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rosa negra

Stefan_5786
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Chapter 1 - rosa negra

A Rosa Negra

Nos becos enevoados de Valtheris, uma cidade tomada pelo desespero e pela sombra, vivia Lysandre, uma jovem de beleza etérea. Sua pele pálida refletia o brilho fraco da lua, e seus olhos cinzentos pareciam espelhos de uma alma gentil. Usava vestes finas, quase translúcidas, e caminhava como se flutuasse, uma presença delicada em meio ao apodrecimento da cidade. Mas a fome corroía tudo ao seu redor. A terra estava seca, os grãos murchos e o gado havia desaparecido. As pessoas definhavam, presas a um ciclo de miséria e loucura. E Lysandre, mesmo delicada, precisava sobreviver.

Ela vendia flores—pétalas frágeis em um mundo de ferro e sangue. Sua especialidade era a Rosa Negra, uma flor rara que apenas ela conseguia cultivar. Os nobres pagavam fortunas por elas, encantados pelo perfume que parecia sussurrar segredos. Mas nenhum deles sabia da verdade: as rosas não nasciam da terra, mas da carne.

O Jardim Sombrio

Tudo começou quando Lysandre aceitou um presente de um homem encapuzado. Era uma semente, pequena e escura como carvão. "Plante-a com algo precioso", ele dissera. Ingênua, a jovem cortou o próprio dedo e deixou o sangue pingar sobre a terra. No dia seguinte, uma única rosa negra desabrochou. Encantada, ela repetiu o processo, regando as raízes com gotas de sua vida. Cada flor que crescia era mais bela que a anterior.

Mas logo o sangue não bastava. A semente exigia mais. Seus dedos, antes finos e elegantes, começaram a ficar manchados. Suas unhas, outrora limpas, tornaram-se garras sujas de terra e carne. Quando a dor se tornou insuportável, Lysandre usou um rato. Depois, um gato. Um cachorro. Mas a semente queria mais. Queria carne quente, fresca, pulsante.

Então, um homem.

As rosas nunca estiveram tão belas. Suas pétalas sussurravam louvores, e a cidade inteira se maravilhava com seu perfume inebriante. Mas Lysandre também mudou. Seus olhos perderam o brilho gentil, substituído por um vazio insaciável. Seu corpo começou a definhar, pele esticada sobre ossos frágeis. No entanto, enquanto outros morriam de fome, ela permanecia viva, nutrida pelo segredo de seu jardim carmesim.

O Preço do Sangue

As noites trouxeram gritos. Pessoas desapareciam. Seus corpos jamais eram encontrados, mas a terra de Lysandre ficava mais fértil. O perfume das rosas negras se tornava cada vez mais viciante. Nobres e plebeus vinham a ela em busca da beleza e do prazer que suas flores proporcionavam. Ninguém suspeitava que, ao inalar seu aroma, estavam respirando os últimos suspiros de alguém.

Seus olhos começaram a afundar nas órbitas, suas bochechas tornaram-se cavernosas. O ato de comer tornou-se uma experiência nauseante para ela. Comida comum, pão seco, carne salgada—tudo lhe parecia cinzas na boca. Apenas o cheiro das rosas lhe trazia saciedade. Apenas a essência da morte lhe dava forças para continuar.

Então, a cidade começou a suspeitar. Os desaparecimentos eram frequentes demais. As flores, belas demais. Certa noite, Lysandre encontrou uma mulher debruçada sobre seu jardim, farejando o perfume hipnotizante das rosas. Antes que pudesse recuar, Lysandre sentiu um impulso incontrolável. Enterrou os dedos na carne macia da mulher, sentindo o sangue quente escorrer entre suas unhas quebradas. A vítima gritou apenas uma vez antes de ser sufocada entre os caules espinhosos. Na manhã seguinte, as rosas negras desabrocharam com um tom mais escuro, um brilho úmido em suas pétalas que lembrava carne viva.

A Colheita Final

O segredo de Lysandre não poderia ser escondido para sempre.

Certa noite, um duque ofereceu-lhe um banquete em honra às suas flores. Na grande mesa de mármore, havia apenas um prato diante dela. Lysandre, ao abrir a tampa de prata, viu um coração pulsante—o último presente da semente. As veias ainda latejavam, bombeando o resto de uma vida perdida.

Ela sorriu.

E então, comeu.

Mas algo estava errado. Seu corpo estremeceu. Seus olhos reviraram. Uma dor cortante percorreu suas entranhas, e suas unhas rasgaram a madeira da mesa. O duque observava em silêncio. O salão inteiro assistia, impassível, enquanto Lysandre começava a se contorcer.

Sua pele começou a rachar. Os ossos estalaram, alongando-se. Espinhos emergiram de seus braços como raízes que se torciam sob sua carne. Seu cabelo negro caiu aos poucos, substituído por pétalas escuras que brotavam de seu couro cabeludo. Seu grito era abafado pelo próprio corpo que se transformava. A semente que ela alimentara por tanto tempo finalmente cobrava seu preço.

Quando a transformação terminou, Lysandre já não era mais humana. No centro do salão, onde antes estivera uma bela jovem de olhos cinzentos, havia uma criatura terrível: uma fusão grotesca de carne e planta, com espinhos retorcidos emergindo de sua coluna e um rosto marcado pelo terror do que restara de sua humanidade.

Os convidados aplaudiram.

O duque se levantou e fez um brinde: "À nova Rosa Negra!"

Lysandre tentou gritar, mas sua boca agora só exalava perfume.