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Chapter 12 - Capítulo 12:A Causa do Ódio – Parte 3

Capítulo 12: A Causa do Ódio – Parte 3

Alguns dias atrás

O campo verde estava marcado pela morte. Cruzamentos de madeira enfileiravam-se, indicando os locais onde monstros haviam caído. Entre os túmulos improvisados, crianças corriam e brincavam, mas não como qualquer outra. Elas jogavam pedras contra os corpos inertes, rindo cada vez que uma batia com força contra a pele fria.

Atrás de uma árvore, um lobisomem observava a cena. Seu corpo robusto, coberto por um pelo marrom espesso, parecia tenso. Seus olhos brilharam com uma tristeza profunda ao ver o desrespeito.

— Nossa, que horrível. — Uma voz inesperada quebrou o silêncio ao seu lado.

O lobisomem girou levemente a cabeça, mas não conseguiu ver o rosto do recém-chegado.

Uma figura encapuzada estava ali, apoiada casualmente contra a árvore. O capuz verde-escuro ocultava parte de seu rosto, mas não completamente. Abaixo dele, uma máscara de porcelana, tingida em um verde pálido, cobria sua expressão. Tinha um formato simples, mas levemente inquietante: os olhos eram finos, como se estivessem sempre semicerrados, e os lábios esculpidos em um sorriso mínimo, sutil demais para ser amigável.

O estranho inclinou a cabeça, observando as crianças com um interesse distante.

— Por que você não impede isso?

O lobisomem não se virou completamente.

— São só crianças…

O recrutador girou um anel prateado no dedo, pensativo.

— Só crianças? Crianças brincam de pega-pega, constroem bonecos de palha... Mas isso? — Seu tom era leve, quase divertido, mas carregava algo podre por trás. — Jogar pedras no corpo de uma criatura morta? Você realmente acredita que isso é só uma brincadeira inocente?

O lobisomem abaixou o rosto, apertando os punhos.

— Acho que esqueci de me apresentar. — O estranho fez um gesto teatral, afastando o manto e curvando-se como um ator no final de um espetáculo. Sob a sombra do capuz, os olhos brilharam, avaliando cada reação do lobisomem. — Sou um recrutador da Rubra do Caos, meu caro. E, observando você, vejo um belo futuro com a sua ajuda.

O lobisomem franziu o cenho.

— Do que está falando?

O estranho deslizou os dedos pela máscara, como se ajustasse seu encaixe, e inclinou a cabeça para o lado, estudando seu rosto.

— Aquela ali… não é sua filha?

Por um instante, tudo ao redor desapareceu.

O lobisomem sentiu o peito apertar enquanto memórias o inundavam.

Aquela noite…

Sua filha correu para ele, os olhos arregalados de pavor. O cheiro de fumaça e carne queimada impregnava o ar.

— Papai… eu… — A voz dela era um sussurro fraco antes de ser interrompida pelo impacto de uma pedra em sua perna.

Risadas ecoaram ao redor.

Ele ergueu o olhar e viu os humanos. Homens, mulheres, jovens, velhos. Nenhum deles olhava com piedade.

— Monstros não têm direito à compaixão.

Ele tentou responder, tentou protegê-la, mas tudo virou um borrão de dor e fúria.

Agora…

Num instante, o lobisomem avançou. Com um rosnado baixo, agarrou a figura mascarada pelo pescoço e a prensou contra a árvore.

— Quem diabos é você?!

O recrutador não esboçou nenhuma reação de medo. Apenas riu baixinho, como se já tivesse previsto aquilo.

— Alguém que está lhe oferecendo uma chance de redenção.

O lobisomem hesitou. Seu aperto afrouxou, e seu olhar permaneceu fixo na máscara verde.

— Você lutou para salvá-la, tentou esquecer, tentou perdoar… Mas eles não te deram paz, não é? Nem um instante de descanso. Só queriam te matar.

O lobisomem respirou fundo, o peito subindo e descendo rapidamente.

— Eu tentei... Eu tentei! — Sua voz tremeu, e lágrimas deslizaram pelo seu rosto.

— Eu sei. — O recrutador sussurrou. Sua mão se ergueu e tocou a cabeça do lobisomem com um carinho sutil, quase paterno. — Você tentou. Mas sabe o que é pior? Eles nem mesmo consideraram seu sofrimento. Eles riram. Celebraram. E agora você está aqui, sozinho, com essa dor queimando dentro de você.

Os punhos do lobisomem cerraram-se novamente.

— O que você deseja fazer com eles?

Ele engoliu em seco. Por um breve momento, hesitou. Mas então... sua mente foi inundada pela lembrança do rosto de sua filha. O medo nos olhos dela. Os gritos. A dor.

Seus olhos brilharam, e sua voz saiu sombria.

— Quero fazê-los implorar por perdão.

O recrutador inclinou levemente a cabeça.

— Então espere... Em breve, terá o que deseja.

O lobisomem apertou os punhos. Sentiu a raiva queimando em seu peito, devorando qualquer sombra de hesitação.

E assim, o mundo mergulhou na guerra.

Tempo atual

O caos dominava a cidade.

O cheiro de carne queimada impregnava o ar, misturado ao fedor metálico do sangue fresco. Gritos se misturavam ao rugido das chamas, que lambiam as casas sem piedade. Corpos jaziam no chão , alguns humanos, outros monstros , seus rostos congelados em expressões de terror e agonia.

No meio da destruição, um lobisomem caminhava lentamente. Seu pelo marrom estava coberto de sangue seco. Sua respiração era tranquila, quase serena.

Ele se aproximou de um grupo de crianças.

Elas congelaram no lugar. O medo brilhava em seus olhos, e seus pequenos corpos tremiam. O lobisomem sorriu.

E então, elas correram.

Correram o mais rápido que suas pernas permitiam, desesperadas para alcançar suas casas. Atrás delas, os pais gritaram para que entrassem. Portas foram trancadas às pressas.

Ele ficou parado diante da casa. Por um instante, apenas um instante, sentiu algo se contorcer dentro dele.

Lá dentro, ouviu sussurros desesperados.

— Quietos! — O pai murmurou. — Ele vai embora se ficarmos em silêncio.

O lobisomem fechou os olhos.

Ele se lembrou do choro de sua filha naquela noite.

O medo nos olhos dela.

A última vez que segurou sua pequena mão.

Seu peito se apertou.

Mas então, ele ouviu um soluço abafado.

E foi o suficiente.

Seu olhar endureceu.

Ele entrou pela janela.

E naquela noite, o sangue fluiu pela casa.

Monstros e humanos estavam agora em guerra. Não importava se antes eram vizinhos, amigos ou até mesmo familiares.

A única certeza era que, naquele campo de batalha, ninguém merecia compaixão.

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Capítulo 13: A Causa do Ódio – Parte 4