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Chapter 3 - Capítulo 3: Meu Amigo Também é Meu Inimigo

Após dois anos do trágico acidente com a Fruta do Sacrifício, em 1949, Mesur já não era mais o mesmo. Apesar dele ter muito apoio, a dor ainda estava lá, cravada como uma lâmina em seu coração. A dor que ele mesmo causou ao morder aquela fruta.

Ele continuava ajudando e salvando pessoas pelas cidades, e, com o poder imensurável que possuía, havia se tornado praticamente invencível. Mas nada disso importava para ele.

Naquela noite, Mesur estava sozinho em um bar, afundando sua tristeza nas bebidas. Cada gole era uma tentativa desesperada de esquecer o que aquele dia significava: o aniversário de sua falecida filha.

Mas, por mais que tentasse, a dor nunca o deixava.

Seu peito queimava de raiva, da frustração do luto.

Foi então que ouviu gritos próximos dali.

Um homem estava agredindo uma mulher.

— Por favor, Vitor... não! — a mulher implorava.

O homem, visivelmente bêbado, desferiu um tapa violento contra o rosto dela.

Ele se aproximou novamente, sussurrando:

— Eu tenho que fazer isso, amor... você sabe que eu te amo.

Outro tapa.

Quando ele ergueu a mão mais uma vez, Mesur surgiu e agarrou seu braço.

— É melhor você parar — sua voz saiu fria e firme. — Ou eu faço você parar.

O agressor tentou se soltar, debatendo-se como um animal encurralado.

— Me larga, palhaço! Não se mete onde não é chamado, seu merda!

Em um ato de fúria, tentou acertar um soco em Mesur.

Foi um erro.

Mesur desviou facilmente, agarrou-o pelo pescoço e o ergueu no ar como se ele não pesasse nada. Mas, antes que pudesse tomar qualquer atitude, a mulher se levantou e correu até ele, desesperada.

— Solta ele, seu desgraçado! Não machuca ele!

Mesur tentou afastá-la com uma das mãos.

— Eu estou tentando te ajudar, senhora! Você não entende isso?

Ela pegou uma garrafa de vidro da mesa mais próxima.

— VOCÊ QUE NÃO ENTENDE! EU NÃO QUERO SER SALVA, SEU FILHO DA PUTA!

A garrafa se partiu contra sua cabeça.

O golpe não o machucou, mas algo dentro dele quebrou junto com o vidro.

Ele ficou paralisado.

As palavras da mulher ecoaram em sua mente como trovões.

Ele comeu da fruta e dedicou sua vida a salvar pessoas. Sempre foi o herói do povo.

Mas o povo queria ser salvo?

E, acima de tudo... valia a pena perder sua família por isso?

O sangue fervia em suas veias.

Foi pelo povo que ele perdeu tudo.

Seu olhar se tornou frio.

Sem hesitar, ele disparou um laser direto contra a mulher. Sua cabeça explodiu em uma nuvem carmesim.

O homem que ele ainda segurava ficou completamente paralisado de horror.

Antes que pudesse reagir, Mesur o jogou com força pela janela, fazendo-o se espatifar contra um carro lá fora.

A tensão no bar se rompeu. Gritos preencheram o ambiente enquanto as pessoas corriam desesperadas. Guardas e outros homens do local tentaram contê-lo.

Mas era tarde demais.

O que começou como um massacre dentro do bar logo se espalhou pelas ruas.

Mesur liberou toda sua raiva reprimida, disparando lasers contra tudo e todos. O chão tremia com as explosões. A cidade se tornou um inferno em chamas.

O caos se espalhou rapidamente.

E o mundo inteiro ficou sabendo.

Mesur estava cego pelo ódio, não tinha mais nada além de dor e raiva pela sua perda.

Ele havia perdido sua família. Então ele não tinha mais nada a perder

Os Lendários não demoraram a chegar.

Mas quando viram a destruição, ficaram paralisados.

Prédios estavam em chamas. Corpos jaziam pelo chão — homens, mulheres, crianças, até mesmo criaturas que nada tinham a ver com aquilo.

Era um massacre.

Luana levou a mão à boca, horrorizada.

— Meu Deus... por que ele está fazendo isso?

Samuel olhou para a cena, incrédulo.

— Ele ficou louco? Ou... está sendo controlado?

Diego cerrou os olhos e se virou para Alaric.

— O que a gente faz?

Alaric não desviou o olhar de Mesur, que flutuava acima dos destroços, seus olhos brilhando em um vermelho ameaçador.

— Vamos detê-lo. Custe o que custar.

Ele fez um sinal para o grupo.

— Luana, me leve até aquele prédio. O restante fica aqui embaixo ajudando os civis.

