Sombras na Chuva
A chuva caía em cortinas prateadas, tingindo o mundo de reflexos fugazes sob a luz amarelada dos postes. Cada gota parecia estalar contra o asfalto encharcado, criando pequenas explosões efêmeras de brilho líquido. William Moura caminhava pela calçada, encolhido dentro do casaco surrado, o vento cortante passando por suas roupas como lâminas de gelo. Debaixo do braço, seu exemplar desgastado de O Silmarillion estava protegido da umidade, as páginas já amareladas repletas de anotações e marcações feitas ao longo dos anos.
Ele apertou os olhos por trás das lentes dos óculos, ajustando-os com um gesto automático. Ainda sentia o cheiro dos livros na ponta dos dedos, impregnado depois de mais um turno na biblioteca. O expediente havia terminado horas antes, mas, como sempre, ele ficara até tarde, reorganizando volumes desalinhados de Tolkien e se perdendo nos mapas mentais da Terra-média.
Agora, a cidade de Portland parecia outra—um reino sombrio e melancólico, como Mirkwood depois de uma tempestade. O brilho dos postes espalhava sombras longas pelo chão, refletindo-se nas poças como estrelas afogadas. O vento uivava entre os becos, carregando folhas secas que rodopiavam como pequenos espectros.
Foi então que um movimento repentino capturou sua atenção.
Uma menina, não mais do que sete anos, vestindo um casaco vermelho de chuva, correu pela calçada, os pequenos pés chapinhando na água acumulada. Ela esticou a mãozinha para pegar algo que rodopiava ao vento—um embrulho de bala cor-de-rosa, dançando como uma borboleta contra a corrente de ar.
William franziu a testa.
Não...
A garota avançou para a rua.
Foi um instante, uma fração de segundo, mas o tempo pareceu se alongar. O ruído da cidade desapareceu. Os faróis da caminhonete de entregas surgiram na curva, dois olhos brancos e implacáveis cortando a escuridão, refletidos nas gotas suspensas no ar.
William não pensou.
— Ei—pare! — sua voz rasgou a noite, carregada de urgência.
O livro escapou de seus dedos, caindo aberto na calçada. As páginas se abriram no conto de Beren e Lúthien, letras negras tremulando sob a chuva.
Seus pés se moveram antes que sua mente processasse.
Ele se lançou para frente, atravessando a rua em um impulso desesperado. O coração martelava como um tambor de guerra. O ar frio queimou seus pulmões. Tudo se reduziu a um único objetivo: chegar até a menina antes que fosse tarde demais.
O motor da caminhonete rugiu, o som dos pneus cortando a água como navalhas.
William alcançou a garota no último instante.
Com um empurrão forte, ele a jogou de volta para a calçada.
E então veio o impacto.
O mundo explodiu em luz branca e dor.
Uma dor aguda, cortante, rasgou-lhe o corpo como uma espada invisível. Seu peito ardeu, os músculos gritaram, algo quente escorreu pela pele. O chão girou. O asfalto molhado subiu de encontro a ele com força brutal, empurrando todo o ar para fora de seus pulmões.
Silêncio.
Ou melhor, quase silêncio.
A chuva continuava a cair, pingando ritmicamente contra o chão. Alguém gritava ao longe—uma voz fina e trêmula.
— Moço! — era a menina. Ela correu para ele, os olhos arregalados, o casaco vermelho manchado de lama. — Moço, moço, você tá bem?
William piscou, tentando respirar. Seu peito parecia comprimido, como se uma bigorna houvesse caído sobre ele. O gosto de metal e chuva misturava-se em sua boca. Ele moveu os lábios, tentando formar palavras.
— Eu… — sua voz saiu rouca, quase inaudível.
Passos apressados se aproximaram.
— Meu Deus, meu Deus! — uma mulher arfou, caindo de joelhos ao lado dele. — Você está vivo? Você consegue me ouvir?
A menina soluçava agora, agarrada ao casaco da mulher, que deveria ser sua mãe.
— Ele me salvou, mamãe… — a voz dela quebrou. — Ele me salvou.
William tentou sorrir.
A dor pulsava em cada fibra do seu corpo, mas… ele conseguiu.
A menina estava bem.
E então, a escuridão o envolveu.
.
---
William piscou.
