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Chapter 21 - As Criaturas da Floresta da Morte (Parte 3 – Final)

Eles estavam atrás de mim. Não importava o quanto eu corresse, a desaceleração do olho negro já não era suficiente para me manter à frente por muito tempo. Eles ficavam cada vez mais rápidos... mais perto... mais famintos.

O som de suas perseguições era avassalador. O barulho das patas arrastando-se sobre o solo seco, os grunhidos guturais ecoando na floresta morta, os estalos de galhos se partindo sob suas garras afiadas... Era um exército inteiro me caçando.

Mas o medo? O medo não estava mais lá.

Foi então que percebi algo estranho. Desde o momento em que abri o olho negro, algo em mim mudou. Aquele medo sufocante, que antes me consumia, já não existia da mesma forma. Antes, eu temia essas criaturas. Agora, o único medo que restava era o de não conseguir escapar.

Eu sabia que minha única chance de sobrevivência era um plano perigoso. Um erro, apenas um erro, e eu estaria morto.

Minhas análises me levaram a uma conclusão estranha: essas coisas não tinham um corpo físico real. Elas eram pura energia, algo intocável e imortal em sua verdadeira forma. Mas havia um detalhe crucial. A forma que elas assumiram para me caçar não era a original; nessa forma, elas poderiam ser tocadas, mas apenas atacá-las não seria suficiente. Se minha teoria estivesse certa, havia um ponto fraco, algo que eu poderia explorar.

Foi então que notei: seus olhos nunca mudavam.

Não importava quantas vezes seus corpos se distorcessem em novas formas grotescas, os olhos eram sempre os mesmos. Fixos. Famintos. Alienígenas.

Enquanto tentava formular um plano, meu tempo se esgotava. As criaturas estavam se aproximando rápido demais. O chão atrás de mim era pulverizado por seus saltos ferozes. Árvores mortas explodiam em estilhaços conforme suas garras as cortavam como papel. O som de troncos caindo se misturava ao eco da floresta.

Não havia mais para onde fugir.

De repente, uma das criaturas saltou. Era rápida. Rápida demais.

Suas garras, longas e afiadas, brilharam no escuro como lâminas negras. Ela ia me rasgar ao meio.

Seu ataque vinha pelas minhas costas, em um ponto cego para uma pessoa normal notar. Porém, eu já não tinha pontos cegos — o olho negro me dava uma visão muito além do alcance, em todos os 365 graus.

Então, parei abruptamente.

Com toda a força que consegui reunir, cerrei o punho e disparei um soco brutal diretamente no estômago da criatura.

O impacto foi devastador.

A criatura voou para trás, girando no ar antes de colidir violentamente contra uma árvore morta. O tronco se partiu com o impacto, estourando em uma nuvem de poeira e detritos.

Por um instante, fiquei chocado. Aquilo não era normal.

Minha força... Eu nunca fui tão forte.

O olho negro me deu isso?

Não havia tempo para pensar. Eu já tinha ultrapassado meu limite com o olho negro, e a dor que tomava meu crânio estava se tornando insuportável. Se eu continuasse correndo, meus músculos falhariam antes do olho negro.

Eu tinha apenas uma opção.

Lutar.

E lutar até a morte.

Se eu não podia matar essas criaturas, então tinha que encontrar um jeito de neutralizá-las. E se minha hipótese estivesse certa... os olhos eram a chave.

O exército de sombras avançava contra mim, um tsunami de formas distorcidas. Eu estava cercado.

Não havia mais escapatória.

Eu fechei os olhos por um momento. Me concentrei.

E quando os abri, o tempo desacelerou.

A primeira criatura estava perto o suficiente para que eu visse cada detalhe horrendo de sua forma mutante. Seus dentes pontiagudos, suas garras ameaçadoras, suas pupilas vazias...

Movi-me antes que pudesse pensar.

Meu punho disparou.

Atingi seu olho.

O impacto foi brutal. A criatura foi jogada para trás, como se tivesse sido atingida por um trem em alta velocidade. Seu grito cortou a floresta, um som agonizante e ensurdecedor.

Eu estava certo.

Os olhos eram a fraqueza.

Mas antes que pudesse comemorar, senti dez presenças ao meu redor.

Dez criaturas.

Dez direções diferentes.

Todas atacando ao mesmo tempo.

O olho negro continuava desacelerando o tempo, e para qualquer um que observasse de longe, eu parecia me mover de forma inumana. Meu corpo dançava entre os ataques, cada movimento uma mistura de esquiva e contragolpe.

Eu abaixei no último segundo, desviando de uma garra que teria partido meu crânio, e contra-ataquei com um gancho brutal no queixo da criatura mais próxima. Antes que ela caísse, minha outra mão já se movia, desferindo um cruzado no meio do olho esquerdo de outro monstro.

Mas eram muitas.

E eu estava sendo drenado.

Cada golpe consumia mais da minha energia. Cada uso do olho negro aumentava a dor em minha cabeça.

Mesmo acertando as criaturas nos olhos, elas nunca paravam de atacar. Elas não cansavam. Não sentiam dor da mesma forma que eu.

Cada vez que uma caía, outra assumia seu lugar.

E então... meu limite chegou.

Os ataques das criaturas começaram a passar cada vez mais perto. Minhas esquivas já não eram perfeitas. Meu corpo estava falhando.

Foi então que algo em mim quebrou.

A fúria tomou conta do meu corpo.

Todo o medo, a angústia, o desespero... se transformaram em ódio.

Eu gritei.

— CRIATURAS MALDITAS! EU NÃO VOU MORRER PARA VOCÊS!

Minha voz rugiu pela floresta.

— VOCÊS QUEREM ME MATAR PELO MEU PONTO CEGO?! IDIOTAS! EU NÃO TENHO PONTOS CEGOS!

E então, algo mudou.

Eu parei de lutar como um humano.

Comecei a lutar como um animal selvagem.

Meus ataques se tornaram brutais, primitivos, implacáveis.

Socos. Chutes. Cotoveladas. Mordidas.

As criaturas eram jogadas para todos os lados. Seus corpos mutantes colapsavam com cada impacto.

1. 10. 100. 300. 1000.

Milhares de monstros foram massacrados.

E então, eu ri.

Ri na cara delas.

— O QUÊ?! VOCÊS NÃO IAM ME MATAR?! ESTÃO APANHANDO COMO RATOS!

Eu estava enlouquecendo.

E elas sabiam disso.

Por um segundo, um silêncio tomou conta da floresta.

As criaturas pararam de atacar.

E então... a pressão mudou.

O chão tremeu.

O ar se tornou pesado como chumbo.

A floresta se abriu.

Como se alguém ou algo estivesse chegando.

E eu entendi.

Isso... não era o fim.

Era só o começo.