Na caída da noite em Londres, a chuva inundava as ruas. E, junto com ela, um homem bem vestido corria entre becos, lutando por sua vida. Ele carregava uma mala preta, totalmente lacrada, e uma bengala na outra mão.
O homem, por sua vez, chegou em um beco sem saída, dando de cara com quem o perseguia. A chuva se misturava com as lágrimas em seu rosto, e ele, desesperado, olhava para a pessoa à sua frente como se estivesse encarando a própria morte.
― Não, por favor não me mate! Eu lhe dou tudo: dinheiro, mulheres, fama… É isso que você quer, né? ― Com medo, cai ao chão de joelhos.
― Você vai pagar por seus crimes
Três tiros foram ouvidos por todo o quarteirão, acordando crianças próximas, mas apenas pela manhã que uma pessoa que passava por ali chamou a emergência.
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O local havia se tornado uma cena de crime no outro dia, inundado de pessoas e curiosos. A polícia interveio rapidamente após ouvir uma ligação anônima denunciando o crime.
Um homem sem a parte superior de sua cabeça, jogado aos chãos. Vestia uma roupa de proteção contra a chuva feita de plástico, totalmente coberta de sangue.
Naquela cena totalmente horrenda, em que o sangue estava escorrendo para todas as partes do beco, uma mulher chegava apressada no local. Tinha cabelos longos, presos em um rabo de cavalo, utilizando um colete formal por cima da camisa, além de um casaco que chegava até seus pés. Ajeitou seus óculos, levantou a faixa policial e adentrou a área isolada.
Ao se aproximar do cadáver, uma pessoa veio em sua direção. Era um homem que, vestindo luvas, estendeu sua mão para comprimentar.
― Fazia um tempo que não trabalhamos juntos, não é mesmo, Alice? Agora parece que mais um caso vai unir os nossos esforços novamente.
― Ugh, é só você, Félix. ― Ignorou sua mão, empurrando-a para o lado. ― Com certeza já colocou suas mãos no falecido antes de me cumprimentar. Não quero correr o risco de contrair alguns germes de um cadáver.
― Só fala isso porque foi a bonitona de toda a turma. Com esses olhos amarelos quem não se apaixonaria? ― retrucou.
― Pare de falar essas coisas estranhas, temos alguém esperando para ser identificado. ― Agachou-se mais perto do corpo com o rosto totalmente cortado ao meio. ― E então, a causa da morte foi ele ter sido partido em dois? Mas isso tá bem feio mesmo.
― Analisando um pouco mais, não foi isso não. ― Chegou-se mais perto, virando o corpo. ― Aqui, olha.
― Dois tiros em sua costa, então provavelmente fizeram essa atrocidade após de morto com ele ― disse Alice.
― É… realmente perturbador. Um homicídio em um beco fechado, não é de hoje que isso acontece.
― É comum homicídios normais, não quando o assassino leva parte do rosto da vítima embora, isso vai dificultar o seu trabalho de reconhecimento, Félix.
― Não diga como eu deva fazer meu trabalho, faça o seu.
Félix acena a mais dois parceiros alí próximo, indicando que era para levar o corpo ao laboratório. Após isso tirou suas luvas, colocando em um saquinho que estava em seu bolso, então balançou suas roupas para tirar um pouco de poeira.
― Aqui acabou tudo que tinha para fazer, deixo o resto contigo, parceira ― falou Félix, colocando sua mão sob o ombro de sua amiga.
― Vai direto fazer a autópsia da vítima? Que pena, vou acabar ficando com todo o trabalho de processar essa cena de crime então.
― Quer uma ajudinha? Conseguimos deixar quem fez a chamada para a polícia no local, pode começar com ela ― Apontou com a sua mão direita, ainda com o braço por cima de Alice.
Ela chegou mais perto da pessoa apontada, uma mulher vestindo roupas de academia. Parecia aterrorizada com a situação, gaguejando em cada frase quanto tremendo todo seu corpo enquanto falava com os policiais próximos.