Um instante antes, havia frio, chuva, dor—o asfalto duro contra seu corpo, o sabor de sangue e metal na boca. Agora, só existia luz. Uma luz branca e infinita, sem origem, sem sombras, sem ponto de referência. Não havia chão sob seus pés, mas ele não caía. Não havia vento, mas o calor o envolvia como um abraço invisível.
A dor desaparecera.
Isso é... a morte?
Sua própria voz—ou talvez o eco de seu pensamento—ressoou no vazio sem fronteiras. Ele olhou para as mãos, perfeitas, intactas, sem um único arranhão. Seu coração não batia, mas ele ainda era.
— Nada de Valinor? — murmurou. — Nada dos Salões de Mandos? Só... isso?
— Não é só isso.
A voz veio de todos os lados e de lugar nenhum, reverberando como um trovão contido. William se virou e parou abruptamente.
Diante dele, um homem alto e imponente observava-o com um olhar paciente. Ele usava um terno imaculado, sem um único amassado, e seus sapatos reluziam como vidro polido. A pele escura brilhava sob a luz ambiente, mas eram os olhos que prenderam William: profundos, vastos como o próprio cosmos, repletos de estrelas e galáxias girando em sua imensidão.
Morgan Freeman.
Ou, ao menos, algo que vestia a aparência do ator como um casaco bem ajustado.
William piscou novamente.
— Espera... você... — Ele riu, meio histérico. — Você não pode ser Morgan Freeman.
O homem sorriu, e a própria luz ao redor dele pareceu ondular.
— Uma forma que você acharia reconfortante. — Sua voz era profunda, familiar, carregada de um peso inominável. — Sua mente gosta bastante de Todo-Poderoso, pelo que soube.
William abriu a boca, depois fechou.
— Certo. Isso é uma piada. Ou uma alucinação de coma. — Ele beliscou o próprio braço por instinto, mas não sentiu nada. Seus olhos se estreitaram. — Ou... Sauron está me perturbando.
Deus—porque era isso que essa entidade deveria ser, não?—riu com gosto.
— Não, William. Isso é real.
William cruzou os braços, cético.
— Certo. Então eu morri?
— Depende da sua perspectiva.
— Essa resposta foi pior do que as de um mago. — Ele suspirou, esfregando o rosto. — Tá bom. Por que estou aqui?
Deus ergueu uma sobrancelha.
— Porque você reescreveu o destino.
A luz ao redor tremulou, e, como se um véu fosse retirado, William viu.
A menina de casaco vermelho, Clara assim ela era chamada, caída na calçada, os olhos arregalados em choque. O som da caminhonete freando. A multidão se aglomerando. A mãe dela chorando.
Mas, então, a visão mudou.
Clara, vinte anos mais velha, sentada diante de uma mesa, assinando um documento com mãos firmes. Um estandarte tremulava atrás dela—azul, branco, uma oliveira gravada em dourado. Ao seu redor, homens e mulheres em uniformes militares baixavam suas armas, olhos marejados.
O eco das palavras de Deus reverberou na alma de William.
— Aquela criança que você salvou? Seu nome é Clara. Em vinte anos, ela intermediará a paz em uma guerra que consumiria seu mundo.
A cena desfez-se em poeira dourada, dissipando-se na luz branca.
William cambaleou um passo para trás.
— Mas... eu só a empurrei. Não pensei, eu só—
— Exatamente. Instinto. Amor não calculado.
Deus se aproximou, e as galáxias em seus olhos giraram, infinitas.
— Por isso preciso de você.
William franziu a testa.
— Precisa de mim?
A luz se curvou ao redor deles, mudando. O branco infinito se partiu em fragmentos de escuridão, e um novo cenário emergiu diante de seus olhos.
Uma cidade devastada, envolta em fumaça e cinzas. Prédios ruídos, gritos ao longe. O céu tingido de um azul doentio, rasgado por relâmpagos de trevas.
O coração de William apertou.
— O que... é isso?
— Outro reino. — A voz de Deus era sombria agora. — Uma sombra cresce, William. Uma escuridão que se alimenta de medo e desespero. Se ninguém enfrentá-la, não restará nada além do vazio.
William forçou-se a respirar, embora não precisasse aqui.
— E você quer que eu lute contra isso? — Ele soltou uma risada seca. — Eu sou um bibliotecário. A coisa mais perigosa que já fiz foi citar Gandalf para um grupo de crianças na hora da leitura.
Deus inclinou levemente a cabeça, como se examinasse suas palavras.
