O sol nascia lentamente sobre a Fazenda das Colinas, seus raios dourados cortando a névoa matinal que se agarrava aos campos como um cobertor leve e úmido. A luz dançava sobre as espigas de milho, ainda orvalhadas, e refletia nas águas calmas do riacho que serpenteava ao longe, marcando a divisa entre a propriedade e o bosque sombrio que ninguém ousava explorar. O ar fresco carregava o cheiro de terra recém-revirada, misturado ao aroma quente de pão que escapava pela janela entreaberta da casa principal. Era uma construção simples, feita de madeira envelhecida e pedras empilhadas com cuidado, com um telhado de palha que rangia suavemente sob os ventos suaves da manhã. Ao redor, colinas verdejantes se erguiam em camadas suaves, como se a própria terra tivesse decidido abraçar aquele pequeno pedaço de mundo e protegê-lo do caos além.
Aiden estava na varanda, os pés descalços apoiados no chão áspero de tábuas polidas pelo tempo. Aos 14 anos, ele era um garoto magro, mas resistente, com cabelos castanhos desgrenhados que caíam sobre a testa e olhos verdes que brilhavam com uma mistura de curiosidade e contentamento. Vestia uma túnica simples de linho, as mangas arregaçadas até os cotovelos, e calças remendadas que já tinham visto dias melhores. Ele inclinou a cabeça para trás, sentindo o calor do sol nascer em seu rosto, e respirou fundo. Aquele era seu momento favorito do dia — o instante em que o mundo parecia acordar junto com ele, antes que os sons do trabalho e da vida cotidiana preenchessem o silêncio.
A Fazenda das Colinas não era grande nem imponente como os castelos das histórias que os viajantes contavam na vila próxima. Não havia torres de pedra nem estandartes tremulando ao vento. Mas era um lugar acolhedor, um refúgio tranquilo onde cada canto parecia contar uma história. Havia o celeiro vermelho, desbotado pelo sol, onde as galinhas cacarejavam impacientemente por seus grãos; o estábulo pequeno onde Trotador, o cavalo de carga da família, resfolegava em seu sono; e o jardim de ervas de Liana, a mãe de Aiden, onde o cheiro de manjericão e alecrim se misturava ao zumbido das abelhas. Era um mundo pequeno, mas completo, e Aiden o amava com uma intensidade que às vezes o surpreendia.
De dentro da casa, a voz suave de Liana ecoou, interrompendo os pensamentos do garoto.
— Aiden! Venha tomar café antes de ir ajudar seu pai!
Ele sorriu, sentindo o estômago roncar em resposta ao chamado. Correu para dentro, as tábuas rangendo sob seus pés, e entrou na cozinha aquecida pelo fogo baixo da lareira. O ambiente era simples, mas aconchegante: uma mesa rústica de carvalho ocupava o centro, cercada por quatro cadeiras que Markus, o pai de Aiden, havia entalhado anos atrás. Nas paredes, prateleiras exibiam potes de barro com grãos e ervas secas, e um pano bordado por Elara, a irmã mais velha, pendia sobre a janela, suas flores desajeitadas trazendo um toque de cor ao cinza da madeira.
Liana estava diante do fogão de ferro, mexendo uma panela de mingau com uma colher de madeira. Era uma mulher de meia-idade, com mãos calejadas pelo trabalho na fazenda e cabelos castanhos presos em um coque frouxo. Seu rosto, embora marcado por linhas de cansaço, ainda guardava uma beleza suave, e seus olhos castanhos brilhavam com uma gentileza que aquecia a todos ao seu redor. Ao seu lado, Elara, de 17 anos, cortava um pedaço de pão quente, seus longos cabelos dourados caindo em ondas sobre os ombros. Ela era alta e esguia, com um ar de confiança que contrastava com a timidez de Aiden. Vestia um vestido verde simples, o avental manchado de farinha amarrado na cintura.
— Dormiu bem, preguiçoso? — provocou Elara, bagunçando o cabelo de Aiden enquanto ele se sentava à mesa.
