Ao chegar na capital, sou direcionada à uma limusine que me aguardava em frente à saída principal do aeroporto. Enquanto não chego ao destino, reparo na paisagem da cidade grande e consigo perceber nitidamente a diferença entre a capital e Belielly. Elyari possui enormes prédios que, acredito eu, chegam a ter no mínimo 10 andares. Há grandes parques onde pude ver muitas pessoas praticando exercícios, fazendo picnic, tendo encontros românticos ou reunidos com os amigos. As ruas são muito movimentadas com pessoas andando com pressa de um lado para o outro, mexendo no celular, em ligação ou apenas olhando para onde estavam indo. Em comparação, a minha cidade natal possui uma paisagem com prédios antigos e de beleza imperialista, há pouquíssimos parques, já que é uma área mais montanhosa. Durante o inverno nossa principal atração são atividades ligadas à esqui.
_Senhorita, chegamos. – avisa o motorista entrando por um portão. Noto de longe a mansão enorme e luxuosa, banhada pelo pôr do sol, deixando-a dourada e ainda mais encantadora. Há um grande jardim logo na entrada, flores de diversas cores cercam toda a área da frente. Vejo também um estábulo com vários cavalos, há pessoas cavalgando enquanto conversam, acredito que sejam alguns participantes. A mansão é repleta de janelas, possui três andares e uma enorme piscina na lateral esquerda. Na lateral direita há um campo de futebol e duas quadras de esportes. Atrás dessas quadras está a academia.
Vejo alguns jovens que estavam jogando uma partida de basquete e outros que estavam saindo da academia parando para olhar a limusine na qual eu me encontrava. Esqueci de avisar que a limusine entrega a cor e a joia a qual você pertence, graças à bandeira no teto do automóvel, por conta disto, a minha chegada chamou a atenção deles. Nervosa, ligo a câmera do meu celular e verifico se continuo apresentável. O motorista estaciona em frente à entrada principal, ele sai do carro e corre para abrir a porta para mim, agradeço. Desço do veículo já sentindo o olhar de todos vidrados em mim. Ouço alguns cochichos, algumas risadas vindo de um grupo de garotos e garotas, o que de certa forma me deixou insegura. Recebo também algumas saudações ao longe.
Corro para dentro da mansão envergonhada, seguindo em direção à recepção na qual tinha uma moça atendendo um rapaz que, devo admitir, chamou a minha atenção. "Concentração, Elise!"
_Um momento, por favor – disse a moça que tinha o nome informado no crachá, Amanda. O rapaz se virou e me encarou de cima a baixo, nossos olhos se encontraram por um segundo, tempo suficiente para fazer meu coração parar e quase não voltar a bater de novo. Ele se voltou para a recepcionista quando a mesma o chamou, agradeceu (e que voz...) e se retirou. Suspiro. _Qual o seu nome?
_Elise Dias Viturino – respondo abrindo minha bolsa para procurar minha identidade. Encontro-a e entrego para Amanda.
_Grupo Rubi, certo? – aceno com a cabeça concordando. _Aqui está a chave do seu quarto, aqui são as instruções e explicações sobre o L.T.T.E. O cronograma das programações já informa o tipo de vestimenta que deverá usar. Esta é a máscara que deverá estar usando esta noite – ela me entrega uma máscara vermelha. _O jantar com todos os participantes será às 19h no salão de festas. Seu quarto é no terceiro andar à direita. – ela fez uma pausa. _Posso ajudar em algo mais?
_Não, obrigada – respondo olhando para o número na chave. _Boa tarde e bom trabalho – me despeço sem esperar pela resposta, indo em direção ao elevador.
Não pude deixar de notar o salão no qual me encontrava, se eu achei o exterior magnífico, o interior é infinitamente mais. É como se fosse banhado a ouro puro, acredito que o pôr do sol esteja influenciando, já que os raios que entram pelas inúmeras janelas deixam tudo mais impressionante. Há poucas pessoas circulando, no máximo nove participantes, quatro estão conversando em um espaço mais reservado e cinco, contando comigo, acabaram de chegar.
Um rapaz passa por mim apressado e entra no elevador, me desperto de meus devaneios. Entro no elevador e aperto a tecla 3, as portas se fecham. O elevador para no segundo andar e dois jovens que iam entrar perguntam se estamos subindo ou descendo, o rapaz atrás de mim responde:
_Subindo. – reconheço a voz. Viro para trás dando de cara com o rapaz da recepção, ele me olha indiferente, sussurrando: _O quê?
_Nada – respondo no mesmo tom de voz. Os dois jovens nos encaram e dizem que vão esperar o próximo elevador, pois eles iam descer. As portas do elevador se fecham e o silêncio volta a reinar.
Chegando no terceiro andar, saio apressada tentando não olhar para trás.
_Ei – ouço uma voz me chamar atrás de mim.
