Download Chereads APP
Chereads App StoreGoogle Play
Chereads

The Peak of the World

MayahD
7
chs / week
The average realized release rate over the past 30 days is 7 chs / week.
--
NOT RATINGS
654
Views
Synopsis
Sempre sentiu que não pertencia a lugar nenhum. Mas quando um acidente a transporta para um mundo desconhecido, descobre que há algo ainda mais inquietante do que se sentir perdida: não saber quem realmente é. Neste novo lugar, lendas falam sobre o Topo do Mundo, um destino inalcançável onde a verdade absoluta aguarda aqueles que ousam subir. Em meio a desafios, alianças e inimigos, será preciso enfrentar não apenas esse mundo brutal, mas também os ecos de suas próprias incertezas. Até onde está disposta a ir para descobrir a verdade?

Table of contents

Latest Update2
A Porta6 hours ago
VIEW MORE

Chapter 1 - "Eu"

"Eu não consigo, eu não posso, eu não sei…"

Essas palavras me perseguem desde que eu me entendo por gente. Não é que eu nunca tenha tentado mudar. Não é que eu não tenha ficado decepcionada comigo mesma. Mas, de alguma forma, eu sempre voltava para o mesmo lugar.

Minha lembrança mais antiga começa com apenas 4 anos. Naquela época, morava com minhas primas, mais velhas que eu, na casa de minha avó. Eu era uma criança curiosa, uma verdadeira bagunceira. Para mim, cada sujeira era uma nova aventura, mas sempre havia um vazio, uma sensação de estar deslocada.

Eu já fui cozinheira, fazendeira, faxineira e até entregadora. Mas o que eu mais gostava era ser artista. Eu passava horas pintando os papéis que encontrava pela casa da minha avó.

Aos 7 anos, li meu primeiro livro. Era sobre um jacaré que virou uma bolsa de couro. Fiquei tão triste pelo jacaré que me perdi na história. À medida que as palavras se desenrolavam, eu via aquele ser sem escolha, sem liberdade. Eu me vi naquelas páginas, na dor de ser levada por algo que não podemos controlar. Quando terminei o livro, um vazio tomou conta de mim, um sentimento que eu não sabia nomear naquela idade.

Com 8 anos, terminei uma coleção inteira de livros de mistérios e assassinatos. Ao invés de me concentrar nos estudos, eu me entregava cada vez mais aos livros, na esperança de encontrar respostas. Eu me esforçava para agradar meus colegas, tentava me encaixar, mas a verdade é que sempre me senti fora de lugar.

Eu tentei, tentei e tentei. Aos poucos, comecei a juntar os pedaços de quem eu era, mas, no processo, me machuquei. Me cortando, me destruindo. Dizia-se que a pior dor era o luto, mas a dor de se ferir ao tentar se reconstruir é tão profunda quanto. Eu percebi, então, que havia criado um monstro dentro de mim, um monstro chamado insegurança. Eu queria pertencimento, mas tinha medo de ser excluída. Queria ser notada, mas não queria ser o centro das atenções. Queria amizades, mas temia ser odiada.

Chorar? Já fazia anos que o choro se transformara em raiva contra mim mesma. Eu não queria mais ser aceita, eu só queria desaparecer. Não tenho mais esperança. Não tenho mais forças. E mesmo sabendo que estou desperdiçando tempo, não consigo parar.

Aos meus futuros eus: mesmo que você falhe, que seja criticada, que sinta traição, que não saiba aonde correr, lembre-se sempre: "Somos só nós. Sempre será só 'nós'. Se uma porta aparecer, chute ela com força. Eu estarei ao seu lado."

Para meu querido Eu…

O som da chuva batia forte nas árvores ao meu redor. Estava escuro, eram 22h, e o ar tinha o cheiro da terra molhada, fresco e puro. Algo naquele cheiro me fazia continuar, me impulsionava a andar sem rumo, com a mente vazia, os passos firmes, mas sem direção.

Clarões iluminavam o céu, seguidos por estrondos. Eu sabia, pela distância entre eles, que eram mais de 2 quilômetros de onde eu estava. Mas não fazia diferença. A tempestade não me incomodava. Eu só andava.

Até que algo me atingiu. Um galho que atravessou meu campo de visão e, no impacto, minha mente escureceu.

Quando acordei, estava sentada. Meu corpo estava pesado, minha cabeça explodia de dor e o sangue escorria do meu nariz. Olhei ao redor, confusa. Onde estou?

"Err... alguém? Olá?"

Minha voz soou fraca, quase como se ninguém pudesse me ouvir. Já estava tão acostumada a falar comigo mesma que provavelmente murmurei demais. Mas quem se importa? Eu só não queria morrer ali, sozinha.

Mas logo algo mudou. A luz ao meu redor se intensificou e, de repente, senti uma presença. Uma mulher de cabelos rosados, vestindo um uniforme branco, apareceu diante de mim. Ela parecia um anjo.

"Você está bem agora?", ela perguntou com suavidade, como se me entendesse.

"Eu... onde estou? O que aconteceu?", respondi, a voz arrastada e com muita dificuldade.

Ela me entregou uma poção. O frasco era simples, sem rótulo, mas eu não tinha escolha. Peguei o vidro com desconfiança e tomei um gole. O gosto foi horrível, algo como salsinha com coentro misturado com terra. Eu não consegui me segurar.

"Que nojo! Isso é... horrível!"

A expressão da mulher mudou imediatamente. O olhar gentil virou afiado, quase ameaçador. Um brilho cortante surgiu em seus olhos.

"Eu vejo que pessoas do seu plano não sabem agradecer", ela disse com uma voz que fez meu estômago revirar. "Cuidado com a ingratidão. Ela pode te custar muito mais do que você imagina."

Eu fiquei paralisada. O que ela quis dizer com "seu plano"? E o que eu tinha feito de errado?