Amélia já estava acostumada com a solidão da mansão. Desde que a mãe tinha sumido, ela passou a andar por aqueles corredores enormes como se fosse parte do cenário. Quase tudo na casa lembrava a ausência dela. O pai, sempre tão ocupado com o trabalho e compromissos, nunca parecia se importar muito com ela. A governanta Ester era a única que sempre estava ali, como uma segunda mãe. Mas, no fundo, Amélia sabia que nada disso ia substituir o que estava faltando.
A mãe tinha desaparecido quando Amélia era pequena, e seu pai sempre dizia que ela morreu num acidente de carro. A história era simples, direta e… estranha. O corpo nunca apareceu, e o pai parecia falar disso como se fosse apenas uma coisa que aconteceu. Sem dor, sem grandes explicações.
Mas, por dentro, Amélia sentia que algo não batia. Como um buraco no estômago que nunca passava.
Num dia qualquer, quando ela estava mexendo nas coisas antigas do sótão da casa, procurando distração, encontrou um envelope estranho. Era um daqueles que você nem percebe na pilha de papéis, mas, quando ela abriu, o que tinha dentro a fez parar tudo o que estava fazendo.
Era uma foto antiga de sua mãe e seu pai, aparentemente em um jantar. Até aí, normal. Mas o sorriso da mãe de Amélia não era um sorriso normal. Era forçado, como se ela estivesse escondendo algo. No canto da foto, havia um recorte de jornal, meio amassado. Quando Amélia leu o que estava escrito, um arrepio percorreu sua espinha: "Acidente fatal na estrada A-51. Carro encontrado, mas sem vítimas identificadas."
Aquilo não fazia sentido. O que aquele recorte tinha a ver com sua mãe? O que era aquilo? Por que ninguém nunca tinha falado sobre esse jornal?
Com o coração acelerado, ela correu para a sala onde seu pai estava, sentado com uma pilha de papéis. O cheiro do café e o som das folhas virando eram até confortantes, mas ela não conseguia parar de pensar na foto e no jornal.
"Pai… eu encontrei algo", disse ela, tentando manter a calma, mas a voz saindo mais nervosa do que queria.
Seu pai a olhou por cima dos óculos, sem muita expressão, como se tivesse algo mais importante na cabeça. "O que foi, Amélia?"
Ela entregou o envelope para ele, o coração batendo forte. "Uma foto. E um recorte de jornal. Por que nunca me mostraram isso?"
Ele pegou o envelope rapidamente, com uma cara de quem não esperava aquilo. A mão dele tremia levemente, mas ele tentou esconder. "Isso não é algo para você ver agora", ele falou, com um tom firme que a fez se sentir desconfortável. Algo estava errado.
"Mas por que, pai? O que aconteceu com a minha mãe? Por que ninguém me conta nada? Isso é tudo mentira, não é?", ela perguntou, a raiva tomando conta dela. Ela queria uma resposta, algo que explicasse de uma vez por todas.
Antes que ele pudesse responder, Ester apareceu na porta. Ela sempre tinha um sorriso suave e um jeito tranquilo de falar, mas dessa vez Amélia percebeu que até ela estava tensa. "Está tudo bem, querida?", ela perguntou, como se quisesse acalmar a situação.
Amélia olhou para ela com um olhar desconfiado. "Não, não está tudo bem! Por que todo mundo fica guardando segredos de mim?"
Ester olhou para o pai, que parecia perdido. Ela passou a mão no ombro de Amélia, tentando suavizar a tensão. "Seu pai só quer te proteger, Amélia. Às vezes, certos detalhes é melhor não se mexer. O passado fica onde está, e é melhor assim."
"Eu não quero saber do passado de vocês. Eu quero saber da minha mãe. Eu quero saber a verdade!" Amélia quase gritou. Ela não se importava mais com o que o pai ou Ester pensavam. Estava cansada de viver dentro de uma mentira.
O pai dela a olhou com uma expressão de preocupação que ela nunca tinha visto antes. E aquele olhar… ela sentiu que ele estava com medo. Medo do quê? O que ele estava escondendo?
"Eu vou descobrir a verdade, pai. E você não vai poder me impedir."
"Pare de falar besteiras Amélia, não há nenhuma verdade para descobrir, pare de ver coisas onde não tem, sua mãe morreu em um acidente de carro e é só isso, sinto a falta dela todos os dias da minha vida, você não sabe como doeu e como me doe a morte dela."
Amélia não entendeu essa mudança repentina do seu pai, ele nunca havia falado da morte da sua mãe desse jeito.
"Perdão papai, eu só queria explicações."
"o jornal sempre notícia as coisas, afinal esse é o trabalho dele, pare de pensar besteiras e vá para o seu quarto."
Amélia apenas obedece seu pai e vai em direção ao seu quarto, porém algo nela a deixar mais desconfiada sobre oque estava acontecendo, chegando em seu quarto Amélia começa a pensar sobre a foto e a matéria de jornal que havia encontrado, mas logo é tirada de seus pensamentos com Esther, a governanta batendo em sua porta.
"oi, posso entrar?" diz Esther, Amélia assente com a cabeça.
" Não fica chateado com seu pai, ele só quer que você ocupe sua mente com essa coisas."
" Mas isso é sobre a minha mãe, eu tenho direito de saber ele não pode me provar disso."
" Tudo bem, você tem razão , mas pega leve com seu pai tá bom? Ele só quer te ajudar."
" Tá certo, me deixar sozinha por favor." Ela apenas levanta deixando Amélia sozinha em seu quarto.