_Sim? – pergunto me virando em direção ao rapaz. Ele se aproxima. Noto o seu cabelo preto bagunçado pelo vento cobrindo seus olhos, estes que são da cor verde claro. Sua vestimenta (Principalmente a camisa preta e a fina corrente de prata no pescoço) o deixa além de elegante, muito charmoso.
_Você deixou cair – respondeu estendendo a máscara em minha direção.
_Obrigada – pego a máscara.
_De nada, Rubi – ele responde colocando a mão direita no bolso da calça, enquanto carrega a mala com a esquerda. Olho para o mesmo confusa.
_Rubi? – pergunto.
_É, você é desse grupo - ele responde calmamente.
_Sim, mas eu tenho um nome, sabe? Prefiro que me chame por ele – respondo. Ele sorri.
_Isso é novidade – apesar de seu tom ser de surpresa, seu rosto não expressa a mesma reação.
_O quê? – pergunto sem entender.
_Um Rubi não querendo ser chamado assim. É de se surpreender, já que vocês se orgulham e esbanjam tanto a questão financeira – respondeu cruzando os braços.
_Oh! Então, você acaba de encontrar uma espécie rara do grupo Rubi. – respondo fazendo o mesmo movimento que ele.
_Sério? E o que essa espécie rara está fazendo aqui, no meio de pessoas que só sabem se exaltar? – perguntou virando a cabeça de lado.
_Acredito que isso não seja da sua conta. – respondo.
_Você está certa.
_Além disso, você não faz parte do grupo Rubi também? Afinal, estamos no mesmo andar.
_Não, felizmente não. – respondeu sorrindo.
_Então de qual grupo você faz parte? - perguntei confusa.
_Acredito que não seja da sua conta. - respondeu devolvendo na mesma moeda.
_Touché - digo com um sorriso ladino. Ele retribui. Nos encaramos por alguns segundos.
_Bom, já que você disse não gostar, não lhe chamarei mais de Rubi. - disse mudando de assunto. Ele olha para o seu relógio.
_Obriga...
_Ih! Olha a hora, tenho que ir. Até mais vermelho – disse enfatizando a última palavra. Suspiro de raiva. Quando ele estava prestes a virar o corredor, eu grito:
_É Elise!!!! E-LI-SE – alguns jovens passam por mim me encarando, enquanto ouço a risada daquele garoto. Abaixo a cabeça com vergonha e corro para o meu quarto de número 440.
Diferente do que eu imaginava não irei dividir meu quarto com ninguém. O quarto é todo decorado em tons de vermelho e dourado. Há uma varanda onde posso ver o jardim e o sol se escondendo por detrás do famoso lago da capital. No quarto há uma grande estante de livros com duas poltronas, um frigobar com várias guloseimas e garrafas d'água. No banheiro, o que chamou minha atenção foi a banheira de frente para uma grande janela. Quando abro o closet, as minhas roupas já estavam todas organizadas e as malas guardadas na última prateleira, noto também que há algumas peças de roupas que eles disponibilizam para as ocasiões especiais e claro, todas na cor vermelha. Junto às vestimentas, há também algumas joias enfeitadas com Rubis e mais três máscaras vermelhas, cada uma com uma carta ao lado. Na capa de cada envelope há uma data, ou seja, só poderá ser aberta no dia informado.
Volto para o quarto e começo a desfazer a mala que estava carregando todo esse tempo comigo. Logo em seguida, corro para o banheiro e ligo a torneira da banheira. Enquanto aguardo, ouço uma batida na porta e me apresso para atender. Uma senhorita que trabalha na mansão me informa que veio para recolher os aparelhos eletrônicos que trouxe comigo, pois o uso de celular é estritamente proibido. Entrego meu celular após mandar uma mensagem para meu pai informando que iria ficar sem acesso ao aparelho telefônico. A senhorita guardou-o em uma caixa onde consta o meu nome e o número do meu quarto e me entregou uma agenda de couro.
_Você usará essa agenda nas próximas semanas. Poderá escrever informações sobre as pessoas que conhecer, usar como um diário, escrever uma carta ou bilhete para algum participante. Fica à sua escolha. – ela explicou. Aceno com a cabeça agradecendo e garantindo que entendi perfeitamente as suas instruções. A moça então se despede.
Jogo a agenda na cama e corro para o banheiro. Desligo a torneira segundos antes da banheira transbordar, tiro minha roupa, coloco uma touca para não correr o risco de desfazer meu penteado e entro na banheira.
Sinto todos os meus músculos relaxarem ao entrar em contato com a água quente. Olhando através da janela para o céu que começava a escurecer, começo a pensar em tudo o que eu estava vivendo. Primeira vez que passo a noite fora de casa, primeira vez que passo tanto tempo sem falar com meus familiares, primeira vez sendo rodeada de jovens que possuem um único objetivo: Formar laços, sejam amorosos ou não. Me lembro do jantar que ocorrerá em menos de uma hora. Sinto um frio na barriga, saio da banheira para me arrumar. Não quero chegar atrasada logo no primeiro evento que ocorrerá.