"O rei está muito doente. Será que ele sobreviverá?" sussurravam alguns servos pelos corredores do castelo.
"Ele adoeceu de repente," murmuravam outros.
No quarto real, o rei jazia com os olhos fechados. Cada músculo do seu corpo doía ao mais mínimo movimento. O homem outrora forte e imponente agora estava incapacitado, preso a uma cama que parecia consumir sua dignidade. Seus anos de treinamento, suas batalhas e sua preparação pareciam ter sido em vão.
Um médico entrou no quarto. As cortinas estavam fechadas, deixando o ambiente envolto em uma penumbra sombria. Ao se aproximar da cama, o médico contemplou o homem que ali repousava.
"Pobre homem," murmurou o médico. "Como está hoje?"
O rei abriu os olhos lentamente, encarando o médico com um olhar cansado. "Pior do que ontem e melhor do que amanhã," respondeu, sua voz fraca, mas ainda carregada de autoridade.
"Algum remédio surtiu efeito?" perguntou o médico, abrindo sua maleta.
"Doutor, sejamos sinceros. Já não resta muito tempo para mim, certo?" O rei fixou o olhar no teto, como se buscasse respostas nas vigas de madeira.
O médico hesitou, fechando a maleta com um clique suave. "Receio que sim, senhor," admitiu. Nada em seu arsenal poderia salvar o paciente diante dele. Sua missão ali era, agora, apenas confortar.
"O senhor acha que fui amaldiçoado?" perguntou o rei, ainda olhando para o teto.
"Talvez," respondeu o médico. "Mas uma maldição comum não derrubaria um guerreiro de nível SS+."
O rei fez um esforço sobre-humano para levantar o tronco. Cada fibra de seu corpo protestou com dores agudas, mas ele persistiu. "Abra as cortinas para mim, doutor," ordenou, sua voz um tanto mais firme.
O médico obedeceu, puxando as cortinas de linho fino. A luz do sol inundou o quarto, revelando o reino de Tateia em todo o seu esplendor. O rei, agora sentado na cama, tentou se levantar. Seus músculos atrofiados tremiam, mas ele não desistiu. O médico o apoiou, segurando-o pelo braço.
"Senhor, não se levante assim tão abruptamente," advertiu o médico, preocupado.
O rei, no entanto, ignorou a dor que consumia seu corpo. Seu coração batia acelerado, como se cada batida fosse a última. Ele apontou para a sacada. "Me ajude a ir até lá."
Juntos, os dois avançaram em direção à sacada. A pele pálida do rei foi banhada pela luz do sol, e ele se apoiou na balaustrada, contemplando o reino que governara por tantos anos. Lá embaixo, a vida seguia seu curso normal. Os moradores de Tateia pareciam alheios ao sofrimento de seu governante.
"Posso te falar algo, doutor?" perguntou o rei, sem desviar o olhar do horizonte.
"Sim, majestade."
"Assim como os governantes do passado partiram, eu também partirei. E novos governantes surgirão após mim. Mas o reino de Tateia deve permanecer forte e imponente," disse ele, sua voz carregada de uma mistura de orgulho e resignação.
"Você acredita em reencarnação, majestade?" perguntou o médico, quebrando o silêncio que se seguiu.
"Não," respondeu o rei, sem hesitar. "Acho que tudo o que temos a fazer deve ser feito em uma única vida."
"Mas e se você se arrepender de algo? Não gostaria de mudar, se pudesse voltar?"
O rei suspirou profundamente. Seu corpo já não aguentava mais, mas antes de ceder à exaustão, ele respondeu: "A vida é bela demais para ser vivida mais de uma vez. Ela é simples, no fundo. Temos que fazer escolhas e não nos arrepender, porque o arrependimento corrói a alma até os últimos dias."
O rei fechou os olhos, sentindo o calor do sol em seu rosto. A dor em seu corpo parecia diminuir por um momento, como se a luz do dia trouxesse um breve consolo. Ele respirou fundo, sentindo o ar fresco da manhã preencher seus pulmões. Mas logo a exaustão o dominou, e ele cedeu ao cansaço, apoiando-se mais pesadamente no médico.
"Majestade, vamos voltar para a cama," sugeriu o médico, percebendo que o rei estava à beira do colapso.
O rei não respondeu. Seus olhos permaneceram fixos no horizonte, como se visse algo além do reino, além das montanhas que cercavam Tateia. Algo que apenas ele podia enxergar.
"Majestade?" insistiu o médico, segurando-o com mais firmeza.
Finalmente, o rei fechou os olhos e assentiu. "Sim, doutor. Vamos voltar."
Enquanto o médico o ajudava a retornar à cama, o rei sentiu uma estranha leveza, como se seu corpo estivesse se desprendendo de algo. Ele olhou para as mãos, pálidas e enrugadas, e uma sensação de paz começou a tomar conta dele. Talvez fosse o fim, afinal.
Mas, no momento em que sua cabeça tocou o travesseiro, algo mudou. O quarto parecia mais silencioso, o ar mais denso. O médico ainda estava ali, mas suas palavras soavam distantes, como se ecoassem de outro lugar. O rei sentiu seus olhos se fecharem, e então... escuridão.