Usei o vento como um último esforço, impulsionando meu corpo em direção à janela antes de pular. A sensação de queda foi breve, e uma leve rajada de ar amorteceu meu pouso. Rolei para longe dos escombros, ofegante, mas vivo.
Quando me levantei, percebi que todos os olhos estavam em mim. A multidão murmurou, e os flashes das câmeras me cegaram. Sem pensar, corri para um beco próximo, desaparecendo antes que alguém pudesse me impedir.
No dia seguinte, as notícias foram dominadas pelo "herói mascarado". Algumas manchetes o elogiaram:
"Wind Savior: Herói misterioso resgata duas mulheres de um prédio em colapso."
Outros, porém, levantaram dúvidas:
"Um Herói… ou uma Ameaça? O Que Sabemos Sobre a Misteriosa Figura Mascarada."
Os debates se acirraram em talk shows e nas redes sociais. Algumas pessoas celebraram a coragem do herói, enquanto outras questionaram suas ações:
— Se há um herói, isso significa que haverá vilões também. Estamos prontos para isso?
— Quem lhe deu o direito de intervir? E se ele tivesse piorado as coisas?
A aparição de Amelia em um talk show colocou mais lenha na fogueira.
— Ele salvou minha vida semanas atrás — ela disse, segurando a jaqueta que eu tinha deixado para ela. — Ele não é uma ameaça. Ele é um anjo da guarda.
Outros contaram suas próprias histórias:
— Eu o vi pessoalmente destruindo coisas com seus poderes — afirmou um homem em outro programa. — Quem disse que ele não é perigoso?
A publicidade se espalhou rapidamente, dividindo a cidade entre aqueles que acreditavam em mim e aqueles que temiam minhas habilidades.
Enquanto tudo isso acontecia, evitei assistir ao noticiário. Mas não pude ignorar os sussurros que me seguiam enquanto eu andava pelas ruas:
— Ele é incrível!
— Ouvi dizer que ele também pode controlar eletricidade.
— Ele é realmente um cara legal?
Ouvir essas palavras me fez sentir o peso de algo muito maior do que eu estava preparado para carregar. Naquela noite, voltei para o prédio abandonado, determinado a continuar treinando.
Alguns dias se passaram desde meu primeiro treinamento no prédio abandonado e o resgate. Eu estava começando a entender como meus poderes funcionavam, mas ainda havia muito a aprender. Aqueles dias também foram marcados pelo isolamento. Ignorei as mensagens de Evander e as ligações dos meus avós. Eu precisava de tempo. Eu precisava de respostas.
Naquela manhã, quando cheguei à escola, vi Evander esperando no portão, como sempre fazia. Mas, dessa vez, havia algo diferente em sua expressão. O sorriso despreocupado de sempre não estava lá. Seus olhos tinham uma seriedade que me deixou desconfortável.
— Finalmente você apareceu — disse ele, cruzando os braços enquanto se aproximava.
— E aí? — Tentei soar casual, embora já imaginasse que ele não estava ali para uma conversa simples.
— Você não acha estranho que todo mundo esteja falando de um "herói mascarado" na cidade nesses últimos dias? — ele disse sem rodeios.
Meu estômago embrulhou, mas mantive a compostura.
— Herói mascarado? — Levantei uma sobrancelha. — Parece algo saído de um filme.
Evander frowned.
— Don't play dumb, Zeph. I know you've seen the video. Everyone has. That guy used wind, man. Wind! And now it's all over the news.
I rolled my eyes, trying to appear uninterested.
— It's probably a hoax, Evander. Special effects or something. You know how people love to make stuff up for attention.
He studied my face intently, as if searching for something.
— You don't sound skeptical, Zeph. In fact, you sound... detached. Like, completely indifferent.
— Because I am indifferent, — I replied, my tone colder than I intended. — It has nothing to do with me.
Evander was silent for a few seconds, but his expression turned more intense.
— I think it has everything to do with you.
My eyes narrowed, and my heart raced.
— What are you talking about?
— Look, I've never told you this, but... I have these weird dreams, — he hesitated, as if unsure whether to continue. — Things that happen later. It's like I get déjà vu all the time, but before stuff actually happens.
I laughed, but it was hollow.
— Are you serious? — I tried to sound skeptical.
— Yeah, Zeph. And it's not just that. Sometimes it's like I see things before they happen—little glimpses. I think... I think maybe I have something special too.
I took a deep breath, crossing my arms.
— Evander, that's... That's just... nonsense. Sorry, but it sounds like you're trying to convince yourself of something that doesn't make sense.
His expression shifted to something pained, though he quickly masked it.
— Nonsense, huh? — He took a step back, a bitter smile on his face. — Fine. Forget I said anything.
Before I could respond, he turned and walked into the school without looking back. For a moment, I felt the urge to call out to him, but something held me back.
The following days were marked by my growing distance. I avoided Evander at school, ignored my grandparents' messages, and threw myself into training. The abandoned building became my refuge—the only place where I could test the limits of my powers without fear of being seen.
At first, progress was slow. I still struggled to control the gusts of wind, often causing more destruction than I intended. But, little by little, I improved.
I learned that I needed to stay calm for the wind to respond to my command. Any extreme emotion—anger, fear, or anxiety—made everything unpredictable. I spent hours visualizing whirlwinds, circular movements, and focused gusts until I could replicate each with increasing precision.
After a long training session, I sat on the ground, exhausted but satisfied. I looked at my hands, dirty and scratched, and for the first time, I felt a real sense of purpose.
— Maybe my grandmother was wrong... Maybe I can make a difference.
Mas, no fundo, eu sabia que não podia ignorar as pessoas que me amaram para sempre — meus avós, que me acolheram; Evander, que sempre esteve ao meu lado. Eu só não sabia como voltar para eles... ainda não.
Uma brisa suave soprou através das janelas quebradas, como se estivesse me encorajando.
— Ainda não — murmurei, olhando para o céu escuro através da abertura no teto. — Ainda não... — repeti para mim mesmo enquanto me levantava lentamente.
Saí do prédio e caminhei pelas ruas desertas, o silêncio da madrugada quebrado apenas pelos meus passos. Eu precisava retornar à minha rotina, mas minha mente não parava de correr sobre o que estava por vir. O peso de ter poderes estava começando a afundar, e não importava o quanto eu quisesse ignorar, o mundo parecia determinado a não me deixar descansar.
Na escola, eu tentava agir o mais normal possível, mas era difícil. A sensação de estar sendo observado estava sempre lá. Os sussurros nos corredores sobre o "herói mascarado" não ajudavam.
— Você acha que ele é real? — ouvi uma garota perguntar enquanto eu passava pela entrada.
— Claro que é! Minha prima disse que o viu no prédio desabando! — outra voz respondeu.
Suspirei, passando por eles, tentando bloquear o barulho ao meu redor.