19:26 - XX/XX/XXXX
Moscou, Códice "Dom Ivanov" - XX°
Tic-tac, tic-tac, esse era o som que ecoava no escritório, o ponteiro do relógio vintage na parede, a atmosfera gélida da sala advinha do piso, um mármore cinza, polido à perfeição, onde se encontravam duas pessoas.
Um dos homens quebra o silêncio:
- Até maior idade, não tem um tempo fixo, proteção a todo custo, o V.I.P é de extrema importância, alto risco e imprevisível, recompensa a altura, então, concorda com os termos?
Respondendo ao homem, o segundo pergunta:
- Quem é o V.I.P?
O primeiro responde:
- A filha mais nova do dono de uma megacorporação.
Qual corporação?
Depois de um breve silêncio o primeiro homem diz:
- O contratante pediu sigilo quanto a isso.
Durante um tempo tudo que se ouvia era o silêncio, poucos segundos que pareciam minutos, tic-tac, tic-tac, depois de um tempo, o silêncio é quebrado pelo segundo homem.
- Aceito
O primeiro homem faz uma expressão de alívio dizendo:
- Bom, o que posso dizer? não esperava menos de você.
Enquanto o segundo homem se dirigia a porta, o primeiro pergunta:
- Mais uma coisa, dessa vez você tem companhia, espero que não ligue.
O segundo homem para no meio do caminho para saída, olha pelo ombro e retruca:
- Bom, acho que esse contrato é uma exceção.
22:02 - Tempo atual
Khabarovsk - Vladivostok, "O Transiberiano" - -30° (20°)
Neve densa - Ventos fortes.
"Sasha" - 35 M; Mercenário independente;
Vagão de primeira classe, Cabine 2;
Deitado em sua beliche Sasha lia um livro, "O livro dos cinco anéis".
- Esse velho já tava senil, não é possível.
Folheia o livro
- Contra-golpe tut-TUT? Que? Cada coisa mesmo.
Mesmo lendo o livro pela segunda vez, Sasha não conseguia entender o que passava pela cabeça do escritor.
- Digo, a época era antiga então… Vai saber né, mas de fato é uma boa leitura…
Depois de folhear mais algumas páginas, Sasha lembra-se da sua ronda periódica, ele olha seu relógio e vê que é praticamente sua vez de fazer uma ronda.
Ao som do ranger dos trilhos e o balanço do trem, Sasha casualmente desce da beliche que estava e coloca seus sapatos, no meio tempo a porta de sua cabine se abre, um dois guarda-costas do alvo fala:
- Ei, você mesmo, como era seu nome mesmo?
- Sasha.
- É, você mesmo, sua vez de sondar o perímetro.
Sasha acena com a cabeça.
Até o final da interação, Sasha já estava pronto, depois de sair da porta, Por um momento se lembra da sua conversa com o Custódio, ele achou que o contrato seria mais complicado, mas até agora tudo estava indo tão bem quanto poderia, ele repassa o plano atual mais uma vez em sua cabeça:
A prioridade é a menina, depois de entrar em consenso, chegamos a conclusão que Vladivostok seria o melhor lugar para proteger a menina até o fim do contrato.
Vladivostok é uma cidade movimentada e tinha lugares em que o grupo poderia se abrigar, além de uma rota de fuga marítima, tendo como destino principal da fuga o Japão, afinal, era um leque completamente novo de possibilidades.
Em contraste com o o silêncio, o rádio emite um ruído.
- Câmbio, Status?
Seus pensamentos e o silêncio são interrompidos por uma voz feminina, "Lila", Comandante do outro grupo de mercenários contratados junto a Sasha.
Em uma rápida sequência de devolutivas, os outros membros respondem.
- Câmbio, Tudo ok.
- Por aqui também.
- Digo mesmo.
- Nada de novo.
- Tudo nos conformes.
- Nenhuma movimentação suspeita.
Seis vozes falaram em sequência, eram o resto do pelotão de Lila, "Espectro" é como se chamam
Naturalmente, Sasha responde também.
- Aqui também, tudo em ordem.
Finalizando a chamada, Lila termina:
- Copiado, alvo estável, fim.
No meio tempo, um pensamento cruzou a cabeça de Sasha:
"Acho que um lanchinho não faria mal, será que eu tenho-"
antes de sequer terminar o próprio pensamento lembrou:
"A ronda né…"
soltando um suspiro em seguida.