Enquanto os outros corriam para resgatar os sobreviventes, Luana ergueu voo, levando Alaric até um prédio próximo.

— MESUR!

A voz de Alaric ressoou como um trovão.

Mesur parou. Seu olhar se voltou para ele.

Seu rosto estava contorcido pelo ódio.

— O que você está fazendo? Nós sabemos que você não é assim!

O silêncio se instalou por alguns instantes.

Então, Mesur respondeu.

— Eu faço isso porque posso. Porque tenho o direito. Porque perdi tudo.

Alaric ergueu as mãos, tentando acalmá-lo.

— Eu entendo sua dor, Mesur. Mas essas pessoas não têm culpa. Você não pode despejar sua raiva sobre elas.

Os olhos de Mesur brilharam ainda mais.

— Como não posso?! — ele gritou, furioso. — Eu entrei nos Lendários para proteger essas pessoas. E, no fim... foram elas que me tornaram assim.

Alaric cerrou os punhos.

— A escolha foi sua!

No mesmo instante, Mesur com muita raiva avançou, e o lançou contra os carros na rua.

Os Lendários atacaram juntos, mas ele era poderoso demais.

Derrubou Luana e Samuel com um único golpe no chão.

Ele disparou um laser contra Diego, que consegue desviar e começou a correr.

Mesur olha em volta para achar Diego.

Medusa aproveitou a brecha, e tentou petrificá-lo, mas seus olhos brilhavam como rubis, tornando seu poder inútil. Ele a agarrou pelo braço e a lançou contra uma parede.

Os Lendários tentam se recompor.

Enquanto os outros tentavam distraí-lo, Medusa se ergueu, machucada.

— Eu não consegui petrificar ele, e como se, com aqueles olhos fosse inútil tentar.

Alaric segurando o corte em seu braço.

— É a fruta... ela dá o poder ocular, talvez, se a gente o distrair, Medusa consiga pegá-lo desprevenido.

Medusa assentiu.

— Tá, podemos tentar.

Enquanto isso, durante a batalha, Diego se movia em alta velocidade, acertando golpes certeiros em Mesur e forçando-o a recuar. Mesur fica furioso ao se ver nessa desvantagem, então derrepente, ele disparou um laser preciso, atingindo a perna de Diego.

Fazendo ele cair.

Mesur vai e o agarra pelo pescoço.

— Você tá sendo um problema pra mim.

Sem qualquer esforço, pegou em sua mandíbula, puxando as duas partes da boca em direções opostas. O som de ossos se estalando ecoou pelo campo de batalha.

Luana viu a cena e disparou em alta velocidade, seus olhos brilhando de fúria.

Mas Mesur a percebe.

Ele desvia de seu ataque, e antes que ela possa reagir, ele segura uma de suas asas, e a arranca sem hesitação.

Um grito agonizante escapa de Luana ao sentir a dor excruciante da perda de sua asa.

Ele então a arremessa violentamente contra o chão e desce até ela. Agarrando sua cabeça, começa a esmagá-la contra o solo repetidas vezes, desfigurando seu rosto, quebrando seu crânio… Até não sobrar nada.

Mesur estava coberto pelo sangue de seus antigos companheiros.

Ao mesmo tempo que ele sentia dor e sofrimento, ele sentia poder.

Mas, de repente algo inesperado aconteceu.

Quando Mesur se levanta, ele olha para trás.

Mesur parou.

Seus olhos se arregalaram.

Parada entre os escombros, ele viu Emily.

Sua falecida esposa.

Ele foi indo lentamente até ela, seus olhos deixando de brilhar e baixando sua guarda.

— Emily...? É você...?

Foi a brecha perfeita.

— AGORA! — gritou Alaric.

Medusa avançou como uma serpente, agarrou o rosto de Mesur e o fitou diretamente nos olhos.

Ele sentiu seu corpo endurecer.

Pela primeira vez em muito tempo, o medo tomou conta dele.

Uma lágrima de tristeza e ódio escorreu por seu rosto, ao ver, que era apenas Samuel transformado em sua falecida esposa — era a última lágrima que derramaria.

E então, tudo ficou escuro.

Mesur foi petrificado.

Sua estátua, foi levada até Sulfar, onde seria vigiado de perto. De alguma forma, ele não podia ser destruído — a pedra que o aprisionava ficou indestrutível. Para evitar que caísse em mãos erradas, era necessário protegê-lo a todo custo.

Depois desses ocorridos, os Lendários deixaram de existir. Os Guardiões decidiram isso, pois os eles, carregavam esse fardo.

Cada um seguiu seu próprio caminho.

A cidade foi reconstruída com o tempo.

Mas aquele dia... nunca foi esquecido.