O despertador não toca. Quem precisa de despertador quando a vida já está programada para começar às seis? Levanto, levo meu esposo ao trabalho, e no caminho, faço planos. Hoje eu oro com calma. Hoje eu faço ginástica. Hoje eu...
Chego em casa e lá está ele. Nathan, meu filho autista, já acordado. Ele não fala, mas não precisa. Seu olhar me chama. Leite, já sei. Aqueço, dou na sua mão, e enquanto ele toma, ouço passos miúdos. Davi, dois anos, energia de doze. Agora é hora de correr.
Tento organizar a casa. Limpo um lado, olho para o outro, já bagunçou. Respiro. Onze da manhã. Hora de tentar acordar minha filha, Natalha. Quinze anos, TDAH. Meia hora para sair da cama, vinte minutos para o cérebro carregar. Peço para arrumar o quarto. Não dá tempo. O trabalho no escritório do avô a espera.
O almoço chega. Os pequenos fazem arte. Comem? Jogam no chão? Difícil dizer. Preguiça de almoçar. Mais preguiça de lavar a louça. Mas logo lembro: Nathan tem terapia. Corro. Arrumo os dois. Corro mais.
Na volta, todos estão famintos. Comem como se não houvesse amanhã. Depois, nova corrida: buscar o esposo no trabalho. Chego. Faço café. Pequenos querem mais comida. Natalha também. Faço.
Pela casa, faço uma coisa, outra, várias ao mesmo tempo. Atendo todo mundo. O dia não para, mas eu queria parar. Nem que fosse um minuto.
A noite chega, mas o silêncio, não. O sono deles custa a vir. As neurodivergências não perdoam. Fico na sala, esperando. Esperando. Meia-noite. Agora sim.
Não li a Bíblia. Não sentei para orar. Mas falei com Deus o dia inteiro. Espero que Ele me entenda.
Quase duas da manhã. Quatro horas de sono me esperam.
Boa noite.