O céu noturno era uma tapeçaria de estrelas, brilhando com um brilho que desmentia a escuridão que espreitava abaixo. No coração da antiga floresta de Eldrath, um raro evento celestial se desenrolou – uma convergência de três luas, sua luz prateada derramando-se nas sombras como seda líquida. Foi uma noite predita em sussurros e lendas, uma noite em que o véu entre os mundos se afinou e os destinos dos mortais se entrelaçaram com o divino.

Em uma clareira isolada, uma jovem se ajoelhou, com a respiração presa na garganta enquanto sentia a onda de poder ondular no ar. Ela era uma vidente, dotada de visões que dançavam no limite de sua consciência. Esta noite, seus sentidos estavam aguçados, os ventos trazendo o cheiro da mudança. Mas não foram apenas as luas que cativaram a sua atenção; era a criança que ela carregava dentro de si – um menino destinado a trilhar um caminho cheio de sombras.

Quando as luas atingiram seu zênite, um grito rompeu o silêncio, agudo e inflexível. A vidente agarrou sua barriga, a dor irradiando através dela enquanto ela dava à luz Kael. Naquele momento, a floresta tremeu de energia, as sombras girando e enrolando-se ao redor dela como uma coisa viva. Sem que ela soubesse, a criança estava marcada pela escuridão, um arauto de poder que atrairia admiração e medo daqueles que cruzassem seu caminho.

Os anos se passaram e o mundo fora da floresta mudou. Sussurros de feitiçaria sombria se espalharam como fogo, acendendo o medo nos corações das pessoas. Caçadores de bruxas vagavam pela terra, suas lâminas brilhando à luz do sol, buscando erradicar qualquer vestígio de magia que ousasse desafiar a ordem natural. Eles caçavam com um fervor que não deixava espaço para piedade, com os olhos fixos nas sombras que dançavam nos limites da sua percepção. 

Kael não fazia a mínima ideia da tempestade que se formava ao seu redor, de sua infância passada nos braços da natureza e dos ensinamentos da sua mãe. Aos 10 anos de idade Kael e a sua mãe decidiram construir uma nova vida, uma vida mais próspera e segura das garras dos caçadores de bruxa até que chegaram ao Reino de Cristália, a capital do continente de Solaria, continente este que ficava no hemisfério sul do planeta. Ao chegarem a este reino não demorou que a mãe encontrasse trabalho, com sorte conseguiu ser serva da rainha e com ajuda da mesma um trabalho para Kael, criado da princesa e futura rainha de Cristália.

O reino era prospero e pacífico, o uso de magia não era proibida e os caçadores estavam longe de encontrar Kael, alguns anos se passaram e Kael tornou-se um grande amigo da princesa, amizade esta que iria trazer benefícios no seu futuro. 

Mas à medida que se aproximava do seu décimo sexto ano, os sussurros transformaram-se em gritos e as sombras começaram a chamá-lo de formas que ele já não conseguia ignorar. O poder surgiu dentro dele, sombrio e inebriante, convidando-o a explorar suas profundezas. Foi a partir daqui que Kael descobriu que tinha poderes para além de sua imaginação.