— E Frodo era apenas um hobbit.
O silêncio caiu entre eles.
William engoliu em seco. Ele conhecia essa narrativa. Conhecia esse peso.
— Eu não sei lutar — admitiu, finalmente. — Não sei segurar uma espada.
— Mas você sabe o que é certo — retrucou Deus. — E, mais importante, sabe o que está em jogo.
O bibliotecário apertou os punhos. Seu instinto dizia para fugir, para se encolher e negar tudo. Mas então ele pensou no riso de sua mãe. No cheiro reconfortante dos livros antigos. No olhar de Clara nos segundos antes do impacto—viva, viva, viva.
— O que acontece se eu disser não? — sua voz saiu rouca.
— Você descansará. — Deus abriu as mãos. — Desaparecerá na canção, como seu Tolkien diria.
William prendeu a respiração.
— E se eu disser sim?
— Você lutará. Você salvará aquele mundo. — Deus fez uma pausa, sua voz se suavizando. — Mas carregará cicatrizes que nenhum mortal deveria para poder salvar aquele mundo.
Uma brisa sem vento passou por William, arrepiando sua pele—ou o que quer que fosse seu corpo agora.
A resposta estava dentro dele. Ele a conhecia antes mesmo de abrir a boca.
— Por que eu? — sussurrou.
Deus sorriu.
— Porque os heróis mais verdadeiros nunca escolhem ser. Eles são escolhidos... pelo o que são.
William fechou os olhos por um instante.
E então viu.
Viu o as cidades queimando sob um sol cruel. O chifre de guerra ecoando pela floresta. Sentiu o peso no seu coração.
Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado.
Ele soltou o ar e endireitou os ombros.
— Ok. — Seu olhar encontrou o de Deus. — Qual é o primeiro passo?
...
William sentiu o vazio ao seu redor vibrar, como se o próprio tecido da realidade estivesse prestes a mudar. Deus cruzou os braços, seu sorriso tranquilo e paciente, como alguém que já sabia a resposta antes mesmo da pergunta ser feita.
— O próximo passo, William, é entender sua missão.
A voz profunda ecoou como um trovão abafado, reverberando na vastidão branca e infinita. William sentiu um arrepio subir por sua espinha, mesmo sem ter certeza se ainda possuía um corpo físico naquele lugar.
— Você será reencarnado em Westeros. — Deus fez uma pausa, observando sua reação. — Sua tarefa é garantir que um Targaryen ocupe o Trono de Ferro… a qualquer custo.
O coração de William (ou algo semelhante a ele) acelerou.
— Westeros? — Ele piscou, confuso. — Como em… Game of Thrones?
— Como em As Crônicas de Gelo e Fogo, sim.
William soltou uma risada curta e descrente.
— Você tá brincando. Eu morro salvando uma garotinha e, em vez de um "parabéns, bem-vindo ao Paraíso", você me joga num mundo de guerra, traição e incesto real?
Deus riu suavemente.
— Se eu tivesse dado a opção, você realmente acha que teria escolhido descansar?
William abriu a boca para protestar… e depois fechou. Ele sabia que Deus tinha razão.
— Por que eu? — perguntou, estreitando os olhos. — Por que não resolve isso sozinho? Você é Deus.
A expressão do Criador se tornou quase divertida.
— Ah, a pergunta clássica. — Sua voz ganhou um tom professoral. — Se eu interferisse diretamente, cada escolha, cada guerra, cada ato de coragem ou covardia se tornaria… irrelevante. O livre-arbítrio define a humanidade. Eu apenas… oriento o equilíbrio.
William soltou um suspiro, cruzando os braços.
— Então eu sou um peão?
Deus inclinou a cabeça.
— Não. Um semeador. Você planta as sementes. O crescimento depende deles… e de você.
William passou as mãos pelos cabelos, sentindo a pressão da decisão pesando sobre ele. Westeros era um mundo cruel, um lugar onde o bem raramente era recompensado. Se ele aceitasse, teria que jogar o jogo.
— Se eu for pra lá, preciso de vantagens. Não sou um guerreiro, nem um rei. Sou só um bibliotecário que lê Tolkien demais.
Deus sorriu, como se já estivesse esperando por isso.
— Por isso, concederei três desejos. Dentro do razoável.
William franziu a testa, os pensamentos correndo a mil. Ele precisava de força, de aliados e de um lar.
