Chereads / A Maldição do Vilão da Novel / Chapter 2 - Capítulo 01 - A Jornada Começa (1)

Chapter 2 - Capítulo 01 - A Jornada Começa (1)

Deitado sobre o chão gelado, cercado por rostos conhecidos, eu sentia o peso das emoções que me envolviam: revolta, desilusão, dor.

A chuva impiedosa tentava lavar a mancha indelével do meu erro, mas apenas intensificava a atmosfera carregada de tensão.

Uma mulher se aproximava, a lâmina de sua espada brilhando friamente sob o céu cinzento.

A espada apontava diretamente para mim.

Seus olhos transbordavam lágrimas, que refletia a tormenta em seu coração.

"Evan! …Por que? Por que fez isso?"

A voz dela atravessou o ar como uma lâmina, atingindo meu coração com uma dor aguda.

Lutando para respirar, eu sentia o peso de minhas escolhas me esmagando implacavelmente.

Eu também me perguntava o porquê.

'Por que eu escolhi esse caminho?'

Sabia que ficar me perguntando coisas desse tipo seria em vão.

Nada poderia mudar o que estava feito.

Minhas feridas físicas eram insignificantes comparadas à agonia que sentia.

Cada escolha, cada passo ao longo do caminho ecoava em minha mente como uma dolorosa lembrança dos meus erros.

Com as últimas forças que me restavam, ergui os olhos para ela, buscando uma centelha de compreensão em seu olhar magoado.

Abri minha boca para dizer algo, mas ela olhou para mim, como se realmente esperasse uma boa resposta.

Naquele pequeno tempo pensei no que poderia dizer.

'Se eu revelar a verdade, expor meus motivos e implorar por ajuda, as coisas irão mudar?'

'Não!'

'Claro que não.'

'E se eu pelo menos me desculpar? Sem um bom motivo também não irá dar certo'

 

Pensei em várias coisas, respostas diferentes, vários motivos, desculpas, mas de alguma maneira senti que nenhuma resposta iria satisfazer suas dúvidas.

Depois de tanto pensar, fechei minha boca novamente e desviei o olhar.

Achei que seria mais fácil.

Ela hesitou por um momento, a lâmina estava tremendo levemente em sua mão.

Com um movimento lento e deliberado, ela se ajoelhou sobre mim, colocando os joelhos no chão.

Em seguida, posicionou-se sentada sobre minhas pernas, com a espada apontada para meu peito.

A proximidade dela tornou a dor emocional ainda mais intensa, cada lágrima que caía de seus olhos parecia queimar minha pele.

"Se não me responder, eu realmente vou te matar."

Fiquei quieto.

"Haaa…"

Um suspiro pesado escapou de seus lábios, seus olhos estavam transbordando uma tristeza.

Antes que eu pudesse tentar explicar, uma súbita explosão de luz envolveu o cenário.

O chão tremeu sob nossos pés e um vento feroz uivou entre nós.

Uma figura familiar apareceu diante de nós. Arthur, com sua presença imponente, atravessou a multidão.

"Isso é o suficiente."

Sua voz era firme, mas não hostil.

"Antes de julgarmos, precisamos entender. Evan, o que está acontecendo?"

Olhei para eles, ainda deitado sobre o chão frio, pensando na pergunta que tinha escutado.

'O que está acontecendo?'

'Verdade. O que aconteceu? Quando foi que as coisas começaram a dar errado? …Se me lembro bem, foi naquele dia.'

—————————————————————————————————

"Sigh"

Eu estava perdido em um mar de incertezas e dúvidas sobre o rumo que minha novel deveria tomar.

Atualmente tenho 22 anos, estou morando sozinho e tentando ganhar a vida escrevendo.

Minha novel havia alcançado um ponto crucial onde qualquer erro poderia resultar no ódio eterno do meu público.

Eu sabia disso porque já estava vendo comentários engraçados no capítulo anterior.

'Autor, seu maldito. Se Deuses existem, eu desejo que você sofra tanto quanto o Evan.'

"Hahaha."

Não consegui evitar a risada.

Deixando aquilo de lado, eu tinha dois dias até o prazo final.

"Acho que vou descansar por ora."

Soltei um bocejo, sentindo o peso do sono me envolver enquanto me levantava da cadeira e me dirigia para minha cama.

"Por ora, vamos deixar assim." murmurei para mim mesmo, desligando as luzes e me acomodando confortavelmente sob as cobertas.

Eu não sabia que final eu traria para minha novel, mas também não estava com pressa.

Enquanto caia em pensamentos, adormeci.

—————————————————————————————————

Ao abrir os olhos, tudo parecia diferente. O teto não era familiar, minhas costas doíam e uma sensação de estranheza pairava no ar.

"…Por que minhas costas estão doendo?"

Murmurei confuso.

Olhei ao redor e o choque da realidade me atingiu em cheio.

