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Mais Brilhante que a Luz

🇧🇷aakkado
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Synopsis
Em um mundo colossal que se apaga lentamente, onde reinos inteiros sucumbem ao tempo e à corrupção, Deimos Inferrus caminha sozinho, carregando o peso de uma maldição arcana. Marcado por um poder alienígena que gera uma substância sombria chamada Atramentum, ele é incapaz de morrer ou envelhecer, testemunhando o ciclo eterno de ascensão e queda.
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Chapter 1 - Capítulo 1 - O Garoto de Preto

Iluminado pela tímida luz do luar, um garoto todo trajado de breu permanecia em silêncio. Suas mãos unidas diante do corpo pareciam oferecer um pedido de desculpas — ou, talvez, desejar paz à alma do cadáver à sua frente. Ele não gostava de matar. Nunca gostou. Mas, às vezes, era necessário.Entre as ruínas desmoronadas do outrora grandioso Império de Prata, sua silhueta solitária vagava, delineada pela frieza das pedras e pelo brilho pálido da lua. O rapaz, de estatura média, carregava o peso do mundo nos ombros. Seus cabelos negros e despenteados caíam sobre a testa e a nuca, mas não conseguiam esconder os olhos sombrios — um púrpura como o crepúsculo, o outro negro como a noite. Eram olhos que já haviam testemunhado horrores demais."Me dá um tempo," murmurou ele, sua voz ecoando nos vastos salões de mármore. As palavras se espalharam, alcançando as infindáveis escadarias que serpenteavam a arquitetura colossal ao seu redor."Tá, tá. Eu entendi! Precisamos nos apressar e achar essa tal chave. Mas esse lugar é imenso... Cada degrau dessas escadas é metade do meu tamanho," resmungou, mais para si mesmo do que para qualquer outra coisa.A reclamação foi interrompida de súbito por um som distante — um eco metálico que cortou o silêncio como uma lâmina. Ele congelou. Não estava sozinho.De repente, o silêncio sufocante foi dilacerado por um barulho infernal: o marchar de cascos misturado a grasnados grotescos. Ele estreitou os olhos, ouvindo atentamente."As crias do Poço," murmurou com desdém. "Já esperava que não fôssemos os únicos a vir para cá. Mas pensar que até essas criaturas sentiram o poder da chave..."Sua linha de raciocínio foi abruptamente cortada. Um raio, rápido e feroz, explodiu próximo aos seus pés. Fragmentos de mármore voaram no ar."Um mago!" exclamou, recuando com um misto de irritação e alerta. "E um que sabe conjurar magia de raio. Parece que eu peguei a sorte grande..."O som perverso de mil estalos elétricos encheu o salão, cada faísca parecendo buscar sua próxima vítima. Ele agiu por puro instinto, deixando-se cair para trás, escapando por pouco da descarga letal. A respiração acelerada ecoava em seus ouvidos, misturada ao som da energia residual dançando no ar.Então, uma voz masculina, grave e carregada de soberba, cortou o tumulto."Deimos... o infame Deimos está aqui para salvar o dia."Deimos estreitou os olhos, escondendo-se nas sombras enquanto a voz retumbava pelo salão. "Não sabia que eu era tão famoso," respondeu ele, com um toque de sarcasmo.O mago, impaciente, concentrou sua energia. Um disparo violento explodiu contra os pilares que sustentavam o piso onde Deimos estava. Com um estrondo, dois andares da estrutura colossal desabaram. O impacto esmagou dezenas das crias do Poço, e as que sobreviveram fugiram instintivamente. Elas sabiam que aquele era o campo de batalha de monstros ainda mais terríveis.Deimos emergiu dos escombros, terrivelmente machucado. Sangue escorria de várias feridas, tingindo de carmim suas roupas já negras. Ele encarou o mago, que exibia um sorriso distorcido... até que seu rosto congelou em horror.Uma substância escura e viscosa começava a misturar-se ao sangue do rapaz."O que... o que é isso no seu sangue?!" perguntou o mago, sua voz tremendo de choque e repulsa. Deimos ergueu o olhar, um sorriso exausto e sarcástico cruzando seus lábios."Meu sangue? É tão puro e imaculado quanto a minha alma... e a sua, é claro."Com um gesto lento, ele retirou uma cruz em forma de espada quebrada presa à cintura. "Lendária espada sagrada, despedace meu inimigo!" gritou, com ironia. O mago hesitou por um instante, antes de perceber a zombaria."Um clichê como o da espada sagrada é real?" gargalhou Deimos, divertindo-se com a raiva crescente de seu adversário. Furioso, o mago lançou ataques desordenados e precipitados, perdendo o controle.Enquanto o sangue escorria pelos dedos de Deimos, a substância negra começou a envolver a cruz. Uma lâmina etérea de ônix se formou — mais escura que uma noite sem lua, mas com um brilho ilusório que oscilava entre um pálido azul e um roxo profundo.O impacto da espada com os ataques do mago gerava faíscas no ar. Cada golpe da lâmina rasgava as ondas elétricas como se fossem meras sombras. O mago, perplexo, conjurou um muro de pedra em um esforço desesperado para deter seu adversário.Deimos cortou a palma da mão esquerda, deixando o sangue escorrer pelo chão. A substância viscosa se espalhou, transformando o chão em plataformas que o impulsionaram para o alto, superando a barreira. No topo, a figura de Deimos, com um de seus olhos emitindo um perverso brilho púrpura, parecia a de um predador. Isso colocou pavor nos olhos de seu inimigo."Zephyr," disse o mago, em um tom grave.Deimos permaneceu em silêncio."Meu nome," continuou o homem, "é Zephyr. Achei que você merecia saber o nome do homem que vai lhe dar um fim.""Que assim seja," respondeu Deimos, saltando novamente e espalhando mais de seu sangue ao redor.Zephyr reuniu suas forças, materializando uma esfera metálica brilhante, concentrando uma descarga de energia letal para exterminar o garoto. Antes que pudesse agir, os espinhos de ferro e sangue que brotaram ao redor de Deimos o cercaram.Mas o mago tropeçou, caindo de joelhos."Eu achei que você sabia o que estava fazendo," disse Deimos, pousando ao lado dele. "Sabe, por causa dos raios e tal. Mas parece que todo usuário do Éter esquece que nada vem sem preço.""Eu invejo vocês... muito, na verdade. Suas habilidades vêm da razão, da iluminação e bla, bla, bla. Podem criar fenômenos incríveis e coisas a partir do nada. Mas meu poder? Ele apenas corrompe. Ele vem da emoção.""Eu queria não ter que fazer isso, mas você está atrás da chave e é um homem muito perigoso para ficar por aí," disse Deimos, com uma expressão sombria enquanto cravava a espada etérea no peito do homem.Iluminado pela tímida luz do luar, Deimos, todo trajado de breu, permanecia em silêncio. Suas mãos unidas diante do corpo pareciam oferecer um pedido de desculpas — ou, talvez, desejar paz à alma do cadáver à sua frente. Ele não gostava de matar. Nunca gostou. Mas, às vezes, era necessário. Ainda assim, a culpa continuava lá, um peso que jamais desaparecia. No fim, tudo o que restava era o silêncio — e ele o aceitava.