O céu noturno sobre a pacata cidade de Astrolábio era um manto de veludo cravejado de diamantes. Para Lívia, porém, era muito mais que um belo espetáculo. Era um oceano infinito de mistérios, um livro aberto em uma língua ancestral que sussurrava segredos cósmicos apenas para aqueles que se dispusessem a ouvir. Naquela noite, o terraço do Observatório Municipal era seu santuário pessoal. Longe das luzes artificiais e do burburinho da cidade, ela podia sentir a conexão tênue, mas vibrante, que a ligava à vastidão acima.
Debruçada sobre a ocular do telescópio centenário, Lívia ajustava os botões com dedos delicados, buscando refinar a imagem da Nebulosa de Órion. A luz avermelhada e difusa da região de formação estelar dançava diante de seus olhos, um caleidoscópio cósmico de gás e poeira a anos-luz de distância. Para a maioria das pessoas, aquilo seria apenas uma mancha colorida em meio a um mar de pontos brilhantes. Para Lívia, era um portal, um vislumbre de outros mundos, outras realidades.
Um suspiro escapou de seus lábios, carregado de uma melancolia silenciosa. Enquanto a beleza etérea da nebulosa preenchia sua visão, um aperto familiar tomava conta de seu peito. Era uma sensação constante, uma dissonância incômoda que a acompanhava em seu dia a dia. Desconexão. Era essa a palavra que melhor descrevia o que sentia em relação ao mundo ao seu redor. Seus amigos falavam de festas, relacionamentos, as últimas fofocas da faculdade. Assuntos terrenos, efêmeros, que pareciam tão distantes da grandiosidade que ela contemplava no céu.
Na faculdade de Astronomia, rodeada por colegas que compartilhavam a mesma paixão pelas estrelas, ela se sentia um pouco menos deslocada. Mas mesmo ali, no meio de cálculos complexos e teorias astrofísicas, faltava algo. Faltava a magia, o mistério, a intuição que a guiava quando observava o céu a olho nu, ou através das lentes de um telescópio. Para Lívia, a astronomia não era apenas ciência; era uma forma de arte, uma dança entre a razão e a intuição, uma busca incessante por respostas que talvez nunca fossem encontradas.
O vento frio da noite outonal roçou seu rosto, trazendo consigo o perfume úmido da grama e o distante murmúrio da cidade adormecida. Lívia endireitou-se, afastando-se do telescópio. Seus olhos, grandes e escuros como a noite mais profunda, ainda brilhavam com o reflexo das estrelas. Ela levou a mão ao pingente que usava sempre, um pequeno cristal de ametista em forma de estrela, pendurado em uma delicada corrente de prata. Era um presente de sua avó, uma mulher de olhar enigmático e histórias sussurradas sobre constelações e lendas antigas. Sempre que se sentia perdida, Lívia buscava o conforto frio e liso da pedra entre os dedos.
"As estrelas te chamam, Lívia," a avó costumava dizer, com um sorriso misterioso nos lábios finos. "Elas têm um destino reservado para você, sob o véu da eternidade."
Na época, Lívia era apenas uma criança, e aquelas palavras pareciam contos de fadas. Mas agora, olhando para o céu imenso e sentindo o chamado silencioso das estrelas em seu coração, ela começava a se perguntar se havia mais verdade naquelas palavras do que jamais imaginara.
UM POUCO SOBRE OS PERSONAGENS
Lívia: Apaixonada por astronomia, intuitiva, sensível, desconectada do mundo "terreno", iniciando uma jornada de autodescoberta. Possui um pingente de ametista em forma de estrela que simboliza sua conexão com o céu e as palavras da avó. sentir um "chamado".
Elian: Guardião do equilíbrio, entidade de luz e sombras, preso a um dilema entre o dever e o amor, inicialmente distante e focado em sua missão, mas destinado a se apaixonar por Lívia.
Nyx: Sombria, antagonista, ameaçadora, manipuladora, busca o poder e o domínio, representa o caos e a destruição.
Clara: Colega de faculdade de Astronomia de Lívia. Extrovertida, social, animada e preocupada com a amiga. Representa um contraste com a personalidade mais introspectiva de Lívia.
Rafael: Colega de faculdade de Astronomia de Lívia. Simpático, sorridente, amigável e parece demonstrar interesse em Lívia.