— Melhor que você, com certeza — retrucou ele, pegando uma colher de madeira e apontando para ela com um sorriso travesso. — Aposto que sonhou com aquele garoto da vila de novo, o tal do filho do ferreiro.
Elara corou, suas bochechas ganhando um tom rosado, mas deu uma risada alta e jogou um pano de prato na direção dele.
— Cale a boca e coma, seu pestinha!
Liana riu baixinho, colocando uma cesta de pão quente sobre a mesa. O vapor subia em espirais, carregando o aroma de fermento e manteiga derretida.
— Deixem de bobagem, vocês dois — disse ela, limpando as mãos no avental. — Seu pai já está lá fora, Aiden. Ele precisa de ajuda com a cerca antes que as vacas resolvam escapar de novo.
Aiden assentiu, engolindo uma colherada de mingau quente com pressa. O sabor simples de aveia e mel explodiu em sua boca, reconfortante como um abraço. Ele adorava esses momentos matinais com a família — as provocações de Elara, o cuidado silencioso da mãe, o peso tranquilizador da rotina que os mantinha unidos. Mas também sabia que o dia o chamava, e trabalhar ao lado do pai era outra parte de sua vida que ele valorizava profundamente.
Depois do café, Aiden calçou suas botas gastas, o couro rachado nas laterais, e correu para o campo onde Markus já martelava uma estaca nova na cerca quebrada. O pai era uma figura imponente: alto, com ombros largos e mãos grandes que pareciam capazes de moldar o mundo. Seus cabelos castanhos começavam a ficar grisalhos nas têmporas, mas os olhos azuis brilhavam com uma energia incansável. Ele vestia uma túnica cinza surrada e calças de lã, o cinto de couro carregando um martelo e algumas ferramentas simples.
O sol já subia no céu, aquecendo o ar e trazendo o zumbido das abelhas que dançavam entre as flores silvestres ao redor do campo. Markus limpou o suor da testa com o antebraço e olhou para o filho com um sorriso.
— Pegue aquele martelo, Aiden — disse, apontando para a ferramenta jogada na grama alta. — Vamos terminar isso antes do almoço.
Aiden obedeceu, sentindo o peso familiar do martelo em suas mãos. Os dois trabalharam em silêncio por um tempo, o som rítmico da madeira sendo cravada no solo ecoando pelo campo. Ele admirava o pai — não apenas sua força física, mas a paciência com que enfrentava cada tarefa, a determinação silenciosa que mantinha a fazenda funcionando mesmo nos dias mais difíceis.
— Pai — começou Aiden, hesitante, enquanto segurava uma estaca no lugar —, você acha que um dia eu vou poder cuidar da fazenda como você?
Markus parou, apoiando o martelo no ombro. Ele olhou para o filho por um longo momento, o vento soprando suavemente entre eles, e então sorriu.
— Claro, Aiden. Você já está aprendendo muito. Um dia, esta fazenda será sua para cuidar. Mas não tenha pressa, garoto. Ainda temos muitos anos pela frente.
Aiden assentiu, sentindo o coração acelerar com uma mistura de orgulho e alívio. Ele amava a ideia de seguir os passos do pai, de manter a fazenda próspera e a família unida. Mas, às vezes, quando ouvia histórias de viajantes na vila — contos de montanhas distantes, dragões adormecidos e cidades escondidas em florestas encantadas —, sua mente vagava para além das colinas. Ele balançava a cabeça, afastando esses pensamentos como se fossem moscas irritantes. Seu lugar era ali, na fazenda, e isso era o bastante.
O dia transcorreu como tantos outros. Após consertar a cerca, Aiden levou os baldes de grãos para as galinhas, que correram em sua direção cacarejando ansiosamente. Depois, guiou Trotador até o riacho, deixando o cavalo pastar enquanto ele jogava pedras na água, contando quantos saltos conseguia fazer com cada uma. De volta ao celeiro, varreu o chão de terra batida, o cheiro de feno seco enchendo suas narinas. Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de vermelho e roxo, a família se reuniu para o jantar.
Liana serviu um ensopado simples de legumes — batatas, cenouras e um punhado de ervas do jardim —, acompanhado de pedaços de pão que sobraram do café da manhã. Eles comeram em silêncio, o cansaço do dia pesando sobre os ombros de todos. Foi Elara quem quebrou a quietude, sua voz carregada de preocupação.
