Chereads / Quando a Água Conduz o Amor / Chapter 1 - Do Refúgio Ao Encontro

Quando a Água Conduz o Amor

Sorr4yla
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Synopsis

Chapter 1 - Do Refúgio Ao Encontro

05:27

 Pelo excesso de pesadelos causados pela noite passada, Heitor, já cansado, se manteve acordado e se sentou na rede em que dormia. O homem olhava pela janela de seu quarto, assistindo ao mar calmo que se conectava com o vilarejo. Ele estava com olheiras profundas, sem contar que estava bem estressado e exausto pelos sonhos frequentes com sua mãe.

 Parecia temer a possibilidade de dormir de novo. De tão cansado que estava, ele poderia dormir por horas seguidas sem nem se mexer, mas seu papel como futuro líder não permitia isso. Ele tinha que substituir seu pai no serviço, pois o homem já estava velho demais para o trabalho tão importante e valorizado pelo vilarejo.

 Numa ação de refúgio sob todo o cansaço mental que estava sentindo, o homem se levantou de sua rede, pegou sua melhor vara de pesca, junto de algumas iscas. Ele deixou um bilhete em cima da rede, avisando que estava de saída, para que seu pai não se preocupasse com sua ausência. Logo, Heitor saiu pra pescar; não havia nenhum método melhor para relaxar senão aquele.

 O rapaz caminhou até um canto isolado, coberto por árvores, onde o acesso ao mar era facilitado. Riachos corriam pela borda do pequeno espaço de solo que havia ali, fazendo daquele lugar o preferido de Heitor. Mesmo com a escuridão à sua volta, ele não hesitou em se sentar no chão de madeira que cobria todo o vilarejo, mergulhou os pés na água e começou a preparar a isca para pescar.

 Ele arremessou a linha até a água, não pretendia pescar nenhum peixe naquele momento, mas não podia deixar de sentir uma pontinha de esperança de, a qualquer momento, poder sentir algo pegar a isca, nem que seja só um salmão ou uma sardinha qualquer.

 Heitor mal conseguia se manter acordado, sendo o sono que o impedia de ficar alerta quando viu um par de olhos brilhantes o encarando com um olhar predatório. Pareciam olhos humanos, porém levemente deformados, com pupilas finas como as de gato relaxado.

 O ser subaquático se aproximava com cautela, lentamente chegando perto dos pés do homem, ele nem se preocupou em se mexer, achava que fingir que não se importava poderia fazer o ser perder o interesse e simplesmente sair do seu campo de visão pra deixá-lo pescar em paz. Um grande erro.

 Antes que tivesse tempo de se dar conta, o ser agarrou os pés de Heitor com suas mãos humanóides, apertando suas garras nos tornozelos do homem, dando-lhe uma descarga elétrica intensa que percorreu seu corpo dos pés à cabeça. Podia sentir seus músculos se contraindo de forma extrema enquanto tentava ao máximo fazer aquilo parar.

 Ele chorou enquanto tentava lutar contra aquela tortura física, mas a cada pulsar de eletricidade que percorria suas veias, fazia Heitor se engasgar com seus próprios gritos que se prendiam em sua garganta de forma sufocante, quase mais do que os desgastes elétricos, era a dor de não conseguir gritar por ajuda.

 Depois de no máximo cinco minutos de pura eletricidade, o ser finalmente cansou de tanta energia gasta e o soltou. O homem, com um último reflexo, bateu na criatura com vara de pescar, cortando-o no rosto e o espantando-o de volta pro oceano, isso antes de deitar no chão, atrás dele, e aguentar os espasmos.

 Sentia fortes espasmos musculares, uma tontura nauseante, enquanto respirava fundo e constantemente pra lidar com os batimentos irregulares do coração, gemia de dor enquanto chorava. Aquilo era uma tremenda irresponsabilidade, vindo de um futuro líder como ele. Sentia uma culpa tremenda acompanhada da dor.

 O homem precisou aturar o seu próprio corpo traindo os comandos que tentava mandar, respirando fundo antes de, hesitante, massagear seus tornozelos e soluçando devido ao choro recente, ficando alí por um tempo antes de lentamente se levantar e pegar suas coisas. Olhava para o horizonte, vendo o sol das seis da manhã se manifestando aos poucos. Sendo essa a maneira mais constrangedora pra ele iniciar a manhã.

 Heitor andou cuidadosamente de volta para casa, refletindo sobre o ser que lhe machucou, talvez estivesse simplesmente cansado demais para distinguir o que viu, pelo que sentiu em seus tornozelos antes da tortura, o toque parecia semelhante ao de um ser humano, mas com toques de escamas, algo de se esperar de um ser subaquático.

 Porém, antes de finalizar seu raciocínio, seus joelhos vacilaram, fazendo-o precisar se escorar na parede de uma casa qualquer para não cair. Ele realmente estava fraco demais para fazer qualquer coisa depois de ter levado um choque tão grande quanto aquele, tinha certeza de que, de forma humilhante, havia se criado um trauma alí mesmo. Mal podia pensar no que havia acontecido há pouco tempo sem se arrepiar de agonia.

06:34

 Levou uns longos minutos de sofrimento prolongado de Heitor, mas o rapaz finalmente chegou em casa onde seu pai já estava de pé. Era um homem de 1,90m de altura e setenta anos recém completados, chamado Jacó, com o olhar sempre sério e penetrante, porém tinha seu próprio jeito pra mostrar carinho quando precisava.

 O senhor estava cozinhando enquanto fazia pausas para tomar seu café, sempre costumava fazer panquecas para o café da manhã e pra ter de sobra para comer nos intervalos entre as refeições. Suas receitas eram uma simples, porém valiosa herança de sua família, todas com aquele gosto de união e nostalgia.

 Assim que Heitor entrou, ele se sentou na cadeira mais próxima e baixou a cabeça, suspirando fundo. O senhor caminhou até ele, preocupado por seu filho, normalmente tão ágil e forte como ele, estar tão vulnerável daquele jeito. Jacó se sentou ao lado do rapaz e o observou com cuidado. Tentou tocar o ombro dele, mas Heitor recuou quase de imediato.

 — Criança... Aconteceu algo na pesca? Suas olheiras estão fundas...

 Heitor mal sabia como responder, hesitante, ele abraçou a si mesmo enquanto os espasmos em seus músculos respondiam por ele. Fazia tempo desde última vez que se sentiu tão vulnerável assim antes.

𝐒𝐨𝐫𝐫𝟒𝐲𝐥𝐚♡