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A Névoa dos Olhos Fechados

JaneFerch
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Synopsis
Por muito tempo, só existiu o vazio. Nenhum som. Nenhuma forma. Apenas o silêncio absoluto da não existência. Então, ele despertou. Miyo abriu os olhos para um mundo estranho, cercado por sombras e segredos que não compreendia. Criado em um laboratório, seu nascimento não foi um milagre, mas uma criação forçada—uma obra-prima artificial moldada por mãos frias e olhos calculistas. Seu propósito? Ainda um mistério. Seu destino? Algo que não lhe foi permitido escolher. Mas quando o criador se cansa do experimento e o descarta como um fracasso, Miyo é vendido e entregue a um novo destino: o Clã Kurioshi, conhecido como "A Névoa dos Olhos Fechados"—uma família temida por sua habilidade de manipular a percepção e quebrar mentes com um simples olhar. Lá, ele encontra Hayato, um jovem de coração inquieto, cujo olhar, ao contrário de todos os outros, não vê Miyo como um erro. Pela primeira vez, alguém estende a mão para ele sem interesse oculto. Mas no mundo envolto pela névoa, onde a verdade se dissolve como um reflexo distorcido, uma pergunta ecoa na mente de Miyo: Seus olhos foram abertos para ver o mundo... ou para serem cegados por ele?
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Chapter 1 - Os Primeiros Olhos Sobre o Mundo

Escuridão.

Por um tempo que não podia ser medido, só existia o nada. Um vazio onde som, forma ou pensamento não tinham lugar. Nenhuma sensação. Apenas o silêncio absoluto da não existência.

Então, veio o primeiro sinal.

Um pulsar fraco, tímido, como se algo estivesse sendo puxado da inexistência para a realidade. Pequeno no início, mas crescendo a cada batida.

Tum-tum.

Um eco abafado, distante, ressoando dentro de algo que ainda não compreendia ser um corpo.

Tum-tum.

Mais forte agora, vibrando em um ritmo firme e inconfundível. Mas... o que era um corpo? Ele sempre estivera ali? Ou havia acabado de surgir?

Miyo não sabia.

Junto à batida, veio o calor. Sutil no começo, como um fio de luz atravessando uma fenda. Mas logo se espalhou, percorrendo aquilo que, aos poucos, começava a perceber como sua própria forma.

A sensação era estranha.

Como se existisse e não existisse ao mesmo tempo.

Sua consciência se expandia lentamente, trazendo uma nova percepção: algo o envolvia. Um líquido espesso e morno preenchia cada espaço ao seu redor. Seus membros flutuavam suavemente, sem força, sem controle.

"Onde estou?"

A pergunta não tinha palavras, apenas um pressentimento.

Então, veio um novo impulso. Uma necessidade instintiva, primitiva.

Abrir os olhos.

Foi difícil no começo. As pálpebras eram pesadas, como se nunca tivessem sido usadas antes. Mas, com esforço, ele conseguiu.

Luz.

A princípio, ofuscante. Um brilho pálido e artificial tremulava além da superfície líquida que o envolvia. Sua visão se ajustou aos poucos, revelando formas borradas e silhuetas distorcidas pelo vidro da cápsula.

E então, ele viu.

Um rosto do outro lado.

Pálido, de traços finos e olhos impossíveis de decifrar. Não havia emoção neles—apenas um brilho analítico e intenso, como se estudasse algo precioso e frágil ao mesmo tempo.

— Bem-vindo ao mundo, Miyo.

A voz cortou o silêncio. Suave, mas carregada de presença.

Miyo não entendeu as palavras de imediato. Mas algo dentro dele reconheceu aquele som, como se já estivesse esperando por ele.

Miyo.

Esse era... seu nome?

Ele tentou responder. Abrir a boca. Mas o líquido invadiu sua garganta, impedindo qualquer som.

Então, seus olhos se moveram além daquela figura inicial.

Havia outra pessoa na sala.

Diferente do primeiro, esse segundo observador mantinha-se um pouco mais afastado. Seu olhar era menos frio, mas também indecifrável.

Uma inquietação brotou dentro dele. Uma necessidade instintiva de entender.

"O que era esse lugar? Quem eram aquelas pessoas? O que ele era?"

Seus dedos se moveram devagar, subindo até tocar o vidro frio da cápsula.

O criador sorriu.

Não um sorriso caloroso, mas de satisfação.

— Sim. Desperte completamente. Você é a obra-prima deste mundo.

"Obra-prima?"

Havia um peso naquela palavra. Ele não sabia exatamente o que significava, mas... a forma como foi dita fez algo dentro dele se contrair.

O líquido ao seu redor pulsava suavemente. A cada batida de seu coração— tum-tum, tum-tum—ele sentia sua presença se tornar mais sólida.

A cápsula não era apenas um abrigo. Era um microcosmo. Cada som, cada luz ali dentro possuía significado. O silêncio absoluto de antes agora carregava um sussurro distante, como um murmúrio de vento atravessando um espaço desconhecido.

Aos poucos, seus sentidos se expandiam. A frieza do vidro sob seus dedos. O brilho oscilante que refletia na superfície líquida. As sombras que dançavam, formando padrões distorcidos ao redor dele.

E então, veio uma nova sensação.

Além do calor reconfortante, havia algo no ar. Um aroma sutil e indefinido, reminiscente de algo que ele não conseguia nomear.

A voz do criador ecoou novamente.

— Desperte completamente.

Não era uma simples ordem. Era uma promessa velada de transformação.

A mensagem se enraizou dentro dele. Cada batida, cada toque, cada reflexo era parte desse despertar. E, enquanto seus olhos percorriam os contornos de sua nova existência, um pensamento se formava, ainda frágil, ainda incompleto.

Nascer não era apenas existir.

Era o primeiro passo para descobrir o que significava ser.

Do lado de fora, o ajudante permaneceu imóvel, observando.

A cápsula tremeu levemente.

E pela primeira vez, Miyo sentiu seu próprio coração bater com força.

Tum-tum.

Tum-tum.

Tum—

O nascimento estava completo.

Mas existir... o que realmente significava?