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Chapter 27 - Capítulo 27 – O Primeiro Alvo

O peso da responsabilidade recaía sobre os ombros de Arthur como uma sombra densa e implacável.

Na penumbra da câmara de reuniões da Sombras do Crepúsculo, o jovem caçador mantinha-se firme diante do mestre da guilda, Silas, um homem de olhar frio e penetrante, cujas palavras carregavam a gravidade de uma sentença.

Sobre a mesa de carvalho negro, repousava um pergaminho selado com o emblema da guilda. Sem hesitar, Arthur estendeu a mão e rompeu o lacre, revelando o conteúdo de sua primeira missão oficial.

O nome inscrito no papel parecia ressoar em sua mente como um presságio de sangue e mistério.

"Marcus Veldrin – Traidor da Sombras do Crepúsculo"

Arthur ergueu os olhos, buscando nos traços impassíveis de Silas alguma pista sobre a real natureza da tarefa.

— Um traidor? — questionou, mantendo a voz neutra, embora sentisse o coração acelerar levemente.

Silas inclinou-se para frente, entrelaçando os dedos sobre a mesa. A luz bruxuleante das velas projetava sombras dançantes sobre seu rosto afiado e impenetrável.

— Sim — respondeu ele, sua voz um fio de aço revestido de gelo. — Marcus já foi um de nós. Possuía acesso a informações restritas, segredos que jamais deveriam ser compartilhados com o mundo exterior. Mas a ganância, ou talvez o medo, o levou a trair a confiança da guilda. Ele desapareceu sem deixar rastros, mas nossos informantes indicam que está escondido em algum lugar da cidade baixa de Valderon.

Arthur franziu levemente o cenho.

— E qual é a extensão da traição dele?

Silas o observou em silêncio por um momento antes de responder.

— Ele vendeu informações sigilosas. Dados sobre missões, identidades de agentes, rotas seguras. O suficiente para comprometer operações inteiras e colocar nossos membros em risco.

Arthur assentiu lentamente. O código da Sombras do Crepúsculo era claro: a traição não era perdoada.

— Então querem que eu o elimine… — murmurou, mais para si mesmo do que para seu mestre.

— Precisamente — confirmou Silas, sua expressão inalterada. — Sem rastros. Sem testemunhas.

Arthur fechou o pergaminho e guardou-o dentro de seu manto.

— Considerem isso feito.

Ele girou sobre os calcanhares e saiu da sala sem olhar para trás, sentindo o peso invisível da missão recém-atribuída pressionando seu espírito.

A partir daquele momento, sua lâmina pertencia à escuridão.

A noite abraçava Valderon como um manto de sombras e mistério, transformando suas ruas sinuosas em um labirinto de perigos ocultos.

Arthur moveu-se com a precisão de um predador treinado, misturando-se à penumbra das vielas estreitas. O tecido escuro de sua vestimenta absorvia a pouca luz ambiente, tornando sua presença quase indistinguível para os olhares desatentos.

A cidade baixa era um território de contrastes. Lâmpadas a óleo lançavam uma luz amarelada e trêmula sobre tavernas decadentes e becos saturados pelo cheiro agridoce de álcool e fumaça. Risadas roucas e murmúrios conspiratórios preenchiam o ar, entrelaçando-se com o tilintar de moedas e o ranger de tábuas desgastadas.

Arthur seguiu as instruções deixadas por Silas.

Seu alvo, Marcus Veldrin, costumava frequentar uma taverna específica nos arredores da praça dos Mercadores Noturnos.

Aquele seria seu primeiro passo na trilha da morte.

A estrutura da taverna erguia-se como um monumento decadente à corrupção e ao vício. Suas janelas estavam encardidas pelo tempo, e as portas de madeira apresentavam marcas de lâminas e punhos impacientes.

Arthur entrou sem chamar atenção.

O ar lá dentro era carregado de umidade e fumaça, misturado ao aroma inconfundível de cerveja envelhecida e carne assada em fogo baixo.

Ele varreu o ambiente com um olhar rápido, absorvendo cada detalhe.

Homens e mulheres se aglomeravam em mesas desgastadas, jogando dados, bebendo em excesso e sussurrando acordos ilícitos.

E então, ele o viu.

Encostado no balcão, vestido com um manto de tecido grosso, estava Marcus Veldrin.

A cicatriz em sua sobrancelha direita confirmava sua identidade.

Marcus não estava sozinho. Um homem de aparência discreta conversava com ele em voz baixa, lançando olhares furtivos ao redor.

Arthur não se moveu imediatamente. Sabia que a pressa era inimiga da precisão.

Ele precisava de paciência.

Arthur se sentou em um canto escuro da taverna, pedindo uma bebida apenas para manter as aparências.

Seu foco estava na conversa que se desenrolava a poucos metros de distância.

— …não podemos mais confiar neles — murmurou Marcus, sua voz grave e cautelosa. — Se descobrirem onde estou…

O outro homem assentiu, apertando os lábios.

— Acha que vão mandar alguém atrás de você?

Marcus soltou um riso amargo.

— Não acho. Eu tenho certeza.

Arthur observava sem demonstrar qualquer reação.

Marcus sabia que estava marcado para morrer.

Mas o que ele quis dizer com "não podemos mais confiar neles"?

Arthur continuou esperando.

A melhor forma de capturar uma presa era deixá-la acreditar que estava segura.

Após algum tempo, Marcus e seu interlocutor encerraram a conversa. O homem se retirou, e Marcus permaneceu no balcão por mais alguns minutos antes de pagar pela bebida e sair.

Arthur deixou sua caneca de lado e levantou-se discretamente.

A caçada recomeçava.

As ruas estavam silenciosas, envoltas pela brisa noturna que carregava o cheiro distante de madeira queimada e terra molhada.

Marcus caminhava rápido, ocasionalmente olhando por cima do ombro.

Arthur o seguiu, mantendo-se nas sombras, sincronizando seus passos com o ambiente para não ser detectado.

Quando Marcus virou para um beco estreito, Arthur soube que aquele era o momento certo.

Movendo-se como uma sombra, ele avançou.

Antes que o alvo percebesse sua presença, Arthur agarrou-o pelo pescoço e o empurrou contra a parede fria.

Marcus arfou, seus olhos arregalados de surpresa e reconhecimento.

— Quem…?! — Ele tentou reagir, mas Arthur pressionou uma lâmina contra sua garganta.

O silêncio reinou por alguns segundos.

Marcus respirou fundo e, em um tom baixo, murmurou:

— Então eles me encontraram…

Arthur permaneceu impassível.

— Fale.

Marcus hesitou, como se estivesse ponderando até onde poderia ir.

Então, antes que pudesse pronunciar a próxima palavra…

Uma flecha surgiu da escuridão.

Ela cravou-se no peito de Marcus, interrompendo sua confissão.

Arthur recuou instintivamente.

Marcus cambaleou, ofegante, seus olhos demonstrando surpresa e fúria.

Ele caiu de joelhos.

— Malditos… — murmurou antes de desabar no chão, morto.

Arthur ergueu o olhar para o beco escuro.

O atirador já havia desaparecido.

Mas a mensagem era clara.

Alguém queria Marcus morto antes que ele revelasse algo importante.

Arthur sentiu um arrepio.

E, naquele momento, soube que sua missão estava apenas começando.