"Bom, melhor começar logo"
E assim fez, Sasha foi de cabine em cabine, dirigindo-se à cabine três primeiro.
toc toc, era o som feito na porta da cabine.
- Leshiy?
Chamou Sasha.
- Sim, quem é?
Retrucou Leshiy, tentando saber quem que o procurava.
- É o Sasha.
Com uma voz mais calma Leshiy responde:
- Ah, você, o que você quer?
Antes que pudesse terminar, a porta se abriu. Lá estava Leshiy, imponente, com seus 1,90m, barba aparada e cabelo curto, ele era uma presença marcante, uma parede de carne e músculo, mas com olhos atentos.
- Ronda periódica, sabe como é.
Leshiy, com um sorriso de canto leve responde:
- Ah sim, tudo em ordem, não preciso de nada.
- Ok, vou para cabine cinco, quer que eu fale algo pra Belyy?
- Não, pode ir.
- Boa sorte
Antes mesmo de terminar toda sentença, Sasha já virava seu corpo em direção a próxima cabine, gesticulando um tchauzinho com a mão.
"O certo seria ir na cabine quatro, mas o Medved tá de guarda na entrada, é só uma cabine vazia…".
Mesmo assim Sasha fitou os olhos na porta da cabine quatro enquanto passava, mas foi em vão.
Depois de alguns passos Sasha chegou à porta da cabine cinco.
- Belyy?
Disse Sasha entrando na cabine cinco, com a porta já estando aberta.
- Aqui.
Belyy estava de costas mexendo em algo.
- O que você tá fazendo aí?
- Checando o equipamento, por que a pergunta?
- Curiosidade mesmo.
- Que?
Perguntou em um leve tom de dúvida, Belyy não estava acostumada com esse tipo de resposta casual, aparentemente.
- Ronda periódica, sabe?
- Ah… Sim.
Continuou:
- Era só isso?
- Sim na verdade.
Ela faz uma cara levemente confusa.
- Digo, já faz uns dias que estamos trabalhando juntos…
Sasha desviou o olhar por um momento, ficando sem jeito.
- Bom, pra colocar de forma simples, eu não estou acostumado com isso, nada demais.
- Certo, também já vou indo, precisa de algo?
- Não muito, se você pudesse pegar uma garrafa de água pra mim ajudaria.
- Entendi, já volto então.
Saindo da cabine, Sasha pensa consigo mesmo:
"Mesmo depois de um tempo considerável- quer dizer… faz praticamente uma semana que embarcamos no Transiberiano, não sei se sou eu ou eles, bom, eles não são nem um pouco comuns também, será que são ambos os grupos?"
Sasha pensava e pensava, mas não conseguia achar uma solução para o clima estranho que ficava no ar toda vez que interagia com o grupo de Lila.
"Como eles se chamavam mesmo?"
Enquanto Sasha pegava uma garrafa de água guardada, tentava lembrar o nome do grupo que trabalhava com ele,
"Lembrei! Spectro, que nomezinho em, não que eu tenha ideia melhor."
No seu caminho de volta à Belyy lis, Sasha cogitava puxar assunto, mas preferiu ficar na dele, ele não parecia bem vindo e não tinha intenção de confrontá-los.
Mais alguns passos e Sasha tinha retornado a cabine cinco.
- Belyy? aqui sua água.
- Obrigado, pode deixar aqui em cima da mesa, já bebo.
Sasha colocou a garrafa em uma mesa próxima.
- Ok, se for só isso eu vou indo.
- Certo.
Depois de sair da cabine cinco, Sasha parou por um momento.
"Quem era o próximo mesmo? Cabine seis… Cabine seis… Era o Volk."
Chegando na porta da cabine seis Sasha chamou por Volk
- Volk?
Volk virou sua cabeça surpreso pela chamada repentina.
- Sasha? O que te traz aqui? Ah, já sei, já é hora da ronda?
Retrucou volk, olhando Sasha dos pés à cabeça.
- Sim, o tempo anda passando rápido esses dias.
- De fato, mas se for só isso, tá tudo certo aqui.
- Entendi, já vou indo então.
- Будь осторожен.