— Primeiro: quero ser um Numenoriano. Alto, forte, vida longa… como os das histórias da minha terra mas bem mais aprimorado.
Deus assentiu.
— Feito. Mas lembre-se: até os Numenorianos caíram em arrogância.
William ignorou o aviso e continuou:
— Segundo: um povo. Cinquenta mil Numenorianos aprimorados, leais a mim.
Dessa vez, Deus hesitou por um instante antes de responder.
— Eles surgirão como exilados de uma terra distante de numenor, guerreiros, médicos, magos, construtores, marinheiros e artesãos, etc . Mas lembre-se: lealdade se conquista, William, não se herda.
William assentiu lentamente, compreendendo o que aquilo significava.
— Terceiro… uma terra. Um reino só nosso, onde gigantes, anões, worgens, elfos e tribos humanas vivam em paz. Todos fiéis a mim.
A risada de Deus ecoou como um trovão distante.
— Ambição digna de Fëanor! — Seus olhos cintilaram com um brilho celestial. — Mas ouça: gigantes não se curvam a discursos. Elfos desconfiam de corações apressados. Os Worgens temem os humanos e sobre os Worgens eles são uma raça e não propagam maldições. As Suas fidelidades viram não pela espada, mas por… alianças inesperadas e teste únicos. Você entenderá quando chegar a hora.
William passou a língua pelos lábios, sentindo a tensão no ar.
— E se eu falhar?
Deus o observou por um longo momento antes de responder:
— Então sua segunda vida terminará como a primeira: em um piscar de olhos.
O silêncio pairou entre eles como um peso invisível. Então, com um gesto sutil, Deus ergueu a mão, e um mapa surgiu diante de William.
Westeros estava ali, desenhado em detalhes etéreos, suas montanhas, rios e castelos iluminados por uma luz dourada. Mas havia algo diferente. Ao leste do reino do norte, onde antes só existia oceano, uma vasto território do tamanho do agora pairava solitária. O seu formato era familiar
— Aqui se seu refúgio e dos Numenórinos. Essa é sua terra para conquistar.
William absorveu a visão de sua nova terra, sentindo um misto de empolgação e medo. Ele ainda estava processando tudo quando Deus fez outro gesto, e, de repente, uma espada surgiu em suas mãos.
Ela era longa do tamanho de uma Claymore, feita de um metal reluzente que brilhava como ouro ao luar. As runas gravadas na lâmina dançavam com um brilho azulado, e o cabo se encaixava perfeitamente em sua palma.
— Andúril, do filme, não da história real. — Deus riu. — Brincadeira. Esta é Aurëfendë, 'Última Chama' ela tem uma habilidade de unica ela é inquebrável e é a lâmina mais afiada que existe apenas armas de aço valeriano podem resistir a ela, além disso, tem algumas outras coisas mais cabe você descobrir.
William sentiu um arrepio percorrer seu corpo enquanto passava o dedo pela lâmina. Ele mal teve tempo de processar o presente quando algo mais caiu suavemente em sua mão aberta.
Um anel de prata simples, com um símbolo de arvore e 7 estrelas nele gravações.
— Não é o apenas Um Anel e sim… um lembrete. — Deus sorriu de maneira enigmática. — Todo poder carrega um preço.
William apertou o anel entre os dedos. Ele sentiu um peso simbólico nele, como se fosse muito mais do que apenas um pedaço de metal.
— Por que você está fazendo isso? — murmurou, olhando nos olhos de Deus.
A resposta veio de imediato, firme como uma montanha.
— Porque heróis precisam de esperança. E Westeros precisa de um toque de… magia tolkieniana.
O ar ao redor começou a mudar. A luz branca cedeu a um crepúsculo dourado, e o vazio começou a se desfazer.
Deus recuou um passo, seu corpo já se tornando um borrão de estrelas.
— Oh, e William?
— O quê?
Os olhos do Criador brilharam uma última vez.
— Cuidado com as sementes que plantar. Até a mais nobre árvore pode crescer torta em solo sombrio.
William abriu a boca para perguntar mais, para exigir detalhes sobre sua missão, sobre os Targaryen, sobre seu novo povo…
Mas a luz já o engolia.
E então, tudo escureceu.
...
Numenor
O nome reverberava em sua mente como um trovão distante enquanto William abria os olhos. Ele sentiu o solo instável que a areia trazia mesmo através da suas botas de couro e o cheiro cortante de sal misturado ao aroma amadeirado de pinheiros. O vento frio da manhã soprava de além das montanhas cobertas de neve, carregando consigo a promessa de um novo começo.
