****** DÁRIO******
A floresta se encontrava imersa na escuridão; apesar da lua brilhando no céu, as copas das árvores impediam que sua luz iluminasse o lobo que corria desesperadamente.
— EU VOU MATAR VOCÊ! — rugia uma voz cruel. — VOU POR FIM À SUA LINHAGEM — ameaçava.
Meus pais sabiam que não havia para onde fugir; estavam cientes de que seus destinos estavam selados. Para proteger meus irmãos e a mim dos humanos, lutaram com todas as suas forças, mas o número deles era desproporcional e os lobos estavam em desvantagem. Antes de meu pai se juntar aos colegas alfas, ele nos escondeu com nossa mãe, que, por sua vez, preferiu enfrentar os humanos.
Eu observava tudo, escondido atrás de uma árvore na floresta.
Meus pais não sentiam medo; pelo contrário, a raiva os transformou em seres bestiais, sentindo a dor dilacerante que brotava de dentro de si. Então, meu pai correu em direção ao humano que o ameaçava. A floresta se encheu de humanos cruéis, e os poucos lobos restantes eram dizimados um a um, enquanto os humanos atacavam sem piedade; a morte parecia inevitável. Todos os lobos foram mortos, incluindo meu pai, o alfa, e minha mãe, sua loba alpha.
Nesse momento, me vi como um cervo filhote, desejando correr para longe, mas as minhas pernas pareciam pesadas. A fera que habitava em mim se contorcia e o lobo sentia o impulso de atacar. Era difícil controlar a transformação; quase impossível pensar como um humano e não como a fera. Contudo, lembrei que precisava sobreviver, afinal, meus pais nos protegeram dos humanos e agora eu precisava cuidar de meus irmãos menores. Apesar do sofrimento que essa ideia me causava, eu me contive, tentando reprimir o animal que havia em mim, para atacar aqueles humanos malditos que ameaçavam nos levar à destruição.
Seria meu último ato, minha última ação. No entanto, jurei que um dia iria atrás do humano que matou meus pais e liderou a matança da alcateia Satomi.
Meu nome é Dário Satomi, tenho 30 anos e, após muitos anos, sou o lobo alfa da alcatéia Satomi. Apesar do tempo que passou, nunca esquecerei o rosto do humano que ceifou a vida do meus pais. Um dia, estarei cara a cara com esse indivíduo, e cumprirei meu juramento de vingar a morte dele, assim como ele matou meus pais e todos os membros da nossa alcatéia.
Sou o lobo alfa respeitado da alcatéia e tenho ao meu redor todas as loba que desejo. No entanto, sinto que ainda falta algo em minha vida. Mais sinto, que estava prestes a descobrir essa lacuna. Vivo em uma cabana no meio da floresta com meus colegas alfas; aqui, não nos falta nada e, apesar de já termos enfrentado ataques de humanos, atualmente estamos em paz. Embora valorizemos nosso isolamento, ocasionalmente nos dirigimos à cidade para escapar um pouco da nossa realidade. Estava perdido em meus pensamentos de lobo quando avistei meus irmãos correndo em minha direção, transformados em lobos. Ao se aproximarem, reverteram para a forma humana. Apesar de tudo o que vivemos, eles mantêm uma vida repleta de felicidade.
Adamastor: Dario, por que você está aqui sozinho em vez de estar com suas lobas? Já se cansou delas?
Eles sempre reclamam que eu passo muito tempo com as lobas e não tenho um tempinho para eles.
Meus pequenos lobos, ciumentos! (risos) Eles não gostam que eu os chame assim.
Dario: Ciúmes, meus pequenos lobos?
Rudi: Você é bem engraçadinho, né?
Mas a gente queria muito conversar com você.
Eu parei de jogar pedras no lago que tinha aqui na aldeia e percebi que eles estavam me olhando com um olhar ansioso.
Dario: Poderia me informar o que os pequenos lobos estão aprontando desta vez?
Adamastor: Nós? Nada, Dario. Por que você sempre presume que estamos fazendo algo errado?
Dario: Porque vocês não são fáceis. Estou sempre recebendo reclamações sobre vocês vindas da alcatéia. Mas vamos lá, o que vocês desejam?
Adamastor: Gostaríamos de ter uma vida semelhante à dos humanos.
Dario: Vocês sabem que não somos como os humanos e a razão pela qual não mantemos contato com eles, não é mesmo?
Rudi: Sim, estamos cientes disso, mas queremos uma vida normal. Ninguém precisa saber quem somos; Nosso desejo é participar das mesmas atividades que eles. Por exemplo, gostaríamos de ter uma vida comum, que inclua estudar, participar de festas e vivenciar a experiência de uma vida humana fora da alcatéia, você entende?
Dario: Deixa eu entender essa ideia que estou tentando processar como humano, pois a visão do lobo a considera ridícula. Vocês realmente desejam se misturar com os humanos, conscientes de que eles não nos aceitam? Afinal, eles não apreciam nossa raça, assim como nós não temos afeições pela deles, especialmente por causa das perdas que tivemos, como a de nossos pais e amigos lobos. Mesmo assim, vocês ainda querem estar perto deles?