Mais cedo após Gabi deixar a sala da diretoria.
— Ela costuma arrumar algumas encrencas ali e aqui, mas bater em um menino? Fiquei um pouco surpresa, que bom que tudo se revolveu! — Márcia exclama aliviada enquanto olha para Marcos.
— Sim, quando eu vi a aglomeração na quadra, logo pensei que os meninos estavam brigando devido à bola de novo, ou por causa de alguma rixa boba deles. — Marcos descreve o ocorrido para Márcia enquanto se senta na cadeira a sua frente. — Mas nunca imaginei que seria a Sarah, ela tem esse jeito mais moleque de ser, e ela é bem atlética até, para uma menina, mas bater em um menino? Fiquei surpreso! Ela estava tão focada, obcecada, que mal escutava o resto das coisas ao seu redor...
— Logo todo mundo vai esquecer — Márcia complementa.
— Já está decidido então? — Marcos a questiona com um olhar de dúvida.
— Sim, o preço já foi decidido, as equipes contratadas, e todos os equipamentos necessários para a operação já foram alocados. Bem provável que semana que vem ela já comece a conhecer seu novo lar. Eles estavam procurando uma lutadora como ela! Tem alguns clientes extremamente ricos a procura de um desafio, que estão dispostos a pagar uma fortuna por uma experiência mais arriscada. — Márcia para e reflete um pouco. — Sabe... às vezes me passa pela cabeça que ela poderia um dia se tornar...
— Se tornar o que? — Ele a questiona com a expressão de quem não entendeu nada.
— Esquece!
— O pai dela concorda! O problema vai ser a mãe... — Marcos traça um possível cenário para o que vai acontecer.
— Já planejaram uma forma de se livrar dela! — Marcia pontua.
— Os amigos dela são inseparáveis, vão ficar tristes... Coitados... — Marcos pronuncia essas palavras com a face para o chão e uma rápida e supérflua expressão de pena.
— Eles vão juntos! — Márcia revela fala de forma despretensiosa enquanto olha para o teto.
— Ei ei... Isso não é arriscado demais? Os três de uma vez? — Marcos até perder a pose por um momento. — Os humanos com certeza vão ir a fundo dessa vez nas investigações, fora que nosso intervalo de operação diminuiu bastante no último ano. — Ele solta seu corpo para trás na cadeira, também jogando sua cabeça para trás e lançando um olhar para o teto enquanto dá uma leve coçada na cabeça com as pontas dos dedos. — Mesmo sendo inferiores, eles são numerosos, sua tecnologia evoluiu bastante nos últimos anos. Um dos nossos morreu na fronteira com o Deserto da Criação, recentemente.
— Quem? — Marcia esboça uma expressão de surpresa.
— Lembra do Mishigan? Que queria ir até Atlás para se tornar um membro de elite do Tóquio? Ele se envolveu em uma briga com um humano em um dos pontos de partida para a jornada de fogo. Dizem que ele se perdeu o controle, e vários humanos que guardam a fronteira atiraram contra ele... Não que ele fosse forte, mesmo assim, ele ainda era superior.
— Ele sempre foi cabeça quente, mas ser morto para um humano? Melhor ficarmos atentos! O transporte será feito por um grupo de sequestradores especializados da raça deles, isso deve evitar que suspeitem de nós caso algo de errado. Tem muito dinheiro dessa vez, essa operação não pode falha.
Ela pausa sua fala por um tempo enquanto observa as fotos que estão enquadradas na parede, são das turmas que se formaram com destaque.
— A escola vai ficar triste por um tempo, mas vão superar, depois das investigações e mais algum tempo, isso ficara no passado. E o tratamento lá é bom, os três são jovens e bonitos, estão na flor da juventude, vão ser populares! — Márcia pontua enquanto lança um olhar de canto para Marcos.
— Bom, se já está tudo resolvido... Espero que tudo dê certo! Esse dinheiro que vai entrar com essa nova aquisição, vai alavancar o financiamento dos projetos em Ayda. — A expressão de Marcos muda de indecisão e preocupação para a de alguém que está pensando em algo, ele abre um sorriso e se levanta da cadeira em direção a porta, então ele para pôr um momento e se vira para Márcia. — Então... mês que vem acho que vou comprar aquele carro novo que tanto queria, e você?
— Vou pedir minha licença da escola, já não suporto mais esse lugar, vou me mudar para o litoral e me afastar de tudo isso.
— Entendo, eu também vou sumir dessa periferia de merda, não sei como vim parar aqui! — Com uma cara de nojo ele reclama e desdenha do local.
— Você sabe sim! Esse foi o único motivo de você ter vindo para cá, assim como eu! — Márcia joga essa verdade na cara dele.— É verdade... — Com essas últimas palavras que saem com um tom levemente amargurado, ele dá um leve sorriso e sai da sala fechando a porta.
Alguns minutos após Marcos já ter deixado a sala, Márcia se encontra encarando um pequeno telefone branco no canto da mesa a sua frente, ela observa seus botões vermelhos com números na cor branca, ela abre uma gaveta na parte de baixo da mesa, e após procurar um pouco, ela encontra uma grande pasta amarela, ao jogá-la sobre a mesa e abri-la, vários papeis, são revelados.
Depois de folheá-los, ela encontra um que chama sua atenção, sem perder tempo ela pega o telefone com a mão esquerda o prendendo com o ombro próximo a seu ouvido. Em seguida começa a discar números com a mão direita, enquanto seu polegar esquerdo está apontado e desliza levemente pelo papel.
Depois de vários segundos de espera e quase desistir da ligação ela escuta o retorno.
— Alô quem é? — Uma voz feminina surge do telefone. — Leila, não dá para explicar direito agora, me encontre sábado à noite no parque em volta do lago, tem algo muito importante que preciso falar para você. — Márcia desliga o telefone e dá um profundo suspiro, em seus pensamentos ela se pergunta o que está fazendo, um belo sorriso de uma menina linda surge em sua mente, mas logo some na escuridão.