— Mãe, você está bem? Sua tosse parece pior hoje.
Liana sorriu, mas Aiden notou que suas mãos tremiam levemente ao segurar a colher.
— Estou bem, querida. É só o cansaço. O ar está seco ultimamente.
Markus franziu a testa, pousando a tigela na mesa com um baque suave.
— Você precisa descansar mais, Liana. Não pode trabalhar tanto assim.
— E quem vai cuidar da casa se eu não fizer? — ela respondeu, com uma risada fraca que terminou em um acesso de tosse seca. Aiden trocou um olhar preocupado com Elara. Nos últimos meses, a tosse da mãe tinha se tornado mais frequente, e ela parecia mais pálida a cada dia. Mas Liana sempre afastava as preocupações com um aceno de mão, insistindo que estava tudo bem.
Alguns dias depois, a vila de Pedra Clara estava em festa. Era o Festival da Colheita, um evento anual que reunia fazendeiros de toda a região para vender seus produtos, dançar e celebrar o fim de mais uma temporada. Aiden adorava o festival — era a única época em que podia escapar da rotina da fazenda, ouvir histórias de viajantes e imaginar um mundo além das colinas.
A família chegou cedo, a carroça puxada por Trotador carregada com sacos de milho, cestas de ovos e potes de mel que Elara havia preparado com as colmeias do quintal. Markus e Aiden montaram uma barraca simples no mercado, uma estrutura de madeira coberta por um pano desbotado, enquanto Liana e Elara arrumavam pães recém-assados em uma mesa improvisada. O ar estava cheio de vida — o cheiro de carne assada na brasa, o som de risadas e conversas, o tilintar de moedas trocando de mãos. Crianças corriam entre as tendas, brincando de pega-pega, enquanto os adultos barganhavam preços ou trocavam fofocas sobre o clima e as colheitas.
Aiden estava ajudando um cliente a pesar um saco de milho quando os músicos itinerantes começaram a tocar no centro da praça. Violinos dedilhavam notas alegres, flautas entoavam trinados agudos e tambores marcavam um ritmo pulsante que fazia o chão vibrar. Era o sinal que todos esperavam: a Canção da Colheita Dourada estava prestes a começar.
Elara largou os potes de mel e puxou Aiden pelo braço, os olhos brilhando de excitação.
— Vamos, Aiden! É a nossa música!
A multidão se reuniu, formando um círculo ao redor dos músicos, e logo a vila inteira cantava em uníssono, as vozes se misturando em uma harmonia calorosa:
"Sob o sol que brilha forte,
Nós plantamos com amor e sorte.
Mãos calejadas, corações abertos,
Esperando o dia dos nossos esforços."
Aiden não resistiu ao ritmo. Ele girava com Elara, rindo enquanto ela tropeçava de propósito para provocá-lo. Sua mãe dançava com uma vizinha, o rosto iluminado por um sorriso raro, e até Markus batia o pé no chão, incapaz de esconder a satisfação.
"Oh, colheita dourada, venha nos abençoar,
Com grãos fartos e celeiros a transbordar.
Dancemos juntos, sob a lua e o sol,
Pois a terra nos deu seu melhor tesouro."
A música parecia envolver a todos, como se a própria terra cantasse junto, celebrando a fartura daquele ano. Crianças corriam em círculos, os mais velhos batiam palmas, e o som dos violinos subia ao céu. Por um instante, tudo parecia eterno — o sol brilhando, as vozes ecoando, os corações leves.
Após a dança no festival, enquanto a música ainda ecoava ao fundo, Aiden se afastou por um momento da multidão. Ele caminhou até a beira da praça, onde podia ver os campos da Fazenda dos Colinas ao longe, banhados pela luz dourada do entardecer. O vento soprava suavemente, carregando o cheiro de feno e terra úmida, e ele fechou os olhos, deixando que a sensação o envolvesse.
