Tudo estava escuro, completamente vazio... A única coisa que eu sentia era um calor no meu peito, uma fúria que não podia ser contida por mim mesma, o máximo que eu podia fazer era tentar a segurar mesmo que fosse em vão.....
Uma voz em minha mente dizia que isso poderia estar acontecendo. A memória de estar lutando, estava fresca em minha mente, eu conseguia ainda sentir a dor e a adrenalina daquele momento. O sentimento de tudo ter parado ao meu redor era tangível.
Então esta escuridão... Onde eu estava? Eu havia realmente morrido? Não poderia ser, eu estava voltando para casa eu só precisava pegar o metrô e então seria levada diretamente para a estação próxima do meu apartamento. Como se o universo fosse totalmente indiferente a mim eu não podia sentir nada, além de rever a memória daquela briga.
Uma luta que outras pessoas poderiam chamar de fútil ou boba, mas que era bem séria para mim. O rosto daquela garota Elisa veio a minha mente, seu sorriso terrível, a fazia parecer sádica... Se eu estava morta significava que seu caminho para Leo estava livre, com minha morte ele estaria arrasado, eu conseguia ver seu coração se partindo... Elisa teria de pagar, e se fosse possível eu mesma a faria pagar!
— Todo este ódio... — Uma voz suave disse diretamente na minha cabeça. — Com sua força de vontade você pode realmente tomar tudo que você deseja para si... Todas suas ambições podem se tornar reais.
Minha vontade era de perguntar quem era aquela pessoa falando. Não, não poderia ser uma pessoa, a forma como a foz era suave mas indiferente, como se estivesse apenas falando fatos sem sentimento algum por trás de suas palavras. Aquilo era uma entidade? Era um deus...? Poderia ser a morte...?
— Eu posso garantir que você tenha uma segunda chance. — A voz continuou. — Tudo que será necessário é você se tornar poderosa o suficiente.
Não tinha como eu compreender ainda o que aquela voz estava tentando me dizer, o choque de tudo de antes ainda estava me envolvendo e as incertezas pairavam sobre minha mente...
— Você será reencarnada e terá sua chance de vingança... E então você será minha. — A voz disse a ultima frase como se fosse um sussurro ameaçador.
Como eu aceito? Eu pensei. E aquilo foi tudo que era necessário... A escuridão rapidamente começou a se dissipar dando lugar mais uma vez a luz clara que havia me envolvido, mas desta vez ela não significava meu fim, era a luz de um recomeço. Minha segunda chance.
As memórias de minha vida começaram a se embaralhar, duas memórias diferentes, de pontos diferentes de minha vida se juntaram rapidamente. Eu conseguia fazer distinção de uma para outra, mesmo quando eu não deveria. Eu lembrava de ter estudado em uma escola, eu lembrava do meu pai e da minha mãe, eu lembrava dos momentos felizes e triste, eu lembrava de meu amor, de como o conheci em um show de sua banda, eu lembrava quando passei no teste para entrar na faculdade.
E ainda sim, parecia que eu havia vivido uma segunda vida inteira, eu lembrava de correr pelas ruas de terrar de um vilarejo daqueles que você só veria em um filme de fantasia... Eu me lembrava de roubar comida de tendas junto de outras crianças, enquanto guardas com armaduras corriam atrás de nós. Memórias que não deveriam existir, que deveriam ser no máximo um delírio ou pura fantasia, mas que parecia completamente real.
A memória de uma briga em um beco enlameado, onde eu segurava com força a uma pequena sacola de moedas, enquanto um brutamontes tentava me acertar e a tirar de mim. As moedas faziam um barulho metálico a cada movimento que eu fazia para desviar e por mais que eu tentasse me manter em pé naquela luta eu acabei sendo derrotada. Eu era apenas uma criança e aquele homem era basicamente cinco vezes meu tamanho, só um soco foi o suficiente para me jogar contra a parede do bar sujo de onde eu havia roubado as moedas.
Eu senti como seu meu nariz tivesse sido quebrado minhas costas doíam, e eu cai com meu rosto na lama. A chuva fria caia sobre mim e eu não conseguia me mover... Derrotada, humilhada, e sozinha assim que o homem se afastou com o ouro que eu havia roubado, ouro que não faria diferença alguma para um dono de um bar tão grande, mas que para uma criança desesperada seria o suficiente para sobreviver uma semana...
