei e avô de Niori e Takeru, examina Izumi com cuidado, sentindo algo inquietante no jovem. Mas ele permanece calmo, escondendo suas preocupações.
Niori (para Zanko): Ele veio de Koro. Encontrei ele na entrada da cidade...
Zanko olha para ela com uma expressão grave, mas controlada. Ele sabe que não deveria haver sobreviventes do incidente em Koro. Mas antes que pudesse falar mais, Izumi, quebrando o silêncio pesado, murmura uma palavra.
Izumi: Sombras...
Niori se vira bruscamente para ele, surpresa.
Niori: O quê?
Izumi (com a voz fraca, quase em transe): Há sombras... elas veem sua alma.
Zanko estreita os olhos, mas mantém sua postura firme.
Zanko: Como são essas sombras, garoto?
Izumi levanta a cabeça lentamente, mas seu olhar parece perdido em algum lugar muito além da sala.
Izumi: Macabras... vazias... frias. Elas não querem nada além de destruir... Excidium vai...
O ar da sala se torna denso e opressor, quase sufocante. Os murmúrios em volta de Izumi, antes silenciosos, se tornam gritos distantes e incompreensíveis. A tensão é palpável, e até mesmo Takeru, deitado no canto, levanta-se, sentindo a atmosfera pesada.
Antes que pudessem reagir, Izumi desmaia, e com ele, a pressão na sala dissipa-se. O silêncio retorna, mas Zanko permanece alerta. Ele olha para sua mão, queimada pelo chá quente que havia derramado sem perceber.
Zanko (em tom grave): De onde ele é?
Niori (com um nó na garganta): Koro...
Zanko respira fundo, processando a informação.
Zanko: Entendo. Leve-o ao quarto de hóspedes. Ele ficará conosco de agora em diante.
Izumi dorme profundamente, sua expressão relaxada, mas com traços de sofrimento ainda visíveis em seu rosto. Ele desperta no dia seguinte, desorientado, sem lembrar de muito desde que saiu da prisão. Fragmentos de memória se misturam em sua mente, criando um quebra-cabeça que ele não sabe como montar.
Enquanto caminha pela casa, ele encontra Niori e Zanko treinando no dojo. Niori se move com graça e precisão, seus golpes rápidos e potentes, mas Zanko, com sua experiência, desvia e bloqueia com facilidade. Ao lado, Takeru assiste deitado, rindo e provocando Niori.
Takeru (rindo): Vai, Niori, se concentra! Ou o vovô vai te derrubar de novo!
Niori responde com uma careta e um tapa no ombro de Takeru quando o treino termina. Zanko, ao notar Izumi observando à distância, caminha até ele.
Zanko: Está pronto? Vista isso. Você vai treinar também.
Ele entrega roupas a Izumi, que o olha com certa hesitação, mas aceita. O capítulo termina com Izumi e Niori se preparando para a luta, cada um assumindo uma postura de combate, enquanto Zanko observa em silêncio.