(Vá com cuidado)
Uns passos pra fora da cabine, Sasha para um pouco, de novo:
"Falta as cabines sete e oito… seriam o Renard e o Kitsune… os dois estão fora, só falta o Medved…"
Suspiro
E assim o fez, Sasha andou até a entrada do vagão, junto ao barulho dos trilhos e o balanço do trem.
- Medved.
Chamou Sasha, ao lado da entrada
Medved cruza os braços, e cerrando seus olhos responde:
- Sasha, o que você quer?
Disse, com um olhar fixo e penetrante disparado contra Sasha.
- Ronda.
Retrucou.
- Nada a relatar, só isso.
Respondeu, de forma ríspida.
- Copiado.
Sem mais uma palavra, Sasha continuou sua ronda.
"Mesmo depois de uma semana, parece que ele só gostou menos de mim… jesus…"
"Acho que eu deveria checar a Lila e a garota… será? Ah, não é como se fosse um grande problema.", Sasha pensou.
E mais uma vez ele se encontrava com seus amigos fieis, ouvindo o fraco som do trilho e sentindo o leve balanço do Transiberiano, pelo menos até a porta da cabine um, onde Sasha gentilmente bate na porta.
Toc Toc Toc
- Lila? Tudo certo?
Perguntou Sasha.
Depois de um tempo a porta se abre, a cabine está escura.
- O que você quer?
Mesmo que essas tenham sido suas palavras, sua feição falava mais, seus olhos lilases complementavam o conjunto.
- Só… queria saber se tá tudo bem.
- Tá, a garota está dormindo, se era só isso pode ir.
- Entendido.
"Sério, que mulher complicada, linda, mas muito complicada, coisa de maluco… não que eu esteja em posição de falar também…"
"Eu também sou um forasteiro aqui, sempre fui. Mas quem sou eu para questionar? Melhor assim.", foi a única coisa que passou por sua cabeça.
Depois de terminar de checar os outros lugares que precisava, Sasha não fez rodeio e voltou para sua cabine, foi checar seus equipamentos e fazer a devida manutenção.
00:40 - duas horas e trinta e oito minutos depois.
Sasha já havia se acostumado com o perigo, fazia anos que ele não dormia profundamente, como se estivesse preparado para um ataque o tempo todo, mesmo quando conseguia dormir, seu corpo permanecia alerta por padrão, e foi isso que o fez acordar, algo não estava certo, o silêncio era mais ensurdecedor que um tiro de .50 BMG, no princípio, o trem balançava suavemente igual todos os outros dias, mas algo estava fora do lugar, de forma discreta e suave, Sasha instintivamente pegou sua pistola, uma HK45 personalizada, cujo estava no criado mudo ao lado da beliche, ali ele ficou, imóvel.
00:45
Um barulho veio do alto, um estalo metálico, normalmente quase imperceptível, mas Sasha estava alerta e acordado, apesar de ter permanecido imóvel, até agora, no momento que Sasha ouviu o leve estalo sua testa franziu e ele tinha se posicionado com a mira em sua porta, seu corpo inteiro gritava como se algo fosse pular nele.
00:51
Phut!, um som inconfundível, uma arma suprimida, aparentemente com munição subsônica, parecia ter vindo do vagão ao lado, normalmente seria impossível de se escutar, mas tudo estava muito estranho, provavelmente Sasha não foi o único a escutar o tiro.
Sigilosamente Sasha saiu de sua cama e se dirigiu a porta de sua cabine, abrindo-a bem devagar, cuidadosamente espiando o corredor, o longo e estreito corredor parecia um cemitério, um silêncio mórbido, como se mesmo o som dos trilhos tivesse se dissipado, passo a passo Sasha foi para a porta da entrada do vagão, nada, isso era o que Sasha escutava, cuidadosamente Sasha abriu uma fresta na cortina da porta que dava de encontro ao próximo vagão…
Dois corpos no chão, aparentemente funcionários do Transiberiano, um estava no chão jogado, provavelmente o que levou o tiro, o outro não parecia haver sido baleado, provavelmente teve sua garganta cortada, o ambiente estava muito limpo.
Sasha observou o ambiente em volta, tudo em seu devido lugar, isso não era feito por amadores, e muito menos era desorganizado.
Sasha recuou alguns passos e pegou seu rádio:
- Volk, algo estranho, ouviu algo?
- Sim… achei que era paranoia minha, escutei alguns barulhos no teto e um ruído quase agora.
- Problema, dois corpos na entrada exterior do vagão, avise os outros e fique atento.