Outra memória surgiu, bastante tempo parecia ter se passado... Eu estava mais velha, ainda sim as coisas não haviam melhorado, eu podia ouvir o tinir das correntes que estavam conectadas as algemas em meus pulsos, tornozelos e também ao colar que havia sido posto ao redor de meu pescoço. Tudo estava tão frio, e ainda sim eu estava com roupas rasgadas e meus pés descalços que afundavam na neve. Eu sentia que a cada passo meus pés iriam desistir e minhas pernas queriam dobrar e não continuar mais. E não era apenas eu que estava assim, haviam outros prisioneiros. Homens e mulheres de todas as idades... Alguns estavam mais feridos que outros, mas nenhum estava verdadeiramente em uma condição boa para continuar andando daquela forma.
Os homens em armaduras douradas não se importavam no entanto, no olhar daqueles homens, todos que estavam acorrentados eram criminosos, e estavam sendo levados para um lugar terrível para pagar por seus crimes. Não importava o quão severo foi seus crimes, todos estavam sendo levados para o local onde eles passariam o resto de suas vidas para pagar pelos seus crimes.
Alguns pareciam aceitar isso e mantinham sua cabeça baixa... Outros assim como eu tentavam manter suas cabeças altas e se rebelar de alguma forma, deveria haver uma falha nas correntes, alguma chance de escapar. Mesmo que fosse uma chance pequena, deveria haver alguma forma de escapar.
A verdade é que naquele momento não havia esperança alguma, todos ali que estavam acorrentados não eram mais humanos, haviam se transformados em escravos... Eu queria chorar, aquilo não parecia correto. Aquelas memórias não poderiam ser minhas, eu estava sendo punida por ter desejado vingança? Eu senti como se meu coração tivesse sido pressionado com força por algo que desejava me destruir.
Eu sou tão cruel que eu desejo punição!? Esse é meu inferno!? Eu tentei gritar em vão, minha voz não poderia sair de minha boca, eu ainda não era eu mesma... Eu era apenas uma expectadora de uma outra vida na qual eu não poderia controlar ainda.
Mais um vazio de memórias... E quando eu pude ver algo mais uma vez eu estava em um lugar escuro, um guarda gritou comigo! Ele não estava vestido em armaduras brancas e douradas como os outros que estavam me puxando como se eu fosse um animal. Este estava vestido de forma mais normal, porém ele haviam um chicote e uma máscara de metal em seu rosto, que escondia completamente sua identidade.
— Esta marca que você possuí. — A voz dele soou abafada por conta do metal da máscara. Não tinha como eu ver sua expressão, mas se eu precisasse pensar sobre ele estava gostando daquele momento.
Eu estava ajoelhada no chão, meus braços estavam acorrentados para cima os levantando o mais alto possível enquanto meu pescoço estava acorrentado ao chão, de uma forma desconfortável que impedia totalmente de me movimentar. E se já não bastasse a dor da posição desconfortável ele ainda segurava um chicote e acetava minhas costas. Sua justificativa por aquela punição é que eu estava sendo preguiçosa durante o trabalho, mas a verdade é que ele tinha algum tipo de interesse em mim, em especial na marca que ele havia mencionado.
Aquela marca ficava na minha mão direita. Eu não poderia ver daquela posição e era completamente diferente de tudo que eu tinha visto antes, parecia uma tatuagem, no entanto quando ele me acertava a marca brilhava. Era um brilho fraco, porém ainda sim visível, especialmente naquela masmorra escura e suja.
— Eu não sei! — Gritei entre as lágrimas que escorriam por pelo meu rosto que estava também sujo pela terra e poeira daquele lugar. Aquela resposta não agradou o homem e continuou me acertando....
Chicotada atrás de chicotada, minhas costas ardiam como se eu tivesse sido atingida por brasas, enquanto na verdade era só um chicote e a vontade de um sádico curioso, que me via apenas como um objeto misterioso. As lagrimas no meu rosto não eram apenas de dor. Era uma mistura de ódio, frustração, confusão... E uma vontade de destruír todo aquele lugar. Eu não conseguia fer o rosto daquele monstro, mas não importava. O único rosto que eu conseguia ver era o de Elisa. A garota que havia o sorriso terrível, a que desejava meu Leo... Eu estava sofrendo por causa dela, por causa do desejo dela de tomar minha vida...
Com mais uma chicotada do torturador foi de mais para meu corpo, misturada com a exaustão e a dor meu corpo desistiu e tudo ficou escuro, comigo desmaiando e encerrando aquela memória me deixando, temendo porque eu sabia que o momento que eu acordasse eu estaria novamente sobre o controle do meu corpo e não seria apenas memórias...
Se eu desejasse ter minha vingança eu teria de fazer aquilo por mim mesma... E aquilo parecia impossível no inferno no qual eu havia reencarnado...