"Porra… Onde eu estou?"

Eu não reconhecia o lugar.

Certamente não era minha casa.

Me levantei, tentando entender o que estava acontecendo.

Eu lembrava nitidamente de estar escrevendo minha novel na noite anterior antes de dormir, então não fazia sentido estar ali.

Ao abrir uma porta, encontrei duas crianças dormindo em camas separadas, um menino e uma menina.

O menino, que estava despertando, me encarou sonolento.

"Irmão, não era hoje que você ia para a Spectra? Fiquei espantado."

'Spectra? Irmão? Por que esse garoto está me chamando de irmão?' 

Este era o nome da academia de heróis em minha novel.

"…"

Um sentimento de apreensão tomou conta de mim enquanto eu entrava no banheiro e encarava meu reflexo no espelho.

Congelado, percebi que não era eu.

Minha mente se recusava a aceitar o que via.

Cada detalhe ao meu redor parecia intensamente real, mas absurdo ao mesmo tempo.

Toquei meu rosto, tentando me convencer de que tudo aquilo era apenas um sonho maluco.

Mas os olhos vermelhos refletidos no espelho… eram inconfundíveis.

Eu estava dentro da minha novel, encarnando Evan, um dos vilões da história.

As crianças, Noah e Emma, estavam acordadas.

"Uaaah…"

"Irmão, se você não se apressar, vai se atrasar no seu primeiro dia," disse a garota, bocejando.

'Irmão?…'

O título soava estranho, como uma peça que não encaixava.

Eu era um estranho naquele corpo, naquela casa, e mesmo assim as duas crianças confiavam em mim. Era como se eu estivesse vivendo um papel para o qual não fui treinado.

Emma me encarava, como se esperasse uma resposta.

Eu abri a boca, mas nada saiu.

'O que eu deveria dizer a ela? Como eu faria isso parecer normal?'

No meio do silêncio, ouvi meu próprio estômago roncar, e me dei conta de que a fome começava a pesar.

Engoli em seco, decidindo ao menos tentar agir como se fosse… Evan.

"Noah, Emma, vocês estão com fome?"

Tentei soar o mais natural possível.

Eles responderam afirmativamente, e me dirigi à geladeira.

Misturei alguns ingredientes simples que encontrei nos armários.

"Não se preocupem, vou preparar algo rápido para vocês."

Enquanto preparava o café da manhã, Noah e Emma me observavam com curiosidade.

"O que você vai fazer para a gente, Evan? — perguntou Noah, esfregando os olhos."

"Algo rápido e gostoso."

Enquanto fritava ovos e preparava torradas, tentava processar a situação surreal.

Estava no corpo de Evan, cuidando dos irmãos que ele protegia. Precisava manter a calma e entender o que estava acontecendo.

Depois de servir o café da manhã, sentei-me com eles à mesa.

"Comam devagar e aproveitem."

Noah e Emma começaram a comer, e levantei-me para ir ao quarto.

Se tudo aquilo era realmente real eu precisava me preparar para o dia.

No quarto, encontrei o uniforme da Spectra em cima de uma cômoda.

Era uma jaqueta azul escura e preta com detalhes prateados, uma camiseta preta de tecido leve e respirável com o logotipo da academia. As calças pretas e os tênis pretos completavam o conjunto.

'Pensando bem, na minha novel, eu não especifiquei como era o uniforme da academia.'

"Droga! Foco!"

Antes de sair, voltei até a cozinha, onde Noah e Emma ainda estavam terminando o café da manhã.

Eles olharam para mim com curiosidade, como se já notassem uma estranheza no meu jeito.

"Eu… vou sair agora, mas volto logo."

"Fiquem aqui e se comportem, tá bom?"

Noah assentiu, enquanto Emma perguntava:

"Vai ser seu primeiro dia na Spectra, né? Você vai nos contar tudo depois?"

Forcei um sorriso para tranquilizá-los.

"Claro, vou contar tudo."

Eu falava em um tom natural. Mas tentava ignorar o peso do nervosismo no estômago.

Saí da casa e caminhei apressado pela rua.

Se as coisas fossem como eu havia descrito, a casa de Evan não deveria estar longe da Spectra.

"…"

"…."

O cenário à minha volta parecia ao mesmo tempo familiar e estranho, como um lugar saído diretamente das páginas da minha novel.

'Por que isso está acontecendo comigo?'

Respirei fundo, olhando a cidade ao redor enquanto seguia em direção ao meu destino.

Enquanto caminhava pela rua em direção à Spectra, observava a cidade ao meu redor com uma mistura de espanto e descrença.

Tudo era como eu havia imaginado, mas carregava um toque mais real.

A Spectra, a maior academia de heróis do mundo, se erguia imponente ao longe, e era quase como se toda a cidade tivesse sido construída para rodeá-la.