― T-tinha um monstro a-aqui, eu juro! Era c-como a mistura de um cachorro c-com um humano ― disse a mulher.
O agente ao seu lado parecia estar anotando suas ideias malucas enquanto o outro estava tentando acalmar.
― Então era um lobisomem, não é? Um mito da Grécia, e agora está em Londres, devo dar uma ótima recepção para ele quando nos vermos ― disse Alice, na frente da moça.
― Isso! Era isso! Vi aquela coisa com seus dentes totalmente afiados, e ele olhou para mim e… ― respondeu.
― E…? Aproveitando que parou de gaguejar Senhora, que tal me dizer seu nome?
Ela respirou fundo, tentando manter a sua concentração na conversa.
― Becky, Becky Smith, eu moro aqui na vizinhança.
― Senhora Smith, você está bem? ― disse Alice, e em resposta, a mulher acenou com a cabeça. ― Que bom, agora que tal me falar sobre o que você viu novamente? Não vamos te prender, a menos que tenha culpa nisso.
― É VERDADE O QUE EU DIGO! ELE ESTÁ VINDO! O LOBO VAI CHEGAR EM TODOS NÓS! ― Começou a gritar chamando mais atenção a cena que já havia deixado de ser confidencial a muito tempo.
Alice andou para longe da mulher, levantando seus óculos para coçar ambos os olhos com sua mão. E então, frustrada com o acontecido disse: ― Vai ser realmente um dia muito longo para mim.
― Senhorita Alice! Aqui, encontrei algo. ― Gritou um policial de longe.
Alice ouviu seu chamado, chegando perto da pessoa que o havia chamado. Ele tinha encontrado uma digital na parede ao lado de uma poça gigante de sangue.
― Você consegue ver? ― Apontou a lanterna para a parede. ― Uma digital ensanguentada bem aqui.
― Bom trabalho, tire uma foto para ver se conseguimos algo em nosso banco de dados. ― Deu tapinhas nas costas do agente. ― E agora o que temos aqui?
Chegou mais perto da poça de sangue que tinha ao lado da digital, tinha um formato peculiar para Alice entender. Os respingos e a poça indicavam uma segunda vítima, que estava sumida.
― O primeiro morto não tem sangue nele, a conclusão é que foi levado pela chuva de ontem. Mas isso? Nossa cena de crime parecia ser impossível de resolver até isso acontecer.
Ela pegou seu celular e imediatamente discou um dos números salvos. Após alguns minutos, apenas caiu na caixa postal do destinatário.
"Olá! Aqui é a Helena, se você ligou e não atendi é porque estou muito ocupada! Deixe seu recado após o disque." Foi tudo o que Alice ouviu de seu celular antigo.
― Que droga, Helena! Já faz uma semana. ― Tacou seu celular com muita força no chão, espatifando em mil pedaços.
― Esse é o quinto essa semana, não é? ― Um homem de idade falava por trás de Alice, com uma pasta em sua mão.
― Ah, então você finalmente voltou de suas férias, Vincent. ― Ela virou-se para a pessoa. ― Primeiro o Félix e agora você, o que a Diana está pensando? Voltar aos velhos tempos?
O homem vestia roupas simples e informais, não parecendo nada um detetive. Mas em sua mão contrária a pasta havia um casaco dobrado com uma sigla nele: A.I.C
― O que ela está pensando eu não sei, mas é melhor cuidarmos desse crime o mais rápido possível. Não quero desperdiçar tempo quando meu casamento está bem perto.
― Huh, meus parabéns ao casal. Espero que a Helena não se arrependa de suas decisões.
Ela andou mais ainda sob a cena, e Vincent a seguia. Era uma cena brutal, mas com sangue apenas na parede esquerda contrária a onde a vítima foi achada.
― Então temos duas cenas de crime, uma sem nenhum vestígio e com a vítima, e outra com vestígios até demais e a vítima está faltando. É realmente um quebra cabeça em tanto ― disse Vicente, pegando uma câmera em sua bolsa.