Ele deu alguns passos lentamente a frente, sentindo o peso confortável de uma armadura leve, feita de prata élfica e couro escuro, tão flexível quanto resistente. Quando olhou ao redor, viu-os: 50 mil Numenorianos, erguendo acampamentos à beira-mar, suas vozes entoando um hino em Quenya, uma canção de exílio e renascimento.
Meu povo.
A palavra pulsava em sua alma como um chamado antigo, algo mais forte do que qualquer sonho ou fantasia que já tivera.
Uma mulher alta provavelmente tinha 250 cm de altura caminhou em sua direção, seus cabelos longos e negros como a noite balançando ao vento. Seus olhos eram cinza-ardente, como brasas prestes a se reacender. Ela se ajoelhou levemente, apoiando um punho cerrado contra o peito em saudação formal.
— Mára aurë, Lord Elros. — Sua voz era firme, mas carregava um respeito genuíno. — Sou Elendis. Esperamos suas ordens.
William engoliu em seco. Lord.
— Onde… estamos?
Elendis apontou para o horizonte, onde o mar escuro se estendia como uma barreira impenetrável.
— No território que você nomeou como Europa. Mas os nativos a chamam de As Terras Frígidas.
William franziu a testa. Deus havia colocado informações em sua mente sobre aquela terra. Um território vasto, quase do tamanho do próprio norte, com o formato e clima identico ao da Europa. Separado do Reino do Norte por um mar estreito, equivalente ao Mediterrâneo, um corpo d'água traiçoeiro que apenas os melhores marinheiros poderiam atravessar.
Era um lugar hostil, selvagem, mas também fértil e repleto de recursos. E ninguém jamais o reivindicara.
Por quê?
As palavras surgiram naturalmente em sua mente, como se tivessem sido gravadas ali pelo próprio Criador.
Porque aqui vivem os gigantes. Porque os elfos de gelo espreitam nas florestas noturnas. Porque os anões guardam as montanhas com ferro e fogo. Porque Worgens viviam ali. E porque tribos bárbaras espalham-se por suas terras, guerreando entre si há séculos.
Nenhum rei ousara reclamar essas terras. Nenhum lorde do sul se atrevera a cruzar o mar. Nenhum dragão valiriano havia voado sobre suas montanhas.
William sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Deus me enviou para cá por um motivo.
Ele tinha tempo.
Quinhentos anos antes da Conquista. Quatrocentos anos até a ruína de Valyria. Séculos para se estabelecer, expandir e transformar aquele território esquecido no mais poderoso reino de Westeros.
— E os gigantes? Os elfos? Os anões? Os Worgens ?— Ele olhou para Elendis, seu tom mais firme agora.
— Nas montanhas ao norte. Os gigantes recusam-se a nos reconhecer como aliados. Dizem que só respeitam a força. Os elfos de gelo não falam conosco. Apenas observam. Os anões… — Elendis lhe entregou um pergaminho lacrado. — Eles exigem ouro. E um tratado formal de não agressão. Os Worgens ainda não foram vistos...
William olhou para o pergaminho e depois para o anel de prata em seu dedo.
Alianças e desafios inesperadas, hein?
Ele respirou fundo e virou-se para os acampamentos de seu povo. 50 mil almas, confiando nele para guiá-los. Confiando que ele faria da Europa um lar.
— Prepararemos um conselho ao pôr do sol. — Sua voz soou mais confiante do que se sentia. — Quero todos os líderes presentes. E… alguém sabe fazer lembas?
Elendis arqueou uma sobrancelha, mas apenas assentiu antes de se afastar.
William caminhou até um penhasco próximo, sentindo o rugido do mar abaixo. Ele fechou os olhos e imagens das terras vastas e inexploradas diante da Europa, para as montanhas cobertas de neve, para os rios caudalosos que cortavam os campos férteis.
Não sou Gandalf. Nem Frodo. Sou só um fã de Tolkien com uma espada brilhante.
Mas então lembrou-se de Clara, da paz que ela traria ao mundo. Lembrou-se do motivo pelo qual Deus o escolhera.
"Tudo o que temos de decidir é o que fazer com o tempo que nos é dado."
Após isso ele se virou e começou a andar para o acampamento.