Ele pensava em tudo que a fazenda significava para ele: as manhãs silenciosas assistindo ao nascer do sol, o som das galinhas cacarejando ao amanhecer, o peso do martelo nas mãos enquanto ajudava o pai. Era mais do que apenas um lugar — era seu lar, sua história, seu futuro. Ele imaginou como seria quando fosse mais velho, guiando Trotador pelos campos, plantando as sementes que colheria com suas próprias mãos. Um sorriso surgiu em seu rosto. Não havia nada que ele desejasse mais do que viver ali para sempre, cuidando da terra como seu pai fazia.
Enquanto Aiden se perdia em seus pensamentos, Elara permanecia na praça, ajudando Liana a rearrumar os potes de mel na barraca. Seus olhos, porém, vagavam pela multidão, procurando uma figura familiar. Ela avistou Tomas, o filho do ferreiro, do outro lado da praça, ajudando o pai a descarregar barras de ferro de uma carroça. Ele era alto para seus 18 anos, com ombros largos e cabelos negros despenteados, o rosto sujo de fuligem da forja. Quando ele percebeu que ela o olhava, acenou desajeitadamente, quase derrubando uma das barras no processo.
Elara sentiu o rosto esquentar e desviou o olhar, fingindo ajustar os potes na mesa. Mas um sorriso tímido escapou de seus lábios. Ela se lembrava das vezes que o visitara na forja, levando cestas de ovos como desculpa, só para trocar algumas palavras com ele. Tomas não era de muitas falas, mas tinha um jeito gentil que a fazia sentir borboletas no estômago. Quando os músicos começaram uma nova melodia, mais lenta e doce, ela se perguntou se ele teria coragem de convidá-la para dançar antes do fim da noite.
Foi quando Elara sentiu alguém se aproximar. Ela levantou os olhos e viu Tomas, o filho do ferreiro, parado diante dela. Ele parecia hesitante, limpando as mãos sujas de fuligem na calça de linho, o rosto ligeiramente vermelho pelo esforço ou pelo nervosismo — talvez ambos.
— Elara, você... quer dançar comigo? — perguntou ele, a voz saindo um pouco trêmula, como se as palavras tivessem escapado antes que ele pudesse segurá-las.
Elara sentiu um calor subir pelo pescoço até as bochechas, mas um sorriso tímido iluminou seu rosto. Ela olhou de relance para Liana, que ergueu uma sobrancelha com um brilho divertido nos olhos, e então respondeu:
— Claro, Tomas.
Ela aceitou a mão que ele estendia, seus dedos tocando os dele com uma leve tremedeira. Enquanto caminhavam juntos para a área de dança, onde a música dos violinos já animava os casais, Elara sentiu os olhares da família sobre ela. Markus, seu pai, estava de pé ao lado da barraca, os braços cruzados e uma cara feia marcando suas feições. Seus olhos semicerrados acompanhavam cada passo de Tomas, como se tentasse medir as intenções do jovem ferreiro. Ele murmurou algo baixinho, quase um resmungo, mas Liana, ao seu lado, apenas sorriu e deu um tapinha carinhoso no braço dele.
— Relaxe, Markus. É só uma dança — disse ela, a voz suave carregada de um orgulho silencioso. Seus olhos castanhos brilhavam ao ver a filha tão feliz, os cabelos dourados de Elara balançando enquanto ela seguia Tomas.
Na pista de dança, os dois começaram a girar, os passos de Tomas um pouco desajeitados no início, mas cheios de boa vontade. Ele a segurava com cuidado, como se temesse apertar demais, e Elara ria, os olhos brilhando com uma mistura de alegria e timidez. Por um momento, o barulho do festival — as conversas, as risadas, o som dos instrumentos — pareceu desaparecer, deixando apenas os dois ali, trocando olhares cheios de promessas não ditas.
Markus continuava observando, a carranca ainda firme, mas seus ombros relaxaram ligeiramente. Ele não disse nada, mas Liana sabia que, por trás daquela expressão séria, o marido apenas queria proteger a filha. Ela, por outro lado, não escondia o quanto estava orgulhosa de ver Elara vivendo aquele instante de felicidade.
