A forma que se revelou sob a luz suave do sol matutino era, definitivamente, humana. No entanto, a composição da figura era bem diferente do esperado: era uma mulher, cuja pele se assemelhava à casca de uma árvore, com musgo e vinhas crescendo em alguns pontos; seus cabelos eram verdes e longos, o comprimento chegava a arrastar no chão, e — entre os fios, que eram como capim, — desabrocharam pequenas flores brancas e rosadas.
O corpo esguio e elegante, com aquele rosto de madeira composto por linhas suaves e expressão quase angelical, deixou os homens da E.G.O. sem palavras. Apesar de desconhecida, aquela criatura majestosa não parecia oferecer qualquer perigo.
Essa era a verdadeira forma de Sete, a Primavera — ou melhor, era apenas um resquício de seu antigo aspecto.
A jovem nua, feita da própria natureza, caminhou lentamente e pousou os pés no chão da clareira. Os agentes suspiraram, Sete parecia deslizar sobre a grama. Uma brisa suave soprou seu longo cabelo para o lado e revelou órbitas verdes brilhantes, não havia pupila ou a parte branca dos olhos, apenas uma floresta profunda e vivaz.
A visão de Sete atravessou aqueles homens, como se não pudesse enxergá-los de fato. Logo, ela se ajoelhou onde estava e enterrou os dedos de madeira no chão, quase que enraizando-se instintivamente. Os soldados não tiveram muita reação, ainda em choque ou impressionados demais com aquela figura fantástica para pensar com clareza.
Então, as flores silvestres espalhadas por toda a área livre de corrupção estremeceram. Ninguém além de Sete notou, afinal, era ela quem estava por trás desse movimento.
Entretanto, quando as flores começaram a aumentar de tamanho e a expelir um pólen espesso e tóxico, os agentes da E.G.O. finalmente se agitaram. A situação tornou-se alarmante principalmente quando os homens começaram a cair, um por um, ficando inconscientes estirados no chão.
Sete se levantou, meio cambaleante depois de usar grande parte do 1% de poder que tinha, e caminhou lentamente por entre os soldados caídos. Alguns deles gemiam e o capitão tentou segurar a jovem pelo calcanhar, ela olhou para baixo e disse em um tom ameaçador demais para seu rosto delicado:
— Não me sigam, matarei todos se nos encontrarmos de novo.
Ela sumiu por entre as árvores cinzentas e corrompidas, se afastando o máximo possível daquele local. A fraqueza decorrente do uso de seus poderes aos poucos tomava conta de seu corpo. Enquanto andava, a garota usou o último resquício das forças que economizara para criar uma capa de musgo macio, com a qual envolveu-se firmemente.
Depois de algumas horas de caminhada, já era noite. Sete se deparou com uma grande árvore corrompida e resolveu descansar entre aquelas raízes frondosas. Sua pele de madeira tinha se tornado clara e macia. Humana. Ela pensou ao deitar no chão com os olhos pesados. A jovem não demorou para se encolher em uma bola sob o manto de musgo e, em seguida, pegar no sono.
Nesse momento, uma tela azul translúcida surgiu na mente de Sete:
!Missão Emergencial!
[CONCLUÍDA]
Despertar com sucesso e fugir dos
agentes da E.G.O.
Você recebeu o 1% de poder restante
e 1% de divindade.