Entendido.
Nada foi falado a respeito, mas ambos sabiam o que tinha acabado de acontecer, o trem foi comprometido.
00:56
A voz de Renard veio pelo rádio, quase um sussurro:
- Tem coisa errada, vi uma sombra pela janela do vagão, foi rápido, tão entrando.
- Copiado
Disse Sasha, também em baixo tom.
- Medved?
Chamou Renard.
- Vi um vulto entre os vagões, não atirei, não tinha confirmação visual.
Mantenha a posição.
Disse Renard.
A invasão não havia começado oficialmente, os invasores estavam sondando e procurando brechas, mais uma confirmação do calibre de pessoas que estavam lidando.
01:00
Sasha havia retornado a sua cabine e havia preparado seu armamento, seu arsenal era composto por uma SIG MCX Virtus personalizada, duas HK45 personalizadas, uma adaga tática Gerber MK.2 e uma Karambit, rapidamente Sasha empunhou seu rifle.
Observando o exterior do trem por uma leve fenda em sua janela e também a porta, Sasha estava estático, o ar estava denso, dificultando até a respiração, antes que se desse conta, o silêncio foi quebrado por uma série de passos rápidos se aproximando de sua cabine, sem hesitar pegou o rádio.
- Leshiy, o que você tem?
Perguntou Sasha.
Com uma voz impassível, Leshiy respondeu:
- Nada no momento, todos estão atentos, Medved, Belyy e Volk confirmaram, estranhamente nada parece fora do lugar… isso tá muito suspeito.
Não havia uma explicação lógica, mas as palavras "estranhamente" e "suspeito" ecoaram na cabeça de Sasha.
Sasha se levantou e deu uma última olhada no corredor, a cabine de Volk estava silenciosa, mas ele sabia ele provavelmente estava monitorando qualquer sinal de anomalias, Medved estava de olhos abertos para qualquer movimento, Belyy provavelmente não estava longe, mas também a postos, o que mais preocupava Sasha era a menina, o V.I.P do contrato.
No meio do silêncio, Sasha pergunta:
- Volk, status?
- Nada fora do comum por hora, tenho olhos em todos os cantos do vagão, se alguma coisa acontecer eu vou saber.
As palavras de antes voltavam a ecoar em sua mente, "estranhamente" e "suspeito", Sasha havia conferido o trajeto anteriormente, se sua mente não lhe falhasse, pelo horário, eles estavam prestes a entrar em uma zona com menos vigilância.
Quando o som dos trilhos começou a ficar mais suave, indicando que estavam entrando em uma área mais aberta, o campo de visão de todos aumentou, Renard e Kitsune estavam no vagão de trás, preparados para emboscar os transgressores, ambos verificando suas posições e prontos para o que fosse necessário.
A palavra "estranhamente" não saía da cabeça de Sasha, ele não podia negar que sentia uma enorme inquietude.
O primeiro a notar algo foi Leshiy, ele era um sniper altamente qualificado, nada escapava seus sensos, sua figura imponente saía das sombras se aproximando de Sasha.
- Você sentiu também não é? Algo tá errado.
Sasha, espantado pela aparição do sniper russo, acenou silenciosamente com a cabeça.
As coisas iriam mudar a qualquer momento, no fundo do corredor estava Medved, Sasha o olhava, observando em sua volta e calculando a distância.
- Prepara a arma Sasha. Não vai demorar.
Disse Medved pelo rádio, evitando ao máximo qualquer barulho.
Renard e Kitsune também tinham ouvido o aviso, se preparando imediatamente, Belyy estava em posição de fogo, sua atenção voltada à proteção da menina
A SIG MCX de Sasha era semi-automática, cada disparo contava, ele tinha vinte balas e um pente extra.
- Vamos com calma, o objetivo é simples e sem alarde, os civis não tem nada haver com nosso negócio, e nem precisam saber.
Afirmou Sasha pelo rádio.
Ele sabia muito bem que calma era relativa, o tempo havia se esticado, segundos pareciam minutos.
Sasha olhou ao redor, Leshiy estava em posição, Medved estava pronto na linha de frente, Volk estava com os olhos nas câmeras, ele não os via, mas sabia que Renard e Kitsune estavam prontos, Belyy estava com a cabeça fria, mas preparada, seus olhos atentos a cada movimento.
Era questão de tempo.