Era comum em outros lugares que escolas, negócios e a própria comunidade se estabelecessem ao redor de uma cidade, mas aqui tudo gravitava em torno da Spectra, como se a vida pulsasse a partir de seu centro.

Ao meu redor, pessoas de todas as idades seguiam seus caminhos, alguns estudantes da Spectra em uniformes, mas também trabalhadores e moradores locais, passando apressados em ruas movimentadas.

A cidade não era exatamente próspera em todos os cantos.

Lojas modestas e casas mais humildes misturavam a prédios de luxo e centros de comércio mais novos.

Era um contraste marcante: famílias simples e trabalhadores que, talvez, tivessem se mudado para cá em busca das promessas de oportunidades e melhores condições, e aqueles que realmente tiravam proveito da cidade.

"Se tudo estiver certo… estou no ano 2031"

"…"

Meus passos estavam pesados, e um sentimento de apreensão misturado à empolgação crescia conforme eu me aproximava da Spectra.

Logo, a academia se destacava diante de mim.

Uma estrutura de concreto e metal, arrojada e moderna, mas sem o brilho excessivo da ficção científica.

A entrada era imponente, com o portão de aço escuro refletindo o céu. Linhas de luz percorriam as bordas dos painéis da fachada, dando ao edifício uma aparência digna da tradição e poder que ele representava.

Parei por um momento, apenas para contemplar a Spectra.

Esta era a academia que eu havia criado em minha novel, mas agora ela estava ali, concretizada diante de mim, como um monumento feito de ambição e rigor.

Ao atravessar o portão senti algo percorrer meu corpo.

'Se me lembro bem, a Spectra tinha um sistema de segurança para saber quem estava entrando na academia'

Já dentro da academia tudo parecia mais movimentado, grupos de estudantes se moviam em todas as direções, o som de vozes e passos ecoando pelos corredores.

Alguns pareciam conversar animadamente, outros estavam concentrados em seus cadernos e tablets, absorvidos pelo cronograma exigente de treinamento da Spectra.

Estar ali, cercado por tantos rostos desconhecidos, me fez sentir um nó no estômago.

Por mais que eu tivesse criado aquele mundo, era impossível não me sentir um completo estranho.

Respirei fundo, tentando conter a ansiedade e uma estranha excitação.

Eu precisava confirmar se tudo aquilo era real.

Passei pelos corredores principais, observando os detalhes da Spectra, mesmo que eu tivesse escrito sobre ela, era impossível ter adicionado todos os detalhes em textos.

Por isso não pude evitar de ficar surpreso, já que estava vendo coisas que nem eu mesmo conhecia.

As paredes eram adornadas com painéis que exibiam símbolos antigos e academias parceiras.

À esquerda, notei uma sala de treino com janelas de vidro reforçado; alunos treinavam lá dentro com armas e habilidades mágicas, suas expressões estavam focadas em cada movimento.

Alguns usavam trajes de combate, outros apenas o uniforme padrão.

Tudo parecia normal para o dia a dia de uma academia dedicada a formar heróis.

Mais adiante, avistei um setor de armas, protegido por um campo de segurança que mantinha as espadas, lanças e outros equipamentos em exposição, organizados e prontos para serem usados.

Não pude deixar de sentir um arrepio ao ver aqueles instrumentos, imaginando os desafios que eu possivelmente enfrentaria.

Puxei um pedaço de papel dobrado do bolso, o mesmo que havia encontrado no quarto de Evan naquela manhã.

Ele continha as informações básicas sobre minha turma.

"3º andar: Sala A-10."

Murmurei baixinho, sentindo um calafrio ao lembrar o peso daquele número na história.

'Se estou mesmo na pele de Evan, isso significa que estou prestes a encontrar personagens que conheço até o último detalhe… personagens que criei.'

Enquanto seguia pelo corredor até a sala A-10, notei como os outros estudantes olhavam para mim de relance, alguns com curiosidade, outros com indiferença.

Ninguém parecia perceber que eu estava mais perdido do que eles poderiam imaginar. O fluxo constante de vozes e passos era ao mesmo tempo familiar e avassalador.

Quando finalmente cheguei à porta da sala, um arrepio percorreu minha espinha, e meu coração começou a bater mais rápido.

Olhei para a janela ao lado e notei uma sombra projetada por uma árvore do lado de fora. A sombra se mesclava ao reflexo da minha imagem no vidro — ou melhor, a imagem de Evan.

Cabelos escuros e olhos vermelhos intensos, exatamente como eu havia descrito na novel.

Com um nó na garganta e o peito apertado pela ansiedade, dei uma última olhada ao redor do corredor, tentando me preparar mentalmente para o que me aguardava.

Respirei fundo, ergui a mão e empurrei a porta, adentrando finalmente o possível primeiro capítulo da história que eu jamais imaginaria viver.