O festival seguiu animado, com o sol começando a descer no horizonte e a praça da vila cheia de vida. Enquanto Elara e Tomas dançavam, o resto da família aproveitava o evento à sua maneira. Aiden, perambulava pelas barracas, os olhos arregalados de curiosidade. Ele parou diante de uma tenda onde um vendedor exibia tecidos coloridos e outro onde uma mulher oferecia amuletos de madeira entalhada. Com algumas moedas que Markus lhe dera, ele comprou um pequeno talismã em forma de folha, imaginando que poderia trazer sorte para a fazenda.
Liana, por sua vez, conversava com as mulheres da vila, trocando receitas de pão e fofocas leves sobre os vizinhos. Ela parecia radiante, o cansaço do dia a dia na fazenda temporariamente esquecido em meio à alegria da festa. De vez em quando, lançava um olhar para Elara, ainda dançando com Tomas, e seu sorriso se alargava.
Elara e Tomas, agora mais à vontade, giravam com mais confiança. Ele a conduziu em um passo mais ousado, e ela riu alto quando quase tropeçou, sendo rapidamente segurada por ele. Markus, que ainda os observava de longe, bufou baixinho, mas um canto de sua boca se ergueu em um sorriso relutante. A felicidade da filha era difícil de ignorar, mesmo para ele.
Quando o céu começou a ganhar tons de laranja e vermelho, a família decidiu que era hora de encerrar o dia. O festival continuaria noite adentro, mas o trabalho na fazenda começava cedo, e eles precisavam descansar. Markus e Aiden desmontaram a barraca, enquanto Elara e Liana guardavam os potes de mel e os pães que sobraram. Antes de partirem, Tomas se aproximou de Elara mais uma vez, coçando a nuca com um ar meio desajeitado.
— Elara, eu... gostei muito de dançar com você — disse ele, a voz mais firme agora, mas ainda carregada de timidez.
— Eu também, Tomas — respondeu ela, sorrindo. — Talvez a gente possa dançar de novo algum dia.
— Eu adoraria! — exclamou ele, talvez alto demais, e então riu de si mesmo, corando novamente.
Elara acenou para ele enquanto se juntava à família na carroça. Markus lançou um último olhar para Tomas, mas não disse nada, apenas estalou a língua para que Trotador, o cavalo, começasse a andar.
O caminho de volta para a Fazenda dos Colinas foi tranquilo, o som das rodas da carroça sobre a estrada de terra misturando-se ao canto dos grilos. Aiden ia na frente, guiando Trotador, o amuleto guardado no bolso como um pequeno tesouro. Elara e Liana seguiam atrás, conversando animadamente sobre o festival — Elara contando como Tomas quase a deixou cair na dança, e Liana rindo enquanto dava conselhos sobre como lidar com rapazes nervosos.
Markus caminhava ao lado da carroça, ainda pensativo, mas com um leve sorriso nos lábios. Ele não falava muito, mas o modo como olhava para a família deixava claro que estava satisfeito com o dia. O céu escurecia aos poucos, as primeiras estrelas surgindo no horizonte, e a vila de Pedra Clara ficava para trás, suas luzes brilhando como pontos distantes.
Chegando em casa, eles descarregaram a carroça com a prática de sempre. Markus guardou as ferramentas no celeiro, enquanto Elara e Aiden levaram os produtos para a despensa. Liana foi direto para a cozinha, e logo o cheiro de um ensopado de legumes começou a encher a casa. A família se reuniu ao redor da mesa, as velas acesas iluminando seus rostos cansados, mas felizes.
Durante o jantar, as conversas fluíram leves. Aiden mostrou o amuleto que comprara, Elara falou mais sobre a dança — corando ao lembrar dos olhares de Tomas —, e até Markus comentou sobre as boas vendas do dia, sua voz grave carregada de uma rara suavidade. Depois de comerem, cada um foi para seu canto, o cansaço finalmente pesando.
Elara subiu para o quarto, o coração leve e a mente cheia de pensamentos sobre Tomas. Enquanto se deitava, olhou pela janela, vendo as estrelas brilharem sobre os campos da fazenda. Sorriu para si mesma, imaginando o próximo festival e a próxima dança, antes de fechar os olhos e deixar o sono chegar.